Secretária do Ministério da Saúde teve áudio divulgado na
CPI da Covid em que faz críticas "ideológicas" à Fundação Oswaldo
Cruz
Mayra Pinheiro
O vice-presidente da CPI da Covid,
Randolfe Rodrigues (Rede-AP), divulgou, nesta terça-feira (25/5), durante o
depoimento da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do
Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, um áudio em que a médica faz críticas e
ataques à Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Conhecida como “Capitã Cloroquina”, Mayra Pinheiro chegou a
dizer, em gravação de 2019, que a Fiocruz tinha tapetes com a imagem de Che
Guevara em suas portas, além de “um pênis” na porta.
“A Fiocruz trabalha contra todas as políticas que são
contrárias a eles, de minorias. Tudo deles envolve LGBTI, eles têm um pênis na
porta da Fiocruz. Todos os tapetes são a figura do Che Guevara, as salas são
figurinhas do ‘Lula Livre’, ‘Marielle Vive'”, afirma Mayra no áudio.
Ao ser confrontada com um áudio que circula na internet, Mayra Pinheiro, Secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, reafirmou declarações de que “tem um pênis na porta da @fiocruz”.
A gravação, segundo ela, teria sido repassada a um colega,
que vazou o conteúdo. Na ocasião, a médica não integrava o corpo do Ministério
da Saúde.
“Eles fazem uma listra tríplice e é apresentada pra
Presidência da República. Da última vez no governo do PT, o senador Tasso
[Jereissati (PSDB-CE)] foi uma das pessoas que endossou o nome dessa mulher aí
(sic), foi uma guerra e a gente não conseguiu [barrar a nomeação]. Tem que
tirar esse poderio [da Fiocruz] de direcionar a saúde no Brasil”, disse.
Confrontada pelo senador sobre o conteúdo do áudio, Mayra se
defendeu dizendo que esse material “foi uma resposta a um colega”. “Não foi
agora, enquanto estou secretária de Governo, e houve um vazamento. Nessa época
isso era a constatação, senador, de fatos”.
Antes de ter o áudio exposto, Mayra havia dito que a Fiocruz
“é uma instituição de excelência, que tem dado grande contribuição para a
vacina agora, no Brasil, no momento que nós vivemos”.
Mayra Pinheiro
Mayra é a nona depoente do colegiado. Antes deles, os
senadores ouviram os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e
Eduardo Pazuello, além do atual chefe da Saúde, Marcelo Queiroga.
O ex-chanceler Ernesto Araújo, o gerente-geral da Pfizer
para a América Latina, Carlos Murillo, o ex-secretário de Comunicação da
Presidência Fabio Wajngarten e o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres,
também prestaram depoimento.
A CPI da Covid-19 tem o objetivo de investigar as ações e omissões
do governo federal no enfrentamento à pandemia e, em especial, no agravamento
da crise sanitária no Amazonas com a ausência de oxigênio, além de apurar
possíveis irregularidades em repasses federais a estados e municípios.
Oficialmente, o Brasil ultrapassou nesta quarta-feira (24/3)
a marca trágica de 300 mil mortos por covid-19 durante a pandemia. Mas
registros hospitalares brasileiros apontam que o número de pessoas que morreram
em decorrência de casos confirmados ou suspeitos da doença no país pode já ter
passado de 410 mil.
Essa estimativa aparece em duas análises distintas, uma
liderada por Leonardo Bastos, estatístico e pesquisador em saúde pública do
Programa de Computação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e outra
pelo engenheiro Miguel Buelta, professor titular da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo (USP).
Ambas se baseiam em dados oficiais de síndrome respiratória
aguda grave (SRAG), um quadro de saúde caracterizado por sintomas como febre e
falta de ar.
A legislação brasileira estabelece que todo paciente que é
internado no hospital com SRAG precisa obrigatoriamente ter seus dados
notificados ao Ministério da Saúde por meio do Sistema de Informação de
Vigilância Epidemiológica da Gripe (conhecido como Sivep-Gripe). Esse sistema é
utilizado há anos e permite saber quantos casos de infecções respiratórias
necessitaram de hospitalização e evoluíram para óbito no país.
No primeiro semestre de 2019, foram registrados 3.040 óbitos
por síndrome respiratória aguda grave. No mesmo período em 2020, foram
registrados 86.651. Até o momento, de todas as pessoas com SRAG e resultado
laboratorial para algum vírus na pandemia, mais de 99% acabaram diagnosticadas com
covid.
