Parte disso se deve ao El Niño, fenômeno que ajuda a elevar
as temperaturas do planeta desde meados de 2023
Jornal O Sul
Os extremos climáticos têm castigado o Brasil nos últimos
dias. A transição de abril para maio começou com o alerta do Instituto Nacional
de Meteorologia (Inmet) para a onda de calor fora de época em diferentes
regiões do País. Poucos dias depois, temporais causaram destruição em mais de
300 cidades do Rio Grande do Sul, na maior tragédia ambiental da história do
Estado.
Parte disso se deve ao El Niño, fenômeno que ajuda a elevar
as temperaturas do planeta desde meados de 2023. Mas especialistas destacam que
a recorrência dessas anomalias climáticas – no Brasil e no mundo – tem relação
direta com o aquecimento global.
Diante do risco de novas catástrofes, cientistas fazem o
alerta. “Estamos vivendo num novo clima, cheio de ondas de calor e chuvas
intensas, que trazem prejuízos socioeconômicos”, diz Paulo Artaxo, cientista
que integra o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações
Unidas.
“A única maneira de lidar com isso é reduzir as emissões de
gases do efeito estufa”, acrescenta ele, também professor da USP.
“Nós já mudamos o clima do planeta, ele já é diferente do
que havia nos últimos dez, vinte anos em relação à intensidade e frequência dos
fenômenos climáticos extremos. É inegável que eles já estão impactando o clima
de maneira muito significativa e certamente, com o agravamento do aquecimento
global, só vão aumentar em frequência e intensidade no futuro.”
AVENIDA PADRE
CACIQUE INUNDADA! O @estadiobeirariooficial
sofreu inundações após a subida do Guaíba. O entorno do Beira-Rio, casa do @scinternacional, ficou completamente tomado pela água neste sábado (4). #rdgrenal#radiogrenal#inter#colorado#ChuvasRS
Oficialmente, o Brasil ultrapassou nesta quarta-feira (24/3)
a marca trágica de 300 mil mortos por covid-19 durante a pandemia. Mas
registros hospitalares brasileiros apontam que o número de pessoas que morreram
em decorrência de casos confirmados ou suspeitos da doença no país pode já ter
passado de 410 mil.
Essa estimativa aparece em duas análises distintas, uma
liderada por Leonardo Bastos, estatístico e pesquisador em saúde pública do
Programa de Computação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e outra
pelo engenheiro Miguel Buelta, professor titular da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo (USP).
Ambas se baseiam em dados oficiais de síndrome respiratória
aguda grave (SRAG), um quadro de saúde caracterizado por sintomas como febre e
falta de ar.
A legislação brasileira estabelece que todo paciente que é
internado no hospital com SRAG precisa obrigatoriamente ter seus dados
notificados ao Ministério da Saúde por meio do Sistema de Informação de
Vigilância Epidemiológica da Gripe (conhecido como Sivep-Gripe). Esse sistema é
utilizado há anos e permite saber quantos casos de infecções respiratórias
necessitaram de hospitalização e evoluíram para óbito no país.
No primeiro semestre de 2019, foram registrados 3.040 óbitos
por síndrome respiratória aguda grave. No mesmo período em 2020, foram
registrados 86.651. Até o momento, de todas as pessoas com SRAG e resultado
laboratorial para algum vírus na pandemia, mais de 99% acabaram diagnosticadas com
covid.
Esses dados são considerados bons indicadores por não
sofrerem tanto com a escassez de testes ou resultados falsos positivos. Mas há
alguns problemas, entre eles o atraso: pode levar bastante tempo até uma
internação ou uma morte ser contabilizada no sistema.
Então, como saber o número atual mais próximo da realidade?
Como os pesquisadores chegaram à estimativa de 410 mil ou 415 mil mortes por
doença respiratória grave?
Projeção do agora
Bem, os cientistas fazem o que se chama de nowcasting, que grosso
modo é uma projeção não do futuro (forecasting), mas do agora. Isso se faz
ainda mais necessário durante a pandemia por causa dessa demora da entrada dos
registros de hospitalizações e mortes no sistema digitalizado.
É como se os dados disponíveis hoje no sistema oficial
formassem um retrato desatualizado e cheio de buracos. Para preencher e
atualizar essa imagem, é preciso calcular, por exemplo, qual é o tamanho desse
atraso, de uma morte de fato à entrada do registro dela no sistema, a fim de "prever"
o que está acontecendo atualmente.
