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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Javier Bardem: “O que está acontecendo em Gaza é inaceitável”


O ator espanhol apelou ao fim da “impunidade e do apoio incondicional” ao Governo de Israel


O ator Javier Bardem chega a San Sebastián. 20 de setembro de 2024 - Raul Terrell /Gettyimages.ru


O ator espanhol Javier Bardem descreveu esta sexta-feira a situação na Faixa de Gaza como “inadmissível”, depois de considerar que o Governo de Israel “está a cometer crimes contra a humanidade” e é o mais radical que o país judeu teve em toda a sua história.

“O que está a acontecer em Gaza é totalmente inadmissível, é terrível, é desumanizante ”, disse ele no contexto do Festival de Cinema de San Sebastian, que se realiza no norte de Espanha. 



 Nesta linha, afirmou que os ataques “atrozes” perpetrados pelo Hamas contra cidadãos de Israel em 7 de outubro de 2023, “não justificam o castigo global que a população palestiniana está a sofrer”, por decisão do Governo de Benjamin Netanyahu.

“Precisamos da voz social que acabe com a impunidade e com o apoio incondicional, que nada mais é do que dar asas ao abuso do direito internacional e dos direitos humanos”, disse o ator, que recebeu a Concha de Prata de San Sebastián pelo filmes 'Dias contados' e 'O detetive e a morte'.


A ONU insta Israel a “acabar com a sua
 presença ilegal” em território palestiniano

Bardem agradeceu o prémio atribuído no âmbito do festival de cinema, mas recusou-se a recebê-lo em clima festivo. “ Não tenho espírito de celebração , é impossível para mim, como o mundo é, celebrar qualquer coisa”, disse ele.

Da mesma forma, defendeu a necessidade de uma solução negociada para a situação na Faixa de Gaza que passe por um cessar-fogo imediato, o resgate dos reféns e uma mudança de interlocutores, "porque este governo de Netanyahu e esta liderança do Hamas " nunca irão chegar a um acordo."

Desde o início da ofensiva militar israelita em Gaza, estima-se que mais de 40 mil palestinianos morreram durante o conflito e mais de 90 mil ficaram feridos, enquanto mais de 10 mil estão desaparecidos sob os escombros.

Fonte: RT en Español


UN News


Acabar com a guerra em Gaza e evitar um conflito regional total é uma prioridade absoluta e urgente

– Volker Türk, Alto Comissário @UNHumanRights, 20 set '24.



Cinema e Séries 01

Cinema e Séries 02


segunda-feira, 17 de maio de 2021

Yanomamis denunciam morte de duas crianças durante ataque de garimpeiros em Roraima


Crianças de 1 e 5 anos foram encontradas no Rio Uriracoera depois de fugirem dos disparos


Neila Yanomami e outros 8 lideranças indígenas da Comunidade Palimiu em Boa Vista (RR) no último sábado (15) - Reprodução /Divulgação


 Duas crianças Yanomami, de 1 e 5 anos, foram encontradas mortas após ataque de garimpeiros ilegais na última segunda-feira (10) na comunidade Palimiu, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. 

"Na segunda-feira, muitas crianças correram pro mato, pro outro lado e pro rio [pra fugir dos tiros]. E as duas crianças ficaram lá pra beira do rio. Todo mundo na hora tava num clima muito ruim, estava se defendendo, e as crianças foram se esconder no mato", explica Dário Kopenawa, vice-presidente da associação Hutukara.  

"No dia 11 começaram a procurar e acharam as crianças, mas sobrou duas [que não foram localizadas]. Então no dia 12 as crianças boiaram no Rio Grande. Eles foram recolhidos às 15h. As lideranças confirmaram que as crianças morreram durante o tiroteio fugindo dos tiros".

Em vídeo gravado pelos indígenas, é possível ver o exato momento em que as embarcações se aproximam e começam a atirar. Mulheres e crianças que estavam sentadas próximas à beira do rio correm para dentro da comunidade. Na correria, duas crianças se perderam na mata e acabaram caindo no rio.


Brasil de Fato

Garimpeiros armados chegam de barco e atacam comunidade indígena em Roraima

Assista ao VÍDEO


Em nota, a Hutukara Associação Yanomami (HAY) informou que os indígenas estão muito tristes e de luto pela perda das crianças, além de estarem muito cansados - já que não conseguem dormir direito por conta dos ataques dos garimpeiros. 

No último sábado (15), 9 lideranças indígenas da comunidade Palimiu estiveram em Boa Vista, capital de Roraima, para conversar com a imprensa e se reunir com o Ministério Público Federal. Na ocasião, as lideranças puderam dar mais detalhes do que a comunidade vem vivendo por conta dos ataques. 

"Nós estamos muito preocupados com nossos parentes do Palimiu, que estão sofrendo ameaças contra suas vidas. Nesse momento, a comunidade de Palimiu está sem nenhuma assistência de saúde: os profissionais de saúde foram removidos por conta dos tiroteios", diz a nota da associação.

 No texto a HAY também afirma que não há nenhuma força pública de segurança permanente no local e que os garimpeiros continuam amedrontando a comunidade."Os garimpeiros estão circulando ao redor da comunidade armados em barcos. Na noite do dia 14 de maio entraram na comunidade, mas os Yanomami tinham fugido do mato para se proteger".

"Nós Yanomami queremos viver em paz na nossa terra, com a floresta. As autoridades brasileiras precisam cumprir sua responsabilidade e agir urgentemente para garantir a segurança dos Yanomami e dos Ye’kwana, e para proteger a Terra Indígena Yanomami e a floresta do garimpo ilegal", conclui a nota. 

Com base em pedido do Ministério Público Federal em Roraima (MPF-RR), a  Justiça Federal determinou na última sexta-feira (14), que a União mantenha efetivo armado, de forma permanente, na comunidade Palimiú, na Terra Indígena Yanomami em Roraima, para evitar novos conflitos e garantir a segurança de seus integrantes.

Na decisão, foi estabelecido prazo de 24 horas para que a União informe e comprove nos autos o envio de tropa para a comunidade sob pena de multa a ser fixada. Também foi determinada à Fundação Nacional do Índio (Funai) que auxilie as forças de segurança no contato com os indígenas e no gerenciamento das relações interculturais.

O pedido foi feito pelo Ministério Público Federal (MPF) na quarta-feira (12), na Ação Civil Pública ajuizada no ano passado, na qual pediu a total desintrusão de garimpeiros na região.

Em nota, o  Ministério da Saúde, por meio do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami, informa que "os profissionais da Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI) que se encontravam no Polo Base da comunidade Palimiú, na Terra Indígena Yanomami, foram retirados, pelo DSEI, por falta de segurança no local, na terça-feira, 11 de maio".

