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domingo, 5 de maio de 2024

De onda de calor à chuva no Rio Grande do Sul: por que o Brasil sofre tanto com extremos climáticos


Parte disso se deve ao El Niño, fenômeno que ajuda a elevar as temperaturas do planeta desde meados de 2023


Jornal O Sul


Os extremos climáticos têm castigado o Brasil nos últimos dias. A transição de abril para maio começou com o alerta do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para a onda de calor fora de época em diferentes regiões do País. Poucos dias depois, temporais causaram destruição em mais de 300 cidades do Rio Grande do Sul, na maior tragédia ambiental da história do Estado.

Parte disso se deve ao El Niño, fenômeno que ajuda a elevar as temperaturas do planeta desde meados de 2023. Mas especialistas destacam que a recorrência dessas anomalias climáticas – no Brasil e no mundo – tem relação direta com o aquecimento global.

Diante do risco de novas catástrofes, cientistas fazem o alerta. “Estamos vivendo num novo clima, cheio de ondas de calor e chuvas intensas, que trazem prejuízos socioeconômicos”, diz Paulo Artaxo, cientista que integra o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas.

“A única maneira de lidar com isso é reduzir as emissões de gases do efeito estufa”, acrescenta ele, também professor da USP.

“Nós já mudamos o clima do planeta, ele já é diferente do que havia nos últimos dez, vinte anos em relação à intensidade e frequência dos fenômenos climáticos extremos. É inegável que eles já estão impactando o clima de maneira muito significativa e certamente, com o agravamento do aquecimento global, só vão aumentar em frequência e intensidade no futuro.”


AVENIDA PADRE CACIQUE INUNDADA! O @estadiobeirariooficial sofreu inundações após a subida do Guaíba. O entorno do Beira-Rio, casa do @scinternacional, ficou completamente tomado pela água neste sábado (4). #rdgrenal #radiogrenal #inter #colorado #ChuvasRS


 

 Fonte: Jornal O Sul


Observatório do Clima

Este é o senador ruralista @Heinzeoficial desfilando seu negacionismo climático ao @deolhonoagro em 2016.

Heinze foi eleito por 2,3 milhões de gaúchos para desmontar a proteção ambiental no país. Hoje a zona rural do RS sofre com as chuvas.

Lembrem-se disso na próxima eleição.



Biodiversidade - em defesa do clima!

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sexta-feira, 26 de março de 2021

300 mil mortes por covid-19? Total já pode ter passado de 410 mil no Brasil, apontam pesquisadores


Oficialmente, o Brasil ultrapassou nesta quarta-feira (24/3) a marca trágica de 300 mil mortos por covid-19 durante a pandemia. Mas registros hospitalares brasileiros apontam que o número de pessoas que morreram em decorrência de casos confirmados ou suspeitos da doença no país pode já ter passado de 410 mil.



Essa estimativa aparece em duas análises distintas, uma liderada por Leonardo Bastos, estatístico e pesquisador em saúde pública do Programa de Computação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e outra pelo engenheiro Miguel Buelta, professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

Ambas se baseiam em dados oficiais de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), um quadro de saúde caracterizado por sintomas como febre e falta de ar.

A legislação brasileira estabelece que todo paciente que é internado no hospital com SRAG precisa obrigatoriamente ter seus dados notificados ao Ministério da Saúde por meio do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (conhecido como Sivep-Gripe). Esse sistema é utilizado há anos e permite saber quantos casos de infecções respiratórias necessitaram de hospitalização e evoluíram para óbito no país.

No primeiro semestre de 2019, foram registrados 3.040 óbitos por síndrome respiratória aguda grave. No mesmo período em 2020, foram registrados 86.651. Até o momento, de todas as pessoas com SRAG e resultado laboratorial para algum vírus na pandemia, mais de 99% acabaram diagnosticadas com covid.

Esses dados são considerados bons indicadores por não sofrerem tanto com a escassez de testes ou resultados falsos positivos. Mas há alguns problemas, entre eles o atraso: pode levar bastante tempo até uma internação ou uma morte ser contabilizada no sistema.

Então, como saber o número atual mais próximo da realidade? Como os pesquisadores chegaram à estimativa de 410 mil ou 415 mil mortes por doença respiratória grave?


Projeção do agora

Bem, os cientistas fazem o que se chama de nowcasting, que grosso modo é uma projeção não do futuro (forecasting), mas do agora. Isso se faz ainda mais necessário durante a pandemia por causa dessa demora da entrada dos registros de hospitalizações e mortes no sistema digitalizado.

