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domingo, 13 de junho de 2021

O Brasil receberá a vacina Janssen que expirará em 15 de junho

 

Essas doses são adquiridas com desconto de 25%, o que gerará uma economia de cerca de R $ 480 milhões.



RIO DE JANEIRO, 13 de junho. / TASS /. As primeiras 3 milhões de doses da vacina contra o Janssen contra o coronavírus chegarão ao Brasil no dia 15 de junho, ao final do prazo de validade do medicamento. O anúncio foi feito no sábado pelo Ministério da Saúde da república.

“Essas doses estão sendo compradas com um desconto de 25%, o que vai economizar cerca de R $ 480 milhões (cerca de US $ 94 milhões). Eles têm uma vida útil mais curta, mas o FDA permitiu que fosse prorrogado”, - disse o chefe da da Ministra da Saúde, Marcelo Queiroga, em entrevista coletiva.

Segundo o ministro, o governo brasileiro terá que pagar apenas as doses que serão utilizadas. Por questões logísticas, o Janssen só será utilizado nos centros administrativos dos estados da república sul-americana, explicou Queiroga.

A vacina expira no dia 27 de junho, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), seguindo o FDA, pode autorizar a prorrogação de seu prazo de validade por mais 6 semanas, até o dia 8 de agosto. A reunião do regulador farmacêutico brasileiro deve ocorrer na próxima semana, disse o ministério.

A vacinação contra o coronavírus começou no Brasil em 18 de janeiro. No momento, os medicamentos são usados pela empresa sueco-britânica AstraZeneca e pela Universidade de Oxford, a empresa chinesa Sinovac Biotech e a americana Pfizer. Mais de 23,6 milhões de pessoas já foram vacinadas com duas doses da vacina e mais de 54,2 milhões receberam uma vacina. Em setembro, está prevista a conclusão da primeira etapa da campanha de vacinação e a vacinação de grupos prioritários da população (mais de 78 milhões de pessoas), entre médicos, idosos e portadores de doenças crônicas.



Fonte: TACC

 

terça-feira, 25 de maio de 2021

CPI da Covid: quem é Mayra Pinheiro, a 'Capítã Cloroquina', secretária do Ministério da Saúde que depõe nesta terça


Conhecida pela alcunha de "Capitã Cloroquina", a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, depõe nesta terça-feira (25/05) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid.


Mayra Pinheiro usou informações falsas para promover o "tratamento precoce"

 Com o depoimento da pediatra cearense, os senadores pretendem entender melhor a atuação do governo de Jair Bolsonaro para promover o chamado "tratamento precoce" — um coquetel de medicamentos sem eficácia comprovada contra covid-19 que inclui substâncias como cloroquina, azitromicina e invermectina.

Os parlamentares querem questioná-la, principalmente, sobre sua atuação na liderança de uma comitiva do Ministério da Saúde ao Amazonas no início do ano, quando o Estado sofreu um colapso do sistema de saúde, com falta de leitos e de oxigênio para tratar o crescente número de pacientes com covid-19.

Pinheiro, porém, obteve um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal que permite que ela fique calada sobre esses acontecimentos. Isso porque a secretária é alvo de uma ação de improbidade administrativa que investiga a omissão de autoridades diante do colapso do sistema de saúde do Amazonas.



O habeas corpus foi concedido porque a Constituição garante o direito ao investigado de não produzir prova contra si mesmo.

O objetivo dessa ação de improbidade administrativa é verificar se autoridades "omitiram-se no cumprimento de seus deveres, ao retardar o início das ações do Ministério da Saúde no estado, ao não supervisionar o controle da demanda e do fornecimento de oxigênio medicinal nas unidades hospitalares do Amazonas, ao não prestar ao Estado a necessária cooperação técnica quanto ao controle de insumos, ao retardar a determinação da transferência de pacientes à espera de leitos para outros Estados, ao realizar pressão pela utilização 'tratamento precoce' de eficácia questionada no Amazonas e ao se omitir em apoiar o cumprimento das regras de isolamento social durante a pandemia".

No dia 10 de janeiro, quando a comitiva do Ministério da Saúde estava no Estado, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), anunciou que a situação era "dramática" e pediu de apoio ao governo federal para transporte de cilindros do gás de outras regiões do Brasil.

No dia seguinte, porém, Pinheiro lançava em Manaus, ao lado do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, a plataforma TrateCov e promovia como solução para redução das internações de pacientes com coronavírus o "tratamento precoce".

A secretária esteve na cidade antes, no dia 4 de janeiro, como representante do ministério para "alinhar ações de fortalecimento da pasta, para o enfrentamento da covid-19 no Amazonas", segundo registros da sua agenda oficial.

Apesar do iminente desabastecimento de oxigênio, a principal resposta liderada pela secretária à crise foi promover o uso de medicamentos sem eficácia.

Segundo Pazuello disse à CPI na semana passada, o TrateCov foi desenvolvido por sugestão de Pinheiro com o propósito de auxiliar médicos no diagnóstico e tratamento da covid-19. Na prática, o aplicativo recomendava o coquetel de medicamentos sem eficácia indiscriminadamente, até mesmo para bebês.

A plataforma acabou sendo retirada rapidamente do ar após críticas, e Pazuello hoje insiste que ela foi disponibilizada indevidamente por um hacker, apesar de o governo ter oficialmente divulgado o TrateCov.

Ministério da Saúde reagiu à falta de oxigênio em Manaus insistindo no uso da cloroquina

Na cerimônia em que anunciou o aplicativo em Manaus, Mayra Pinheiro exaltou a ferramenta como uma forma de realizar diagnósticos rápidos no lugar do uso de testes RT-PCR.

"Nós não podemos perder tempo diante do quadro epidemiológico que hoje toma conta do Estado do Amazonas e de diversos Estados brasileiros. Nós estamos apresentando para a sociedade um aplicativo que permite, como eu disse, com forte valor preditivo, dizer se o doente, diante das suas manifestações clínicas, ele tem ou não a covid-19", sustentou.

"E assim nós podemos, no período de cinco minutos, com a utilização desse aplicativo, que já pode ser acessado através das páginas do Ministério da Saúde, nós poderemos ofertar imediatamente para milhões de brasileiros o tratamento precoce, evitando que essas pessoas evoluam para quadros mais graves e que elas necessitem de novos leitos já escassos em todo o país", acrescentou.

Na ocasião, ela fez ainda uma apelo a "todos os prefeitos do Estado do Amazonas" para que adotassem o tratamento precoce".

"Por mais que nós tenhamos em breve a vacina disponível para toda a população brasileira, não há tempo a perder. Precisamos evitar novos óbitos", disse também.



Projeção com oposição ao Mais Médicos

Pinheiro está no atual cargo desde o início do governo, tendo sido nomeada na gestão do primeiro ministro da Saúde do presidente Jair Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta. Sua escolha, porém, é atribuída diretamente Palácio do Planalto, o que se refletiu na sua permanência na pasta apesar do troca-troca de ministros.

Mandetta deixou o governo em abril de 2020, tendo sido substituído por Nelson Teich, que durou menos de um mês no cargo — ambos disseram ter saído do governo por não concordar com Bolsonaro na defesa da cloroquina e na crítica ao distanciamento social.

Foi justamente com a ascensão do general Eduardo Pazuello ao comando da pasta que Pinheiro ganhou mais projeção, ao se alinhar integralmente ao presidente e ao ministro a favor do "tratamento precoce".

Com a militarização do ministério por Pazuello, a secretária se tornou uma das poucas pessoas com formação médica em postos de comando na pasta da Saúde.