Bastos lidera análises de nowcasting numa parceria que
envolve o Mave, grupo da Fiocruz de Métodos Analíticos em Vigilância
Epidemiológica, e o Observatório Covid-19 BR, grupo que reúne cientistas de
diversas instituições (como Fiocruz, USP, UFMA, UFSC, MIT e Harvard).
Vamos ao fio dessa semana
Estimativas para os totais até 27/3/2021 (corrigidas pelo atraso)
Óbitos por SRAG-COVID: 320.056 Hospitalizacoes por SRAG-COVID: 1.076.700
"(O nowcasting) corrige os atrasos do sistema de
notificação vigente, isto é, adianta-se as notificações oficiais futuras pelo
tempo médio entre a ocorrência dos primeiros sintomas no paciente e a
hospitalização, quando há o registro dos seus dados no sistema de vigilância.
Esse tempo abrange várias etapas: desde procurar um hospital, coletar o exame,
o exame ser realizado e o resultado do teste positivo para covid-19 estar
disponível para ser incluído no banco de dados. O tempo acumulado entre essas
etapas do processo causa atrasos de vários dias entre o número de casos
confirmados no Sivep-Gripe (plataforma oficial de vigilância epidemiológica) e
os casos ainda não disponíveis no sistema, que são compensados somando aos
casos já confirmados uma estimativa de casos que devem ser confirmados no
futuro", detalha o Observatório Covid-19 BR.
A dificuldade de monitorar em "tempo real" o que
acontece durante epidemias é global, e diversos cientistas ao redor do mundo
tentam achar soluções para esse problema.
Os cálculos atuais sobre a pandemia no Brasil liderados por
Bastos foram feitos a partir da adaptação de um modelo estatístico proposto em
2019 por ele e mais oito pesquisadores.
Para apontar um retrato atual mais preciso da pandemia, essa
modelagem estatística (hierárquica bayesiana) corrige os atrasos dos dados
incorporando nos cálculos, por exemplo, a partir do conhecimento prévio da
ciência sobre o que costuma acontecer durante o espalhamento de doenças como
gripe. Mais detalhes no artigo disponível neste link aqui.
Para chegar até o número de 415 mil mortes por SRAG, Bastos
explica à BBC News Brasil que são analisados primeiro os dados da semana atual
e da anterior, a fim de identificar quantos casos e óbitos tiveram uma semana
de atraso.
"Assim, aprendemos a respeito do atraso e usamos isso
para 'prever'/corrigir a semana atual e as últimas 15 semanas. O total de 415
mil mortes por SRAG é a soma dos casos observados acumulados até 15 semanas
atrás com as estimativas mais recentes corrigidas."
Cemitério no bairro Bom Jardim, em Fortaleza
Em sua análise, Miguel Buelta, professor da USP, aponta um
número parecido.
Ele explica em seu perfil no Twitter que analisou os dados
de óbitos por covid e SRAG até 14 de março e calculou a subnotificação dos
últimos 60 dias a partir dos dados atrasados que foram entrando no sistema no
período. "Fiz o cálculo para 14/01/2021. Subnotificação = 37% naquela
data. Se este valor fosse mantido até hoje, no lugar dos 300 mil óbitos,
poderíamos ter hoje 410 mil."
Mas Buelta acredita que o valor pode ser ainda maior.
"A situação atual é muito mais emergencial. É uma tragédia. Vamos todos
lutar contra isso. Isolamento social e ajuda emergencial. Fora disso não há
solução." Mais detalhes sobre o modelo estatístico usado por ele
aqui neste
link.
1,7 milhão de internados
Na análise liderada por Bastos, da Fiocruz, estima-se que o
Brasil tenha registrado mais de 1,7 milhão de internações durante a pandemia de
coronavírus por causa de doenças respiratórias graves. Na pandemia de H1N1, em
2009, o total foi de 202 mil hospitalizações.
Ao se debruçar sobre os dados, ele aponta ainda uma
tendência de piora na ocupação de hospitais no Distrito Federal e em nove
Estados: Rondônia, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Rio Grande do Norte,
Espírito Santo, Maranhão, Ceará e Minas Gerais.
Todos eles têm mais de 20 hospitalizações por 100 mil
habitantes. Em Rondônia, essa taxa chega a 49, por exemplo.
Por outro lado, Rio Grande do Sul e Santa Catarina parecem
ter conseguido conter a tendência de alta das hospitalizações. Isso, no
entanto, pode significar tanto que a situação melhorou quanto que não tem mais
como o número piorar dada a superlotação dos hospitais. De todo modo, ambos os
Estados ainda estão em um patamar bastante elevado, acima de 20 hospitalizados
por 100 mil habitantes.