É como se os dados disponíveis hoje no sistema oficial formassem um retrato desatualizado e cheio de buracos. Para preencher e atualizar essa imagem, é preciso calcular, por exemplo, qual é o tamanho desse atraso, de uma morte de fato à entrada do registro dela no sistema, a fim de "prever" o que está acontecendo atualmente.

Bastos lidera análises de nowcasting numa parceria que envolve o Mave, grupo da Fiocruz de Métodos Analíticos em Vigilância Epidemiológica, e o Observatório Covid-19 BR, grupo que reúne cientistas de diversas instituições (como Fiocruz, USP, UFMA, UFSC, MIT e Harvard).


 

 "(O nowcasting) corrige os atrasos do sistema de notificação vigente, isto é, adianta-se as notificações oficiais futuras pelo tempo médio entre a ocorrência dos primeiros sintomas no paciente e a hospitalização, quando há o registro dos seus dados no sistema de vigilância. Esse tempo abrange várias etapas: desde procurar um hospital, coletar o exame, o exame ser realizado e o resultado do teste positivo para covid-19 estar disponível para ser incluído no banco de dados. O tempo acumulado entre essas etapas do processo causa atrasos de vários dias entre o número de casos confirmados no Sivep-Gripe (plataforma oficial de vigilância epidemiológica) e os casos ainda não disponíveis no sistema, que são compensados somando aos casos já confirmados uma estimativa de casos que devem ser confirmados no futuro", detalha o Observatório Covid-19 BR.

A dificuldade de monitorar em "tempo real" o que acontece durante epidemias é global, e diversos cientistas ao redor do mundo tentam achar soluções para esse problema.

Os cálculos atuais sobre a pandemia no Brasil liderados por Bastos foram feitos a partir da adaptação de um modelo estatístico proposto em 2019 por ele e mais oito pesquisadores.

Para apontar um retrato atual mais preciso da pandemia, essa modelagem estatística (hierárquica bayesiana) corrige os atrasos dos dados incorporando nos cálculos, por exemplo, a partir do conhecimento prévio da ciência sobre o que costuma acontecer durante o espalhamento de doenças como gripe. Mais detalhes no artigo disponível neste link aqui.

Para chegar até o número de 415 mil mortes por SRAG, Bastos explica à BBC News Brasil que são analisados primeiro os dados da semana atual e da anterior, a fim de identificar quantos casos e óbitos tiveram uma semana de atraso.

"Assim, aprendemos a respeito do atraso e usamos isso para 'prever'/corrigir a semana atual e as últimas 15 semanas. O total de 415 mil mortes por SRAG é a soma dos casos observados acumulados até 15 semanas atrás com as estimativas mais recentes corrigidas."

Cemitério no bairro Bom Jardim, em Fortaleza

Em sua análise, Miguel Buelta, professor da USP, aponta um número parecido.

Ele explica em seu perfil no Twitter que analisou os dados de óbitos por covid e SRAG até 14 de março e calculou a subnotificação dos últimos 60 dias a partir dos dados atrasados que foram entrando no sistema no período. "Fiz o cálculo para 14/01/2021. Subnotificação = 37% naquela data. Se este valor fosse mantido até hoje, no lugar dos 300 mil óbitos, poderíamos ter hoje 410 mil."

Mas Buelta acredita que o valor pode ser ainda maior. "A situação atual é muito mais emergencial. É uma tragédia. Vamos todos lutar contra isso. Isolamento social e ajuda emergencial. Fora disso não há solução." Mais detalhes sobre o modelo estatístico usado por ele aqui neste link.


1,7 milhão de internados

Na análise liderada por Bastos, da Fiocruz, estima-se que o Brasil tenha registrado mais de 1,7 milhão de internações durante a pandemia de coronavírus por causa de doenças respiratórias graves. Na pandemia de H1N1, em 2009, o total foi de 202 mil hospitalizações.

Ao se debruçar sobre os dados, ele aponta ainda uma tendência de piora na ocupação de hospitais no Distrito Federal e em nove Estados: Rondônia, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Maranhão, Ceará e Minas Gerais.

Todos eles têm mais de 20 hospitalizações por 100 mil habitantes. Em Rondônia, essa taxa chega a 49, por exemplo.