A pasta afirma que a retirada foi  acompanhada por agentes da Polícia Federal e pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) Yanomami "para garantir a integridade física dos profissionais de saúde".

"A unidade de atendimento será reaberta tão logo seja possível atuar em segurança na localidade. Em caso de urgência ou emergência durante este período, o DSEI realizará atendimento pontual e a comunidade não ficará desassistida".

O Brasil de Fato também procurou a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Ministério da Defesa, mas não obteve resposta até o momento desta publicação.


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terça-feira, 11 de maio de 2021

As vacinas Covid-19 da Johnson & Johnson e AstraZeneca devem ser excluídas devido aos potenciais efeitos colaterais - especialistas em saúde noruegueses


O Instituto de Saúde Pública da Noruega recomendou contra o uso da vacina Johnson & Johnson, adicionando a recomendação de evitar permanentemente o uso da vacina AstraZeneca Covid-19 sobre o medo de efeitos colaterais.


(FOTO DE ARQUIVO) © REUTERS / Dado Ruvic / Ilustração /

Em um comunicado à imprensa na segunda-feira, o Instituto Norueguês de Saúde Pública (NIPH) aconselhou o governo contra o uso do jab Johnson & Johnson Covid-19, seguindo a orientação de uma comissão nomeada pelo governo. O comitê também apoiou uma recomendação anterior do NIPH de não usar a injeção AstraZeneca. 

“Não recomendamos que as vacinas sejam usadas no programa nacional de vacinação devido aos graves efeitos colaterais que foram observados”, disse Lars Vorland, presidente do comitê de especialistas, em uma entrevista coletiva na segunda-feira. 

Em sua declaração, o NIPH publicou formalmente a recomendação de não usar o jab Johnson & Johnson Covid-19. “Nosso objetivo é proteger o maior número de pessoas possível, o mais rápido possível, para reabrir a sociedade e recuperar o dia a dia. Portanto, é uma decisão difícil recomendar que uma das vacinas da Covid não seja usada ativamente no programa. ” 

O NIPH recomenda que a injeção da Johnson & Johnson seja mantida em armazenamento de emergência para o caso de o fornecimento da vacina do jab de mRNA falhar. Eles acrescentam que é particularmente adequada para ser uma vacina de emergência, pois requer apenas uma dose e pode ser armazenada por muito tempo. 



A organização citou dados dos EUA que sugerem que a vacina da Johnson & Johnson é menos provável de causar coágulos sanguíneos do que a injeção da AstraZeneca, mas disse que ainda não havia uma imagem clara.

O NIPH disse que houve um progresso considerável no programa de vacinação, com muitos idosos já totalmente inoculados, e que existe um fornecimento confiável de vacinas de mRNA, ou seja, Moderna e Pfizer, ambas autorizadas por Oslo.

O ministro da Saúde, Bent Hoeie, disse em entrevista coletiva que “o governo usará isso como base para sua decisão, juntamente com as recomendações do Instituto de Saúde Pública, sobre o uso dessas vacinas”. 

Em abril, o NIPH recomendou que o governo parasse de usar a vacina Oxford / AstraZeneca Covid-19 após uma longa revisão da vacina. Oslo suspendeu o uso da vacina em 11 de março após relatos de coágulos sanguíneos raros e potencialmente fatais. As preocupações com a coagulação do sangue já levaram a limitações na distribuição da vacina em vários países. 

Cinco profissionais de saúde, todos com idades entre 32 e 54 anos, foram hospitalizados após receberem a vacina AstraZeneca na Noruega. Três deles morreram.

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Fonte: RT


Estadão

AstraZeneca: vários países suspendem administração da vacina - 15 de mar. de 2021

Vários países europeus suspenderam o uso da vacina anticovid da AstraZeneca. A decisão das autoridades ocorre em meio à denúncias por prováveis efeitos colaterais. Alguns casos são relacionados a coágulos sanguíneos

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quinta-feira, 29 de abril de 2021

'Vi famílias dizimadas': relatos dramáticos da pandemia que deixou 400 mil mortos no Brasil


Desde o primeiro caso confirmado de covid-19 no Brasil, no fim de fevereiro de 2020, a rotina dos profissionais de saúde mudou. Com o aumento de infecções e mortes pela doença, médicos e enfermeiros na linha de frente dos atendimentos passaram a viver o período mais difícil de suas carreiras.



 "Existe uma exaustão entre esses profissionais de saúde há mais de um ano. É um estresse 24 horas, como a gente nunca viveu. É uma exaustão física e emocional. Estamos trabalhando 24 horas salvando vidas", diz o cardiologista Roberto Kalil, presidente do Conselho Diretor do Instituto do Coração em São Paulo.


Nesta quinta-feira (29/04), o Brasil atingiu a marca de 400 mil mortes pela covid-19, em meio ao seu mês mais letal da pandemia — em abril já foram registradas mais de 75 mil mortes pela doença, enquanto em março deste ano, até então o período com mais óbitos, foram 66 mil.

Em meio às centenas de milhares de mortes, os profissionais de saúde acompanham diversas cenas que ilustram a tragédia do novo coronavírus.

Despedidas, mortes por falta de recursos básicos e óbitos de diferentes integrantes da mesma família são algumas das situações que marcam os trabalhadores na linha de frente.

"É o pior período para a saúde mental dos profissionais de saúde. Muitos médicos pararam de dar plantão ou diminuíram o ritmo de trabalho porque estavam muito estressados. Tem sido um período muito grande de estresse", relata o médico intensivista José Albani de Carvalho.

Os profissionais de saúde relatam que cenas difíceis de serem esquecidas se tornaram cada vez mais comuns em meio à pandemia. Para dimensionar a tragédia vivida no país de 400 mil mortes pela doença, a BBC News Brasil pediu para médicos relatarem algumas das situações mais dramáticas que presenciaram desde o ano passado.

'Vimos um paciente morrer atrás do outro'

Em janeiro, Manaus viveu tragédia da falta de oxigênio medicinal. Caso se tornou alvo de investigação

O médico cirurgião Pierre Oliva Souza nunca esquecerá as cenas que presenciou no plantão que começou da noite de 14 de janeiro até o dia seguinte, em uma unidade de saúde em Manaus, no Amazonas.

Ele chegou para o plantão no Serviço de Pronto Atendimento (SPA) Joventina Dias por volta das 19h. Na unidade, logo foi informado por um colega que não havia estoque de oxigênio medicinal — item fundamental para auxiliar pacientes com dificuldades respiratórias, como aqueles com quadro grave de covid-19.