"Hospitalizações e óbitos só vão reduzir quando uma boa
parcela das populações prioritárias, segundo o Programa Nacional de Imunização,
forem imunizadas. Antes disso, sem uma redução efetiva da transmissão, veremos
onda depois de onda", afirma Bastos.
Covid-19: Infectologista faz apelo a população e desabafa
sobre a situação dos hospitais
Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (25), em que foi
anunciada a extensão da quarentena mais rígida até o próximo dia 31 de março em
Pernambuco, o médico Demetrius Montenegro, chefe do setor de Infectologia do
Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), frisou o quanto tem se preocupado
com a frequência de adultos jovens que chegam aos hospitais com sintomas de
covid-19. Nesta quinta (25) o Estado ultrapassa a marca de 1.800 pessoas que
recebem atualmente assistência em terapia intensiva (UTI). Entre elas, 1.424 estão
em leitos públicos e 418 em vagas privadas.
Desde o início da pandemia de covid-19, 420 bebês
morreram em decorrência do novo coronavírus no Brasil, número aproximadamente
dez vezes maior do que o dos Estados Unidos, país com o maior número de óbitos
pela doença, de acordo com dados oficiais.
Desde início da pandemia, 420 bebês (crianças com menos de 1
ano) morreram em decorrência do novo coronavírus no Brasil, contra 45 nos
Estados Unidos
Segundo o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças)
norte-americano, 45 bebês, ou crianças com menos de um ano, perderam a vida
após infecção pelo vírus.
Entre as crianças de um a cinco anos, a discrepância entre
os dois países também fica nítida: foram 207 mortes por covid-19 no Brasil
contra 52 nos Estados Unidos.
Os números brasileiros também são maiores do que o do Reino
Unido, que registrou apenas duas mortes por coronavírus entre bebês (menos de
um ano). E superiores aos do México, onde 307 crianças entre zero e quatro anos
morreram. Já a França teve apenas quatro mortes entre zero e 14 anos devido ao
novo coronavírus.
Ao mesmo tempo, atualmente, os EUA têm o maior número de
mortos por covid-19 — 529 mil, seguido por Brasil (270,6 mil) e México (191,8
mil), segundo dados da Universidade Johns Hopkins. A taxa de mortalidade
norte-americana pelo vírus (161,28 por 100 mil habitantes) também é mais alta
do que a brasileira (128,12 por 100 mil habitantes).
Assim, desde o início da pandemia, a covid-19 matou,
proporcionalmente, mais lá do que aqui.
As taxas de nascimentos de bebês também são dados
importantes nesta equação.
Os dois países tem taxas praticamente iguais de natalidade,
segundo o Banco Mundial: 1,77 filhos por mulher nos EUA e 1,74 filhos por
mulher no Brasil. Em 2019, foram registrados 3,5 milhões de nascimentos nos
Estados Unidos e 2,9 milhões no Brasil. A população americana é de 328,2
milhões e a brasileira, 210 milhões.
Em resumo: o Brasil tem um número mais elevado de mortes de
bebês e crianças pequenas por covid-19, apesar de ter menos nascimentos do que
os EUA, onde, por sua vez, mais pessoas morrem em decorrência do vírus, tanto
em números absolutos quanto relativos.
Mas, afinal, o que está por trás desse alto número de mortos
entre bebês e crianças pequenas no Brasil?
Razões
Além das mortes, na mesma base de comparação com outras
nações, o Brasil também conta com um número expressivo de crianças internadas
por covid-19. Só neste ano, segundo o último boletim epidemiológico do
Ministério da Saúde, 617 bebês (menos de um ano), 591 crianças de um a cinco
anos e 849 de seis a 19 anos foram hospitalizados devido à doença.
Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, não há
uma única resposta para o problema.
Descontrole da pandemia e falta de diagnóstico adequado,
aliados principalmente a comorbidades (doenças associadas) e vulnerabilidades
socioeconômicas, passando pelo aparecimento de uma síndrome associada à
covid-19 em crianças, ajudam a explicar o quadro trágico brasileiro.
Mas há uma ressalva: embora os óbitos sejam mais numerosos
no Brasil em relação a outros países do mundo, é importante lembrar que o risco
de morte nessa faixa etária ainda assim é "muito baixo", lembram os
cientistas.
De fato, 420 bebês representam apenas 0,15% do total de
mortes por covid-19 no Brasil (270,6 mil).
