Com a repercussão da ação simbólica do padre Júlio Lancellotti, gestão Bruno Covas enviou nesta terça retroescavadeiras e uma equipe para destruir obra sob viaduto da zona leste de São Paulo
São Paulo – A calçada embaixo do viaduto Dom Luciano Mendes
de Almeida, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, amanheceu nesta quarta-feira
(3) sem as pedras instaladas pela prefeitura de São Paulo para impedir que
a população de rua se abrigasse no local. A estrutura,
que impedia qualquer pessoa de deitar ali, foi entregue pela gestão Bruno Covas
(PSDB) dias antes, sob os dois lados das pistas do viaduto. Mas só foi de fato
retirada após uma ampla repercussão negativa diante das pedras que ficaram
conhecidas como “anti-moradores de rua”.
O padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de
Rua, que já havia denunciado a obra como uma “arquitetura higienista”, foi até
o local nesta terça-feira. E, num ato simbólico, marretou as pedras colocadas
ali para evitar os moradores de rua.
À Folha de S. Paulo, o pároco questionou a dimensão do
custo da obra aos cofres públicos, citando o crime de “improbidade
administrativa”. “Fazer um buraco e aí depois tapar o que fez. Qual foi o custo
para mobilizar essas pedras, esse concreto? E agora todo o custo que está sendo
para mobilizar pessoas e recursos para desfazer isso?”, observou.
A gestão Covas não divulgou um balanço sobre os gastos. Mas
garantiu que uma sindicância foi aberta para investigar como foi feita a ordem
para esse serviço. O município alega que o ato foi feito de forma isolada por
um funcionário da Secretaria de Subprefeituras. E que esse tipo de medida não
faz parte da zeladoria da atual gestão.
Políticas de danos
No entanto, o prefeito Covas já era criticado por obra
semelhante realizada em Guaianazes, extremo leste da capital. Em entrevista à
repórter Larissa Bohrer, da Rádio Brasil Atual, o coordenador
nacional do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), Anderson Lopes
Miranda, acusou a administração municipal de querer “expulsar os sem-teto”, promovendo “ações de
higienização”. “Botar pedra é higienizar a cidade”, destacou.
A advogada e pesquisadora Kelseny Medeiros Pinho, da Clínica
de Direitos Humanos Luiz Gama, da Universidade de São Paulo (USP), ressaltou
também à reportagem que é preciso abrir um procedimento administrativo para
avaliar a responsabilidade pela construção da obra. De acordo com ela, cabe ao
Ministério Público de São Paulo pedir esclarecimentos. Assim como a Defensoria
Pública pode reivindicar uma indenização coletiva à população em situação de
rua.
“A gente não tem exatamente os indivíduos que foram afetados
ali. Mas a Defensoria pode propor uma ação contra a prefeitura para que esse
dinheiro seja revertido para políticas públicas a essa população. Porque esse é
o caso efetivo de uma política que causou danos”.
Protesto
Pelo Twitter, o padre Júlio Lancellotti convocou
a população à protestar neste sábado (6), às 15h. A ideia, segundo ele, é que,
evitando aglomeração, as pessoas depositem flores no local para mostrar a luta
por uma “cidade mais humana”.
Próximo Sábado 06/02/2020
— Valéria Jurado (@Valeria_Jurado6) February 3, 2021
Protesto das Flores às 15 hs embaixo do viaduto Antonio de Paiva Monteiro #ProtestoDasFlores#FloresNaoPedras@pejulio pic.twitter.com/SKIUFUjGHk
Confira a reportagem:
Rádio Brasil Atual
Jornal Brasil Atual desta quarta-feira está no ar com a análise das principais notícias do dia.
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Fonte: Rede Brasil Atual
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