Por outro lado, Rio Grande do Sul e Santa Catarina parecem ter conseguido conter a tendência de alta das hospitalizações. Isso, no entanto, pode significar tanto que a situação melhorou quanto que não tem mais como o número piorar dada a superlotação dos hospitais. De todo modo, ambos os Estados ainda estão em um patamar bastante elevado, acima de 20 hospitalizados por 100 mil habitantes.

"Hospitalizações e óbitos só vão reduzir quando uma boa parcela das populações prioritárias, segundo o Programa Nacional de Imunização, forem imunizadas. Antes disso, sem uma redução efetiva da transmissão, veremos onda depois de onda", afirma Bastos.




TV JC

Covid-19: Infectologista faz apelo a população e desabafa sobre a situação dos hospitais

Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (25), em que foi anunciada a extensão da quarentena mais rígida até o próximo dia 31 de março em Pernambuco, o médico Demetrius Montenegro, chefe do setor de Infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), frisou o quanto tem se preocupado com a frequência de adultos jovens que chegam aos hospitais com sintomas de covid-19. Nesta quinta (25) o Estado ultrapassa a marca de 1.800 pessoas que recebem atualmente assistência em terapia intensiva (UTI). Entre elas, 1.424 estão em leitos públicos e 418 em vagas privadas.

Assista ao VÍDEO


quinta-feira, 18 de março de 2021

'10 vezes mais do que os EUA': por que Brasil tem tantas mortes de bebês por covid-19


Desde o início da pandemia de covid-19, 420 bebês morreram em decorrência do novo coronavírus no Brasil, número aproximadamente dez vezes maior do que o dos Estados Unidos, país com o maior número de óbitos pela doença, de acordo com dados oficiais.


Desde início da pandemia, 420 bebês (crianças com menos de 1 ano) morreram em decorrência do novo coronavírus no Brasil, contra 45 nos Estados Unidos

 
Segundo o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) norte-americano, 45 bebês, ou crianças com menos de um ano, perderam a vida após infecção pelo vírus.

Entre as crianças de um a cinco anos, a discrepância entre os dois países também fica nítida: foram 207 mortes por covid-19 no Brasil contra 52 nos Estados Unidos.

Os números brasileiros também são maiores do que o do Reino Unido, que registrou apenas duas mortes por coronavírus entre bebês (menos de um ano). E superiores aos do México, onde 307 crianças entre zero e quatro anos morreram. Já a França teve apenas quatro mortes entre zero e 14 anos devido ao novo coronavírus.

Ao mesmo tempo, atualmente, os EUA têm o maior número de mortos por covid-19 — 529 mil, seguido por Brasil (270,6 mil) e México (191,8 mil), segundo dados da Universidade Johns Hopkins. A taxa de mortalidade norte-americana pelo vírus (161,28 por 100 mil habitantes) também é mais alta do que a brasileira (128,12 por 100 mil habitantes).

Assim, desde o início da pandemia, a covid-19 matou, proporcionalmente, mais lá do que aqui.

As taxas de nascimentos de bebês também são dados importantes nesta equação.

Os dois países tem taxas praticamente iguais de natalidade, segundo o Banco Mundial: 1,77 filhos por mulher nos EUA e 1,74 filhos por mulher no Brasil. Em 2019, foram registrados 3,5 milhões de nascimentos nos Estados Unidos e 2,9 milhões no Brasil. A população americana é de 328,2 milhões e a brasileira, 210 milhões.

Em resumo: o Brasil tem um número mais elevado de mortes de bebês e crianças pequenas por covid-19, apesar de ter menos nascimentos do que os EUA, onde, por sua vez, mais pessoas morrem em decorrência do vírus, tanto em números absolutos quanto relativos.

Mas, afinal, o que está por trás desse alto número de mortos entre bebês e crianças pequenas no Brasil?


Razões

Além das mortes, na mesma base de comparação com outras nações, o Brasil também conta com um número expressivo de crianças internadas por covid-19. Só neste ano, segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, 617 bebês (menos de um ano), 591 crianças de um a cinco anos e 849 de seis a 19 anos foram hospitalizados devido à doença.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, não há uma única resposta para o problema.

Descontrole da pandemia e falta de diagnóstico adequado, aliados principalmente a comorbidades (doenças associadas) e vulnerabilidades socioeconômicas, passando pelo aparecimento de uma síndrome associada à covid-19 em crianças, ajudam a explicar o quadro trágico brasileiro.

