Ato criticou a atuação do presidente na condução da crise
causada pela pandemia da COVID-19
Manifestantes contra Bolsonaro levaram faixas pedindo a
saída do presidente
Manifestantes contrários ao presidente Jair Bolsonaro (sem
partido) se reuniram neste sábado (23/01), em Belo Horizonte, para pedir o o impeachment do
presidente. Eles se concentraram no entorno do Mineirão, na Região da
Pampulha, de onde saíram em carreata, a partir das 16h30, rumo ao
Centro da capital.
Centenas de carros ocuparam a Avenida Afonso Pena, no Centro
de BH
No chão da Avenida Abraão Caram, uma longa faixa foi
estendida com o seguinte dizer: "Fora, Bolsonaro/Mourão".
Manifestantes contrários ao presidente Jair Bolsonaro (sem
partido) se reuniram na tarde deste sábado (23/01) em Belo Horizonte. Os
manifestantes pedem o impeachment do presidente
Segundo os organizadores, a carreata teve início
com cerca de 500 veículos, mas ganhou adesões ao longo do trajeto,
chegando a reunir quase 1 mil carros.
Manifestantes usaram cartazes, balões, faixas e apitos para expressar a
insatisfação com o governo federal. Muitos gritaram "Fora, Bolsonaro"
e chamaram o presidente de "genocida".
Segundo os organizadores, a carreata teve início
com cerca de 500 veículos, mas ganhou adesões ao longo do trajeto,
chegando a reunir quase 1 mil carros.
Manifestantes usaram cartazes, balões, faixas e apitos para expressar a
insatisfação com o governo federal. Muitos gritaram "Fora, Bolsonaro"
e chamaram o presidente de "genocida".
Carreata 'Fora Bolsonaro' passa pela Praça Sete, no Centro de BH, na tarde deste sábado (23/01) pic.twitter.com/fPGRDzmOXQ
Ao passar pelos hospitais, foi feita a recomendação de que o
ritmo fosse acelerado e que não houvesse barulho.
Na chegada ao Centro de BH, a carreata passou por um grupo que também manifestava contra Bolsonaro. Sem carros, eles fecharam o quarteirão da Avenida Afonso Pena entre a Praça Sete e a Rua da Bahia e receberam apoio em forma de buzinaço. pic.twitter.com/aNiR3VeCxr
No início da noite, a carreata ocupou a Avenida do Contorno,
com mais gritos de "Fora, genocida". Centenas de veículos seguiam o
protesto com buzinaço.
A carreata chegou ao fim na Avenida dos Andradas, por volta
das 19h40, quando os coletivos que integraram o evento agradeceram a
participação das centenas de veículos.
Desabafos pintados nos carros
A petição dos protestantes, em grande maioria, foi motivada
pelo negacionismo em que o presidente encara a pandemia do novo coronavírus.
Durante a concentração, a advogada Fabíola Raggi, de 53 anos, tentava fazer de
seu carro uma caderneta de desabafo. "O espaço é pequeno pra falar tudo
que eu quero", disse, enquanto pintava o veículo com dizeres contrários ao
presidente.
"Ninguém aguenta mais esse desgoverno. Olha o preço do
alimentos... Ninguem merece! Nada que ele fez presta. Fora as mortes do
coronavírus que nem se fala. Acho que esse protesto dá força para os
congressistas ouvirem o povo que já está farto", justifica Fabíola.
Erguendo uma bandeira branca intitulada com o nome do protesto, a professora
universitária Janice Aparecida de Souza, de 53, saiu de casa determinada a
fazer história: "Espero que o Brasil seja mais amoroso e inclusivo. Estou
aqui hoje na expectativa de que a carreata nos leve a conseguir o impeachment
do Bolsonaro".
Já a estudante Tayane Cristine Chaves de Oliveira, de 31, chamou o presidente
de "genocida" e o responsabilizou pela crise sanitária, financeira e
política do país.
"Vim lutar pelos direitos dos brasileiros. Por uma qualidade de vida
melhor, pela democracia. Para vacina para todos. Lutar pelo auxílio
emergencial. O povo não pode ficar sem renda básica pra sobreviver. O governo
Bolsonaro é genocida. No momento que o povo mais precisa ele não prestou ao
cidadão brasileiro. Estamos carentes, sem governo", reclama Tayane.
Câmara já tem mais de 60 pedidos de impeachment
Bolsonaro é o líder do executivo que mais recebeu pedidos de impeachment na
história do Brasil. Até agora foram mais de 60 pedidos apresentados ao
presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A lei que dá base para a maioria dos pedidos apresentados é a 1.079, de 1950,
que discrimina os crimes de responsabilidade.
Segundo a norma, se enquadram neste tipo de crime os atos do Presidente da
República que atentarem contra a Constituição Federal e
especialmente contra a existência da União, o livre exercício dos poderes, a
segurança interna do país, o direito político dos indivíduos, a probidade
administrativa, a lei orçamentária e o cumprimento das decisões
judiciais.
A cloroquina foi peça fundamental na propaganda negacionista
de Bolsonaro e um dos motivos de ele trocar médicos por um general no comando
do Ministério da Saúde
A CPI da Covid, no Senado, começa nesta semana a colher os
primeiros depoimentos, ouvindo os ex-ministros da Saúde de Bolsonaro — Luiz
Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello —, além do atual ocupante da
pasta, Marcelo Queiroga, e do presidente da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres.
