Ameaças de sanções se intensificaram após anúncio de que a chinesa Norinco estaria interessada na aquisição de 49% das ações da Avibrás
A crise da principal fabricante no Brasil de sistemas
pesados de defesa, a Avibrás Aeroespacial, segue sem solução. Apesar do governo
ter dado alguns sinais de que poderia intervir para impedir o fechamento ou a
desnacionalização da empresa, as discussões para a sua venda para a australiana
DefendTex prosseguem, segundo comunicado da Avibrás.
“Ambas as empresas [Avibrás e DefendTex] estão empenhadas em concluir o processo de aquisição e realizar o aporte de capital a partir do dia 30 de julho, visando a retomada das operações. Novas informações serão divulgadas em momento oportuno”, diz o comunicado.
Este comunicado revela um novo ingrediente envolvendo a
Avibrás. Diante do anúncio de que uma empresa estatal chinesa, a Norinco,
poderia aportar capital e adquirir 49% das ações da Avibrás, o governo dos
Estados Unidos reagiu com ameaças de sanções contra a empresa brasileira caso
ela se associe com a empresa asiática.
A solução defendida por especialistas e pelos trabalhadores
é a estatização da empresa para evitar a desnacionalização da Avibrás. A
participação asiática na empresa com 49% garantiria a retomada das operações e
o controle nacional da fabricante de armas.
Diante destas ameaças feitas pelos Estados Unidos, a Avibrás
anunciou o prolongamento do prazo para as negociações com a empresa
australiana. O fim das tratativas com a DefendTex estava previsto para o final
de junho e foram prorrogadas, segundo o comunicado, para o fim de julho.
Em junho passado, o ministro da Defesa brasileiro, José
Múcio Monteiro, chegou a afirmar que em função das dificuldades que o grupo
australiano enfrentava para conseguir o financiamento, a DefendTex tinha
desistido da compra.
Da acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, integrantes
da diplomacia norte-americana já teriam comunicado a membros do governo Lula
que a participação da Norinco na indústria de defesa brasileira poderia causar
embargos dos EUA em meio à guerra de sanções comerciais estabelecida por
Washington contra Pequim.
As ameaças de embargos a uma empresa brasileira por se
associar com uma empresa do maior parceiro comercial brasileiro são uma afronta
à soberania do Brasil e demonstram interesses dos EUA na venda da Avibrás para
a australiana DefendTex.
Em março de 2022, a Avibrás, principal fornecedora de
mísseis e foguetes para o Exército brasileiro, pediu recuperação judicial, com
dívidas estimadas em R$ 570 milhões, montante que hoje beira os R$ 700 milhões.
De uma só vez, a fabricante demitiu 420 de seus 1.500
funcionários. Os que permaneceram estão sem salários há mais de um ano. O
próprio presidente Lula pediu empenho do governo para a solução dos problemas
da empresa.
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