Mas há uma ressalva: embora os óbitos sejam mais numerosos no Brasil em relação a outros países do mundo, é importante lembrar que o risco de morte nessa faixa etária ainda assim é "muito baixo", lembram os cientistas.

De fato, 420 bebês representam apenas 0,15% do total de mortes por covid-19 no Brasil (270,6 mil).

Portanto, a chance de um bebê (ou de uma criança) desenvolver sintomas graves de covid-19 e morrer por causa da doença é rara, mas "não nula", diz à BBC News Brasil Fatima Marinho, médica epidemiologista e consultora-sênior da Vital Strategies.

"As mortes nessa faixa etária são raras, mas é preciso acabar com esse mito de que crianças não morrem por covid-19", assinala.

Marinho frisa que as mortes por covid-19 entre bebês e crianças no Brasil podem ser ainda maiores se contabilizados os óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) não especificada.

"Podemos dizer que 48% dos que faleceram por SRAG não especificado têm alta probabilidade de ser morte por covid-19 por critérios clínicos e epidemiológicos", assinala.

Segundo Marinho, dados preliminares de uma pesquisa realizada pela Vital Strategies e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em três capitais, mostraram que 90% dos casos de SRAG não especificada foram comprovados como sendo de covid-19, após investigação.

Ela destaca que a covid-19 tende a evoluir de forma diferente em crianças e em adultos.

Mortes nessa faixa etária são "raras", mas não "nulas", diz especialista

Como os pequenos normalmente não são testados para coronavírus, uma vez que são, na prática, bem menos suscetíveis a desenvolver os sintomas mais graves da doença (e muitos são assintomáticos), seus sintomas podem ser facilmente confundidos com os de outras enfermidades, prejudicando o diagnóstico.

"Pediatras devem prestar atenção em crianças com falta de ar e febre, e se ocorrer diarreia e/ou dor abdominal e/ou tosse pensar em covid-19. A tosse foi pouco frequente na hospitalização, mais foi um sinal de alarme para morte para as crianças. A dor abdominal e diarreia foram sintomas mais frequentes nas crianças maiores de um ano", assinala Marinho.

Médicos lembram que a chance de óbito em recém-nascidos é maior do que em crianças acima de um ano porque seu sistema imunológico, responsável pela defesa do nosso organismo, ainda está "em formação".

Além disso, outra causa para a morte de crianças no Brasil, que ainda está sendo investigada, é a chamada "síndrome inflamatória multissistêmica", que pode comprometer o cérebro, causando encefalite, ou órgãos importantes como coração e rins.

No Reino Unido, 1 a cada 5 mil crianças que se infectaram com coronavírus desenvolveram essa reação do sistema imunológico, segundo dados do governo britânico.

Os sintomas, que incluem febre alta, pressão sanguínea baixa e dores abdominais, costumam aparecer cerca de um mês depois do contato com o coronavírus.

A grande maioria das crianças que se infectam pelo coronavírus não desenvolve esse processo inflamatório ou se recupera com tratamento. Mas em alguns casos, a síndrome pode evoluir para um quadro grave e ocasionar a morte.

Foi o que aconteceu com uma paciente da pediatra Jessica Lira, que trabalha na UTI do Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza, no Ceará.

A menina tinha dois anos e desenvolveu encefalite, uma inflamação no cérebro que parece ter sido impulsionada pela contaminação pelo coronavírus.

"Ela teve morte encefálica. A conversa foi difícil, os pais estavam com muito sentimento de revolta, tinham muita dificuldade em entender como que evoluiu para isso. Não sabiam que a covid-19 podia levar a um quadro como esse", disse Jessica em entrevista recente à BBC News Brasil.

Comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas são fatores de risco para crianças com covid-19

Comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas

Mas são as comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas que têm maior peso na morte de crianças por covid-19 no Brasil.

Um estudo observacional desenvolvido por pediatras brasileiros liderados por Braian Sousa, ligado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), e com supervisão de Alexandre Ferraro, identificou comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas como fatores de risco para o pior desfecho da covid-19 em crianças.

"Individualmente, a maioria das comorbidades incluídas foram fatores de risco. Ter mais de uma comorbidade aumentou em quase dez vezes o risco de morte. Em comparação com as crianças brancas, os indígenas, os pardos e os do leste asiático tiveram um risco significativamente maior de mortalidade. Também encontramos um efeito regional (maior mortalidade no Norte) e um efeito socioeconômico (maior mortalidade em crianças de municípios menos desenvolvidos socioeconomicamente)", dizem os pesquisadores no estudo publicado na plataforma medrxiv.