As audiências serão uma oportunidade de, entre outras
coisas, explicar ao país por que Jair Bolsonaro defendeu tanto o uso da
hidroxicloroquina e outras drogas sem eficácia, o famigerado Kit Covid. Hoje,
já ficou claro que o atual presidente nunca se importou com o fato de os
remédios funcionarem ou não contra o novo coronavírus. A principal função
desses medicamentos sempre foi dar aos brasileiros uma falsa sensação de
segurança.
Como já mostrado aqui na série Réu Confesso,
Bolsonaro implementou a assassina estratégia de “imunização de rebanho”. Por
isso precisava que a população acreditasse no engodo da cloroquina e não se
protegesse em casa, ajudando-o a alcançar logo a meta de infectar “60% ou 70%
das pessoas”, como não se cansou de repetir. Em outras palavras, a cloroquina
era uma peça chave da propaganda
negacionista posta em prática pelo atual presidente.
Dessa maneira, Bolsonaro passou a pressionar o Ministério da
Saúde para recomendar oficialmente o uso da cloroquina. O problema é que nem
mesmo Luiz Henrique Mandetta nem Nelson Teich, médicos que aceitaram participar
de um governo cuja política de saúde passava pelo desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS) e pela extinção de programas como o Mais Médicos, quiseram sujar
suas reputações recomendando um remédio sem eficácia e que, ainda por cima,
representa riscos à saúde.
Assim, tanto Mandetta quanto Teich deixaram o cargo quando a
pressão pela recomendação oficial da cloroquina ficou muito grande. E a
exposição desse motivo preocupa o governo, tanto que a Casa Civil da
Presidência da República, ao elaborar a lista de crimes pelos quais Bolsonaro poderia ser acusado na
CPI da Covid, anotou, no item 21: “O Presidente Bolsonaro pressionou
Mandetta e Teich para obrigá-los a defender o uso da Hidroxicloroquina”.
Quatro meses mais tarde, em setembro de 2020, Mandetta
lançou o livro Um paciente chamado Brasil, no qual expôs todo o
plano de Bolsonaro para usar a cloroquina como armas da imunização de rebanho:
“Nunca na cabeça dele houve a preocupação de propor a
cloroquina como um caminho de saúde. A preocupação dele era sempre ‘Vamos dar
esse remédio porque, com essa caixinha de cloroquina na mão, os trabalhadores
voltarão à ativa. (…) O projeto dele para combate à pandemia é dizer que o
governo tem o remédio e quem tomar o remédio vai ficar bem. Só vai morrer quem
ia morrer de qualquer maneira”.
Bolsonaro troca médico por general
Teich e Mandetta aceitaram conviver com os absurdos de
Bolsonaro até chegar ao ponto em que precisaram escolher entre manter-se em um
governo assassino e preservar a reputação como médicos. Percebendo isso, o
presidente decidiu colocar à frente do Ministério da Saúde Eduardo Pazuello,
que não é médico, mas um general que se mostrou disposto a ajudá-lo em sua
política de morte.
Bolsonaro questiona CPI da Covid: “Vai investigar o quê?”
O presidente Jair Bolsonaro criticou a CPI da covid: “Vai investigar o quê? Eu dei dinheiro para os caras”, disse o presidente, que ainda voltou a defender o uso da cloroquina contra a covid-19 pic.twitter.com/R65u5dx5dQ
Em resolução aprovada por maioria, eurodeputados pedem que
autoridades que promovem desinformação sejam processadas e levadas à Justiça
Deputada alemã Anna Cavazzani (Reprodução/Parlamento
Europeu)
Em debate promovido nesta quinta-feira (29) no Parlamento
Europeu sobre a pandemia da Covid-19 na América Latina e violação dos direitos
humanos, eurodeputados fizeram duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro,
acusado por eles de promover uma “gestão criminosa” da crise sanitária no
Brasil.
Segundo reportagem de Jamil Chade, no UOL, deputados aprovaram uma resolução por maioria absoluta
que recomenda que autoridades que fizeram campanhas de desinformação sejam
processadas e levadas à Justiça. Apesar de não citar diretamente o presidente
brasileiro, o documento foi visto como investida dos parlamentares contra a
gestão da pandemia no Brasil.
Durante o debate, no entanto, o nome de Bolsonaro não foi
poupado. A condenação foi geral ao negacionismo do presidente brasileiro.
“Com a gestão criminosa de Bolsonaro, ele em vez de fazer
guerra ao vírus faz guerra contra a ciência”, acusou o deputado espanhol Miguel
Urban Crespo, da esquerda europeia. Para ele, Bolsonaro faz “necropolítica e
lesa humanidade”, acrescentando que “Bolsonaro é não apenas um perigo para o
Brasil, mas para o mundo inteiro”.
A deputada alemã Anna Cavazzani afirmou que a tragédia
sanitária no Brasil poderia ter sido evitada. “São quase 400 mil mortos no
Brasil. É uma tragédia provocada por decisões políticas deliberadas. Para
nenhum governo foi fácil. Mas tentar uma coisa, recusar é outra”, disse.