Pinheiro, que se coloca como uma "técnica" no governo, se alinha a posicionamentos de Bolsonaro sem base científica

Em sua conta no Instagram, que conta com 16,5 mil seguidores, Pinheiro diz que tem "uma vida inteira dedicada à medicina".

"São mais de 30 anos de estudos, mestrados e doutoramentos até chegar ao Ministério da Saúde", diz ainda a descrição.

Apesar do plural, seu currículo na plataforma Lattes aponta um mestrado na Universidade de São Paulo, título obtido em 2002 com a tese "Morbidade Neonatal e pós-neonatal de crianças de alto-risco nascidas no Hospital Geral Dr. César Cals em Fortaleza".

Além disso, indica que a secretária cursa desde 2016 um doutorado em Bioética pela Universidade do Porto (Portugal). Procurada pela BBC News Brasil, a instituição disse que Pinheiro está no terceiro ano do programa.

Natural de Fortaleza, ela se formou em medicina em 1991 na Universidade Federal do Ceará e presidiu o Sindicato dos Médicos do Ceará entre 2015 e 2018.

Se projetou publicamente como opositora do programa Mais Médicos, implementado em 2013 pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Sua principal crítica era contra a vinda de médicos cubanos sem a revalidação do diploma de medicina no Brasil. Pinheiro nega, porém, ter participado do protesto que chamou os profissionais cubanos de escravos durante seu desembarque no aeroporto de Fortaleza.

Ela se filiou ao PSDB e disputou sem sucesso duas eleições — em 2014 tentou um mandato de deputada federal e, em 2018, concorreu ao Senado. Terminou em quarto lugar com 11,37% dos votos.

Depois, ingressou no partido Novo, mas, segundo o jornal Folha de S.Paulo, ela deixou a sigla após lideranças do partido, como João Amoedo, passarem a defender o impeachment de Bolsonaro.


Informações falsas na defesa da cloroquina

Desde o início da pandemia, a secretária foi ativa em defender o uso de medicamentos ineficazes contra a covid-19 e na crítica ao isolamento social.

Bolsonaro empunha uma caixa de cloroquina - remédio não tem eficácia comprovada contra covid-19

Em entrevista concedida em abril de 2020 ao canal no YouTube da Associação Brasileira de Psiquiatria, por exemplo, ela compara a recomendação para que a população fique em casa (com objetivo de reduzir o contágio do coronavírus) à perda de liberdade de pessoas presas.

Na mesma ocasião, a secretária disse que já existiam estudos amplos e com rigor científico aprovando a eficácia da hidroxicloroquina associada à azitromicia. Pesquisas realizadas até o momento, porém, apontam justamente o contrário.

"A gente já tem estudos com 600, com 500 pacientes que mostram, (estudos) randomizados, duplo-cegos, controlados, mostrando a taxa de sucesso muito alta. Mostrando que a gente tem sim agora a possibilidade de iniciar, quando as pessoas começam a ter sintomas, iniciar o uso dessa medicação hidroxicloroquina associada à azitromicina", afirmou na ocasião.

Estudos randomizados e controlados são pesquisas científicas em que os voluntários são distribuídos aleatoriamente em dois grupos (os que recebem o medicamento testado e os que recebem placebo). E duplo-cego significa que nem os voluntários nem os médicos sabem previamente as pessoas que tomaram cada uma dessas substâncias.

São técnicas consideradas fundamentais em pesquisas sérias. Já existem diversos estudos desse tipo que atestam a ineficácia da hidroxicloroquina contra a covid-19. Um deles é o do Recovery Trial, feito no Reino Unido. Numa análise de mais de 4.500 pacientes hospitalizados, o uso de hidroxicloroquina e azitromicina não trouxe benefício algum.

Um painel de especialistas internacionais da Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu, em março deste ano, que o medicamento não previne a infecção, fazendo uma "forte recomendação" para que não seja usado. Esta forte recomendação é baseada em seis estudos clínicos com evidências de alto nível que somam mais de 6 mil participantes.

Também não há evidências de que a ivermectina, fármaco usado no tratamento de parasitas como piolho e sarna, ajude no tratamento da covid-19. Os estudos disponíveis até agora são inconclusivos.

Por isso, a Agência Europeia de Medicamentos é contrária ao uso de ivermectina no tratamento da covid-19. Após revisar as publicações sobre o medicamento, a agência considerou que os estudos possuíam limitações, como diferentes regimes de dosagem do medicamento e uso simultâneo de outros medicamentos.

"Portanto, concluímos que as atuais evidências disponíveis são insuficientes para apoiarmos o uso de ivermectina contra a covid-19", concluiu a agência.

A própria fabricante da ivermectina, a farmacêutica MSD, afirmou em fevereiro que não existem evidências de que o medicamento tivesse efeito contra a covid-19.

Fonte: BBC News Brasil


UOL

Mayra Pinheiro na CPI da Covid: análise do depoimento ao vivo| UOL News Especial (25/05/2021)

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segunda-feira, 3 de maio de 2021

Réu confesso, crime 4: Cloroquina para enganar e matar brasileiros


A cloroquina foi peça fundamental na propaganda negacionista de Bolsonaro e um dos motivos de ele trocar médicos por um general no comando do Ministério da Saúde



CPI da Covid, no Senado, começa nesta semana a colher os primeiros depoimentos, ouvindo os ex-ministros da Saúde de Bolsonaro — Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello —, além do atual ocupante da pasta, Marcelo Queiroga, e do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres.

As audiências serão uma oportunidade de, entre outras coisas, explicar ao país por que Jair Bolsonaro defendeu tanto o uso da hidroxicloroquina e outras drogas sem eficácia, o famigerado Kit Covid. Hoje, já ficou claro que o atual presidente nunca se importou com o fato de os remédios funcionarem ou não contra o novo coronavírus. A principal função desses medicamentos sempre foi dar aos brasileiros uma falsa sensação de segurança.

Como já mostrado aqui na série Réu Confesso, Bolsonaro implementou a assassina estratégia de “imunização de rebanho”. Por isso precisava que a população acreditasse no engodo da cloroquina e não se protegesse em casa, ajudando-o a alcançar logo a meta de infectar “60% ou 70% das pessoas”, como não se cansou de repetir. Em outras palavras, a cloroquina era uma peça chave da propaganda negacionista posta em prática pelo atual presidente.


PT - Partido dos Trabalhadores

Crime 4: Pressão para uso de remédio sem eficácia

Assista ao VÍDEO


“Não vou manchar minha história”

Dessa maneira, Bolsonaro passou a pressionar o Ministério da Saúde para recomendar oficialmente o uso da cloroquina. O problema é que nem mesmo Luiz Henrique Mandetta nem Nelson Teich, médicos que aceitaram participar de um governo cuja política de saúde passava pelo desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS) e pela extinção de programas como o Mais Médicos, quiseram sujar suas reputações recomendando um remédio sem eficácia e que, ainda por cima, representa riscos à saúde.

Assim, tanto Mandetta quanto Teich deixaram o cargo quando a pressão pela recomendação oficial da cloroquina ficou muito grande. E a exposição desse motivo preocupa o governo, tanto que a Casa Civil da Presidência da República, ao elaborar a lista de crimes pelos quais Bolsonaro poderia ser acusado na CPI da Covid, anotou, no item 21: “O Presidente Bolsonaro pressionou Mandetta e Teich para obrigá-los a defender o uso da Hidroxicloroquina”.