"Além do impacto das comorbidades, identificamos efeitos étnicos, regionais e socioeconômicos que moldam a mortalidade de crianças hospitalizadas com covid-19 no Brasil. Juntando esses achados, propomos que existe uma sindemia (interação entre problemas de saúde e contexto sócioeconômico) entre covid-19 e doenças não transmissíveis, impulsionada e fomentada por desigualdades sociodemográficas em grande escala".

"Enfrentar a covid-19 no Brasil também deve incluir o tratamento dessas questões estruturais. Nossos resultados também identificam grupos de risco entre crianças que devem ser priorizados para medidas de saúde pública, como a vacinação", concluem os pesquisadores.

Foram estudados 5.857 pacientes com menos de 20 anos, todos hospitalizados com covid-19 confirmado por laboratório.

Constatações semelhantes foram feitas pelo professor Paulo Ricardo Martins-Filho, da Universidade Federal do Sergipe (UFS), um dos pesquisadores que mais publicam sobre covid-19 no Brasil.

Ele e sua equipe desenvolveram um estudo para estimar as taxas de incidência e mortalidade da covid-19 em crianças brasileiras e analisar sua relação com as desigualdades socioeconômicas.

E chegaram à conclusão que houve diferenças regionais importantes e uma relação entre taxas de mortalidade e desigualdades socioeconômicas.

"O conhecimento das diferenças sociogeográficas nas estimativas do COVID-19 é crucial para o planejamento de estratégias sociais e tomada de decisão local para mitigar os efeitos da doença na população pediátrica", diz Martins-Filho no estudo, publicado na plataforma científica internacional PMC.

Portanto, essas crianças acabam ficando mais vulneráveis a doenças, incluindo o coronavírus.

"Claro que quanto mais casos tivermos e, por consequência, mais hospitalizações, maior é o número de mortos em todas as faixas etárias, incluindo crianças. Mas se a pandemia estivesse controlada, esse cenário poderia evidentemente ser minimizado", diz à BBC News Brasil Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.


"Maioria das crianças que morrem tem comorbidades", diz pediatra na linha de frente

Linha de frente

"A maioria das crianças que morrem tem comorbidades, especialmente pacientes oncológicos (com câncer) ou com sobrepeso e obesidade. Há também aqueles com problemas nos pulmões e no coração. Mas isso não é uma regra. Vemos bebês e crianças saudáveis morrendo por covid, algo não tão presente na primeira onda", diz à BBC News Brasil Lohanna Tavares, infectologista pediátrica da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Infantil Albert Sabin em Fortaleza, no Ceará.

Pediatras acreditam que as mortes dessas crianças saudáveis podem estar relacionadas a fatores externos, como desnutrição e outras doenças, como dengue, por exemplo, mas essa correlação ainda precisa ser estudada.

Tavares reforça outro fator que vem contribuindo para o aumento — e já identificado nos estudos sobre o tema: a falta de assistência.

"Os leitos hospitalares e o acesso aos cuidados pediátricos são bem menores para as crianças do que para os adultos. Várias enfermarias de hospitais pediátricos foram substituídas por leitos para adultos. Evidentemente, a necessidade maior é dos adultos. Mas a restrição de leitos pediátricos gera um acúmulo de pacientes nas emergências, o que faz com que o próprio pediatra pondere mais a internação da criança", diz.

"Ou seja, ele só vai internar as crianças que estiverem mais acometidas, com um quadro mais grave, quando o ideal seria deixar em observação casos que podem gerar complicações. Mas não há leitos suficientes. Quando se diminui o número de leitos pediátricos, o sistema fica sobrecarregado e a assistência fica, assim, prejudicada", lamenta.

Atualmente, não há vacinas disponíveis para menores de 16 anos. "Mas estudos já estão sendo feitos com esse público", lembra Kfouri, da SBP.

Fonte: BBC News Brasil


CNN Brasil

E Tem Mais: Covid-19 em crianças: por que os índices de mortalidade no Brasil são tão altos - 18/03

Ouça o podcast E Tem Mais, apresentado por Monalisa Perrone. Programa do dia 18 de março de 2021.

Neste episódio do E Tem Mais, Monalisa Perrone ouve médicos e pesquisadores para entender porque os bebês e crianças brasileiras passaram a adoecer e morrer mais pela Covid-19. Na primeira parte do episódio, Monalisa recebe Alexandre Ferraro, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e um dos responsáveis por uma pesquisa recente que investigou o assunto.