"Havia apenas dois cilindros de oxigênio, que durariam por algumas horas somente, porque a unidade estava lotada. Normalmente, havia 20 pacientes com suspeita de covid-19 que precisavam desse oxigênio, mas naquele período tinha mais de 40", relata o médico.

Ele conta que alguns gestores da região falaram que logo chegaria um caminhão carregado com oxigênio. "Deram falsas esperanças, porque isso não era verdade. Não havia oxigênio em lugar nenhum de Manaus, porque também faltou no mesmo dia em outras dezenas de unidades do Amazonas", comenta.

Na madrugada de 15 de janeiro, o oxigênio acabou completamente no SPA Joventina Dias. "Ninguém tinha avisado, dias antes, que o estoque de oxigênio estava acabando no Estado. Foi muito chocante para todo mundo", diz Souza.

"A gente sabia o quanto essa falta de oxigênio seria danosa e grave. O governador chegou a comentar, na semana anterior, que o Estado estava à beira de uma crise de oxigênio, por causa do aumento de casos de covid-19. Mas nós, profissionais de saúde, não tínhamos noção de como, de fato, a situação estava", diz o médico.

"Por causa da falta de oxigênio, a equipe de saúde teve que assumir a difícil decisão de quem vai sobreviver ou morrer por conta da absoluta falta de estrutura. Vimos um paciente morrer atrás do outro naquela madrugada. Eles definhavam, buscavam respirar, ficavam com a coloração azulada e morriam asfixiados na nossa frente. Não tínhamos o que fazer", relata Souza.

Segundo Souza, somente no SPA Joventina Dias foram contabilizadas oito mortes naquela madrugada. O médico relata que, normalmente, havia duas ou três mortes por plantão. "Sei de lugar que registrou mais de 20 mortes por causa da falta de oxigênio", comenta.

A situação no Amazonas se tornou notícia em todo o mundo. Diversos pacientes foram transferidos para outros Estados. Posteriormente, a cidade recebeu abastecimentos de oxigênio. "A situação foi normalizada depois. Hoje as coisas estão bem, principalmente porque os números de internações caíram nas últimas semanas", diz o médico.

Apurações apontam que a falta de oxigênio causou dezenas de mortes no Amazonas em meados de janeiro.

Então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello afirmou, na época, que foi avisado por volta de 8 de janeiro que o alto número de internações em Manaus até quintuplicou o uso do oxigênio medicinal. Em razão disso, segundo ele, o Ministério da Saúde logo passou a tomar providências junto com o governo estadual e a prefeitura.

De acordo com a CNN Brasil, o secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campelo, alegou, em depoimento à Polícia Federal que a falta de oxigênio ocorreu porque a principal fornecedora do insumo no Estado informou somente dias antes que não teria capacidade de atender a demanda na região, em razão do aumento de internações.

Segundo o secretário, o governo local logo comunicou o Ministério da Saúde e foram adotadas todas as medidas necessárias para o "enfrentamento de uma crise de saúde sem precedentes na história do Amazonas".

Em meados de abril, o Ministério Público Federal (MPF) do Amazonas apresentou uma ação de improbidade administrativa por omissão sobre a crise no fornecimento de oxigênio medicinal no Amazonas. Entre os alvos do procedimento estão três secretários do Ministério da Saúde e o então responsável pela pasta, general Eduardo Pazuello, e dois integrantes do governo do Amazonas, entre eles o secretário estadual de Saúde, Marcellus Campelo.

O MPF apontou falhas como omissão no monitoramento da demanda de oxigênio medicinal e adoção de medidas para evitar o desabastecimento, além de demora nas transferências de pacientes para outros Estados. O caso segue na Justiça Federal do Amazonas.

Mais de três meses depois, as cenas de meados de janeiro agora fazem parte das piores lembranças da pandemia para os profissionais de saúde do Amazonas.

"Eu vou superar, porque nosso trabalho pede, mas não vou esquecer nunca. Apesar de todo ensinamento que tivemos na faculdade, nunca pensei que fosse viver em tempos de paz aquilo que só acontece na guerra, que é escolher quem vai viver ou morrer", desabafa Souza.


'Vi famílias dizimadas'

O médico intensivista José Albani de Carvalho, que atua em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais da grande São Paulo, comenta que algumas das situações mais tristes que presenciou envolvem as mortes de membros de uma mesma família pela covid-19.

"Ver famílias inteiras morrendo foi uma das coisas que mais me marcaram. Não foi uma, nem duas, nem três. Foram vários casos de irmãos, pais e filhos ou outros parentes morrendo com diferenças de horas ou dias. A grande verdade é que na minha vida inteira nunca tinha visto isso tão frequentemente", desabafa o médico, que trabalha em UTIs há mais de 30 anos.

"Teve uma família em que morreram três irmãos em dois dias. Dois deles estavam em leitos próximos. Isso impacta muito, porque você vê uma família ser dizimada", diz o médico.

Ele detalha o caso de três mortes de pessoas na faixa dos 40 anos que eram da mesma família. "O rapaz foi intubado com covid-19. A mulher dele foi internada, mas parecia que evoluiria bem e não precisaria ser intubada. Mas é muito difícil saber, porque às vezes um paciente demora 10 dias na UTI e você não sabe para onde ele vai, se vai melhorar ou piorar", comenta Albani.

"O rapaz acabou morrendo. A mulher dele, que a gente achava que daria alta em poucos dias, piorou também e foi intubada. Dias depois, ela morreu. Depois, a irmã dela, que estava internada no hospital, também faleceu", relata o médico.

O intensivista foi o responsável por contar sobre as mortes à família. "Nunca é fácil comunicar isso, porque você acompanha essas famílias e aquele sofrimento durante as internações, que muitas vezes duram dias ou semanas", diz.

"Por incrível que pareça, esse comunicado para as famílias acaba sendo algo que a gente se acostuma. Não é ser insensível, mas é que há mais de 30 anos na UTI isso acaba se tornando algo do cotidiano. Mas claro, quando você vai comunicar três mortes para uma mesma família, como tem acontecido em alguns casos, é mais difícil", acrescenta Albani.

O médico comenta que os familiares dos pacientes sempre reconhecem o trabalho dos profissionais de saúde.

Enquanto precisam enfrentar números de internações e mortes como nunca tinham presenciado em período recente, os profissionais de saúde também enfrentam o estresse causado pela falta de cuidados de muitos em relação ao coronavírus.

"Do ponto de vista da sociedade em geral os profissionais de saúde não são reconhecidos. Enquanto vemos as dificuldades, as mortes e trabalhamos sob muito estresse, há muitas pessoas nas ruas que falam que máscara é bobagem e fazem aglomerações. Olhar essas situações causa ainda mais estresse a esses profissionais", desabafa Albani.