Esses dados são considerados bons indicadores por não
sofrerem tanto com a escassez de testes ou resultados falsos positivos. Mas há
alguns problemas, entre eles o atraso: pode levar bastante tempo até uma
internação ou uma morte ser contabilizada no sistema.
Então, como saber o número atual mais próximo da realidade?
Como os pesquisadores chegaram à estimativa de 410 mil ou 415 mil mortes por
doença respiratória grave?
Projeção do agora
Bem, os cientistas fazem o que se chama de nowcasting, que grosso
modo é uma projeção não do futuro (forecasting), mas do agora. Isso se faz
ainda mais necessário durante a pandemia por causa dessa demora da entrada dos
registros de hospitalizações e mortes no sistema digitalizado.
É como se os dados disponíveis hoje no sistema oficial
formassem um retrato desatualizado e cheio de buracos. Para preencher e
atualizar essa imagem, é preciso calcular, por exemplo, qual é o tamanho desse
atraso, de uma morte de fato à entrada do registro dela no sistema, a fim de "prever"
o que está acontecendo atualmente.
Bastos lidera análises de nowcasting numa parceria que
envolve o Mave, grupo da Fiocruz de Métodos Analíticos em Vigilância
Epidemiológica, e o Observatório Covid-19 BR, grupo que reúne cientistas de
diversas instituições (como Fiocruz, USP, UFMA, UFSC, MIT e Harvard).
Vamos ao fio dessa semana
Estimativas para os totais até 27/3/2021 (corrigidas pelo atraso)
Óbitos por SRAG-COVID: 320.056 Hospitalizacoes por SRAG-COVID: 1.076.700
"(O nowcasting) corrige os atrasos do sistema de
notificação vigente, isto é, adianta-se as notificações oficiais futuras pelo
tempo médio entre a ocorrência dos primeiros sintomas no paciente e a
hospitalização, quando há o registro dos seus dados no sistema de vigilância.
Esse tempo abrange várias etapas: desde procurar um hospital, coletar o exame,
o exame ser realizado e o resultado do teste positivo para covid-19 estar
disponível para ser incluído no banco de dados. O tempo acumulado entre essas
etapas do processo causa atrasos de vários dias entre o número de casos
confirmados no Sivep-Gripe (plataforma oficial de vigilância epidemiológica) e
os casos ainda não disponíveis no sistema, que são compensados somando aos
casos já confirmados uma estimativa de casos que devem ser confirmados no
futuro", detalha o Observatório Covid-19 BR.
A dificuldade de monitorar em "tempo real" o que
acontece durante epidemias é global, e diversos cientistas ao redor do mundo
tentam achar soluções para esse problema.
Os cálculos atuais sobre a pandemia no Brasil liderados por
Bastos foram feitos a partir da adaptação de um modelo estatístico proposto em
2019 por ele e mais oito pesquisadores.
Para apontar um retrato atual mais preciso da pandemia, essa
modelagem estatística (hierárquica bayesiana) corrige os atrasos dos dados
incorporando nos cálculos, por exemplo, a partir do conhecimento prévio da
ciência sobre o que costuma acontecer durante o espalhamento de doenças como
gripe. Mais detalhes no artigo disponível neste link aqui.
Para chegar até o número de 415 mil mortes por SRAG, Bastos
explica à BBC News Brasil que são analisados primeiro os dados da semana atual
e da anterior, a fim de identificar quantos casos e óbitos tiveram uma semana
de atraso.
"Assim, aprendemos a respeito do atraso e usamos isso
para 'prever'/corrigir a semana atual e as últimas 15 semanas. O total de 415
mil mortes por SRAG é a soma dos casos observados acumulados até 15 semanas
atrás com as estimativas mais recentes corrigidas."
Cemitério no bairro Bom Jardim, em Fortaleza
Em sua análise, Miguel Buelta, professor da USP, aponta um
número parecido.
Ele explica em seu perfil no Twitter que analisou os dados
de óbitos por covid e SRAG até 14 de março e calculou a subnotificação dos
últimos 60 dias a partir dos dados atrasados que foram entrando no sistema no
período. "Fiz o cálculo para 14/01/2021. Subnotificação = 37% naquela
data. Se este valor fosse mantido até hoje, no lugar dos 300 mil óbitos,
poderíamos ter hoje 410 mil."
Mas Buelta acredita que o valor pode ser ainda maior.