O texto aprovado não gera uma obrigação legal, mas reforça o
isolamento do Brasil no exterior e a imagem desgastada de Bolsonaro na Europa.
Diante da delegação UE-Brasil presente hoje no Parlamento
Europeu, o eurodeputado Miguel Urbán denuncia a política genocida de Bolsonaro,
que levou a uma crise humanitária, sanitária e econômica sem precedentes no
Brasil. Para derrotar Bolsonaro e a extrema-direita, a luta é internacional!
Para ela, o Brasil vive "uma verdadeira tragédia" que "poderia ter sido evitada e que foi causada por decisões políticas deliberadas".#BolsonaroGenocidapic.twitter.com/pENz0fppp8
No dia em que o Brasil chega a 400 mil vidas perdidas por COVID-19, o eurodeputado @MiguelUrban reafirma que gestão de Bolsonaro na pandemia é criminosa e deve ser investigada! Esse genocida transformou o país em um perigo p/ o mundo! Tirar Bolsonaro para que o genocídio acabe! pic.twitter.com/1OeydQNUkw
Desde o primeiro caso confirmado de covid-19 no Brasil, no
fim de fevereiro de 2020, a rotina dos profissionais de saúde mudou. Com o
aumento de infecções e mortes pela doença, médicos e enfermeiros na linha de
frente dos atendimentos passaram a viver o período mais difícil de suas
carreiras.
"Existe uma exaustão entre esses profissionais de saúde
há mais de um ano. É um estresse 24 horas, como a gente nunca viveu. É uma
exaustão física e emocional. Estamos trabalhando 24 horas salvando vidas",
diz o cardiologista Roberto Kalil, presidente do Conselho Diretor do Instituto
do Coração em São Paulo.
Nesta quinta-feira (29/04), o Brasil atingiu a marca de 400
mil mortes pela covid-19, em meio ao seu mês mais letal da pandemia — em abril
já foram registradas mais de 75 mil mortes pela doença, enquanto em março deste
ano, até então o período com mais óbitos, foram 66 mil.
Em meio às centenas de milhares de mortes, os profissionais
de saúde acompanham diversas cenas que ilustram a tragédia do novo coronavírus.
Despedidas, mortes por falta de recursos básicos e óbitos de
diferentes integrantes da mesma família são algumas das situações que marcam os
trabalhadores na linha de frente.
"É o pior período para a saúde mental dos profissionais
de saúde. Muitos médicos pararam de dar plantão ou diminuíram o ritmo de
trabalho porque estavam muito estressados. Tem sido um período muito grande de
estresse", relata o médico intensivista José Albani de Carvalho.
Os profissionais de saúde relatam que cenas difíceis de
serem esquecidas se tornaram cada vez mais comuns em meio à pandemia. Para
dimensionar a tragédia vivida no país de 400 mil mortes pela doença, a BBC News
Brasil pediu para médicos relatarem algumas das situações mais dramáticas que
presenciaram desde o ano passado.
'Vimos um paciente morrer atrás do outro'
Em janeiro, Manaus viveu tragédia da falta de oxigênio
medicinal. Caso se tornou alvo de investigação
O médico cirurgião Pierre Oliva Souza nunca esquecerá as
cenas que presenciou no plantão que começou da noite de 14 de janeiro até o dia
seguinte, em uma unidade de saúde em Manaus, no Amazonas.
Ele chegou para o plantão no Serviço de Pronto Atendimento
(SPA) Joventina Dias por volta das 19h. Na unidade, logo foi informado por um
colega que não havia estoque de oxigênio medicinal — item fundamental para
auxiliar pacientes com dificuldades respiratórias, como aqueles com quadro
grave de covid-19.
"Havia apenas dois cilindros de oxigênio, que durariam
por algumas horas somente, porque a unidade estava lotada. Normalmente, havia
20 pacientes com suspeita de covid-19 que precisavam desse oxigênio, mas
naquele período tinha mais de 40", relata o médico.
Ele conta que alguns gestores da região falaram que logo
chegaria um caminhão carregado com oxigênio. "Deram falsas esperanças,
porque isso não era verdade. Não havia oxigênio em lugar nenhum de Manaus,
porque também faltou no mesmo dia em outras dezenas de unidades do Amazonas",
comenta.
Na madrugada de 15 de janeiro, o oxigênio acabou
completamente no SPA Joventina Dias. "Ninguém tinha avisado, dias
antes, que o estoque de oxigênio estava acabando no Estado. Foi muito chocante
para todo mundo", diz Souza.
"A gente sabia o quanto essa falta de oxigênio seria
danosa e grave. O governador chegou a comentar, na semana anterior, que o
Estado estava à beira de uma crise de oxigênio, por causa do aumento de casos
de covid-19. Mas nós, profissionais de saúde, não tínhamos noção de como, de
fato, a situação estava", diz o médico.
"Por causa da falta de oxigênio, a equipe de saúde teve
que assumir a difícil decisão de quem vai sobreviver ou morrer por conta da
absoluta falta de estrutura. Vimos um paciente morrer atrás do outro naquela
madrugada. Eles definhavam, buscavam respirar, ficavam com a coloração azulada
e morriam asfixiados na nossa frente. Não tínhamos o que fazer", relata
Souza.