Portanto, a chance de um bebê (ou de uma criança)
desenvolver sintomas graves de covid-19 e morrer por causa da doença é rara,
mas "não nula", diz à BBC News Brasil Fatima Marinho, médica
epidemiologista e consultora-sênior da Vital Strategies.
"As mortes nessa faixa etária são raras, mas é preciso
acabar com esse mito de que crianças não morrem por covid-19", assinala.
Marinho frisa que as mortes por covid-19 entre bebês e crianças
no Brasil podem ser ainda maiores se contabilizados os óbitos por Síndrome
Respiratória Aguda Grave (SRAG) não especificada.
"Podemos dizer que 48% dos que faleceram por SRAG não
especificado têm alta probabilidade de ser morte por covid-19 por critérios
clínicos e epidemiológicos", assinala.
Segundo Marinho, dados preliminares de uma pesquisa
realizada pela Vital Strategies e a Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), em três capitais, mostraram que 90% dos casos de SRAG não especificada
foram comprovados como sendo de covid-19, após investigação.
Ela destaca que a covid-19 tende a evoluir de forma
diferente em crianças e em adultos.
Mortes nessa faixa etária são "raras", mas não
"nulas", diz especialista
Como os pequenos normalmente não são testados para
coronavírus, uma vez que são, na prática, bem menos suscetíveis a desenvolver
os sintomas mais graves da doença (e muitos são assintomáticos), seus sintomas
podem ser facilmente confundidos com os de outras enfermidades, prejudicando o
diagnóstico.
"Pediatras devem prestar atenção em crianças com falta
de ar e febre, e se ocorrer diarreia e/ou dor abdominal e/ou tosse pensar em
covid-19. A tosse foi pouco frequente na hospitalização, mais foi um sinal de
alarme para morte para as crianças. A dor abdominal e diarreia foram sintomas
mais frequentes nas crianças maiores de um ano", assinala Marinho.
Médicos lembram que a chance de óbito em recém-nascidos é
maior do que em crianças acima de um ano porque seu sistema imunológico,
responsável pela defesa do nosso organismo, ainda está "em formação".
Além disso, outra causa para a morte de crianças no Brasil,
que ainda está sendo investigada, é a chamada "síndrome inflamatória
multissistêmica", que pode comprometer o cérebro, causando encefalite, ou
órgãos importantes como coração e rins.
No Reino Unido, 1 a cada 5 mil crianças que se infectaram
com coronavírus desenvolveram essa reação do sistema imunológico, segundo dados
do governo britânico.
Os sintomas, que incluem febre alta, pressão sanguínea baixa
e dores abdominais, costumam aparecer cerca de um mês depois do contato com o
coronavírus.
A grande maioria das crianças que se infectam pelo
coronavírus não desenvolve esse processo inflamatório ou se recupera com
tratamento. Mas em alguns casos, a síndrome pode evoluir para um quadro grave e
ocasionar a morte.
Foi o que aconteceu com uma paciente da pediatra Jessica
Lira, que trabalha na UTI do Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza, no
Ceará.
A menina tinha dois anos e desenvolveu encefalite, uma
inflamação no cérebro que parece ter sido impulsionada pela contaminação pelo
coronavírus.
"Ela teve morte encefálica. A conversa foi difícil, os
pais estavam com muito sentimento de revolta, tinham muita dificuldade em
entender como que evoluiu para isso. Não sabiam que a covid-19 podia levar a um
quadro como esse", disse Jessica em entrevista recente à BBC News Brasil.
Comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas são fatores
de risco para crianças com covid-19
Comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas
Mas são as comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas
que têm maior peso na morte de crianças por covid-19 no Brasil.
Um estudo observacional desenvolvido por pediatras
brasileiros liderados por Braian Sousa, ligado à Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (USP), e com supervisão de Alexandre Ferraro,
identificou comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas como fatores de
risco para o pior desfecho da covid-19 em crianças.
"Individualmente, a maioria das comorbidades incluídas
foram fatores de risco. Ter mais de uma comorbidade aumentou em quase dez vezes
o risco de morte. Em comparação com as crianças brancas, os indígenas, os
pardos e os do leste asiático tiveram um risco significativamente maior de
mortalidade. Também encontramos um efeito regional (maior mortalidade no Norte)
e um efeito socioeconômico (maior mortalidade em crianças de municípios menos
desenvolvidos socioeconomicamente)", dizem os pesquisadores no estudo
publicado na plataforma medrxiv.