Ora, a pressão foi clara. Nelson Teich, ao deixar o governo após ficar menos de um mês no ministério, afirmou em entrevista ao jornal O Globo, em 24 de maio de 2020: “É óbvio que antecipar o uso da cloroquina teve peso (na minha saída). O presidente achava que era melhor antecipar, e eu achava que não”. Nove dias antes, ao sair do cargo, havia dito: “Não vou manchar a minha história por causa da cloroquina”.

Quatro meses mais tarde, em setembro de 2020, Mandetta lançou o livro Um paciente chamado Brasil, no qual expôs todo o plano de Bolsonaro para usar a cloroquina como armas da imunização de rebanho:


  • “Nunca na cabeça dele houve a preocupação de propor a cloroquina como um caminho de saúde. A preocupação dele era sempre ‘Vamos dar esse remédio porque, com essa caixinha de cloroquina na mão, os trabalhadores voltarão à ativa. (…) O projeto dele para combate à pandemia é dizer que o governo tem o remédio e quem tomar o remédio vai ficar bem. Só vai morrer quem ia morrer de qualquer maneira”.

Bolsonaro troca médico por general

Teich e Mandetta aceitaram conviver com os absurdos de Bolsonaro até chegar ao ponto em que precisaram escolher entre manter-se em um governo assassino e preservar a reputação como médicos. Percebendo isso, o presidente decidiu colocar à frente do Ministério da Saúde Eduardo Pazuello, que não é médico, mas um general que se mostrou disposto a ajudá-lo em sua política de morte.

Cinco dias apenas depois da saída de Teich, Pazuello, ainda como ministro interino, assinou um protocolo para ampliar a recomendação do uso da cloroquina por pacientes com Covid-19. A droga sem eficácia chegou a ser incluída no aplicativo oficial Trate-Cov, fato investigado pelo Ministério Público.

O resultado da gestão Pazuello, todos conhecem. No período que ficou à frente do Ministério da Saúde, o Brasil recusou a oferta de vacinas, assistiu a pacientes morrerem por falta de oxigênio, tornou-se incubadora de novas cepas e ameaça global, e viu o número de mortes por Covid-19 saltar de 15 mil para 290 mil, no dia de sua saída, em 19 de março deste ano.

Fonte: PT Brasil


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Pazuello irá à CPI na quarta sem apoio dos militares


Isolado e na mira da CPI da Covid-19, o ex-ministro Eduardo Pazuello perdeu boa parte do apoio e solidariedade que tinha dos militares



 

247Na mira da CPI da Covid-19 instaurada no Senado, o ex-ministro Eduardo Pazuello perdeu boa parte do apoio e solidariedade que tinha da caserna no período em que estava no comando da Saúde. A informação é da coluna Radar, do portal Veja. 

Quando virou alvo do STF e da Polícia Federal por incompetência na condução do combate à pandemia, o general chegou a receber suporte da cúpula militar, a partir da gestão de Fernando Azevedo, então ministro da Defesa.

No entanto, o avanço de Bolsonaro contra Azevedo e os chefes das Forças Armadas fez com que Pazuello, o pivô da crise, conquistasse o isolamento na caserna. 


CPI 

A CPI da Covid dará início nesta semana à fase de tomada de depoimentos de ex-integrantes do governo Jair Bolsonaro. Nesta terça-feira (3) serão ouvidos os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Na quarta, o general Eduardo Pazuello, que ficou à frente da pasta por dez meses. Na quinta-feira serão ouvidos o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres. Para o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), “essa semana será decisiva porque vamos ter depoimentos dos principais atores sobre os bastidores da pandemia”.


Irresponsabilidade de Pazuello  reflete na vacinação 

Neste domingo (2), a aplicação da segunda dose da CoronaVac está suspensa em oito capitais brasileiras. De acordo com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a interrupção é resultado da conduta de seu antecessor no comando da pasta, Eduardo Pazuello.

"[O atraso] decorre da aplicação da segunda dose como primeira dose", afirmou. "Logo que houver entrega da CoronaVac, [o problema] será solucionado."


Rádio BandNews FM

Mônica Bergamo: Militares entram na mira da CPI da Covid para explicar produção de cloroquina - 29 de abr. de 202

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quinta-feira, 29 de abril de 2021

'Vi famílias dizimadas': relatos dramáticos da pandemia que deixou 400 mil mortos no Brasil


Desde o primeiro caso confirmado de covid-19 no Brasil, no fim de fevereiro de 2020, a rotina dos profissionais de saúde mudou. Com o aumento de infecções e mortes pela doença, médicos e enfermeiros na linha de frente dos atendimentos passaram a viver o período mais difícil de suas carreiras.



 "Existe uma exaustão entre esses profissionais de saúde há mais de um ano. É um estresse 24 horas, como a gente nunca viveu. É uma exaustão física e emocional. Estamos trabalhando 24 horas salvando vidas", diz o cardiologista Roberto Kalil, presidente do Conselho Diretor do Instituto do Coração em São Paulo.


Nesta quinta-feira (29/04), o Brasil atingiu a marca de 400 mil mortes pela covid-19, em meio ao seu mês mais letal da pandemia — em abril já foram registradas mais de 75 mil mortes pela doença, enquanto em março deste ano, até então o período com mais óbitos, foram 66 mil.

Em meio às centenas de milhares de mortes, os profissionais de saúde acompanham diversas cenas que ilustram a tragédia do novo coronavírus.

Despedidas, mortes por falta de recursos básicos e óbitos de diferentes integrantes da mesma família são algumas das situações que marcam os trabalhadores na linha de frente.

"É o pior período para a saúde mental dos profissionais de saúde. Muitos médicos pararam de dar plantão ou diminuíram o ritmo de trabalho porque estavam muito estressados. Tem sido um período muito grande de estresse", relata o médico intensivista José Albani de Carvalho.

Os profissionais de saúde relatam que cenas difíceis de serem esquecidas se tornaram cada vez mais comuns em meio à pandemia. Para dimensionar a tragédia vivida no país de 400 mil mortes pela doença, a BBC News Brasil pediu para médicos relatarem algumas das situações mais dramáticas que presenciaram desde o ano passado.

'Vimos um paciente morrer atrás do outro'

Em janeiro, Manaus viveu tragédia da falta de oxigênio medicinal. Caso se tornou alvo de investigação

O médico cirurgião Pierre Oliva Souza nunca esquecerá as cenas que presenciou no plantão que começou da noite de 14 de janeiro até o dia seguinte, em uma unidade de saúde em Manaus, no Amazonas.

Ele chegou para o plantão no Serviço de Pronto Atendimento (SPA) Joventina Dias por volta das 19h. Na unidade, logo foi informado por um colega que não havia estoque de oxigênio medicinal — item fundamental para auxiliar pacientes com dificuldades respiratórias, como aqueles com quadro grave de covid-19.

"Havia apenas dois cilindros de oxigênio, que durariam por algumas horas somente, porque a unidade estava lotada. Normalmente, havia 20 pacientes com suspeita de covid-19 que precisavam desse oxigênio, mas naquele período tinha mais de 40", relata o médico.

Ele conta que alguns gestores da região falaram que logo chegaria um caminhão carregado com oxigênio. "Deram falsas esperanças, porque isso não era verdade. Não havia oxigênio em lugar nenhum de Manaus, porque também faltou no mesmo dia em outras dezenas de unidades do Amazonas", comenta.

Na madrugada de 15 de janeiro, o oxigênio acabou completamente no SPA Joventina Dias. "Ninguém tinha avisado, dias antes, que o estoque de oxigênio estava acabando no Estado. Foi muito chocante para todo mundo", diz Souza.