Segundo Souza, somente no SPA Joventina Dias foram
contabilizadas oito mortes naquela madrugada. O médico relata que, normalmente,
havia duas ou três mortes por plantão. "Sei de lugar que registrou mais de
20 mortes por causa da falta de oxigênio", comenta.
A situação no Amazonas se tornou notícia em todo o mundo.
Diversos pacientes foram transferidos para outros Estados. Posteriormente, a
cidade recebeu abastecimentos de oxigênio. "A situação foi normalizada
depois. Hoje as coisas estão bem, principalmente porque os números de
internações caíram nas últimas semanas", diz o médico.
Apurações apontam que a falta de oxigênio causou dezenas de
mortes no Amazonas em meados de janeiro.
Então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello afirmou, na época,
que foi avisado por volta de 8 de janeiro que o alto número de internações em
Manaus até quintuplicou o uso do oxigênio medicinal. Em razão disso, segundo
ele, o Ministério da Saúde logo passou a tomar providências junto com o governo
estadual e a prefeitura.
De acordo com a CNN Brasil, o secretário de Saúde do Amazonas,
Marcellus Campelo, alegou, em depoimento à Polícia Federal que a falta de
oxigênio ocorreu porque a principal fornecedora do insumo no Estado informou
somente dias antes que não teria capacidade de atender a demanda na região, em
razão do aumento de internações.
Segundo o secretário, o governo local logo comunicou o
Ministério da Saúde e foram adotadas todas as medidas necessárias para o
"enfrentamento de uma crise de saúde sem precedentes na história do
Amazonas".
Em meados de abril, o Ministério Público Federal (MPF) do
Amazonas apresentou uma ação de improbidade administrativa por omissão sobre a
crise no fornecimento de oxigênio medicinal no Amazonas. Entre os alvos do
procedimento estão três secretários do Ministério da Saúde e o então responsável
pela pasta, general Eduardo Pazuello, e dois integrantes do governo do
Amazonas, entre eles o secretário estadual de Saúde, Marcellus Campelo.
O MPF apontou falhas como omissão no monitoramento da
demanda de oxigênio medicinal e adoção de medidas para evitar o
desabastecimento, além de demora nas transferências de pacientes para outros
Estados. O caso segue na Justiça Federal do Amazonas.
Mais de três meses depois, as cenas de meados de janeiro
agora fazem parte das piores lembranças da pandemia para os profissionais de
saúde do Amazonas.
"Eu vou superar, porque nosso trabalho pede, mas não
vou esquecer nunca. Apesar de todo ensinamento que tivemos na faculdade, nunca
pensei que fosse viver em tempos de paz aquilo que só acontece na guerra, que é
escolher quem vai viver ou morrer", desabafa Souza.
'Vi famílias dizimadas'
O médico intensivista José Albani de Carvalho, que atua em
Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais da grande São Paulo, comenta
que algumas das situações mais tristes que presenciou envolvem as mortes de
membros de uma mesma família pela covid-19.
"Ver famílias inteiras morrendo foi uma das coisas que
mais me marcaram. Não foi uma, nem duas, nem três. Foram vários casos de
irmãos, pais e filhos ou outros parentes morrendo com diferenças de horas ou
dias. A grande verdade é que na minha vida inteira nunca tinha visto isso tão
frequentemente", desabafa o médico, que trabalha em UTIs há mais de 30
anos.
"Teve uma família em que morreram três irmãos em dois
dias. Dois deles estavam em leitos próximos. Isso impacta muito, porque você vê
uma família ser dizimada", diz o médico.
Ele detalha o caso de três mortes de pessoas na faixa dos 40
anos que eram da mesma família. "O rapaz foi intubado com covid-19. A
mulher dele foi internada, mas parecia que evoluiria bem e não precisaria ser
intubada. Mas é muito difícil saber, porque às vezes um paciente demora 10 dias
na UTI e você não sabe para onde ele vai, se vai melhorar ou piorar",
comenta Albani.
"O rapaz acabou morrendo. A mulher dele, que a gente
achava que daria alta em poucos dias, piorou também e foi intubada. Dias
depois, ela morreu. Depois, a irmã dela, que estava internada no hospital,
também faleceu", relata o médico.
O intensivista foi o responsável por contar sobre as mortes
à família. "Nunca é fácil comunicar isso, porque você acompanha essas
famílias e aquele sofrimento durante as internações, que muitas vezes duram
dias ou semanas", diz.
"Por incrível que pareça, esse comunicado para as
famílias acaba sendo algo que a gente se acostuma. Não é ser insensível, mas é
que há mais de 30 anos na UTI isso acaba se tornando algo do cotidiano. Mas
claro, quando você vai comunicar três mortes para uma mesma família, como tem
acontecido em alguns casos, é mais difícil", acrescenta Albani.
O médico comenta que os familiares dos pacientes sempre
reconhecem o trabalho dos profissionais de saúde.
Enquanto precisam enfrentar números de internações e mortes
como nunca tinham presenciado em período recente, os profissionais de saúde
também enfrentam o estresse causado pela falta de cuidados de muitos em relação
ao coronavírus.