Ferraro e outros especialistas investigaram mais de 5 mil infecções entre menores de 20 anos e constataram que existe não uma, mas várias causas para a maior agressividade da Covid-19 entre crianças brasileiras. Entre essas causas, está a desigualdade social. Também participa do episódio Marcelo Otsuka, vice-presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo.



No Twitter


 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Após críticas, prefeitura de São Paulo retira pedras ‘anti-moradores de rua’


Com a repercussão da ação simbólica do padre Júlio Lancellotti, gestão Bruno Covas enviou nesta terça retroescavadeiras e uma equipe para destruir obra sob viaduto da zona leste de São Paulo


Padre Júlio Lancellotti convocou a população à protestar neste sábado (6), às 15h, deixando flores para uma "cidade mais humana"

 

São Paulo – A calçada embaixo do viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, amanheceu nesta quarta-feira (3) sem as pedras instaladas pela prefeitura de São Paulo para impedir que a população de rua se abrigasse no local. A estrutura, que impedia qualquer pessoa de deitar ali, foi entregue pela gestão Bruno Covas (PSDB) dias antes, sob os dois lados das pistas do viaduto. Mas só foi de fato retirada após uma ampla repercussão negativa diante das pedras que ficaram conhecidas como “anti-moradores de rua”. 

padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua, que já havia denunciado a obra como uma “arquitetura higienista”, foi até o local nesta terça-feira. E, num ato simbólico, marretou as pedras colocadas ali para evitar os moradores de rua.

À Folha de S. Paulo, o pároco questionou a dimensão do custo da obra aos cofres públicos, citando o crime de “improbidade administrativa”. “Fazer um buraco e aí depois tapar o que fez. Qual foi o custo para mobilizar essas pedras, esse concreto? E agora todo o custo que está sendo para mobilizar pessoas e recursos para desfazer isso?”, observou. 

A gestão Covas não divulgou um balanço sobre os gastos. Mas garantiu que uma sindicância foi aberta para investigar como foi feita a ordem para esse serviço. O município alega que o ato foi feito de forma isolada por um funcionário da Secretaria de Subprefeituras. E que esse tipo de medida não faz parte da zeladoria da atual gestão.


Políticas de danos

No entanto, o prefeito Covas já era criticado por obra semelhante realizada em Guaianazes, extremo leste da capital. Em entrevista à repórter Larissa Bohrer, da Rádio Brasil Atual, o coordenador nacional do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), Anderson Lopes Miranda, acusou a administração municipal de querer “expulsar os sem-teto”, promovendo “ações de higienização”. “Botar pedra é higienizar a cidade”, destacou. 

A advogada e pesquisadora Kelseny Medeiros Pinho, da Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama, da Universidade de São Paulo (USP), ressaltou também à reportagem que é preciso abrir um procedimento administrativo para avaliar a responsabilidade pela construção da obra. De acordo com ela, cabe ao Ministério Público de São Paulo pedir esclarecimentos. Assim como a Defensoria Pública pode reivindicar uma indenização coletiva à população em situação de rua. 

“A gente não tem exatamente os indivíduos que foram afetados ali. Mas a Defensoria pode propor uma ação contra a prefeitura para que esse dinheiro seja revertido para políticas públicas a essa população. Porque esse é o caso efetivo de uma política que causou danos”. 


Protesto

Pelo Twitter, o padre Júlio Lancellotti convocou a população à protestar neste sábado (6), às 15h. A ideia, segundo ele, é que, evitando aglomeração, as pessoas depositem flores no local para mostrar a luta por uma “cidade mais humana”.




 Confira a reportagem:


Rádio Brasil Atual

Jornal Brasil Atual desta quarta-feira está no ar com a análise das principais notícias do dia.

Acompanhe! Assista ao VÍDEO


Fonte: Rede Brasil Atual


quarta-feira, 11 de novembro de 2020

O recado do funk ao bolsonarismo: “A massa funkeira não vai deixar de ir ao baile”


Pelas periferias do país, milhares de jovens frequentam os bailes de funk - Foto: Mídia Ninja

Perseguidos pelo deputado que quebrou a placa de Marielle Franco, Mcs foram intimados a depor por “apologia ao crime"

Às vésperas de completar um ano do massacre de Paraisópolis, quando 9 jovens morreram no Baile da DZ7, o funk voltou a ser notícia nas páginas policiais, graças ao deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ), que denunciou os Mcs Cabelinho e Maneirinho por apologia ao crime, por conta da música “Migué”, lançada em parceria pelos dois músicos.