"A gente sabia o quanto essa falta de oxigênio seria danosa e grave. O governador chegou a comentar, na semana anterior, que o Estado estava à beira de uma crise de oxigênio, por causa do aumento de casos de covid-19. Mas nós, profissionais de saúde, não tínhamos noção de como, de fato, a situação estava", diz o médico.

"Por causa da falta de oxigênio, a equipe de saúde teve que assumir a difícil decisão de quem vai sobreviver ou morrer por conta da absoluta falta de estrutura. Vimos um paciente morrer atrás do outro naquela madrugada. Eles definhavam, buscavam respirar, ficavam com a coloração azulada e morriam asfixiados na nossa frente. Não tínhamos o que fazer", relata Souza.

Segundo Souza, somente no SPA Joventina Dias foram contabilizadas oito mortes naquela madrugada. O médico relata que, normalmente, havia duas ou três mortes por plantão. "Sei de lugar que registrou mais de 20 mortes por causa da falta de oxigênio", comenta.

A situação no Amazonas se tornou notícia em todo o mundo. Diversos pacientes foram transferidos para outros Estados. Posteriormente, a cidade recebeu abastecimentos de oxigênio. "A situação foi normalizada depois. Hoje as coisas estão bem, principalmente porque os números de internações caíram nas últimas semanas", diz o médico.

Apurações apontam que a falta de oxigênio causou dezenas de mortes no Amazonas em meados de janeiro.

Então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello afirmou, na época, que foi avisado por volta de 8 de janeiro que o alto número de internações em Manaus até quintuplicou o uso do oxigênio medicinal. Em razão disso, segundo ele, o Ministério da Saúde logo passou a tomar providências junto com o governo estadual e a prefeitura.

De acordo com a CNN Brasil, o secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campelo, alegou, em depoimento à Polícia Federal que a falta de oxigênio ocorreu porque a principal fornecedora do insumo no Estado informou somente dias antes que não teria capacidade de atender a demanda na região, em razão do aumento de internações.

Segundo o secretário, o governo local logo comunicou o Ministério da Saúde e foram adotadas todas as medidas necessárias para o "enfrentamento de uma crise de saúde sem precedentes na história do Amazonas".

Em meados de abril, o Ministério Público Federal (MPF) do Amazonas apresentou uma ação de improbidade administrativa por omissão sobre a crise no fornecimento de oxigênio medicinal no Amazonas. Entre os alvos do procedimento estão três secretários do Ministério da Saúde e o então responsável pela pasta, general Eduardo Pazuello, e dois integrantes do governo do Amazonas, entre eles o secretário estadual de Saúde, Marcellus Campelo.

O MPF apontou falhas como omissão no monitoramento da demanda de oxigênio medicinal e adoção de medidas para evitar o desabastecimento, além de demora nas transferências de pacientes para outros Estados. O caso segue na Justiça Federal do Amazonas.

Mais de três meses depois, as cenas de meados de janeiro agora fazem parte das piores lembranças da pandemia para os profissionais de saúde do Amazonas.

"Eu vou superar, porque nosso trabalho pede, mas não vou esquecer nunca. Apesar de todo ensinamento que tivemos na faculdade, nunca pensei que fosse viver em tempos de paz aquilo que só acontece na guerra, que é escolher quem vai viver ou morrer", desabafa Souza.


'Vi famílias dizimadas'

O médico intensivista José Albani de Carvalho, que atua em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais da grande São Paulo, comenta que algumas das situações mais tristes que presenciou envolvem as mortes de membros de uma mesma família pela covid-19.

"Ver famílias inteiras morrendo foi uma das coisas que mais me marcaram. Não foi uma, nem duas, nem três. Foram vários casos de irmãos, pais e filhos ou outros parentes morrendo com diferenças de horas ou dias. A grande verdade é que na minha vida inteira nunca tinha visto isso tão frequentemente", desabafa o médico, que trabalha em UTIs há mais de 30 anos.

"Teve uma família em que morreram três irmãos em dois dias. Dois deles estavam em leitos próximos. Isso impacta muito, porque você vê uma família ser dizimada", diz o médico.

Ele detalha o caso de três mortes de pessoas na faixa dos 40 anos que eram da mesma família. "O rapaz foi intubado com covid-19. A mulher dele foi internada, mas parecia que evoluiria bem e não precisaria ser intubada. Mas é muito difícil saber, porque às vezes um paciente demora 10 dias na UTI e você não sabe para onde ele vai, se vai melhorar ou piorar", comenta Albani.

"O rapaz acabou morrendo. A mulher dele, que a gente achava que daria alta em poucos dias, piorou também e foi intubada. Dias depois, ela morreu. Depois, a irmã dela, que estava internada no hospital, também faleceu", relata o médico.

O intensivista foi o responsável por contar sobre as mortes à família. "Nunca é fácil comunicar isso, porque você acompanha essas famílias e aquele sofrimento durante as internações, que muitas vezes duram dias ou semanas", diz.

"Por incrível que pareça, esse comunicado para as famílias acaba sendo algo que a gente se acostuma. Não é ser insensível, mas é que há mais de 30 anos na UTI isso acaba se tornando algo do cotidiano. Mas claro, quando você vai comunicar três mortes para uma mesma família, como tem acontecido em alguns casos, é mais difícil", acrescenta Albani.

O médico comenta que os familiares dos pacientes sempre reconhecem o trabalho dos profissionais de saúde.

Enquanto precisam enfrentar números de internações e mortes como nunca tinham presenciado em período recente, os profissionais de saúde também enfrentam o estresse causado pela falta de cuidados de muitos em relação ao coronavírus.

"Do ponto de vista da sociedade em geral os profissionais de saúde não são reconhecidos. Enquanto vemos as dificuldades, as mortes e trabalhamos sob muito estresse, há muitas pessoas nas ruas que falam que máscara é bobagem e fazem aglomerações. Olhar essas situações causa ainda mais estresse a esses profissionais", desabafa Albani.

'Ficamos com medo de dar a notícia da morte da esposa'

'Nenhuma outra doença tinha esse agravante de muitas pessoas da mesma família morrendo juntas. Os casos são impactantes', diz médica

Para a médica Luisa Frota Chebabo, um dos momentos mais tristes da pandemia envolveu uma família completamente afetada pela covid-19. Ela conta que foram internados mãe, pai e filho no mesmo dia em um mesmo hospital público da capital do Rio de Janeiro, em novembro passado.

"A mãe (de 60 anos) chegou muito grave e foi intubada no momento da admissão (no hospital). O pai e o filho estavam um pouco mais estáveis", diz Luisa.

Ela comenta que os leitos de covid-19 estavam sobrecarregados na unidade de saúde, por isso os três integrantes da mesma família tiveram de ficar na área de emergência.

"O filho foi mantido em observação, sem precisar de oxigênio suplementar. O pai necessitou do oxigênio. Os dois ficaram ao lado da mãe, intubada em estado grave", detalha a médica.

Luisa conta que o pai, que tinha 62 anos, dizia para todos os médicos que o filho havia frequentado festas e transmitiu a covid-19 para a família.

No dia seguinte à internação, o pai foi internado em um leito que ficou vago na enfermaria de covid-19. O filho, por volta dos 30 anos, se recuperou e logo teve alta hospitalar. A mãe continuava em estado grave na emergência.

"O pai foi internado com piora progressiva. Todos os dias, ele perguntava pela esposa, que também estava piorando cada vez mais", detalha a médica.