"A situação atual é muito mais emergencial. É uma tragédia. Vamos todos
lutar contra isso. Isolamento social e ajuda emergencial. Fora disso não há
solução." Mais detalhes sobre o modelo estatístico usado por ele
aqui neste
link.
1,7 milhão de internados
Na análise liderada por Bastos, da Fiocruz, estima-se que o
Brasil tenha registrado mais de 1,7 milhão de internações durante a pandemia de
coronavírus por causa de doenças respiratórias graves. Na pandemia de H1N1, em
2009, o total foi de 202 mil hospitalizações.
Ao se debruçar sobre os dados, ele aponta ainda uma
tendência de piora na ocupação de hospitais no Distrito Federal e em nove
Estados: Rondônia, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Rio Grande do Norte,
Espírito Santo, Maranhão, Ceará e Minas Gerais.
Todos eles têm mais de 20 hospitalizações por 100 mil
habitantes. Em Rondônia, essa taxa chega a 49, por exemplo.
Por outro lado, Rio Grande do Sul e Santa Catarina parecem
ter conseguido conter a tendência de alta das hospitalizações. Isso, no
entanto, pode significar tanto que a situação melhorou quanto que não tem mais
como o número piorar dada a superlotação dos hospitais. De todo modo, ambos os
Estados ainda estão em um patamar bastante elevado, acima de 20 hospitalizados
por 100 mil habitantes.
"Hospitalizações e óbitos só vão reduzir quando uma boa
parcela das populações prioritárias, segundo o Programa Nacional de Imunização,
forem imunizadas. Antes disso, sem uma redução efetiva da transmissão, veremos
onda depois de onda", afirma Bastos.
Covid-19: Infectologista faz apelo a população e desabafa
sobre a situação dos hospitais
Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (25), em que foi
anunciada a extensão da quarentena mais rígida até o próximo dia 31 de março em
Pernambuco, o médico Demetrius Montenegro, chefe do setor de Infectologia do
Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), frisou o quanto tem se preocupado
com a frequência de adultos jovens que chegam aos hospitais com sintomas de
covid-19. Nesta quinta (25) o Estado ultrapassa a marca de 1.800 pessoas que
recebem atualmente assistência em terapia intensiva (UTI). Entre elas, 1.424 estão
em leitos públicos e 418 em vagas privadas.
Enquanto colapso no sistema de saúde se agrava, Fiocruz
alerta que só o isolamento social pode reduzir danos no momento
Tratores abrem espaço para mais corpos em um dos principais
cemitérios de Manaus (AM), que reservou nova ala para óbitos por covid-19. -
Michel Dantas/ AFP
O Brasil registrou hoje (17) 3.149 mortos pela covid-19 nas
últimas 24 horas e segue batendo recordes diários em número de óbitos
oficialmente notificados ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde,
o Conass. Com o acréscimo, a média móvel diária de mortes pela infecção,
calculada nos últimos sete dias, passou , 2.170 pessoas por dia – três pessoas
a cada dois minutos. O contágio e as mortes pelo coronavírus em território
brasileiro seguem em aceleração. Este é o pior momento da pandemia no Brasil desde
o início do surto, em março de 2020.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) define o cenário como “o
maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil”. Em boletim
extraordinário divulgado na noite de ontem, a instituição chama a atenção
para a “situação extremamente crítica em todo o país”. Até a conclusão do
relatório, apenas dois estados brasileiros não estavam em colapso por falta de
leitos de UTI, Rio de Janeiro e Roraima. A condição é declarada quando mais de
85% das unidades estão ocupadas.
O Brasil também bate recorde hoje de novos casos no período
equivalente a um dia. O Conass aponta 99.634 novas infecções. O Brasil
segue como epicentro da pandemia no mundo desde o dia 9 de março, quando
passou a registrar mais mortes e casos do que os Estados Unidos, mesmo com
capacidade de testagem inferior. Desde o dia 21 de janeiro o Brasil contabiliza
mais de mil mortos por dia, em média.
Dados têm como base informações das secretarias estaduais /
Fiocruz
Pior crise da história
O mapeamento da Fiocruz revela os estados com as piores
condições, sendo que em todos eles pessoas morrem em suas casas sem atendimento
hospitalar. São eles o Rio Grande do Sul, com 100% das UTIs ocupadas, Santa
Catarina, 99%, Goiás, 97%, Distrito Federal, 97%, Paraná, 96%, Pernambuco, 96%,
Rio Grande do Norte, 96%, Tocantins, 96%, Mato Grosso, 94%, Acre, 94%, Ceará,
94%, e Mato Grosso do Sul, 93%.