"Do ponto de vista da sociedade em geral os
profissionais de saúde não são reconhecidos. Enquanto vemos as dificuldades, as
mortes e trabalhamos sob muito estresse, há muitas pessoas nas ruas que falam
que máscara é bobagem e fazem aglomerações. Olhar essas situações causa ainda
mais estresse a esses profissionais", desabafa Albani.
'Ficamos com medo de dar a notícia da morte da esposa'
'Nenhuma outra doença tinha esse agravante de muitas pessoas
da mesma família morrendo juntas. Os casos são impactantes', diz médica
Para a médica Luisa Frota Chebabo, um dos momentos mais
tristes da pandemia envolveu uma família completamente afetada pela covid-19.
Ela conta que foram internados mãe, pai e filho no mesmo dia em um mesmo
hospital público da capital do Rio de Janeiro, em novembro passado.
"A mãe (de 60 anos) chegou muito grave e foi intubada
no momento da admissão (no hospital). O pai e o filho estavam um pouco mais
estáveis", diz Luisa.
Ela comenta que os leitos de covid-19 estavam
sobrecarregados na unidade de saúde, por isso os três integrantes da mesma
família tiveram de ficar na área de emergência.
"O filho foi mantido em observação, sem precisar de
oxigênio suplementar. O pai necessitou do oxigênio. Os dois ficaram ao lado da
mãe, intubada em estado grave", detalha a médica.
Luisa conta que o pai, que tinha 62 anos, dizia para todos
os médicos que o filho havia frequentado festas e transmitiu a covid-19 para a
família.
No dia seguinte à internação, o pai foi internado em um
leito que ficou vago na enfermaria de covid-19. O filho, por volta dos 30 anos,
se recuperou e logo teve alta hospitalar. A mãe continuava em estado grave na
emergência.
"O pai foi internado com piora progressiva. Todos os
dias, ele perguntava pela esposa, que também estava piorando cada vez
mais", detalha a médica.
Dois dias após chegar na unidade de saúde, a mãe da família
morreu. "O marido dela, cada vez mais precisando de suplementação de
oxigênio, continuava perguntando pela esposa", diz Luisa.
"A gente falava para ele que não tinha como ver muitos
detalhes sobre ela, já que estava internada em outro setor. Mas a gente falava
que ela continuava intubada, mesmo após a morte dela", relata a médica.
"Esse paciente era bem ansioso, então ficamos com medo
de dar a notícia do falecimento e precipitar uma descompensação da parte
respiratória. A própria família falou que era melhor não dar a notícia enquanto
ele não melhorasse, por causa desse componente de ansiedade importante",
diz Luisa.
A equipe médica optou por informar sobre a morte da
companheira somente quando o homem apresentasse melhora clínica. Cinco dias
após o falecimento da esposa, ele foi intubado. Três dias depois, morreu.
"Somente o filho ficou bem", diz Luisa.
A médica comenta que histórias como a da família que ela
acompanhou em novembro demonstram a gravidade da covid-19 em comparação a
outras enfermidades. "Nenhuma outra doença tinha esse agravante de muitas
pessoas da mesma família morrendo juntas. Os casos são impactantes", diz a
médica.
Jovens internados
'No ano passado, a gente via pessoas mais velhas na UTI.
Agora vemos muitos jovens. Muita gente fica grave rapidamente'
O cardiologista Roberto Kalil, que está há mais de três
décadas na Medicina, não tem dúvidas de que tem vivido o período mais dramático
de sua carreira.
"O que impacta é a agressividade do vírus, que até
então (antes do início da pandemia) era algo inesperado. É uma agressividade
tanto na fase hospitalar como até, em alguns casos, depois da alta",
relata o médico, que atua em hospitais de São Paulo.
Uma das situações que mais impactaram Kalil foi quando
notou, neste ano, a explosão de casos de covid-19 e a gravidade que a doença
passou a ter também entre muitos pacientes mais jovens, que foram parar na UTI
ou até morreram.
"No ano passado, a gente via pessoas mais velhas na
UTI. Agora vemos muitos jovens. Muita gente fica grave rapidamente", diz à
BBC News Brasil.
Ele comenta que o agravamento do quadro entre os mais jovens
é em razão da variante P.1, descoberta em janeiro em Manaus. A maior incidência
entre os mais novos é uma das características associadas à nova variante.
A maioria dos casos registrados em 2021 em São Paulo, por
exemplo, se concentra entre pessoas de 20 a 54 anos. Na Grande São Paulo, dados
do início de março mostraram que 80% dos pacientes haviam sido infectados pela
P.1.
Dados do governo paulista apontam que na primeira onda da
pandemia mais de 80% dos leitos UTIs eram ocupados por idosos e portadores de
doenças crônicas. Agora, 60% das vagas são ocupadas por pessoas de 30 a 50
anos, a maioria sem doença prévia.
Essa variante do coronavírus é mais contagiosa, entre outros
motivos, por causa de mutações que facilitaram a invasão de células humanas. Essa
característica pode estar ligada a duas hipóteses que estão próximas de serem
confirmadas por cientistas: agravamento mais rápido
do quadro de saúde e maior letalidade.