"Além do impacto das comorbidades, identificamos
efeitos étnicos, regionais e socioeconômicos que moldam a mortalidade de
crianças hospitalizadas com covid-19 no Brasil. Juntando esses achados,
propomos que existe uma sindemia (interação entre problemas de saúde e contexto
sócioeconômico) entre covid-19 e doenças não transmissíveis, impulsionada e
fomentada por desigualdades sociodemográficas em grande escala".
"Enfrentar a covid-19 no Brasil também deve incluir o
tratamento dessas questões estruturais. Nossos resultados também identificam
grupos de risco entre crianças que devem ser priorizados para medidas de saúde
pública, como a vacinação", concluem os pesquisadores.
Foram estudados 5.857 pacientes com menos de 20 anos, todos
hospitalizados com covid-19 confirmado por laboratório.
Constatações semelhantes foram feitas pelo professor Paulo
Ricardo Martins-Filho, da Universidade Federal do Sergipe (UFS), um dos
pesquisadores que mais publicam sobre covid-19 no Brasil.
Ele e sua equipe desenvolveram um estudo para estimar as
taxas de incidência e mortalidade da covid-19 em crianças brasileiras e
analisar sua relação com as desigualdades socioeconômicas.
E chegaram à conclusão que houve diferenças regionais
importantes e uma relação entre taxas de mortalidade e desigualdades
socioeconômicas.
"O conhecimento das diferenças sociogeográficas nas
estimativas do COVID-19 é crucial para o planejamento de estratégias sociais e
tomada de decisão local para mitigar os efeitos da doença na população
pediátrica", diz Martins-Filho no estudo, publicado na plataforma
científica internacional PMC.
Portanto, essas crianças acabam ficando mais vulneráveis a
doenças, incluindo o coronavírus.
"Claro que quanto mais casos tivermos e, por
consequência, mais hospitalizações, maior é o número de mortos em todas as
faixas etárias, incluindo crianças. Mas se a pandemia estivesse controlada,
esse cenário poderia evidentemente ser minimizado", diz à BBC News Brasil
Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade
Brasileira de Pediatria.
"Maioria das crianças que morrem tem
comorbidades", diz pediatra na linha de frente
Linha de frente
"A maioria das crianças que morrem tem comorbidades,
especialmente pacientes oncológicos (com câncer) ou com sobrepeso e obesidade.
Há também aqueles com problemas nos pulmões e no coração. Mas isso não é uma
regra. Vemos bebês e crianças saudáveis morrendo por covid, algo não tão
presente na primeira onda", diz à BBC News Brasil Lohanna Tavares,
infectologista pediátrica da Comissão de Controle de Infecção do Hospital
Infantil Albert Sabin em Fortaleza, no Ceará.
Pediatras acreditam que as mortes dessas crianças saudáveis
podem estar relacionadas a fatores externos, como desnutrição e outras doenças,
como dengue, por exemplo, mas essa correlação ainda precisa ser estudada.
Tavares reforça outro fator que vem contribuindo para o
aumento — e já identificado nos estudos sobre o tema: a falta de assistência.
"Os leitos hospitalares e o acesso aos cuidados
pediátricos são bem menores para as crianças do que para os adultos. Várias
enfermarias de hospitais pediátricos foram substituídas por leitos para
adultos. Evidentemente, a necessidade maior é dos adultos. Mas a restrição de
leitos pediátricos gera um acúmulo de pacientes nas emergências, o que faz com
que o próprio pediatra pondere mais a internação da criança", diz.
"Ou seja, ele só vai internar as crianças que estiverem
mais acometidas, com um quadro mais grave, quando o ideal seria deixar em
observação casos que podem gerar complicações. Mas não há leitos suficientes.
Quando se diminui o número de leitos pediátricos, o sistema fica sobrecarregado
e a assistência fica, assim, prejudicada", lamenta.
Atualmente, não há vacinas disponíveis para menores de 16
anos. "Mas estudos já estão sendo feitos com esse público", lembra
Kfouri, da SBP.
E Tem Mais: Covid-19 em crianças: por que os índices de
mortalidade no Brasil são tão altos - 18/03
Ouça o podcast E Tem Mais, apresentado por Monalisa Perrone.
Programa do dia 18 de março de 2021.
Neste episódio do E Tem Mais, Monalisa Perrone ouve médicos
e pesquisadores para entender porque os bebês e crianças brasileiras passaram a
adoecer e morrer mais pela Covid-19. Na primeira parte do episódio, Monalisa
recebe Alexandre Ferraro, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo e um dos responsáveis por uma pesquisa recente que investigou o
assunto.