'Ficamos com medo de dar a notícia da morte da esposa'

'Nenhuma outra doença tinha esse agravante de muitas pessoas da mesma família morrendo juntas. Os casos são impactantes', diz médica

Para a médica Luisa Frota Chebabo, um dos momentos mais tristes da pandemia envolveu uma família completamente afetada pela covid-19. Ela conta que foram internados mãe, pai e filho no mesmo dia em um mesmo hospital público da capital do Rio de Janeiro, em novembro passado.

"A mãe (de 60 anos) chegou muito grave e foi intubada no momento da admissão (no hospital). O pai e o filho estavam um pouco mais estáveis", diz Luisa.

Ela comenta que os leitos de covid-19 estavam sobrecarregados na unidade de saúde, por isso os três integrantes da mesma família tiveram de ficar na área de emergência.

"O filho foi mantido em observação, sem precisar de oxigênio suplementar. O pai necessitou do oxigênio. Os dois ficaram ao lado da mãe, intubada em estado grave", detalha a médica.

Luisa conta que o pai, que tinha 62 anos, dizia para todos os médicos que o filho havia frequentado festas e transmitiu a covid-19 para a família.

No dia seguinte à internação, o pai foi internado em um leito que ficou vago na enfermaria de covid-19. O filho, por volta dos 30 anos, se recuperou e logo teve alta hospitalar. A mãe continuava em estado grave na emergência.

"O pai foi internado com piora progressiva. Todos os dias, ele perguntava pela esposa, que também estava piorando cada vez mais", detalha a médica.

Dois dias após chegar na unidade de saúde, a mãe da família morreu. "O marido dela, cada vez mais precisando de suplementação de oxigênio, continuava perguntando pela esposa", diz Luisa.

"A gente falava para ele que não tinha como ver muitos detalhes sobre ela, já que estava internada em outro setor. Mas a gente falava que ela continuava intubada, mesmo após a morte dela", relata a médica.

"Esse paciente era bem ansioso, então ficamos com medo de dar a notícia do falecimento e precipitar uma descompensação da parte respiratória. A própria família falou que era melhor não dar a notícia enquanto ele não melhorasse, por causa desse componente de ansiedade importante", diz Luisa.

A equipe médica optou por informar sobre a morte da companheira somente quando o homem apresentasse melhora clínica. Cinco dias após o falecimento da esposa, ele foi intubado. Três dias depois, morreu. "Somente o filho ficou bem", diz Luisa.

A médica comenta que histórias como a da família que ela acompanhou em novembro demonstram a gravidade da covid-19 em comparação a outras enfermidades. "Nenhuma outra doença tinha esse agravante de muitas pessoas da mesma família morrendo juntas. Os casos são impactantes", diz a médica.

Jovens internados

'No ano passado, a gente via pessoas mais velhas na UTI. Agora vemos muitos jovens. Muita gente fica grave rapidamente'

O cardiologista Roberto Kalil, que está há mais de três décadas na Medicina, não tem dúvidas de que tem vivido o período mais dramático de sua carreira.

"O que impacta é a agressividade do vírus, que até então (antes do início da pandemia) era algo inesperado. É uma agressividade tanto na fase hospitalar como até, em alguns casos, depois da alta", relata o médico, que atua em hospitais de São Paulo.

Uma das situações que mais impactaram Kalil foi quando notou, neste ano, a explosão de casos de covid-19 e a gravidade que a doença passou a ter também entre muitos pacientes mais jovens, que foram parar na UTI ou até morreram.

"No ano passado, a gente via pessoas mais velhas na UTI. Agora vemos muitos jovens. Muita gente fica grave rapidamente", diz à BBC News Brasil.

Ele comenta que o agravamento do quadro entre os mais jovens é em razão da variante P.1, descoberta em janeiro em Manaus. A maior incidência entre os mais novos é uma das características associadas à nova variante.

A maioria dos casos registrados em 2021 em São Paulo, por exemplo, se concentra entre pessoas de 20 a 54 anos. Na Grande São Paulo, dados do início de março mostraram que 80% dos pacientes haviam sido infectados pela P.1.

Dados do governo paulista apontam que na primeira onda da pandemia mais de 80% dos leitos UTIs eram ocupados por idosos e portadores de doenças crônicas. Agora, 60% das vagas são ocupadas por pessoas de 30 a 50 anos, a maioria sem doença prévia.

Essa variante do coronavírus é mais contagiosa, entre outros motivos, por causa de mutações que facilitaram a invasão de células humanas. Essa característica pode estar ligada a duas hipóteses que estão próximas de serem confirmadas por cientistas: agravamento mais rápido do quadro de saúde e maior letalidade.

Conforme mostrado em reportagem da BBC News Brasil em 19 de abril, uma das principais hipóteses para que a nova variante afete duramente os mais jovens é a busca tardia por atendimento, quando a doença está bastante agravada, muitas vezes de forma silenciosa.

Um dos principais benefícios da busca por atendimento antecipado é o uso do oxigênio medicinal, que pode ajudar a evitar um maior comprometimento dos pulmões. Além disso, o acompanhamento médico logo nos primeiros sintomas pode evitar maiores complicações em outros órgãos.

Para o cardiologista Roberto Kalil, o cenário da pandemia no Brasil pode melhorar, aos poucos, com a vacinação. Porém, diante da falta de prazo para o avanço da imunização, que ainda está na fase dos grupos prioritários, ele avalia que os trabalhadores na linha de frente ainda devem enfrentar muito estresse em decorrência da sobrecarga no sistema de saúde.

"Espero que o cenário melhore a cada semana, mas ainda estamos longe de sair da pandemia', diz Kalil.

A pediatra em estado grave

'Ela, como médica, também percebeu que não estava evoluindo bem', relata especialista

Entre as histórias que acompanhou desde o início da pandemia, o médico Lucas Antony se recorda do caso de uma pediatra aposentada que foi internada com a covid-19 em janeiro deste ano.

A idosa, de 85 anos, chegou ao hospital particular, na capital Rio de Janeiro, com dificuldades respiratórias. "Ela foi internada e usamos uma máscara de ventilação não-invasiva nela. Mas a paciente não estava respondendo bem. Ela, como médica, também percebeu que não estava evoluindo bem", diz Antony.

O quadro da aposentada se agravou e ela precisou ser intubada no dia seguinte à chegada ao hospital. Antony afirma que a situação se tornou mais difícil por se tratar de uma paciente que era médica e sabia da gravidade de seu próprio quadro.