A Fiocruz é categórica em orientar por medidas rígidas de
isolamento social. O Brasil enfrenta um cenário de colapso ao mesmo tempo em
que vê grande resistência por parte da população em seguir os protocolos da
ciência para mitigar os efeitos da crise. O principal adversário da ciência e
da saúde pública no Brasil é o próprio presidente Jair Bolsonaro. Desde o
início da pandemia ele desdenhou do vírus, estimulou e promoveu aglomerações e até
mesmo atacou o uso de máscaras e as vacinas.
“A fim de evitar que o número de casos e mortes se alastrem
ainda mais pelo país, assim como diminuir as taxas de ocupação de leitos, os
pesquisadores defendem a adoção rigorosa de ações de prevenção e controle, como
o maior rigor nas medidas de restrição às atividades não essenciais. Eles
enfatizam também a necessidade de ampliação das medidas de distanciamento
físico e social, o uso de máscaras em larga escala e a aceleração da
vacinação”, afirma a Fiocruz.
Vacinas
No quesito vacinação, o Brasil avança com lentidão. O
governo Bolsonaro, após pressão da sociedade e do ressurgimento da figura do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apontando para a necessidade de
respeitar a ciência, mudou ligeiramente de postura. O governo, repentinamente,
passou a defender a vacinação. Contratos foram assinados às pressas, enquanto o
bolsonarismo tenta se desvincular do histórico de ataques e divulgação de de
informações não-comprovadas ou mesmo falsas sobre vacinas.
Filho toca violino no enterro de mãe que morreu de covid aos 46 anos: "Ela pediu"
Rafael Borges, de 20 anos tocou o hino favorito da mãe no enterro dela em Moiporá (GO). Ela morreu de parada cardiorespiratória após complicações da covid-19 pic.twitter.com/vc3KS9Okpz
Enterros de pessoas que faleceram por causa da Covid-19 no
cemitério Nossa Senhora Aparecida em Manaus (AM) Foto: Sandro Pereira/Estadão Conteúdo
O Brasil confirmou neste sábado (23) 62.334 novos casos e
mais 1,2 mil mortes por Covid-19 nas últimas 24 horas, segundo dados do
Ministério da Saúde.
Ao todo, desde o início da pandemia, o Brasil contabilizou
216.445 mortes pelo novo coronavírus. Já o número de casos confirmados atingiu
o total de 8.816.254.
Pelo menos quatro estados receberão as doses da vacina que
chegaram da Índia. São eles Rio de Janeiro, Ceará, Amazonas e Paraná. O
restante das doses será enviado para os demais estados e o Distrito Federal na
manhã de domingo (24) em voos comerciais. As aeronaves decolam da base aérea do
Galeão, no Rio de Janeiro.
O ministro Eduardo Pazuello diz que jamais receitou
cloroquina e outros medicamentos sabidamente ineficazes contra covid. Mesmo? E
como o sistema oficial do Ministério da Saúde receita? Nosso editor executivo
@Leandro Demori explica.
Ex-Presidenta diz que é inaceitável furar a fila da
vacinação e que aguardará pacientemente a sua vez
Recebi o convite do governador de São Paulo para ser
vacinada com a Coronavac no dia 25 de janeiro, em Porto Alegre. Agradeço, mas
diante das circunstâncias tenho o dever de recusar a oferta, por razões éticas
e de justiça. O Plano Nacional de Vacinação deve ser respeitado e, se é certo
que a vacinação já começou, não há montante de vacinas disponível para que eu,
agora, seja beneficiada. É inaceitável “furar a fila”, que deve ser
estritamente respeitada por todos os brasileiros. Neste momento, considero imprescíndivel
que sejam atendidos, de acordo com o Plano, primeiramente os trabalhadores da
área da saúde que estão na linha de frente da luta contra a Covid19, além dos
idosos que vivem em asilos e o grupo de idosos brasileiros mais expostos ao
risco de adoecer gravemente ou morrer. Aguardarei pacientemente a minha vez e
quero adiantar que já estou com o braço estendido para receber a Coronavac.
Faço questão de prestar tributo à contribuição do SUS, do
Butantan e da Fiocruz, que são tão importantes e estratégicos para a saúde
pública no Brasil e para o desenvolvimento das vacinas. Denuncio todos aqueles
que, ao longo dos últimos anos, tentaram destruí-los, seja por restrição de
recursos orçamentários, seja por visão preconceituosa, como ficou claro na saída
dos médicos cubanos, seja por defender propostas privatistas.