Ferraro e outros especialistas investigaram mais de 5 mil
infecções entre menores de 20 anos e constataram que existe não uma, mas várias
causas para a maior agressividade da Covid-19 entre crianças brasileiras. Entre
essas causas, está a desigualdade social. Também participa do episódio Marcelo
Otsuka, vice-presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade
de Pediatria de São Paulo.
No Twitter
DEAR GOD—“The largest public health & hospital collapse in the history of Brazil 🇧🇷”—wow.
Com a repercussão da ação simbólica do padre Júlio
Lancellotti, gestão Bruno Covas enviou nesta terça retroescavadeiras e uma
equipe para destruir obra sob viaduto da zona leste de São Paulo
Padre Júlio Lancellotti convocou a população à protestar
neste sábado (6), às 15h, deixando flores para uma "cidade mais
humana"
São Paulo – A calçada embaixo do viaduto Dom Luciano Mendes
de Almeida, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, amanheceu nesta quarta-feira
(3) sem as pedras instaladas pela prefeitura de São Paulo para impedir que
a população de rua se abrigasse no local. A estrutura,
que impedia qualquer pessoa de deitar ali, foi entregue pela gestão Bruno Covas
(PSDB) dias antes, sob os dois lados das pistas do viaduto. Mas só foi de fato
retirada após uma ampla repercussão negativa diante das pedras que ficaram
conhecidas como “anti-moradores de rua”.
O padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de
Rua, que já havia denunciado a obra como uma “arquitetura higienista”, foi até
o local nesta terça-feira. E, num ato simbólico, marretou as pedras colocadas
ali para evitar os moradores de rua.
À Folha de S. Paulo, o pároco questionou a dimensão do
custo da obra aos cofres públicos, citando o crime de “improbidade
administrativa”. “Fazer um buraco e aí depois tapar o que fez. Qual foi o custo
para mobilizar essas pedras, esse concreto? E agora todo o custo que está sendo
para mobilizar pessoas e recursos para desfazer isso?”, observou.
A gestão Covas não divulgou um balanço sobre os gastos. Mas
garantiu que uma sindicância foi aberta para investigar como foi feita a ordem
para esse serviço. O município alega que o ato foi feito de forma isolada por
um funcionário da Secretaria de Subprefeituras. E que esse tipo de medida não
faz parte da zeladoria da atual gestão.
Políticas de danos
No entanto, o prefeito Covas já era criticado por obra
semelhante realizada em Guaianazes, extremo leste da capital. Em entrevista à
repórter Larissa Bohrer, da Rádio Brasil Atual, o coordenador
nacional do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), Anderson Lopes
Miranda, acusou a administração municipal de querer “expulsar os sem-teto”, promovendo “ações de
higienização”. “Botar pedra é higienizar a cidade”, destacou.
A advogada e pesquisadora Kelseny Medeiros Pinho, da Clínica
de Direitos Humanos Luiz Gama, da Universidade de São Paulo (USP), ressaltou
também à reportagem que é preciso abrir um procedimento administrativo para
avaliar a responsabilidade pela construção da obra. De acordo com ela, cabe ao
Ministério Público de São Paulo pedir esclarecimentos. Assim como a Defensoria
Pública pode reivindicar uma indenização coletiva à população em situação de
rua.
“A gente não tem exatamente os indivíduos que foram afetados
ali. Mas a Defensoria pode propor uma ação contra a prefeitura para que esse
dinheiro seja revertido para políticas públicas a essa população. Porque esse é
o caso efetivo de uma política que causou danos”.
Protesto
Pelo Twitter, o padre Júlio Lancellotti convocou
a população à protestar neste sábado (6), às 15h. A ideia, segundo ele, é que,
evitando aglomeração, as pessoas depositem flores no local para mostrar a luta
por uma “cidade mais humana”.
Pelas periferias do país, milhares de jovens frequentam os bailes de funk - Foto: Mídia Ninja
Perseguidos pelo deputado que quebrou a placa de Marielle
Franco, Mcs foram intimados a depor por “apologia ao crime"
Às vésperas de completar um ano do massacre
de Paraisópolis, quando 9 jovens morreram no Baile da DZ7, o funk
voltou a ser notícia nas páginas policiais, graças ao deputado estadual Rodrigo
Amorim (PSL-RJ), que denunciou os Mcs Cabelinho e Maneirinho por apologia ao
crime, por conta da música “Migué”, lançada em parceria pelos dois
músicos.
Em 2018, Amorim, bolsonarista declarado, quebrou a placa com o nome da vereadora Marielle Franco,
ao lado do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) e do ex-governador do Rio
de Janeiro Wilson Witzel (PSC), todos eram candidatos na época.