"Ela estava falando com a gente com a máscara de oxigênio e debatendo o caso dela quando informamos que ela precisaria ser intubada. Em certo momento, ela parou de falar, ficou olhando para frente e disse que só queria ir para casa", relembra o médico.

Enquanto era intubada, a pediatra reparou em uma enfermeira que a auxiliou. "Ela perguntou se a enfermeira já havia sido, na infância, atendida em um determinado serviço médico. A enfermeira disse que não que ela soubesse, mas a pediatra falou que lembrava dela", relata Antony.

Horas após a pediatra ser intubada, a enfermeira entrou em contato com a mãe. "A mãe da enfermeira disse que ela levava a filha para ser atendida naquele serviço (citado pela médica aposentada) na infância. Então, provavelmente essa pediatra atendeu a enfermeira em algum momento", conta o médico.

Dois dias após ser intubada, a pediatra aposentada não resistiu às complicações da covid-19. O médico relata que ficou comovido com o caso da paciente por ser uma médica que sabia que não resistiria à doença e pela lembrança que ela teve da enfermeira. "Foi uma história que me marcou", diz.

Fonte: BBC News Brasil


UOL

400 mil mortos por covid-19 no Brasil: luto atinge milhões de pessoas

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sexta-feira, 19 de março de 2021

Com 2.724 óbitos, Brasil bate recorde com média móvel de 71.904 casos de COVID-19


País também bateu outra triste marca: pelo segundo dia consecutivo, a média móvel de mortes por COVID-19 ficou acima de dois mil.



Os dados do consórcio da imprensa, divulgados pelo portal UOL, apontam que, na última semana, 2.096 pessoas morreram em média diariamente no país por causa do coronavírus. 

O cálculo está 47% maior do que o registrado duas semanas atrás. É o 20º dia consecutivo que a média móvel de mortes bate recorde. 

Nesta quinta-feira (18), o Ministério da Saúde disse que o Brasil teve 2.724 mortes pela COVID-19. Para o consórcio, o país contabilizou 2.659 óbitos, elevando para 287.795 o total de vidas perdidas.

A média móvel registrada foi de 71.904 diagnósticos positivos para coronavírus, 22% maior do que o cálculo de 14 dias atrás. Este foi o recorde desde o início da pandemia.

Vale lembrar que ainda nesta quinta-feira (15), a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) enviou um ofício ao presidente Jair Bolsonaro e ao Ministério da Saúde pedindo "providências imediatas" do governo federal para suprir as faltas de oxigênio e medicamentos.

O Brasil enfrenta uma crise na sedação de pacientes com a COVID-19 que precisam ser intubados.

Em Brasília, paciente com COVID-19 chega de ambulância a um hospital público de referência, em 17 de março de 2021

Fonte: Sputnik Brasil


UOL


Pelo 20º dia seguido, Brasil tem média recorde de mortes por covid-19

Nesta quinta-feira (18), o Brasil registrou a mais alta média de mortes por covid-19 em toda a pandemia pelo 20º dia consecutivo. Nos últimos sete dias, a média foi de 2.096 óbitos diários causados pela doença. O levantamento é do consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte com base nos dados fornecidos pelas secretarias estaduais de saúde.

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quinta-feira, 18 de março de 2021

'10 vezes mais do que os EUA': por que Brasil tem tantas mortes de bebês por covid-19


Desde o início da pandemia de covid-19, 420 bebês morreram em decorrência do novo coronavírus no Brasil, número aproximadamente dez vezes maior do que o dos Estados Unidos, país com o maior número de óbitos pela doença, de acordo com dados oficiais.


Desde início da pandemia, 420 bebês (crianças com menos de 1 ano) morreram em decorrência do novo coronavírus no Brasil, contra 45 nos Estados Unidos

 
Segundo o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) norte-americano, 45 bebês, ou crianças com menos de um ano, perderam a vida após infecção pelo vírus.

Entre as crianças de um a cinco anos, a discrepância entre os dois países também fica nítida: foram 207 mortes por covid-19 no Brasil contra 52 nos Estados Unidos.

Os números brasileiros também são maiores do que o do Reino Unido, que registrou apenas duas mortes por coronavírus entre bebês (menos de um ano). E superiores aos do México, onde 307 crianças entre zero e quatro anos morreram. Já a França teve apenas quatro mortes entre zero e 14 anos devido ao novo coronavírus.

Ao mesmo tempo, atualmente, os EUA têm o maior número de mortos por covid-19 — 529 mil, seguido por Brasil (270,6 mil) e México (191,8 mil), segundo dados da Universidade Johns Hopkins. A taxa de mortalidade norte-americana pelo vírus (161,28 por 100 mil habitantes) também é mais alta do que a brasileira (128,12 por 100 mil habitantes).

Assim, desde o início da pandemia, a covid-19 matou, proporcionalmente, mais lá do que aqui.

As taxas de nascimentos de bebês também são dados importantes nesta equação.

Os dois países tem taxas praticamente iguais de natalidade, segundo o Banco Mundial: 1,77 filhos por mulher nos EUA e 1,74 filhos por mulher no Brasil. Em 2019, foram registrados 3,5 milhões de nascimentos nos Estados Unidos e 2,9 milhões no Brasil. A população americana é de 328,2 milhões e a brasileira, 210 milhões.

Em resumo: o Brasil tem um número mais elevado de mortes de bebês e crianças pequenas por covid-19, apesar de ter menos nascimentos do que os EUA, onde, por sua vez, mais pessoas morrem em decorrência do vírus, tanto em números absolutos quanto relativos.

Mas, afinal, o que está por trás desse alto número de mortos entre bebês e crianças pequenas no Brasil?


Razões

Além das mortes, na mesma base de comparação com outras nações, o Brasil também conta com um número expressivo de crianças internadas por covid-19. Só neste ano, segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, 617 bebês (menos de um ano), 591 crianças de um a cinco anos e 849 de seis a 19 anos foram hospitalizados devido à doença.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, não há uma única resposta para o problema.

Descontrole da pandemia e falta de diagnóstico adequado, aliados principalmente a comorbidades (doenças associadas) e vulnerabilidades socioeconômicas, passando pelo aparecimento de uma síndrome associada à covid-19 em crianças, ajudam a explicar o quadro trágico brasileiro.

Mas há uma ressalva: embora os óbitos sejam mais numerosos no Brasil em relação a outros países do mundo, é importante lembrar que o risco de morte nessa faixa etária ainda assim é "muito baixo", lembram os cientistas.

De fato, 420 bebês representam apenas 0,15% do total de mortes por covid-19 no Brasil (270,6 mil).

