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quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Doria faz uso indevido da imagem de sem teto, promete almoço e desaparece


Gerson e Doria


“Eu poderia processar ele”: exposto sem autorização no Facebook, o sem teto Gerson espera o almoço que Doria prometeu. Por Zambarda


A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) fica na Rua Libero Badaró, a poucos metros da Prefeitura de São Paulo.

Ali em frente vive o mendigo Gerson, de 41 anos, que ficou famoso após estrelar uma publicação do prefeito João Doria Jr. no Facebook.

Doria passava pela área, viu Gerson e achou que a cena renderia. Câmeras flagraram o “encontro”. Sua equipe fez o resto do serviço.

O nome de sua filha foi citado. “A mãe dela a proibiu de ver o pai por conta do alcoolismo”, lê-se.

O post de 13 de janeiro teve 186 mil curtidas e mais de 40 mil compartilhamentos na rede. Um público equivocado de esquerda pagou mico inventando que ele era “fake”, alguém fantasiado. A realidade é pior.

Gerson não autorizou o uso de sua imagem como peça de propaganda política. Ele contou ao DCM que não gostou do comportamento de Doria, do assédio da mídia e de como a fotografia foi divulgada sem o seu consentimento.

“Quando o prefeito passou por aqui, eu pedi pra ele parar de tirar os moradores de rua. Eu tava bravo porque o ‘rapa’ tava levando os cobertores de todo mundo. Mas, depois, ele disse que me ajudaria”, afirma.

“Nunca pedi nada pro Doria. Só peço dinheiro sempre porque vivo na rua, como peço agora pra você. Ele prometeu almoçar conosco, algo que não cumpriu até agora”.

Gerson possui problemas psiquiátricos e recebe tratamento. “Estou bem melhor hoje porque tenho assistência”, declara.

Tem dois amigos. Um deles é Paulo César Vieira Sousa, que foi também fotografado por Doria sem camisa e ilustrou uma reportagem da Veja sobre doações de sabonete e xampu a abrigos. O outro é o senhor Natalino, o “Natal”.

Paulo César

“Foi só a foto girar na internet que vieram a Globo, o SBT e a Veja aqui. Só que nenhum deles ouve direito a história e chegaram a divulgar que eu era um mendigo falso. Dividimos a comida e temos ajuda da Secretaria de Direitos Humanos”, comenta.

“Eu poderia processar o prefeito por ter tirado foto sem a minha autorização. Mas não vou fazer isso. Dá muito trabalho”.

No Facebook, Doria elogia uns tais “Espaços Vida, que vão ajudar o Gerson e as mais de 16 mil pessoas que vivem nesta situação a terem oportunidades de uma vida mais digna”. Um factoide.

Há um pedido da Secretaria de Direitos Humanos para que o retrato seja retirado do Facebook por causa da exposição indevida de uma pessoa em situação de rua.

A Secretaria de Comunicação teria concordado, mas a imagem continua na rede social. A tramitação do requerimento está emperrada por conta da transição da gestão Haddad para a atual. A equipe de DH deve ser substituída em breve.

Ainda que o apelo de Direitos Humanos chegue ao gabinete do prefeito, é pouco provável que ele seja respeitado. O estilo populista de Doria é baseado nesse tipo de estratégia barata, de vale tudo eleitoreiro.

Os amigos Paulo César e Natal reclamaram que a prefeitura não foi ajudá-los com as chuvas recentes na cidade. “Não fizeram nada por nós ainda. Eu tomei banho é na chuva”.


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