Cabelinho e Maneirinho,
que já prestaram depoimento à polícia, se manifestaram pelas redes
sociais. “É uma denúncia política, feita por um deputado do PSL. É
impressionante como preto favelado quando faz sucesso, pra essa gente só pode
ser bandido”, afirmou o primeiro. “Eu não li e nem assisti a nossa realidade.
Mas playboy interpretando o que acontece na favela, concorre ao Oscar”,
lamentou o segundo.
Thiago de Souza, dono do Canal
do Thiagson no Youtube, e doutorando na Escola de Música da
Universidade de São Paulo (USP), onde pesquisa a musicologia do funk, saiu em
defesa dos Mcs em suas redes sociais e afirmou que “quem acusa o funk não deve
saber o significado da palavra ‘estética’, não sabe, ou não quer saber, que
certas letras são consequência e não a causa de problemas sociais.”
Thiago Souza: “Um baile grande é uma organização
política" / Foto: Arquivo Pessoal
Em entrevista ao Brasil de Fato, Souza lembrou
que a capoeira, o samba e o rap sofreram a mesma perseguição. “O funk nem
é visto como arte. Pelo fato dele tratar dos assuntos de uma forma mais direta,
ele sofre preconceito. O funk é arte, tem poesia, tem metáfora, enfim", aponta.
Souza considera que a origem desse preconceito contra o
gênero musical está “na origem preta e periférica” dos músicos.
"O funk não está preocupado em idealizar uma realidade,
ele fala diretamente sobre o que vive. Aí você cria um conflito, entre um país
como Machado de Assis falava, um país oficial, dos políticos, dos brancos e da
classe média, e o Brasil real”, defende.
Histórico
Para Renata Prado, diretora da Frente Nacional de Mulheres do Funk e
integrante da Frente de Dançarinas de Funk, a perseguição ao estilo musical tem
se intensificado e pode acabar em mais tragédias.
“Se nos próximos anos não pensarmos políticas públicas
que deem conta do funk na cidade, a chance de termos massacres como o de
Paraisópolis acontecendo constantemente, é muito grande", afirma.
Idealizador do Baile da Gaiola, na Penha, zona norte do Rio
de Janeiro, o DJ Rennan da Penha ficou preso preventivamente por oito meses em
2019, entre março e novembro.
O músico, que foi inocentado da acusação de associação ao
tráfico de drogas em primeira instância, teve a sentença revertida na segunda
instância e foi condenado a seis anos e oito meses de prisão. Um habeas corpus
do Supremo Tribunal Federal (STF) permitiu a soltura do músico.
A prisão do DJ motivou a campanha “DJ Não é Bandido”, que
foi encampada por diversos artistas no país. Rennan é acusado de ser olheiro do
tráfico na região da Penha e ter feito músicas para os criminosos. Na época, a
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) repudiou a sentença e afirmou que se
tratava de “criminalização da arte popular.”
Prado afirma que o “momento político do país deve aumentar a
violência do Estado contra a população pobre e preta que vive nas periferias”.
A dançarina esteve à frente de protestos em dezembro de 2019, após 9 jovens
morrerem durante o Baile da DZ7, em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo,
após ação da Polícia Militar para dispersar o evento.
Renata prado: "Temos o direito de ocupar a cidade
de
forma democrática" / Foto: Arquivo Pessoal
“Nós sabemos que foram policiais militares que
mataram esses jovens, todos com menos de 21 anos. Existe uma cultura de
massacre do movimento funk e isso precisa acabar. Infelizmente, o funk é
tratado como caso de Segurança Pública”, lamenta Prado.
A versão da PM era de que os jovens morreram asfixiados,
após milhares de pessoas correrem quando as viaturas chegaram ao local. Segundo
os moradores, as mortes ocorreram após os policiais agredirem os funkeiros. Na
época, 31 agentes que participaram da ação foram afastados pelo governo de São
Paulo. O caso segue em investigação e os culpados ainda não foram
apontados.
Entre abril de 2010 e junho de 2013, quatro Mcs e um
DJ foram assassinados na Baixada Santista: Careca, Duda do Marapé, Primo,
Felipe Boladão e DJ Felipe. Na época, familiares das vítimas e moradores da
região acusaram policiais militares pelos crimes. Os assassinos nunca foram
identificados.
"Quando mataram o Duda, eu estava indo fazer uma
atividade cultural com os meninos da Fundação Casa. O Duda pra mim foi
extermínio, quem fez está na rua", lembra o poeta Tubarão Dulixo, criado
na Baixada Santista e amigo de Duda do Marapé.