Dois dias após chegar na unidade de saúde, a mãe da família morreu. "O marido dela, cada vez mais precisando de suplementação de oxigênio, continuava perguntando pela esposa", diz Luisa.

"A gente falava para ele que não tinha como ver muitos detalhes sobre ela, já que estava internada em outro setor. Mas a gente falava que ela continuava intubada, mesmo após a morte dela", relata a médica.

"Esse paciente era bem ansioso, então ficamos com medo de dar a notícia do falecimento e precipitar uma descompensação da parte respiratória. A própria família falou que era melhor não dar a notícia enquanto ele não melhorasse, por causa desse componente de ansiedade importante", diz Luisa.

A equipe médica optou por informar sobre a morte da companheira somente quando o homem apresentasse melhora clínica. Cinco dias após o falecimento da esposa, ele foi intubado. Três dias depois, morreu. "Somente o filho ficou bem", diz Luisa.

A médica comenta que histórias como a da família que ela acompanhou em novembro demonstram a gravidade da covid-19 em comparação a outras enfermidades. "Nenhuma outra doença tinha esse agravante de muitas pessoas da mesma família morrendo juntas. Os casos são impactantes", diz a médica.

Jovens internados

'No ano passado, a gente via pessoas mais velhas na UTI. Agora vemos muitos jovens. Muita gente fica grave rapidamente'

O cardiologista Roberto Kalil, que está há mais de três décadas na Medicina, não tem dúvidas de que tem vivido o período mais dramático de sua carreira.

"O que impacta é a agressividade do vírus, que até então (antes do início da pandemia) era algo inesperado. É uma agressividade tanto na fase hospitalar como até, em alguns casos, depois da alta", relata o médico, que atua em hospitais de São Paulo.

Uma das situações que mais impactaram Kalil foi quando notou, neste ano, a explosão de casos de covid-19 e a gravidade que a doença passou a ter também entre muitos pacientes mais jovens, que foram parar na UTI ou até morreram.

"No ano passado, a gente via pessoas mais velhas na UTI. Agora vemos muitos jovens. Muita gente fica grave rapidamente", diz à BBC News Brasil.

Ele comenta que o agravamento do quadro entre os mais jovens é em razão da variante P.1, descoberta em janeiro em Manaus. A maior incidência entre os mais novos é uma das características associadas à nova variante.

A maioria dos casos registrados em 2021 em São Paulo, por exemplo, se concentra entre pessoas de 20 a 54 anos. Na Grande São Paulo, dados do início de março mostraram que 80% dos pacientes haviam sido infectados pela P.1.

Dados do governo paulista apontam que na primeira onda da pandemia mais de 80% dos leitos UTIs eram ocupados por idosos e portadores de doenças crônicas. Agora, 60% das vagas são ocupadas por pessoas de 30 a 50 anos, a maioria sem doença prévia.

Essa variante do coronavírus é mais contagiosa, entre outros motivos, por causa de mutações que facilitaram a invasão de células humanas. Essa característica pode estar ligada a duas hipóteses que estão próximas de serem confirmadas por cientistas: agravamento mais rápido do quadro de saúde e maior letalidade.

Conforme mostrado em reportagem da BBC News Brasil em 19 de abril, uma das principais hipóteses para que a nova variante afete duramente os mais jovens é a busca tardia por atendimento, quando a doença está bastante agravada, muitas vezes de forma silenciosa.

Um dos principais benefícios da busca por atendimento antecipado é o uso do oxigênio medicinal, que pode ajudar a evitar um maior comprometimento dos pulmões. Além disso, o acompanhamento médico logo nos primeiros sintomas pode evitar maiores complicações em outros órgãos.

Para o cardiologista Roberto Kalil, o cenário da pandemia no Brasil pode melhorar, aos poucos, com a vacinação. Porém, diante da falta de prazo para o avanço da imunização, que ainda está na fase dos grupos prioritários, ele avalia que os trabalhadores na linha de frente ainda devem enfrentar muito estresse em decorrência da sobrecarga no sistema de saúde.

"Espero que o cenário melhore a cada semana, mas ainda estamos longe de sair da pandemia', diz Kalil.

A pediatra em estado grave

'Ela, como médica, também percebeu que não estava evoluindo bem', relata especialista

Entre as histórias que acompanhou desde o início da pandemia, o médico Lucas Antony se recorda do caso de uma pediatra aposentada que foi internada com a covid-19 em janeiro deste ano.

A idosa, de 85 anos, chegou ao hospital particular, na capital Rio de Janeiro, com dificuldades respiratórias. "Ela foi internada e usamos uma máscara de ventilação não-invasiva nela. Mas a paciente não estava respondendo bem. Ela, como médica, também percebeu que não estava evoluindo bem", diz Antony.

O quadro da aposentada se agravou e ela precisou ser intubada no dia seguinte à chegada ao hospital. Antony afirma que a situação se tornou mais difícil por se tratar de uma paciente que era médica e sabia da gravidade de seu próprio quadro.

"Ela estava falando com a gente com a máscara de oxigênio e debatendo o caso dela quando informamos que ela precisaria ser intubada. Em certo momento, ela parou de falar, ficou olhando para frente e disse que só queria ir para casa", relembra o médico.

Enquanto era intubada, a pediatra reparou em uma enfermeira que a auxiliou. "Ela perguntou se a enfermeira já havia sido, na infância, atendida em um determinado serviço médico. A enfermeira disse que não que ela soubesse, mas a pediatra falou que lembrava dela", relata Antony.

Horas após a pediatra ser intubada, a enfermeira entrou em contato com a mãe. "A mãe da enfermeira disse que ela levava a filha para ser atendida naquele serviço (citado pela médica aposentada) na infância. Então, provavelmente essa pediatra atendeu a enfermeira em algum momento", conta o médico.

Dois dias após ser intubada, a pediatra aposentada não resistiu às complicações da covid-19. O médico relata que ficou comovido com o caso da paciente por ser uma médica que sabia que não resistiria à doença e pela lembrança que ela teve da enfermeira. "Foi uma história que me marcou", diz.

Fonte: BBC News Brasil


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400 mil mortos por covid-19 no Brasil: luto atinge milhões de pessoas

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sábado, 10 de abril de 2021

Falta de estratégia de Bolsonaro contra a Covid-19 é uma ameaça para o mundo, diz imprensa francesa


A gestão da crise sanitária no Brasil está no foco da imprensa francesa desta sexta-feira (9). Os jornais destacam o aumento vertiginoso de mortes pela Covid-19 e a inércia do governo brasileiro diante da epidemia.



"O Brasil se transforma em laboratório de variantes a céu aberto e preocupa o mundo" é manchete no jornal Ouest France. O diário destaca que a ausência de medidas coordenadas contra a propagação do coronavírus faz com que o país seja não somente palco de uma tragédia local, mas também de "uma nova ameaça para a situação sanitária mundial".

Citado pelo Ouest France, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis classifica o Brasil como "uma bomba-relógio". Segundo ele, com cerca de 100 mil novos casos de Covid-19 por dia, a inação do governo está resultando em mutações importantes do vírus.

Até o momento, 92 cepas foram identificadas e estão em circulação no Brasil. O diário afirma que isso "transforma o país em um gigantesco reservatório de variantes da Covid-19, podendo reinfectar em permanência todo o planeta".