Enalteço o trabalho dedicado dos epidemiologistas, biólogos,
infectologistas, pesquisadores e servidores do sistema SUS, em especial da
Fiocruz e do Butantan, cuja qualidade é reconhecida internacionalmente. Estendo
estas homenagens e agradecimentos a todos os que se dedicam a combater esta
pandemia que, por desleixo e desuminadade do governo federal, já roubou a vida
de mais de 210 mil pessoas e está matando brasileiros até mesmo por falta de oxigênio.
Por fim, reconheço e saúdo a solidariedade e a atitude humanitária do governo
chinês, que proporcionou a parceria entre o Estado São Paulo/Butantan e o
laboratório Sinovac para a importação e a fabricação das vacinas em nosso país.
É uma vitória da cooperação entre os povos e da ciência e uma derrota do
negacionismo.
O pesadelo volta a assumir os contornos já vividos na maior parte do ano e o país volta a ver a pandemia fora de controle e o aumento exponencial de casos e mortes
Em congresso científico, especialistas alertam que o país
pode voltar a ocupar a liderança de mortes por covid-19 no mundo, posto que
ocupou por 14 semanas
São Paulo – O atual estágio e as projeções para o cenário da
pandemia de covid-19 no Brasil, frente à insistência do governo de Jair
Bolsonaro em tratar a crise sanitária como “gripezinha”, além dos caminhos e
desafios impostos ao SUS. Estes foram os temas principais de um debate virtual
que compôs o Primeiro Congresso Científico da Faculdade Integrada Cete (FIC),
realizado na noite desta quinta-feira (26). Para o pesquisador da Fundação
Oswaldo Cruz Amazonas (Fiocruz) Jesem Orellana, o doutor em Saúde Pública
Francisco de Assis Santos e a doutora em biomedicina Ana Catarina Rezende, as
grandes cidades do país já enfrentam “a retomada do crescimento do novo
coronavírus”, a anunciada segunda onda, sem terem saído completamente da
primeira, iniciada em março passado.
Nas últimas 24 horas, foram 514 mortes e 34.130 novos
infectados, totalizando 6.238.350 desde o início da pandemia, com praticamente
172 mil mortos por covid-19 (171.974 óbitos), segundo informa hoje (27) o
Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).
A média móvel de contágio em sete dias, calculada pelo órgão, na casa dos 34
mil, é a maior desde o início de setembro.
Durante o debate “Quais as Possibilidades e Caminhos do SUS
com a Covid-19”, foi lembrado que o Brasil é o segundo país com mais mortes
pela covid-19 no mundo, mais uma entre todas as informações sobre a doença desdenhadas
pelo presidente Jair Bolsonaro desde o primeiro dia de pandemia. Ontem mesmo,
Bolsonaro disse que nunca chamou a covid-19 de “gripezinha”. Mentiu. Disse
abertamente, e muito mais, inclusive em discurso em rede nacional no dia 24 de março.
Descaso
Os especialistas citaram também que o Brasil é o país que
permaneceu por mais tempo no topo da curva epidemiológica, mais de 14 semanas
consecutivas, até que os números entrassem em um platô de estabilidade e
ligeira regressão, ainda que em níveis elevados, no número diário de vítimas,
especialmente a partir de outubro. E, a partir daí, viu-se a flexibilização
acelerada das medidas de distanciamento e isolamento social.
O resultado do descaso e da falta de coordenação do governo
Bolsonaro no enfrentamento da covid-19 aponta para o desastre. Outros países
que adotaram medidas indicadas pela ciência, como isolamento social, testagem
em massa e rastreio de contágios, conseguiram superar uma primeira onda de
impacto da pandemia. Agora, mais preparados, enfrentam uma segunda onda. Já o
Brasil não adotou políticas que cumprissem devidamente as medidas recomendadas
e sequer conseguiu sair da primeira onda.
Jesem, que adiantou com grande antecedência a “segunda onda” da covid-19 no
Brasil, abriu a conversa. “Estamos vivendo uma segunda onda de contágios em
muitas regiões da Europa e algumas no Brasil. Mas veja, a grande maioria das
cidades e regiões mais densas do Brasil não conseguiram sair da primeira onda.
Mas agora enfrentam a continuidade, o recrudescimento, a retomada do
crescimento do novo coronavírus”, explicou.