Conforme mostrado em reportagem da BBC News Brasil em 19 de
abril, uma das principais hipóteses para que a nova variante afete duramente os
mais jovens é a busca tardia por atendimento, quando a doença está bastante
agravada, muitas vezes de forma silenciosa.
Um dos principais benefícios da busca por atendimento
antecipado é o uso do oxigênio medicinal, que pode ajudar a evitar um maior
comprometimento dos pulmões. Além disso, o acompanhamento médico logo nos
primeiros sintomas pode evitar maiores complicações em outros órgãos.
Para o cardiologista Roberto Kalil, o cenário da pandemia no
Brasil pode melhorar, aos poucos, com a vacinação. Porém, diante da falta de
prazo para o avanço da imunização, que ainda está na fase dos grupos
prioritários, ele avalia que os trabalhadores na linha de frente ainda devem
enfrentar muito estresse em decorrência da sobrecarga no sistema de saúde.
"Espero que o cenário melhore a cada semana, mas ainda
estamos longe de sair da pandemia', diz Kalil.
A pediatra em estado grave
'Ela, como médica, também percebeu que não estava evoluindo
bem', relata especialista
Entre as histórias que acompanhou desde o início da
pandemia, o médico Lucas Antony se recorda do caso de uma pediatra aposentada
que foi internada com a covid-19 em janeiro deste ano.
A idosa, de 85 anos, chegou ao hospital particular, na
capital Rio de Janeiro, com dificuldades respiratórias. "Ela foi internada
e usamos uma máscara de ventilação não-invasiva nela. Mas a paciente não estava
respondendo bem. Ela, como médica, também percebeu que não estava evoluindo
bem", diz Antony.
O quadro da aposentada se agravou e ela precisou ser
intubada no dia seguinte à chegada ao hospital. Antony afirma que a situação se
tornou mais difícil por se tratar de uma paciente que era médica e sabia da
gravidade de seu próprio quadro.
"Ela estava falando com a gente com a máscara de
oxigênio e debatendo o caso dela quando informamos que ela precisaria ser
intubada. Em certo momento, ela parou de falar, ficou olhando para frente e
disse que só queria ir para casa", relembra o médico.
Enquanto era intubada, a pediatra reparou em uma enfermeira
que a auxiliou. "Ela perguntou se a enfermeira já havia sido, na infância,
atendida em um determinado serviço médico. A enfermeira disse que não que ela
soubesse, mas a pediatra falou que lembrava dela", relata Antony.
Horas após a pediatra ser intubada, a enfermeira entrou em
contato com a mãe. "A mãe da enfermeira disse que ela levava a filha para
ser atendida naquele serviço (citado pela médica aposentada) na infância.
Então, provavelmente essa pediatra atendeu a enfermeira em algum momento",
conta o médico.
Dois dias após ser intubada, a pediatra aposentada não
resistiu às complicações da covid-19. O médico relata que ficou comovido com o
caso da paciente por ser uma médica que sabia que não resistiria à doença e
pela lembrança que ela teve da enfermeira. "Foi uma história que me
marcou", diz.
Dados divulgados pelo Conass mostram o país próximo de 2 mil
vidas perdidas para a doença em apenas um dia
Humor Político
Dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários da
Saúde (Conass) mostram que o Brasil ultrapassou mais
um recorde macabro nesta quarta-feira (3) diante do avanço da pandemia
de Covid-19.
Foram 1.910 óbitos confirmados nas últimas 24h, uma marca
que supera de longe qualquer outra já vista desde o início da pandemia no país.
Com um possível colapso sanitário nacional, é bem provável que o Brasil
ultrapasse as 2 mil mortes diárias nos próximos dias.
Na contagem do Conass, o país já viu a morte de 259 mil
brasileiros para a Covid.
Além disso, foram 71,7 mil novos casos confirmados da doença, totalizando 10,7 milhões de infectados desde o início da pandemia.
A média móvel de óbitos chegou a 1.331, enquanto média móvel
de casos alcançou 56.310. Os dois índices bateram recorde.
Nosso atraso na obtenção de vacinas não tem outra explicação, além da culpa personalíssima de Jair Bolsonaro. Havia recursos, havia ofertas de farmacêuticas para reservas. A verdade é que não estamos mais em uma corrida por vacinas, estamos em uma corrida pelas doses restantes.
Perdemos 1.910 brasileiros em 24 horas para a covid-19. No Rio Grande do Sul, foram 180. Todas as UTIs estão lotadas e a fila se espera por um leito é imensa. Se isso não é uma tragédia, o que seria? Solidariedade às famílias dos que morreram e dos que esperam por uma vaga.
— Rosane de Oliveira (@rosaneoliveira) March 3, 2021
Quantos mais vão precisar morrer para que esse governo acabe?
País soma 10.324.463 casos e 250.061 mortes por coronavírus
Enterros de pessoas que faleceram por causa da Covid-19 no
cemitério Nossa Senhora Aparecida em Manaus (AM) Foto:
Sandro Pereira/Estadão Conteúdo
O Brasil ultrapassou nesta quarta-feira (24) a marca de 250
mil mortes causadas pelo coronavírus, de acordo com dados coletados pela CNN
com as secretarias estaduais de Saúde. No total, o Brasil soma 10.324.463 casos
e 250.061 mortes por Covid-19.
