Até o fim de agosto, fogo consumiu 12% do Pantanal em 2020
Apesar de alta das queimadas na Amazônia e no Pantanal,
orçamento destinado à contratação de pessoal de prevenção e controle de
incêndios florestais em áreas federais sofreu forte redução entre 2019 e 2020.
Mesmo com as queimadas na Amazônia aumentando 30% em 2019 e
com o Pantanal registrando o maior número de queimadas em uma década, o governo
Bolsonaro vem cortando drasticamente a verba para contratação de profissionais
para prevenção e controle de incêndios florestais em áreas federais.
O gasto esperado com a contratação de pessoal de combate ao
fogo por tempo determinado, somado ao de diárias de civis que atuam como
brigadistas, caiu de R$ 23,78 milhões em 2019 para R$ 9,99 milhões neste ano –
uma redução de 58%, de acordo com dados oficiais do Portal da Transparência.
Este foi o segundo ano seguido de redução no orçamento total
para prevenção e controle de incêndios florestais em áreas federais. A verba
inicialmente planejada para a área em 2018 era de R$ 53,8 milhões, reduzida em
2019 para R$ 45,5 milhões, e para R$ 38,6 milhões em 2020. Do ano passado para
este, a redução foi de 15%.
Em meio aos cortes, o Pantanal vive seu pior ano em termos
de queimadas de que se tem registro. De janeiro a 10 de setembro de 2020, o
Pantanal somou 12.703 focos de incêndio, o mair número para o período desde que
o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) começou o monitoramento, em
1998. Segundo dados do órgão federal, nos primeiros oito meses do ano, 18.646
km² do bioma foram consumidos pelas chamas, mais da metade disso em agosto.
Historicamente, a situação observada em setembro é ainda
pior, com mais áreas de campos, florestas e arbustos queimados. Se o ritmo
medido em agosto se mantiver, o Pantanal terá um total de 28, 8 mil km²
carbonizados até setembro, superando todos os anos anteriores.
A área queimada até o fim de agosto, equivalente a 15
cidades do Rio de Janeiro inteiras queimadas, representa 12% do Pantanal. O
bioma possui 83% de cobertura vegetal nativa e a maior densidade de espécies de
mamíferos do mundo, com uma concentração nove vezes maior que a vizinha
Amazônia, que também vem sofrendo com as queimadas.
Em Mato Grosso – que, junto com Mato Grosso do Sul, abriga o
Pantanal – não chove forte desde maio
Na Floresta Amazônica, 29.307 focos de queimadas foram
registrados em agosto deste ano, destruindo uma área maior que a da Eslovênia.
O número ficou pouco abaixo dos 30.900 registrados no mesmo período de
2019 que, de acordo com o Inpe, foi o
pior mês de agosto para a Amazônia desde 2010, interrompendo uma tendência de
queda observada em anos anteriores.
De acordo com especialistas, nem a Amazônia nem o Pantanal
sofrem com incêndios espontâneos. Em Mato Grosso – que, junto com Mato Grosso
do Sul, abriga o Pantanal – não chove forte desde maio, logo, não há raios que
pudessem inflamar os campos e matas secas, levando à conclusão de que se trata
de incêndios irregulares. Isso apesar de o uso do fogo para limpeza e manejo de
territórios ter sido proibido no estado entre 1º de julho e 30 de setembro.
Segundo decreto estadual, quem provocar queimadas pode ser punido com reclusão
de dois a quatro anos e multa a partir de R$ 5 mil por hectare.
Atraso no combate
Em nota, o Ministério do Meio Ambiente afirma que aumentou o
número de brigadistas em relação ao último mandato da ex-presidente de Dilma
Rousseff. Questionada pela DW Brasil sobre os cortes, a pasta não explicou a
questão orçamentária, e afirmou que em 2020 foram contratados 3.326 brigadistas
pelo Ibama e pelo Imbico, contra 2.080 em 2016.
No entanto, os editais de contratação para os profissionais,
que costumam ser realizadas a partir de abril, para que as brigadas tenham
tempo para o trabalho de prevenção dos incêndios, neste foram publicados
somente em junho, atrasando todo o cronograma.
Segundo uma fonte do ICMBio que prefere não se identificar,
o trabalho de combate aos incêndios no Pantanal demorou para começar, de modo
que agora resta apenas esperar pela chuva e tentar impedir o fogo de consumir
construções, pontes e unidades de conservação – os chamados alvos
preferenciais.
"O grosso do trabalho de combate é feito de julho a
setembro, antes há os trabalhos de queima preventiva, abertura de aceiros,
feitos com acompanhamento do PrevFogo. O trabalho preventivo é até 20 vezes
mais barato que o combate", calcula.
No Pantanal, Ibama e ICMBio vêm trabalhando em conjunto com
bombeiros, militares e o Sesc Pantanal na força conjunta que tenta manter a
salvo o Parque Estadual Encontro das Águas e o Parque Nacional do Pantanal
Matogrossense, ambos refúgios de vida silvestre. Além do Mato Grosso, as
brigadas atuam em outros 16 estados e no Distrito Federal em áreas ido
Pantanal, do Cerrado e da Amazônia.
Agosto, mês de queimadas
Em junho, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
(Ipam), alertou que o desmatamento observado no último um ano e meio na
Amazônia poderia ser o prenúncio de uma catástrofe na região. O modus operandi
do desmate da floresta é a derrubada em massa das árvores, com tratores que
arrastam grandes correntes, derrubando tudo pelo caminho, para, no período seco
seguinte, a vegetação ser queimada para limpeza do terreno.
Em nota técnica publicada, o Ipam apontou que, entre janeiro
de 2019 e abril de 2020, uma área de 4.509 km² de Floresta Amazônica havia
sido derrubada. "Se 100% queimar, pode se instalar uma calamidade de
saúde sem precedentes na região ao se somar os efeitos da covid-19",
previu, apontando que o mês de agosto é quando grande parte da queima acontece
na Amazônia.
Segundo os dados do Inpe citados no início deste texto, a
Amazônia teve seu segundo pior agosto da última década em termos de queimadas
registradas. No entanto, de acordo com reportagem a Folha de S.Paulo, o sensor
Modis, do satélite Aqua, da Nasa, apresentou problemas a partir de meados do
mês, prejudicando a medição dos focos de incêndio em algumas áreas. Com isso, é
possível que a situação tenha sido ainda mais severa do que a de agosto do ano
passado.
Fonte: DW Brasil
A busca pelos animais feridos em meio ao fogo no Pantanal
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— lai #DefendaPantanal (@munihin_) September 10, 2020
O Brasil está em chamas por causa do dito "progresso econômico". Mas qual é o preço desse progresso? A conta virá. Nós somos tão parte do ecossistema quanto uma formiga ou uma árvore. Se esse ecossistema sucumbir, nós sucumbiremos juntos. #EmergênciaPantanal (Arte: @paulomesper) pic.twitter.com/4zdpGyNLQQ— A vida no Cerrado (@avidanocerrado) September 10, 2020