Portanto, a chance de um bebê (ou de uma criança) desenvolver sintomas graves de covid-19 e morrer por causa da doença é rara, mas "não nula", diz à BBC News Brasil Fatima Marinho, médica epidemiologista e consultora-sênior da Vital Strategies.

"As mortes nessa faixa etária são raras, mas é preciso acabar com esse mito de que crianças não morrem por covid-19", assinala.

Marinho frisa que as mortes por covid-19 entre bebês e crianças no Brasil podem ser ainda maiores se contabilizados os óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) não especificada.

"Podemos dizer que 48% dos que faleceram por SRAG não especificado têm alta probabilidade de ser morte por covid-19 por critérios clínicos e epidemiológicos", assinala.

Segundo Marinho, dados preliminares de uma pesquisa realizada pela Vital Strategies e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em três capitais, mostraram que 90% dos casos de SRAG não especificada foram comprovados como sendo de covid-19, após investigação.

Ela destaca que a covid-19 tende a evoluir de forma diferente em crianças e em adultos.

Mortes nessa faixa etária são "raras", mas não "nulas", diz especialista

Como os pequenos normalmente não são testados para coronavírus, uma vez que são, na prática, bem menos suscetíveis a desenvolver os sintomas mais graves da doença (e muitos são assintomáticos), seus sintomas podem ser facilmente confundidos com os de outras enfermidades, prejudicando o diagnóstico.

"Pediatras devem prestar atenção em crianças com falta de ar e febre, e se ocorrer diarreia e/ou dor abdominal e/ou tosse pensar em covid-19. A tosse foi pouco frequente na hospitalização, mais foi um sinal de alarme para morte para as crianças. A dor abdominal e diarreia foram sintomas mais frequentes nas crianças maiores de um ano", assinala Marinho.

Médicos lembram que a chance de óbito em recém-nascidos é maior do que em crianças acima de um ano porque seu sistema imunológico, responsável pela defesa do nosso organismo, ainda está "em formação".

Além disso, outra causa para a morte de crianças no Brasil, que ainda está sendo investigada, é a chamada "síndrome inflamatória multissistêmica", que pode comprometer o cérebro, causando encefalite, ou órgãos importantes como coração e rins.

No Reino Unido, 1 a cada 5 mil crianças que se infectaram com coronavírus desenvolveram essa reação do sistema imunológico, segundo dados do governo britânico.

Os sintomas, que incluem febre alta, pressão sanguínea baixa e dores abdominais, costumam aparecer cerca de um mês depois do contato com o coronavírus.

A grande maioria das crianças que se infectam pelo coronavírus não desenvolve esse processo inflamatório ou se recupera com tratamento. Mas em alguns casos, a síndrome pode evoluir para um quadro grave e ocasionar a morte.

Foi o que aconteceu com uma paciente da pediatra Jessica Lira, que trabalha na UTI do Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza, no Ceará.

A menina tinha dois anos e desenvolveu encefalite, uma inflamação no cérebro que parece ter sido impulsionada pela contaminação pelo coronavírus.

"Ela teve morte encefálica. A conversa foi difícil, os pais estavam com muito sentimento de revolta, tinham muita dificuldade em entender como que evoluiu para isso. Não sabiam que a covid-19 podia levar a um quadro como esse", disse Jessica em entrevista recente à BBC News Brasil.

Comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas são fatores de risco para crianças com covid-19

Comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas

Mas são as comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas que têm maior peso na morte de crianças por covid-19 no Brasil.

Um estudo observacional desenvolvido por pediatras brasileiros liderados por Braian Sousa, ligado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), e com supervisão de Alexandre Ferraro, identificou comorbidades e vulnerabilidades socioeconômicas como fatores de risco para o pior desfecho da covid-19 em crianças.

"Individualmente, a maioria das comorbidades incluídas foram fatores de risco. Ter mais de uma comorbidade aumentou em quase dez vezes o risco de morte. Em comparação com as crianças brancas, os indígenas, os pardos e os do leste asiático tiveram um risco significativamente maior de mortalidade. Também encontramos um efeito regional (maior mortalidade no Norte) e um efeito socioeconômico (maior mortalidade em crianças de municípios menos desenvolvidos socioeconomicamente)", dizem os pesquisadores no estudo publicado na plataforma medrxiv.

"Além do impacto das comorbidades, identificamos efeitos étnicos, regionais e socioeconômicos que moldam a mortalidade de crianças hospitalizadas com covid-19 no Brasil. Juntando esses achados, propomos que existe uma sindemia (interação entre problemas de saúde e contexto sócioeconômico) entre covid-19 e doenças não transmissíveis, impulsionada e fomentada por desigualdades sociodemográficas em grande escala".

"Enfrentar a covid-19 no Brasil também deve incluir o tratamento dessas questões estruturais. Nossos resultados também identificam grupos de risco entre crianças que devem ser priorizados para medidas de saúde pública, como a vacinação", concluem os pesquisadores.

Foram estudados 5.857 pacientes com menos de 20 anos, todos hospitalizados com covid-19 confirmado por laboratório.

Constatações semelhantes foram feitas pelo professor Paulo Ricardo Martins-Filho, da Universidade Federal do Sergipe (UFS), um dos pesquisadores que mais publicam sobre covid-19 no Brasil.

Ele e sua equipe desenvolveram um estudo para estimar as taxas de incidência e mortalidade da covid-19 em crianças brasileiras e analisar sua relação com as desigualdades socioeconômicas.

E chegaram à conclusão que houve diferenças regionais importantes e uma relação entre taxas de mortalidade e desigualdades socioeconômicas.

"O conhecimento das diferenças sociogeográficas nas estimativas do COVID-19 é crucial para o planejamento de estratégias sociais e tomada de decisão local para mitigar os efeitos da doença na população pediátrica", diz Martins-Filho no estudo, publicado na plataforma científica internacional PMC.

Portanto, essas crianças acabam ficando mais vulneráveis a doenças, incluindo o coronavírus.

"Claro que quanto mais casos tivermos e, por consequência, mais hospitalizações, maior é o número de mortos em todas as faixas etárias, incluindo crianças. Mas se a pandemia estivesse controlada, esse cenário poderia evidentemente ser minimizado", diz à BBC News Brasil Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.


"Maioria das crianças que morrem tem comorbidades", diz pediatra na linha de frente

Linha de frente

"A maioria das crianças que morrem tem comorbidades, especialmente pacientes oncológicos (com câncer) ou com sobrepeso e obesidade. Há também aqueles com problemas nos pulmões e no coração. Mas isso não é uma regra. Vemos bebês e crianças saudáveis morrendo por covid, algo não tão presente na primeira onda", diz à BBC News Brasil Lohanna Tavares, infectologista pediátrica da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Infantil Albert Sabin em Fortaleza, no Ceará.