O jornal Les Echos classifica a gestão da epidemia pelo presidente Jair Bolsonaro como "um desastre absoluto", denunciado por todas as organizações médicas e científicas do mundo inteiro. O diário lembra a posição do líder da extrema direita brasileira desde o início da crise sanitária, classificando o coronavírus como uma "gripezinha", ostentando seu posicionamento contra o uso de máscaras e contra as vacinas, minimizando uma tragédia que resulta hoje em mais de 345 mil mortos, em pouco mais de um ano.

Os jornais franceses afirmam que a má gestão da crise sanitária no Brasil é uma ameaça para o mundo inteiro. AP - Andre Penner

"Se a política de Bolsonaro é um pesadelo, a persistência da doença no Brasil preocupa o mundo", afirma o diário, lembrando que "a luta contra a Covid-19 deve ser feita de forma conjunta, por todos os continentes".

O jornal conservador Le Figaro traz como manchete: "Bolsonaro em breve sob investigação devido à sua gestão da pandemia". A matéria afirma que o Senado brasileiro deve começar a avaliar "eventuais omissões" do presidente durante a crise sanitária.

Le Figaro destaca que, desde janeiro, a situação se agrava no Brasil, quando milhares de pessoas morreram no Estado do Amazonas devido à falta de oxigênio nos hospitais. Desde então, a falta de ação do governo vem resultando em recordes diários de mortes. Na quinta-feira (8), foram registrados 4.249 óbitos em um período de 24 horas.

O jornal Libération destaca a média diária de 2.800 óbitos por Covid-19 no Brasil, "um número que cresce todos os dias de forma desesperadora", diz. A crise está longe do fim: "em seu relatório semanal, a Fiocruz explica que a tendência é que essa situação perdure nas próximas semanas", conclui Libé.

Fonte: RFI Brasil


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Como Bolsonaro conquistou a coroa de Trump como o pior líder COVID do mundo


RIO DE JANEIRO - Estimulado pela bravata maltratada e desequilibrada do presidente Jair Bolsonaro, a última onda de COVID do Brasil ameaça colocar o país em primeiro lugar entre os surtos de coronavírus mais letais do mundo.


Fornecido por The Daily Beast Carl De Souza / Getty

Profissionais médicos desesperados e autoridades locais que estão lutando para neutralizar a antipatia de Bolsonaro por máscaras, bloqueios e - até recentemente - vacinas disseram ao Daily Beast que o vírus agora está completamente fora de controle e eles temem que o número de mortos continue a explodir.

“A situação é desesperadora”, disse o Dr. Gerson Salvador, que trabalha no pronto-socorro de um hospital de São Paulo ao The Daily Beast. “E o que nos trouxe aqui é a atitude do presidente.”

Esta semana, o Brasil ultrapassou 4.000 mortes em um único dia pela primeira vez desde o início da pandemia, há mais de um ano - e os especialistas alertam que o pior ainda está por vir. Em todo o país, cemitérios estão ficando sem espaço e algumas cidades abriram valas comuns. Em São Paulo, as autoridades dizem que planejam enterrar as vítimas em “sepulturas verticais” que parecem gavetas.

Bolsonaro - que afirmou que o COVID era apenas uma “pequena gripe” no início da pandemia - lutou contra as medidas de isolamento, argumentando que elas só prejudicam a economia. Sua maneira catastrófica de lidar com a crise afetou seu índice de aprovação e o deixou politicamente enfraquecido. Mas em um país onde milhões de trabalhadores trabalham no setor informal - trabalhando como faxineiros, motoristas de táxi ou vendedores de frutas - sua mensagem ainda ressoou em muitos trabalhadores frustrados.

Ainda assim, prefeitos e governadores desafiaram Bolsonaro, tentando colocar algumas restrições em uma tentativa de diminuir as infecções. Antes da Páscoa, cidades como o Rio de Janeiro impuseram bloqueios parciais que fecharam bares, restaurantes e praias.

Mas essas medidas ainda são difíceis de vender para muitos brasileiros. Diante da pressão de um eleitorado frustrado e de uma economia em crise, as autoridades de vários estados - incluindo Ceará e Santa Catarina - devem aliviá-los nos próximos dias.

No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes reabriu escolas em toda a cidade esta semana, depois de uma dura batalha judicial com rivais que lutavam para manter o fechamento no local. Um bloqueio parcial de empresas na cidade também está sendo suspenso na sexta-feira.

Com a falta de uma estratégia nacional e uma reabertura prematura de muitas cidades, a catástrofe tende a se aprofundar, disse o Dr. Paulo Pinheiro, vereador carioca do PSOL de esquerda e membro da comissão de saúde da cidade.

“O que temos hoje é cada município e cada estado lidando com a crise à sua maneira”, disse Pinheiro ao The Daily Beast. “Não tem como funcionar. E a imagem é assustadora, sem nenhuma perspectiva melhor pela frente. ”

Em um hospital lotado em São Paulo, a Dra. Vanessa Dinis atende um fluxo incessante de pacientes infectados com COVID-19. Sempre que uma cama de terapia intensiva é liberada na sala de emergência onde ela trabalha, ela é rapidamente preenchida por outro paciente com dificuldade para respirar.

“É de longe a pior situação que já vivemos”, disse Dinis ao jornal The Daily Beast durante um turno em um dos três hospitais paulistas onde trabalha. “Estamos vendo famílias inteiras internadas em cuidados intensivos”.

Dinis está entre os milhares de trabalhadores da saúde que lutam na linha de frente da pandemia COVID-19 no Brasil, onde a crise saiu de controle nas últimas semanas. O vírus já ceifou 341.000 vidas e infectou mais de 13 milhões de brasileiros, no que está se tornando rapidamente o pior surto do mundo.

O país agora está a caminho de ultrapassar o recorde americano de média semanal de mortes estabelecido em janeiro (3.285), de acordo com o Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington.

As infecções no Brasil explodiram parcialmente devido a uma variante altamente infecciosa, que foi detectada pela primeira vez na cidade amazônica de Manaus no início deste ano e, desde então, varreu o país com a velocidade da luz, na ausência de medidas de distanciamento social.

Especialistas dizem que a variante, conhecida como P1, pode ser capaz de driblar a imunidade, infectando até mesmo aqueles que já estavam infectados com o vírus. Cada vez mais o perfil dos pacientes encaminhados às pressas para o pronto-socorro também está mudando, diz Dinis, à medida que a COVID-19 infecta os brasileiros mais jovens.

“Pais que já foram vacinados ou tiveram um caso mais leve de COVID no ano passado”, disse ela. “Agora eles estão vendo seus filhos hospitalizados e intubados.”

O aumento dramático de casos em todo o Brasil sobrecarregou o sistema de saúde, levando-o ao colapso em algumas regiões. Isso deixou os hospitais lutando por leitos de cuidados intensivos, suprimentos de oxigênio e medicamentos essenciais. No hospital paulista onde trabalha Salvador, os pacientes são atendidos em todos os cantos livres, inclusive consultórios e corredores.

“Nas últimas semanas, não tivemos leitos para hospitalizar pessoas”, disse Salvador ao The Daily Beast. “Tínhamos que colocar os pacientes, mesmo os em estado grave, em espaços improvisados ​​enquanto aguardavam o leito da UTI.”

A capacidade da UTI está acima de 90 por cento em 21 capitais de todo o país, incluindo Belo Horizonte, Porto Alegre e Porto Velho. No Distrito Federal de Brasília, os hospitais estão completamente sem leitos de terapia intensiva. No estado do Rio de Janeiro, mais de 600 pessoas aguardam na fila para atendimento na UTI - uma lista de espera que é três vezes a capacidade total do estado.