O mundo tem mais de 60 milhões de contaminados, a partir de
números oficiais da Organização Mundial da Saúde (OMS) e pouco menos de 1,5
milhão de mortos. Jesem estima que o número chegue a 2 milhões em até oito
meses. Novembro foi um mês que contou com os dias com mais mortes no mundo
(mais de 12 mil), o que mostra como o vírus ainda tem força. No Brasil não é
diferente. “A pandemia está espalhada por mais de 220 países em que se tem
registro. O Brasil agora segue a escalada”.
Tragédia
Grande preocupação entre os especialistas no debate, o
Brasil é um dos que menos testa a população para a covid-19. Mais que isso, por
falta de organização do Ministério da Saúde, o país está prestes a jogar no
lixo milhões de reais e de kits para a realização de testes, que estão perto do
fim do prazo de validade, mas não foram aplicados pelo governo.
A ausência de testes reflete na alta em número de casos de
Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), muitas delas possivelmente causadas
pelo novo coronavírus, mas à espera de testagem para comprovar o diagnóstico.
Assim, o número real de mortes por covid-19 seguramente é maior que o
oficialmente divulgado. “Temos um aumento sustentável há pelo menos seis
semanas no número de casos de Srag. São 21 estados com tendência de aumento no
curto e longo prazo; doze capitais com sinal de crescimento no longo prazo. É
especialmente preocupante em um momento de relaxamento generalizado da
população, da descrença de setores políticos e empresariais, com a covid-19”,
lamenta o cientista.
Cenários para a covid no Brasil
O isolamento social foi amplamente descartado na maior parte
do país, embora algumas cidades comecem a retomar parte das medidas. O contexto
das eleições, de acordo com Jesem, também impacta negativamente na disseminação
do vírus. Outros fatores ainda devem ampliar a tragédia. “Isso pode ainda ser
agravado pelas festas de fim de ano, compras de natal etc”.
Para Francisco Santos, que atua como especialista do Sistema
Único de Saúde na cidade de Caruaru (PE), a ação do SUS é o caminho para
mitigar os piores efeitos da covid-19 no Brasil. O trabalho vem sendo feito de
forma árdua, defende, mas a ausência de coordenação nacional também impacta
negativamente nos resultados. “Enfrentamos dificuldades, como por exemplo com
as barreiras de isolamento. Quando, em Pernambuco, decidimos impor barreiras, a
Anvisa teve uma decisão de que não poderíamos barrar a circulação de pessoas em
rodovias federais”, lembrou.
“Fomos impedidos de fazer qualquer grande bloqueio no
começo. Depois as pessoas entenderam de outra maneira. Mas não tivemos apoio
(…) Agora temos uma chance de termos uma maior força da primeira onda. Não vou
dizer segunda porque não terminamos a primeira. No Brasil temos a onda mais
sustentada do mundo. Então, precisamos de diálogo e informação. Acho que neste
ano teremos uma vacina para dar um alento. Não imediata, mas estou
esperançoso”, completou.
Ana Catarina demonstrou aspectos técnicos de métodos e
protocolos para tratamentos eficazes dos pacientes com covid-19, que devem ser
trabalhados posteriormente oelo SUS. “Queremos entregar prognósticos para a
sociedade através de caminhos interdisciplinares. Nossa questão principal é o
que leva à evolução do (quadro clínico do) paciente da covid-19. Existe um
leque de técnicas que pode dar um prognóstico para salvá-lo.”
Julho já começou com uma boa notícia e a vacina experimental
contra o novo coronavírus produzida
pela gigante farmacêutica Pfizer em
parceria com a
empresa de biotecnologia Bio NTech demonstrou bons
resultados em testes com humanos. A vacina estimulou a resposta imune dos
pacientes saudáveis, mas também causou efeitos colaterais, como febre, em doses
mais altas.
O estudo foi randômico e testado em 45 voluntários que
receberam três doses da vacina ou placebo; destes, 12 receberam uma dose de 10
microgramas, outros 12 tomaram 30 microgramas, mais 12 receberam uma dose de
100 microgramas e nove foram tratados com a versão em placebo da vacina.
A dose mais alta, de 100 microgramas, causou febre em metade
dos participantes do teste — por conta dos efeitos colaterais, o grupo não
recebeu uma segunda dose.
A Fiocruz deve produzir no Brasil a vacina desenvolvida pela
Universidade de Oxford, na Inglaterra, contra a Covid-19. O acordo prevê acesso
tanto a doses do medicamento quanto à transferência de tecnologia para que seja
produzido em território nacional.