Pediatras acreditam que as mortes dessas crianças saudáveis podem estar relacionadas a fatores externos, como desnutrição e outras doenças, como dengue, por exemplo, mas essa correlação ainda precisa ser estudada.

Tavares reforça outro fator que vem contribuindo para o aumento — e já identificado nos estudos sobre o tema: a falta de assistência.

"Os leitos hospitalares e o acesso aos cuidados pediátricos são bem menores para as crianças do que para os adultos. Várias enfermarias de hospitais pediátricos foram substituídas por leitos para adultos. Evidentemente, a necessidade maior é dos adultos. Mas a restrição de leitos pediátricos gera um acúmulo de pacientes nas emergências, o que faz com que o próprio pediatra pondere mais a internação da criança", diz.

"Ou seja, ele só vai internar as crianças que estiverem mais acometidas, com um quadro mais grave, quando o ideal seria deixar em observação casos que podem gerar complicações. Mas não há leitos suficientes. Quando se diminui o número de leitos pediátricos, o sistema fica sobrecarregado e a assistência fica, assim, prejudicada", lamenta.

Atualmente, não há vacinas disponíveis para menores de 16 anos. "Mas estudos já estão sendo feitos com esse público", lembra Kfouri, da SBP.

Fonte: BBC News Brasil


CNN Brasil

E Tem Mais: Covid-19 em crianças: por que os índices de mortalidade no Brasil são tão altos - 18/03

Ouça o podcast E Tem Mais, apresentado por Monalisa Perrone. Programa do dia 18 de março de 2021.

Neste episódio do E Tem Mais, Monalisa Perrone ouve médicos e pesquisadores para entender porque os bebês e crianças brasileiras passaram a adoecer e morrer mais pela Covid-19. Na primeira parte do episódio, Monalisa recebe Alexandre Ferraro, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e um dos responsáveis por uma pesquisa recente que investigou o assunto.

Ferraro e outros especialistas investigaram mais de 5 mil infecções entre menores de 20 anos e constataram que existe não uma, mas várias causas para a maior agressividade da Covid-19 entre crianças brasileiras. Entre essas causas, está a desigualdade social. Também participa do episódio Marcelo Otsuka, vice-presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo.



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Brasil supera 3 mil mortos por covid em 24h. Média móvel supera 2 mil pela 1ª vez


Enquanto colapso no sistema de saúde se agrava, Fiocruz alerta que só o isolamento social pode reduzir danos no momento


Tratores abrem espaço para mais corpos em um dos principais cemitérios de Manaus (AM), que reservou nova ala para óbitos por covid-19. - Michel Dantas/ AFP

O Brasil registrou hoje (17) 3.149 mortos pela covid-19 nas últimas 24 horas e segue batendo recordes diários em número de óbitos oficialmente notificados ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o Conass. Com o acréscimo, a média móvel diária de mortes pela infecção, calculada nos últimos sete dias, passou , 2.170 pessoas por dia – três pessoas a cada dois minutos. O contágio e as mortes pelo coronavírus em território brasileiro seguem em aceleração. Este é o pior momento da pandemia no Brasil desde o início do surto, em março de 2020.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) define o cenário como “o maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil”. Em boletim extraordinário divulgado na noite de ontem, a instituição chama a atenção para a “situação extremamente crítica em todo o país”. Até a conclusão do relatório, apenas dois estados brasileiros não estavam em colapso por falta de leitos de UTI, Rio de Janeiro e Roraima. A condição é declarada quando mais de 85% das unidades estão ocupadas.

O Brasil também bate recorde hoje de novos casos no período equivalente a um dia. O Conass aponta 99.634 novas infecções. O Brasil segue como epicentro da pandemia no mundo desde o dia 9 de março, quando passou a registrar mais mortes e casos do que os Estados Unidos, mesmo com capacidade de testagem inferior. Desde o dia 21 de janeiro o Brasil contabiliza mais de mil mortos por dia, em média.

Dados têm como base informações das secretarias estaduais / Fiocruz


Pior crise da história

O mapeamento da Fiocruz revela os estados com as piores condições, sendo que em todos eles pessoas morrem em suas casas sem atendimento hospitalar. São eles o Rio Grande do Sul, com 100% das UTIs ocupadas, Santa Catarina, 99%, Goiás, 97%, Distrito Federal, 97%, Paraná, 96%, Pernambuco, 96%, Rio Grande do Norte, 96%, Tocantins, 96%, Mato Grosso, 94%, Acre, 94%, Ceará, 94%, e Mato Grosso do Sul, 93%.

A Fiocruz é categórica em orientar por medidas rígidas de isolamento social. O Brasil enfrenta um cenário de colapso ao mesmo tempo em que vê grande resistência por parte da população em seguir os protocolos da ciência para mitigar os efeitos da crise. O principal adversário da ciência e da saúde pública no Brasil é o próprio presidente Jair Bolsonaro. Desde o início da pandemia ele desdenhou do vírus, estimulou e promoveu aglomerações e até mesmo atacou o uso de máscaras e as vacinas.

“A fim de evitar que o número de casos e mortes se alastrem ainda mais pelo país, assim como diminuir as taxas de ocupação de leitos, os pesquisadores defendem a adoção rigorosa de ações de prevenção e controle, como o maior rigor nas medidas de restrição às atividades não essenciais. Eles enfatizam também a necessidade de ampliação das medidas de distanciamento físico e social, o uso de máscaras em larga escala e a aceleração da vacinação”, afirma a Fiocruz.


Vacinas

No quesito vacinação, o Brasil avança com lentidão. O governo Bolsonaro, após pressão da sociedade e do ressurgimento da figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apontando para a necessidade de respeitar a ciência, mudou ligeiramente de postura. O governo, repentinamente, passou a defender a vacinação. Contratos foram assinados às pressas, enquanto o bolsonarismo tenta se desvincular do histórico de ataques e divulgação de de informações não-comprovadas ou mesmo falsas sobre vacinas.

Fonte: Brasil de Fato


Rede TVT

Poderemos chegar a meio milhão de mortos pela covid-19 - Central do Brasil

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quarta-feira, 10 de março de 2021

Pandemia avança sem controle e Brasil tem recorde de mortes por covid-19 em 24 horas


Foram registradas 1.972 mortes nesta terça (9); 268.370 pessoas morreram no país desde o início da crise sanitária


As médias móveis diárias de novos casos e mortes, calculadas com base nos últimos sete dias, seguem em ascensão acelerada, e estão em seu ápice - Mário Oliveira/Semcom

O surto de covid-19 segue descontrolado e em franca tendência de crescimento no Brasil. Nesta terça-feira (9), o país voltou a bater seu próprio recorde de mortos em um período de 24 horas, com 1.972 vítimas notificadas ao Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Com os novos números, o país chega 268.370 vidas ceifadas pelo coronavírus desde o início da pandemia, em março de 2020.