Nas últimas 24 horas, o país registrou mais 1.428 mortes e
66.588 casos confirmados da doença, segundo informações do Ministério da Saúde.
São Paulo é o estado com maior número de casos e mortes
geradas pela doença, são 2.002.640 diagnósticos positivos e 58.528 óbitos. Em
seguida, Minas Gerais aparece como o segundo estado com mais contaminados e
mortes, sendo 853.459 infecções e 17.974 vítimas.
A Bahia também está no topo, como o terceiro estado
brasileiro com mais casos e mortes de Covid-19. O estado soma 664.904
diagnósticos e 11.388 mortos, registrados até esta quarta-feira (24).
Segundo o boletim epidemiológico da Fundação de Vigilância em Saúde do estado,
o Amazonas registrou, além das mais de 10 mil mortes, 309.311 casos confirmados
da Covid-19. Apenas em 2021, foram contabilizadas 108.298 infecções. Em 2020,
foram 201.013 - ou seja, em menos de dois meses, este ano já registrou quase
metade dos casos confirmados de março a dezembro de 2020.
O Brasil passou a marca dos 250 mil mortos pela covid-19. Os
governos do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina enviaram ofício ao
Governo Federal pedindo ajuda para custeio de medicamentos e leitos de UTI,
além de mais vacinas. Os três estados receberam nova remessa com doses hoje. No
Rio de Janeiro, a vacinação na capital será retomada amanhã. E novas restrições
começaram a valer no Piauí, também pela alta ocupação nas UTIs.
Taxa é igual à de junho de 2020. Desaprovação ao governo é
de 49%
O presidente Jair Bolsonaro durante entrevista do Palácio do
Planalto; rejeição a seu trabalho é a mais alta
O trabalho de Jair Bolsonaro como presidente é rejeitado por
48% dos brasileiros. A proporção dos que consideram o desempenho do
mandatário “ruim/péssimo”não ficava tão alta desde junho de 2020, quando alcançou os
mesmos 48%.
A taxa está 7 pontos percentuais maior do que a de 15 dias,
quando a desaprovação era de 41%. O grupo que o avalia como “regular” também
caiu: eram 22%; agora são 18%. É o que mostra pesquisa PoderData realizada
de 15 a 17 de fevereiro de 2021.
A taxa dos que consideram o trabalho de Bolsonaro “ótimo/bom” variou
dentro da margem de erro da pesquisa: de 2 pontos percentuais para mais ou para
menos. Ficou em 31%.
Apesar do aumento da rejeição, desde o início da pandemia,
mesmo nos seus piores momentos, como agora, nunca Bolsonaro deixou de ter o
apoio de aproximadamente ⅓ do eleitorado.
No levantamento desta semana, pelo menos 2 fatores podem ter
impulsionado a queda da popularidade do trabalho pessoal do presidente:
auxílio
emergencial: o efeito do término definitivo do pagamento (agora
sentido por todos que recebiam) e as indefinições a respeito da
prorrogação. Até o fim de janeiro, Bolsonaro insistia na interrupção. Agora, já fala que o
benefício voltará em março. Saiba o que estuda o governo;
vacinação
contra covid-19: a pesquisa coincidiu com o período no qual diversas
cidades anunciaram a suspensão da imunização por falta de
doses.
Não por acaso, a rejeição ultrapassa os 50% em todas as
faixas de renda acima de 2 salários mínimos. Nas demais, a reprovação também
está acima dos que consideram o trabalho de Bolsonaro “ótimo/bom”.
O desempenho entre os mais pobres piorou frente à última pesquisa.
Para chegar a 2.500 entrevistas que preencham
proporcionalmente (conforme aparecem na sociedade) os grupos por sexo, idade,
renda, escolaridade e localização geográfica, o PoderData faz
dezenas de milhares de telefonemas. Muitas vezes, mais de 100 mil ligações até
que sejam encontrados os brasileiros que representem de forma fiel o conjunto
da população.
Eis os recortes por sexo, idade, região, nível de instrução
e renda:
AVALIAÇÃO DO GOVERNO
Quando o PoderData faz uma pergunta simples (“você aprova ou
desaprova o governo?”), as variações ficaram dentro da margem de erro (2 pontos
percentuais).
Os que desaprovam são 49% (eram 48% há duas semanas). Já os
que aprovam somam 43% (antes, eram 40%).
As repostas a essa pergunta indicam que, apesar do mau
momento, Bolsonaro segue ainda com apoio expressivo quando o eleitor é forçado
a dizer de maneira binária se aprova ou desaprova o governo.
Quando se levam em conta os recortes demográficos é possível
identificar maior desaprovação entre: mulheres (53%); pessoas de 25 a 44 anos
ou com mais de 60 (53%); na região Nordeste (54%); pessoas com nível superior
(61%) e com renda de 2 a 5 salários mínimos (60%).
Leia a estratificação completa:
OS 18% QUE ACHAM BOLSONARO “REGULAR”
No Brasil, pergunta-se aos eleitores como avaliam o trabalho
do governante. As respostas podem ser: ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo.
Quem considera a atuação “regular” é uma incógnita.