Em Vitória, cidade litorânea do Espírito Santo, o Dr. João Ferraz disse que os hospitais onde trabalha estão lutando para conseguir os medicamentos necessários para intubar os pacientes. Os leitos de cuidados intensivos também são difíceis de encontrar no Espírito Santo, onde as taxas de ocupação são de cerca de 93%.

“Está muito lotado, é quase impossível conseguir uma vaga”, disse Ferraz em entrevista ao The Daily Beast antes de entrar no turno da noite. “Às vezes, de manhã, não há camas. Então, à tarde, um paciente recebe alta ou alguém morre. E esses espaços são preenchidos imediatamente. ”

Nos hospitais onde Dinis trabalha, a capacidade de leitos da UCI foi recentemente aumentada, aliviando um pouco a pressão sobre as urgências. Mas ela diz que os hospitais de São Paulo - o estado com o maior número de casos - agora enfrentam a falta de pessoal.

“Estamos lutando para cobrir os turnos nos hospitais”, disse ela. “Eles estão aumentando o número de leitos, mas não aumentando o número de profissionais de saúde”.

Médicos e enfermeiras, por sua vez, estão exaustos, disse Ferraz. “Estamos completamente esgotados. E sem restrições mais fortes ou uma vacina, nossas esperanças de ver uma melhora em breve estão realmente se esvaindo. ”

No Brasil, a vacinação fica defasada em meio à escassez de doses. O país tem lutado até agora para garantir vacinas suficientes para imunizar sua população de 211 milhões, depois que Bolsonaro rejeitou acordos com fabricantes de vacinas como China e Índia no ano passado. Até agora, menos de 3% dos brasileiros receberam as duas doses.

Enquanto isso, Salvador diz que a única esperança do Brasil de controlar a crise é finalmente impor medidas de bloqueio mais rígidas em todo o país.

“A resposta não está no sistema de saúde - já atingimos o limite. Não temos mais capacidade humana ”, disse ele.

“Precisamos de um bloqueio real, precisamos parar a transmissão do vírus. Sem ele, as coisas só vão piorar no curto prazo. E provavelmente perderemos muito mais vidas. ”

Leia mais em The Daily Beast.

Fonte: MSN


DW Brasil

Drama nas favelas do Brasil: morrer de fome ou de covid-19

O Brasil é um dos países mais atingidos pela pandemia da covid-19. E, se já não bastasse o caos sanitário, o país enfrenta ainda desemprego elevado, alta nos preços dos alimentos e fome. Com a interrupção do auxílio emergencial, muitos ficaram sem saber como alimentar suas famílias.

"Tem dias que não tem nem um pão", diz Célia Gomes, moradora da favela de Paraisópolis, em São Paulo. "Eu acordo agoniada. Dou um pulo da cama, a primeira coisa que eu faço é me benzer, e agradecer a Deus que eu acordei viva."

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sábado, 27 de março de 2021

Um colapso previsto: como o surto de Covid-19 no Brasil sobrecarregou os hospitais


O vírus já matou mais de 300.000 pessoas no Brasil, sua propagação auxiliada por uma variante altamente contagiosa, brigas políticas e desconfiança na ciência.



PORTO ALEGRE, Brasil - Os pacientes começaram a chegar aos hospitais de Porto Alegre bem mais doentes e mais jovens do que antes. As casas funerárias estavam experimentando um aumento constante nos negócios, enquanto médicos e enfermeiras exaustos imploravam em fevereiro por um bloqueio para salvar vidas.

Mas Sebastião Melo, prefeito de Porto Alegre, argumentou que havia um imperativo maior.

“Coloque sua vida em risco para que possamos salvar a economia”, apelou Melo a seus eleitores no final de fevereiro.

Agora, Porto Alegre, uma cidade próspera no sul do Brasil, está no centro de um colapso impressionante do sistema de saúde do país - uma crise prevista.

Após mais de um ano de pandemia, as mortes no Brasil estão no auge e variantes altamente contagiosas do coronavírus estão varrendo o país, possibilitadas por disfunções políticas, complacência generalizada e teorias da conspiração. O país, cujo líder, o presidente Jair Bolsonaro, minimizou a ameaça do vírus, agora está relatando mais casos novos e mortes por dia do que qualquer outro país do mundo.

“Nunca vimos uma falha do sistema de saúde dessa magnitude”, disse Ana de Lemos, diretora executiva do Médicos Sem Fronteiras no Brasil. “E não vemos uma luz no fim do túnel.”

Fabricante de caixões em Porto Alegre.


Coveiro trabalhando no cemitério Jardim da Paz, em Porto Alegre.

Na quarta-feira, o país ultrapassou 300.000 mortes de Covid-19, com cerca de 125 brasileiros sucumbindo à doença a cada hora. Autoridades de saúde em hospitais públicos e privados estavam lutando para expandir as unidades de cuidados intensivos, estocar suprimentos cada vez menores de oxigênio e adquirir escassos sedativos para intubação que estão sendo vendidos a um preço exponencial.

Unidades de terapia intensiva em Brasília, a capital, e 16 dos 26 estados brasileiros relatam uma terrível escassez de leitos disponíveis, com capacidade abaixo de 10 por cento, e muitas estão experimentando contágio crescente (quando 90 por cento desses leitos estão ocupados, a situação é considerada terrível).

No Rio Grande do Sul, estado que inclui Porto Alegre, a lista de espera por leitos em unidades de terapia intensiva dobrou nas últimas duas semanas, para 240 pacientes graves.

No Hospital Restinga e Extremo Sul, um dos principais centros médicos de Porto Alegre, o pronto-socorro virou uma enfermaria Covid lotada, onde muitos pacientes eram atendidos em cadeiras, por falta de leito livre. Na semana passada, os militares construíram um hospital de campanha em frente à entrada principal, mas funcionários do hospital disseram que o espaço adicional para leitos é de pouca utilidade para uma equipe médica que está além de seu limite.

Pacientes com diagnóstico de Covid-19 em um hospital de campanha montado pelos militares em frente à entrada principal do Hospital Restinga e Extremo Sul.

Funcionários do hospital disseram que o espaço adicional para leitos é de pouca utilidade para uma equipe médica que está além de seu limite.

“Todo o sistema está à beira do colapso”, disse Paulo Fernando Scolari, diretor do hospital. “As pessoas estão chegando com sintomas mais sérios, níveis mais baixos de oxigênio e precisam desesperadamente de tratamento”.

O colapso é um fracasso total para um país que, nas últimas décadas, foi um modelo para outras nações em desenvolvimento , com a reputação de apresentar soluções ágeis e criativas para crises médicas, incluindo um aumento nas infecções por HIV e o surto de Zika.

Melo, que fez campanha no ano passado com a promessa de suspender todas as restrições à pandemia na cidade, disse que um bloqueio faria com que as pessoas morressem de fome.

“Quarenta por cento de nossa economia, nossa força de trabalho, é informal”, disse ele em uma entrevista. “São pessoas que precisam sair e trabalhar para comer alguma coisa à noite”.

O presidente Bolsonaro, que continua promovendo drogas ineficazes e potencialmente perigosas para tratar a doença, também disse que os bloqueios são insustentáveis ​​em um país onde tantas pessoas vivem na pobreza. Embora vários estados brasileiros tenham ordenado o fechamento de empresas nas últimas semanas, não houve nenhum bloqueio estrito.

Alguns dos partidários do presidente em Porto Alegre protestaram contra o fechamento de empresas nos últimos dias, organizando caravanas que param do lado de fora dos hospitais e tocam suas buzinas enquanto as alas de Covid transbordam.