Em 2018, Amorim, bolsonarista declarado, quebrou a placa com o nome da vereadora Marielle Franco, ao lado do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) e do ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC), todos eram candidatos na época.

Cabelinho e Maneirinho, que já prestaram depoimento à polícia, se manifestaram pelas redes sociais. “É uma denúncia política, feita por um deputado do PSL. É impressionante como preto favelado quando faz sucesso, pra essa gente só pode ser bandido”, afirmou o primeiro. “Eu não li e nem assisti a nossa realidade. Mas playboy interpretando o que acontece na favela, concorre ao Oscar”, lamentou o segundo.

Thiago de Souza, dono do Canal do Thiagson no Youtube, e doutorando na Escola de Música da Universidade de São Paulo (USP), onde pesquisa a musicologia do funk, saiu em defesa dos Mcs em suas redes sociais e afirmou que “quem acusa o funk não deve saber o significado da palavra ‘estética’, não sabe, ou não quer saber, que certas letras são consequência e não a causa de problemas sociais.”

Thiago Souza: “Um baile grande é uma organização 

política" / Foto: Arquivo Pessoal


Em entrevista ao Brasil de Fato, Souza lembrou que a capoeira, o samba e o rap sofreram a mesma perseguição. “O funk nem é visto como arte. Pelo fato dele tratar dos assuntos de uma forma mais direta, ele sofre preconceito. O funk é arte, tem poesia, tem metáfora, enfim", aponta.

Souza considera que a origem desse preconceito contra o gênero musical está “na origem preta e periférica” dos músicos.

"O funk não está preocupado em idealizar uma realidade, ele fala diretamente sobre o que vive. Aí você cria um conflito, entre um país como Machado de Assis falava, um país oficial, dos políticos, dos brancos e da classe média, e o Brasil real”, defende.

Histórico

Para Renata Prado, diretora da Frente Nacional de Mulheres do Funk e integrante da Frente de Dançarinas de Funk, a perseguição ao estilo musical tem se intensificado e pode acabar em mais tragédias.

“Se nos próximos anos não pensarmos políticas públicas que deem conta do funk na cidade, a chance de termos massacres como o de Paraisópolis acontecendo constantemente, é muito grande", afirma.

Idealizador do Baile da Gaiola, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro, o DJ Rennan da Penha ficou preso preventivamente por oito meses em 2019, entre março e novembro.

O músico, que foi inocentado da acusação de associação ao tráfico de drogas em primeira instância, teve a sentença revertida na segunda instância e foi condenado a seis anos e oito meses de prisão. Um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF) permitiu a soltura do músico.

A prisão do DJ motivou a campanha “DJ Não é Bandido”, que foi encampada por diversos artistas no país. Rennan é acusado de ser olheiro do tráfico na região da Penha e ter feito músicas para os criminosos. Na época, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) repudiou a sentença e afirmou que se tratava de “criminalização da arte popular.”

Prado afirma que o “momento político do país deve aumentar a violência do Estado contra a população pobre e preta que vive nas periferias”. A dançarina esteve à frente de protestos em dezembro de 2019, após 9 jovens morrerem durante o Baile da DZ7, em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, após ação da Polícia Militar para dispersar o evento.

Renata prado: "Temos o direito de ocupar a cidade 

de forma democrática" / Foto: Arquivo Pessoal


Nós sabemos que foram policiais militares que mataram esses jovens, todos com menos de 21 anos. Existe uma cultura de massacre do movimento funk e isso precisa acabar. Infelizmente, o funk é tratado como caso de Segurança Pública”, lamenta Prado.

A versão da PM era de que os jovens morreram asfixiados, após milhares de pessoas correrem quando as viaturas chegaram ao local. Segundo os moradores, as mortes ocorreram após os policiais agredirem os funkeiros. Na época, 31 agentes que participaram da ação foram afastados pelo governo de São Paulo. O caso segue em investigação e os culpados ainda não foram apontados.   

Entre abril de 2010 e junho de 2013, quatro Mcs e um DJ foram assassinados na Baixada Santista: Careca, Duda do Marapé, Primo, Felipe Boladão e DJ Felipe. Na época, familiares das vítimas e moradores da região acusaram policiais militares pelos crimes. Os assassinos nunca foram identificados.