Para entender qual é a real opinião dessas pessoas, o
PoderData faz um cruzamento das respostas desse grupo com os que aprovam ou
desaprovam o governo como um todo.
Os resultados mostram que 43% desse grupo dizem aprovar o
governo quando dadas apenas duas opções. Os que desaprovam são 49%.
A taxa dos que avaliam o desempenho do governo positivamente
dentre este grupo cresceu 7 pontos percentuais em relação à última pesquisa.
Eis a evolução dentro deste recorte:
O conteúdo do PoderData pode ser lido nas
redes sociais, onde são compartilhados os infográficos e as notícias. Siga os
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Desaprovação do presidente Bolsonaro cresce 7 pontos
percentuais
A avaliação do presidente Jair Bolsonaro piorou neste mês de
fevereiro. O grupo dos que avaliam o trabalho dele como ruim ou péssimo cresceu
de 41% para 48%, ou seja, alta de sete pontos percentuais.
O governo distribuiu, entre setembro de 2020 e janeiro de
2021, 420 mil doses do medicamento para tratar pacientes com Covid-19
Caixa de sulfato de hidroxicloroquina - Foto:
Reprodução/Twitter
O governo de Jair Bolsonaro distribuiu, entre os meses de
setembro de 2020 e janeiro de 2021, 420 mil doses de hidroxicloroquina para
tratar pacientes com Covid-19. A informação foi confirmada pelo Exército à
reportagem de José Brito, da CNN.
Embora o presidente defenda o uso do medicamento no
tratamento contra a Covid, não existe evidência científica de que o remédio
tenha eficácia contra a doença.
Conforme documentos obtidos pela CNN, os recursos para a
produção e distribuição de hidroxicloroquina saíram do fundo emergencial para
combate à pandemia.
Benjamin Zymler, ministro do Tribunal de Contas da União
(TCU), concedeu prazo de 15 dias, a partir do dia 8 de fevereiro, para o
Comando do Exército e o Ministério da Saúde esclarecerem sobre a produção e a distribuição
de cloroquina no país.
O Exército precisa informar, também, se ainda existe estoque
da hidroxicloroquina doada pelos Estados Unidos, além da estimativa de produção
de cloroquina 150 mg para 2021.
O Ministério da Saúde recomendou a cloroquina para o
tratamento precoce da Covid-19 em maio de 2020. No mês seguinte, estendeu a
recomendação para crianças e mulheres grávidas, no mesmo dia em que a Food
and Drug Administration (FDA), órgão norte-americano equivalente à
Anvisa, revogou a autorização de uso emergencial do medicamento nos EUA.
Ao invés de buscar vacinas, o Ministério da Saúde fez a
Fiocruz produzir cloroquina para combater a Covid-19. E gastou milhões
destinados ao enfrentamento da pandemia para isso.
Redes sociais têm usado uma postagem do Exército de maio de 2020 para confrontar a tese de que cloroquina seria eficaz contra a Covid, já que o Amazonas vive explosão de casos da doença mesmo após receber carregamentos do medicamentohttps://t.co/aLKwZ9xoaS
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro aglomera na Praia do
Forte, em São Francisco do Sul (SC), o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM),
anuncia que a cidade terá de interromper a campanha de vacinação contra a
Covid-19 na quarta-feira (17) por falta de doses do imunizante.
“Recebi a notícia de que não chegaram novas doses. Teremos
que interromper amanhã a nossa campanha. Hoje vacinamos pessoas de 84 anos e
amanhã de 83. Estamos prontos e já vacinamos 244.852. Só precisamos que a
vacina chegue. Nova leva deve chegar do Butantan na próxima semana”, escreveu
em suas redes sociais Eduardo Paes.
Já em Santa Catarina, onde passa o feriadão do Carnaval,
Bolsonaro tem aglomerado com apoiadores, não usa máscara, e ainda se irrita com
perguntas sobre a volta do auxílio emergencial de R$ 600.
Sobre a vacina, então, parece um problema distante do
presidente da República em um momento que o Brasil só vacinou apenas 2,5% da
população de um total de 212 milhões de almas.
A título de comparação, Israel vacinou 70% de sua população
formada por 9 milhões de habitantes.
“Infelizmente, a gente vai ter que interromper o calendário,
voltar para o calendário original, porque a gente antecipou uma semana o
calendário no Rio”, lamentou Daniel Soranz, secretário municipal de Saúde,
enquanto Bolsonaro se diverte e aglomera no litoral catarinense.
A falta de vacinas não é uma exclusividade do Rio. Pelo
contrário. A vacinação também foi interrompida em Ananindeua, na Região
Metropolitana de Belém, no domingo (14). Motivo: falta de imunizante.
A cidade do Rio de Janeiro vai interromper a campanha de vacinação contra covid-19 a partir desta quarta-feira, dia 17. A vacinação será suspensa após pessoas com 83 anos receberem a primeira dose. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, explicou em mensagem no Twitter que o município contava com a entrega de novo lote de imunizantes do Instituto Butantan nesta segunda-feira, dia 15, para continuar a campanha. A expectativa, agora, é de que mais doses cheguem na próxima semana. O Brasil registrou a maior média móvel de óbitos desde o início da pandemia.