O balanço desta terça-feira nos estados também identificou um total de 70.764 novos casos de infecção. Isso, sem contar a subnotificação, admitida por todas as autoridades sanitária envolvidas. Com isso, 11.122.429 brasileiros já foram contaminadas com a covid-19.

:: Pandemia: três momentos críticos para a gestão da saúde pública no Brasil em um ano ::

As médias móveis diárias de novos casos e mortes, calculadas com base nos últimos sete dias, seguem em ascensão acelerada, e estão em seu ápice, superando o piro momento da pandemia, entre julho e agosto do ano passado.


Colapso

Os sistemas de saúde das cidades brasileiras seguem em colapso – ou já muito próximos dele – há mais de uma semana. A demanda não atendida por leitos hospitalares já faz com que brasileiros morram sem terem recebido nenhum atendimento médico.

No Paraná, por exemplo, no fim de semana, 989 pessoas aguardavam na fila por uma vaga para tratar de covid-19, sendo 519 com necessidade imediata de UTI. O cenário dramático se repete em boa parte do restante do país. No Mato Grosso,quase 100 pessoas aguardam por um leito.

O Brasil é, desde janeiro, o epicentro da pandemia de covid-19. Segundo com mais mortes, atrás apenas dos Estados Unidos, o país vive um cenário oposto ao mundo.

Os demais países da comunidade internacional assistem a uma grande redução de casos e mortos desde o início do ano. Resultados expressivos foram observados na Europa, com a adoção de “lockdown” intensivo e também com o avanço das respectivas campanhas de vacinação.

:: Covid: entenda como Inglaterra derrubou taxa de contágio após terceiro lockdown ::

Ao defender que as pessoas saiam de casa o mínimo possível, o biólogo e divulgador científico Atila Iamarino afirma que o esforço é necessário "para  impedir o colapso do sistema de saúde e dar chance de quem está nessa fila crescente por UTI ter um tratamento digno". 


Isolamento

Diante do agravamento da crise, Atila insiste na necessidade de isolamento. “O combate é o mesmo. Distanciamento, máscaras, vacina, auxílio emergencial. Mas tudo precisa ser reforçado, já que um vírus mais transmissível aproveita melhor as brechas. Irreversíveis são as vidas perdidas, mas o controle da pandemia é dinâmico e responde ao nosso esforço".

“Um ano depois ainda insistimos em não aceitar o que funciona e insistimos em não descartar tratamento precoce. Não é uma escolha entre parar e não parar. É parar antes, de modo planejado, pra reabrir antes”, completa Iamarino.

Mesmo a Organização Mundial da Saúde (OMS) teme que a falta de isolamento social no Brasil diante de grave crise possa ser prejudicial para as vacinas, já que o vírus circulando livre e com intensidade pode estimular mutações e novas cepas.

Entretanto, as recomendações da ciência seguem desprezadas pelo presidente Jair Bolsonaro. O governo brasileiro é uma exceção diante do mundo ao atacar, deliberadamente, medidas comprovadamente eficazes como isolamento, máscaras e vacinas.

Bolsonaro segue de forma irracional a indicar remédios comprovadamente ineficazes para tratar a doença, como a cloroquina e a ivermectina. A ciência é precisa neste caso: não existe tratamento precoce e Bolsonaro mente.


Vacinas

A boa notícia da semana ficou por conta dos laboratórios responsáveis pelas vacinas da AstraZeneca e da CoronaVac, desenvolvidas em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Butantan, respectivamente.

De acordo com estudos preliminares, os dois imunizantes que estão sendo aplicados nos brasileiros são eficazes contra as cepas inglesa e de Manaus, que são mais contagiosas e agressivas e circulam no país.

Até o momento foram vacinados 10,8 milhões de brasileiros, ou 3,83% da população. Apenas 1,26% da população nacional recebeu as duas doses. O último balanço dos estados foi divulgado no fim de semana.

Existe a expectativa para abril de a Fiocruz e o Instituto Butantan ampliarem a produção. Também são esperadas 14 milhões de doses da Pfizer até julho. A após três recusas de negociação do governo Bolsonaro com a empresa.

Fonte: Brasil de Fato


CNN Brasil

O Ministério da Saúde confirmou nesta terça-feira (9) um total de 1.972 novas mortes por Covid-19 registradas nas últimas 24 horas. É o novo recorde de óbitos confirmados em um único dia no Brasil ao longo da pandemia.

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sábado, 6 de março de 2021

Com pandemia em alta, média móvel de mortes no Brasil bate novo recorde


O Brasil registrou 1.498 novas mortes pela COVID-19 ao longo do último dia. Com isso, o total de óbitos provocados pela pandemia no país chegou a 264.446, enquanto a média móvel de mortes dos últimos sete dias atingiu um novo recorde, com 1.455.



 

Os números fazem parte do balanço deste sábado (6) do consórcio de veículos de imprensa que acompanha o surto do novo coronavírus no território nacional. Segundo esses dados, coletados junto às secretarias estaduais de Saúde, a variação na média de óbitos foi de 40% em comparação à média de 14 dias atrás, indicando tendência de alta nas mortes em decorrência da doença. Só nesta semana, foram mais de 10.000 vítimas fatais. 


 

 Em relação aos casos, 67.477 foram confirmados ao longo das últimas 24 horas, elevando para 10.939.320 o número de pessoas que já testaram positivo para a COVID-19 no país desde o início da pandemia. A média móvel de sete dias ficou em 61.527, maior número registrado até o momento e 29% a mais do que os casos registrados em duas semanas, indicando tendência de alta também nos diagnósticos.

Até o momento, 8.135.403 pessoas já receberam pelo menos a primeira dose de uma das vacinas que estão sendo usadas contra a COVID-19 no Brasil, o que representa 3,84% da população brasileira. Dessas, 2.686.585 já receberam a segunda dose (1,27% da população).

Fonte: Sputnik Brasil


UOL

Brasil registra mais de 10 mil mortes por covid-19 em 7 dias

Com 1.498 mortes por covid-19 registradas nas últimas 24 horas, o Brasil superou a marca de 10 mil óbitos em sete dias, o maior acumulado em uma semana desde o início da pandemia. Ao todo, o país tem 264.446 mortes. O levantamento é do consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte, baseado nos dados fornecidos pelas secretarias estaduais de saúde.

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