“Hoje, o funk toca na televisão e virou uma indústria. Mas
naquela época, era cada um por si, era submundo, marginalizado. Eu já fui mais
revoltado com isso, hoje eu consigo ter mais calma. Um estilo de música não é
um problema social”, conclui.
Duda do Marapé canta com amigos em Santos (Vídeo cedido por Tubarão Dulixo)
Na lista de músicos do funk presos, está na o MC Poze,
detido em setembro de 2019 por tráfico de drogas, associação ao tráfico,
incitação ao crime, apologia ao crime, corrupção de menores e por fornecer
bebida alcoólica a menores.
A operação policial ocorreu após uma denúncia de que o baile
em que o músico se apresentava, em Sorriso, no Mato Grosso, seria um ponto de
venda de drogas.
“Temos o direito de ocupar a cidade”
“Apesar de ser reprimido pela polícia, a massa funkeira não
vai deixar de ir ao baile, pois sabemos que temos o direito de ocupar a cidade
de forma democrática", afirma Prado. Apesar do histórico, ele acredita que
os bailes seguirão como uma das principais alternativas de lazer nas
periferias.
"O funk ocupa a cidade, mas não tem consciência de que
tem esse direito. Então, quando tem operação policial, a molecada corre. Isso
acaba se tornando algo cultural, você vai no baile funk sabendo que a qualquer
momento vai correr da polícia", relata.
Souza concorda com Renata Prado. “Tem ambivalência. Tem o
medo, mas tem outra coisa: quem que quer sair à noite pra curtir e aparece
a polícia enchendo o saco, jogando bomba, atirando bala de borracha, tomar
esculacho, enfim, ninguém quer isso. Agora, tem a vontade de resistir também. A
galera que sai, já sabe que pode tomar um enquadro no caminho. Ser funkeiro é
ser resistência.”
Por fim, Souza exalta a mobilização para que as festas
existam, apesar da repressão. “Um baile grande é uma organização política, a quebrada se prepara para um
baile, muita gente tem que se comprometer, muitas responsabilidades precisam
ser divididas e os próprios Mcs falam isso, que o baile é esse espaço de
resistência. Eles sabem disso.”
O cometa tornou-se visível em 3 de julho, quando atingiu seu
periélio --ponto de sua órbita mais próximo do Sol Por: Catraca Livre
Descoberto em março pela Nasa, o cometa Neowise poderá ser visto
a olho nu pelos brasileiros a partir da próxima semana.
Na segunda-feira, 20, ele será visível apenas para os
estados mais ao norte do país, como Roraima e Amapá, no início da
noite. Na quarta-feira, 22, os moradores de São Paulo, Rio e Espírito
Santo poderão ver o cometa Neowise com maior nitidez. Já os habitantes do
Sul do país, por volta do dia 26.
Crédito: PeterRYV/Wikimedia
Commons. O cometa Neowise visto na região de Sursee, Suíça Central
De acordo com a Nasa, a aproximação máxima da Terra será em
23 de julho, como o cometa estará a 103 milhões de quilômetros.
A próxima “passagem” do Neowise pela Terra será daqui a
6.800 anos.
A quem se interessar por registrar sua presença, cabe
lembrar: fenômenos como esse variam muito de um dia para o outro, são
imprevisíveis e algumas condições são necessárias para tudo dar certo.
Crédito: Andrey
Nikolenko/Wikimidia CommonsO cometa Neowise vista na manhã de 10 de julho
de 2020, sobre Odessa, na Ucrânia
Em entrevista ao site Canaltech, o astrofísico e
pesquisador André Zamorano Vitorelli, da USP (Universidade de São Paulo), disse
que a aparição do cometa no Brasil será logo após o pôr do sol. Para vê-lo será
necessário olhar em direção ao noroeste.
O cientista recomenda que aqueles que desejam ver a passagem
do cometa Neowise em
Para quem mora em grandes cidades e deseja ver a passagem do
cometa Neowis, o cientista recomenda usar binóculos.
— Out of context TIEMPOS (@TiemposOut) July 18, 2020
Time-Lapse do Cometa NEOWISE C/2020 F3 por Miguel Claro (Portugal). Um cometa não ¨passa¨ pelo céu. Assim como a Lua, acompanha o movimento da esfera celeste causado pela rotação terrestre. O NEOWISE poderá ser visto do Hemisfério Sul a partir da última semana de Julho. pic.twitter.com/0ezYb8uAHx