"Quando mataram o Duda, eu estava indo fazer uma atividade cultural com os meninos da Fundação Casa. O Duda pra mim foi extermínio, quem fez está na rua", lembra o poeta Tubarão Dulixo, criado na Baixada Santista e amigo de Duda do Marapé.

“Hoje, o funk toca na televisão e virou uma indústria. Mas naquela época, era cada um por si, era submundo, marginalizado. Eu já fui mais revoltado com isso, hoje eu consigo ter mais calma. Um estilo de música não é um problema social”, conclui.

Assista ao VÍDEO

Duda do Marapé canta com amigos em Santos (Vídeo cedido por Tubarão Dulixo)

Na lista de músicos do funk presos, está na o MC Poze, detido em setembro de 2019 por tráfico de drogas, associação ao tráfico, incitação ao crime, apologia ao crime, corrupção de menores e por fornecer bebida alcoólica a menores.

A operação policial ocorreu após uma denúncia de que o baile em que o músico se apresentava, em Sorriso, no Mato Grosso, seria um ponto de venda de drogas.

“Temos o direito de ocupar a cidade”

“Apesar de ser reprimido pela polícia, a massa funkeira não vai deixar de ir ao baile, pois sabemos que temos o direito de ocupar a cidade de forma democrática", afirma Prado. Apesar do histórico, ele acredita que os bailes seguirão como uma das principais alternativas de lazer nas periferias.

"O funk ocupa a cidade, mas não tem consciência de que tem esse direito. Então, quando tem operação policial, a molecada corre. Isso acaba se tornando algo cultural, você vai no baile funk sabendo que a qualquer momento vai correr da polícia", relata.

Souza concorda com Renata Prado. “Tem ambivalência. Tem o medo, mas tem outra coisa: quem que quer sair à noite pra curtir e aparece a polícia enchendo o saco, jogando bomba, atirando bala de borracha, tomar esculacho, enfim, ninguém quer isso. Agora, tem a vontade de resistir também. A galera que sai, já sabe que pode tomar um enquadro no caminho. Ser funkeiro é ser resistência.”

Por fim, Souza exalta a mobilização para que as festas existam, apesar da repressão. “Um baile grande é uma organização política, a quebrada se prepara para um baile, muita gente tem que se comprometer, muitas responsabilidades precisam ser divididas e os próprios Mcs falam isso, que o baile é esse espaço de resistência. Eles sabem disso.”

Fonte: Brasil de Fato


domingo, 19 de julho de 2020

Cometa Neowise poderá ser visto a olho nu no Brasil; saiba como vê-lo



O cometa tornou-se visível em 3 de julho, quando atingiu seu periélio --ponto de sua órbita mais próximo do Sol


Por: Catraca Livre

Descoberto em março pela Nasa, o cometa Neowise poderá ser visto a olho nu pelos brasileiros a partir da próxima semana.

Na segunda-feira, 20, ele será visível apenas para os estados mais ao norte do país, como Roraima e Amapá, no início da noite. Na quarta-feira, 22, os moradores de São Paulo, Rio e Espírito Santo poderão ver o cometa Neowise com maior nitidez. Já os habitantes do Sul do país, por volta do dia 26.

Crédito: PeterRYV/Wikimedia Commons. O cometa Neowise visto na região de Sursee, Suíça Central

De acordo com a Nasa, a aproximação máxima da Terra será em 23 de julho, como o cometa estará a 103 milhões de quilômetros.

A próxima “passagem” do Neowise pela Terra será daqui a 6.800 anos.

A quem se interessar por registrar sua presença, cabe lembrar: fenômenos como esse variam muito de um dia para o outro, são imprevisíveis e algumas condições são necessárias para tudo dar certo.

Crédito: Andrey Nikolenko/Wikimidia CommonsO cometa Neowise vista na manhã de 10 de julho de 2020, sobre Odessa, na Ucrânia

Em entrevista ao site Canaltech, o astrofísico e pesquisador André Zamorano Vitorelli, da USP (Universidade de São Paulo), disse que a aparição do cometa no Brasil será logo após o pôr do sol. Para vê-lo será necessário olhar em direção ao noroeste.

O cientista recomenda que aqueles que desejam ver a passagem do cometa Neowise em

Para quem mora em grandes cidades e deseja ver a passagem do cometa Neowis, o cientista recomenda usar binóculos.



Como encontrar o Neowise nos céus do Brasil?
Neste tutorial, mostraremos como encontrar o cometa sem a utilização de bússola.



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