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro durante uma manifestação na cidade de Canela organizada por líderes empresariais locais contra o bloqueio.

Trabalhadores da saúde em frente ao Palácio Piratini, no centro de Porto Alegre, durante manifestação organizada por sindicatos em favor do bloqueio.

Epidemiologistas afirmam que o Brasil poderia ter evitado bloqueios adicionais se o governo tivesse promovido o uso de máscaras e o distanciamento social e negociado agressivamente o acesso às vacinas em desenvolvimento no ano passado.

Em vez disso, Bolsonaro, um aliado próximo do ex-presidente Donald J. Trump, chamou a Covid-19 de "gripe do sarampo", muitas vezes encorajou grandes multidões e criou uma falsa sensação de segurança entre os apoiadores ao endossar medicamentos antimalária e antiparasitários - contradizendo as principais autoridades de saúde que advertiram que eles eram ineficazes.

No ano passado, o governo de Bolsonaro rejeitou a oferta da Pfizer de dezenas de milhões de doses de sua vacina Covid-19. Mais tarde, o presidente comemorou contratempos nos testes clínicos da CoronaVac, a vacina chinesa da qual o Brasil passou a depender em grande parte, e brincou que as empresas farmacêuticas não seriam responsabilizadas se pessoas que recebessem vacinas recém-desenvolvidas se transformassem em crocodilos.

“O governo descartou inicialmente a ameaça da pandemia, depois a necessidade de medidas preventivas e depois vai contra a ciência ao promover curas milagrosas”, disse Natália Pasternak, microbiologista de São Paulo. “Isso confunde a população, o que significa que as pessoas se sentem seguras ao sair para a rua.”

Terezinha Backes, sapateira aposentada de 63 anos, residente em município da periferia de Porto Alegre, foi extremamente cuidadosa no último ano, aventurando-se apenas quando necessário, disse seu sobrinho, Henrique Machado.

Mas seu filho de 44 anos, um segurança encarregado de medir a temperatura das pessoas que entram em um centro médico, parece ter trazido o vírus para casa no início deste mês.

A Sra. Backes, que estava com boa saúde, foi levada a um hospital em 13 de março depois que começou a ter problemas para respirar. Sem camas de sobra, ela foi tratada com oxigênio e uma intravenosa no corredor de uma ala que transbordava. Ela morreu três dias depois.

“Minha tia não teve o direito de lutar por sua vida”, disse Machado, 29, um farmacêutico. "Ela foi deixada em um corredor."

Henrique Machado, à esquerda, sobrinho de Terezinha Backes, falecida por Covid-19, em uma farmácia em São Leopoldo, município fora de Porto Alegre.

Guaraci Machado, à direita, que se opõe a fechamentos ou fechamentos de empresas por conta da pandemia, em sua casa funerária em São Leopoldo ao receber o caixão de um homem falecido de Covid-19.

Seu corpo estava entre as pontuações que fizeram de março o mês mais movimentado da história em uma funerária de um amigo da família, Guaraci Machado. Sentado em seu escritório em uma tarde recente, Machado disse que ficou impressionado com o número de pacientes jovens da Covid-19 que foram trazidos para suas instalações em caixões nas últimas semanas.

Mesmo assim, Machado, 64, que tirou a máscara facial no meio de uma entrevista, disse que se opõe a bloqueios ou fechamento de negócios. Desde o início, disse ele, ele está convencido de que o vírus foi criado pela China para que pudesse vender suprimentos médicos em todo o mundo e, finalmente, desenvolver uma vacina lucrativa.

Quando ele teve Covid-19 em junho do ano passado, Machado disse que tomou o medicamento anti-malária defendido pelo presidente, hidroxicloroquina, ao qual ele credita "me manter vivo".

O Sr. Machado será elegível nas próximas semanas para uma vacina contra Covid-19 no Brasil Mas ele não receberá um mesmo se for "espancado com um pedaço de pau", disse Machado, observando que leu recentemente na Internet que as vacinas são mais letais que o vírus.

Médicos intubando um paciente com Covid-19.

Um trabalhador de saúde verificando um paciente na unidade de terapia intensiva para pacientes Covid-19 no Hospital Restinga e Extremo Sul.

Essas teorias de conspiração sobre as vacinas contra Covid-19 se espalharam amplamente nas redes sociais, inclusive no WhatsApp e no Facebook. Uma recente pesquisa de opinião pública realizada pela empresa IPEC descobriu que 46% dos entrevistados acreditavam em pelo menos uma mentira amplamente disseminada sobre vacinas.

A desconfiança em vacinas e ciência é nova no Brasil e uma característica perigosa da era Bolsonaro, disse o Dr. Miguel Nicolelis, neurologista brasileiro da Universidade Duke que liderou uma força-tarefa contra o coronavírus no nordeste do país no ano passado.

“No Brasil, quando o presidente da república fala, as pessoas ouvem”, disse Nicolelis. “O Brasil nunca teve um movimento antivacinas - nunca.”

Mas muitos partidários radicais de Bolsonaro, que mantém o apoio de cerca de 30% do eleitorado, argumentam que os instintos do presidente sobre a pandemia foram sólidos.

Geraldo Testa Monteiro, bombeiro aposentado de Porto Alegre, elogiou o presidente enquanto ele e sua família se preparavam para enterrar sua irmã, Maria de Lourdes Korpalski, 70, que morreu de Covid-19 na semana passada.

Parentes e amigos de Maria de Lourdes Korpalski, 70, falecida de Covid-19, em seu funeral em Porto Alegre.


O enterro da Sra. Korpalski.

Nos últimos meses, Monteiro disse que começou a tomar o medicamento antiparasitário ivermectina como medida preventiva. O medicamento faz parte do chamado kit de medicamentos Covid, que também inclui o antibiótico azitromicina e o antimalárico hidroxicloroquina. O ministério da saúde do Sr. Bolsonaro endossou seu uso.

Os principais especialistas médicos do Brasil, Estados Unidos e Europa disseram que esses medicamentos não são eficazes para tratar Covid-19 e alguns podem ter efeitos colaterais graves, incluindo insuficiência renal.

“Mentiras”, disse Monteiro, 63, sobre o consenso científico sobre o kit Covid. “Existem tantas mentiras e mitos.”

Ele disse que profissionais médicos sabotaram o plano de Bolsonaro de controlar a pandemia, recusando-se a prescrever essas drogas de forma mais decisiva nos estágios iniciais da doença.

“Havia uma solução: ouvir o presidente”, disse ele. “Quando as pessoas elegem um líder, é porque confiam nele.”

A desconfiança e as negações - e as caravanas de apoiadores do Bolsonaro buzinando fora dos hospitais para protestar contra as restrições à pandemia - são esmagadoras para os profissionais médicos que perderam colegas para o vírus e para o suicídio nos últimos meses, disse Claudia Franco, a presidente das enfermeiras sindicato gaúcho.

“As pessoas estão negando”, disse Franco, que tem cuidado de pacientes da Covid-19. “A realidade em que estamos hoje é que não temos respiradores suficientes para todos, não temos oxigênio para todos”.

Reportagem de Ernesto Londoño de Porto Alegre. Letícia Casado reportou de Brasília.

Fonte: The New York Times


UOL

Capitais de pelo menos seis estados brasileiros registraram panelaços durante e após o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em rede nacional na noite nesta terça-feira (23). Entre os sons de panelas é possível ouvir gritos de "genocida" e "miliciano"


 


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