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quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Bolsonaro mente e distorce dados em discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU


Em Nova Iorque, presidente brasileiro falou por 13 minutos sobre temas como meio ambiente, indígenas e pandemia



O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) distorceu dados e mentiu durante discurso na 76ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira (21).

Após chamar atenção ao circular por Nova Iorque sem estar vacinado, o chefe de Estado brasileiro declarou oficialmente na abertura do evento que "os recursos para fiscalização, nos órgãos ambientais, foram dobrados. E os resultados já começam a aparecer.”

Em abril, o governo aprovou corte de 24% no orçamento do meio ambiente para 2021 em relação ao ano passado.

Leia também: Oito mentiras e uma verdade contadas por Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU

Bolsonaro também mentiu sobre dados de desmatamento na Amazônia em agosto. Ele falou em 32% de redução em relação ao mesmo mês de 2020. Segundo o Imazon, houve aumento de 7%, um recorde desde 2012.

“Nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa quanto a nossa. Nossa agricultura é sustentável e de baixo carbono", afirmou o presidente brasileiro. Bolsonaro acrescentou que “indígenas desejam utilizar suas terras para agricultura e outras atividades.”

O discurso reforçou a polarização política interna, mentindo que as manifestações pró-governo do último dia 7 foram "as maiores da história do país."

“Estávamos à beira do socialismo. Apresento agora um novo Brasil, com credibilidade reconhecida em todo o mundo”, disse o presidente. Em seguida, mentiu mais uma vez, dizendo que não houve nenhum caso de corrupção em seu governo – apesar de todos os indícios levantados pela CPI da Covid.

Sobre a pandemia, ele disse que sempre defendeu "combater o vírus e o desemprego com a mesma responsabilidade."

Para o capitão reformado, “as medidas de lockdown deixaram um legado de inflação”, e as pessoas foram "obrigadas a ficar em casa" por prefeitos e governadores.

Bolsonaro foi obrigado a usar máscara nas dependências do prédio / John Minchillo / POOL / AFP

O discurso durou, ao todo, 13 minutos.

Jair Bolsonaro valorizou os números da vacinação no Brasil, embora nunca tenha feito um pronunciamento incentivando os cidadãos a se imunizarem. 

"Fiz tratamento inicial [contra a covid]. Nosso governo é contra a vacinação obrigatória", ressaltou.

“Meu governo recuperou a credibilidade, e hoje o Brasil se apresenta como um dos melhores destinos para investimentos”, disse ainda o capitão reformado, citando os programas de concessão e privatização no setor de infraestrutura.

Edição: Anelize Moreira

Fonte: Brasil de Fato


Brasil de Fato

7 mentiras de Jair Bolsonaro na ONU

A reportagem do Brasil de Fato selecionou as principais informações falsas do pronunciamento do presidente brasileiro na manhã desta terça (21) em discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.

Assista ao VÍDEO



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segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Por que o legado de Paulo Freire continua relevante?


Pensador brasileiro, que completaria 100 anos neste domingo (19), é um dos mais influentes da pedagogia mundial



Paulo Freire é doutor honoris causa por 41 universidades diferentes 


O pensador brasileiro Paulo Freire nasceu em 1921, faleceu em 1997, mas sua obra continua inspirando gerações de educadores pelo mundo.

Brasil de Fato Explica, no dia do centenário do autor de Pedagogia do Oprimido, a relevância e atualidade da sua obra.

Relembre fatos marcantes da trajetória de Freire e entenda por que seu legado é tão celebrado pelo mundo – ao mesmo tempo em que é atacado pela extrema direita no Brasil.


Brasil de Fato

Com 41 títulos de Doutor Honoris Causa por universidades de todo o mundo, o educador é alvo de ataques da extrema direita no Brasil.

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sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Cacique Raoni recebe prêmio em congresso mundial de conservação, em Marselha, na França


Honraria é concedida a cada quatro anos em reconhecimento por serviços à natureza; presidente francês saudou brasileiro


Cacique Raoni: 90 anos de vida e uma vida em defesa da natureza - Ricardo Stuckert

Ropni Metyktire, mais conhecido como Cacique Raoni, liderança mundialmente conhecida do povo indígena Kayapó, recebeu o título de Membro Honorário da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). O anúncio foi feito na última quarta-feira (8) durante a programação do Congresso Mundial da União, que acontece em Marselha, na França, até 11 de setembro, quando se celebra, no Brasil, o Dia Nacional do Cerrado. 

Na cerimônia de abertura do evento internacional, o presidente francês Emmanuel Macron saudou o premiado ao lado do ator Harrisson Ford e do fotógrafo Sebastião Salgado.


Instituto Sociedade, População e Natureza - ISPN

Cacique Raoni: Membro Honorário da IUCN

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A honra é concedida a cada quatro anos como reconhecimento pelo excepcional serviço para a conservação da natureza e dos recursos naturais. Cacique Raoni foi homenageado ao lado de outras três personalidades: o ornitólogo de Fiji Richard John Watling, o ambientalista libanês Assad Serhal, e a cientista britânica Jane Goodall, cuja contribuição revolucionou a compreensão sobre a relação entre primatas e humanos.

A indicação de Cacique Raoni ao prêmio foi feita pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), com intenção de ampliar o conhecimento sobre a grande contribuição da liderança para o equilíbrio climático global. 

:: Raoni é indicado para membro de maior entidade de conservação ambiental do mundo :: 

“Indicamos Raoni como representante da importância dos Povos Indígenas e das Comunidades Tradicionais para a conservação da natureza”, comenta Fabio Vaz, coordenador-geral do ISPN. Vaz destaca que essa importância foi reiterada recentemente em um estudo publicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

“Achamos que a contribuição histórica do Cacique Raoni nas lutas pela conservação da natureza e na defesa dos direitos indígenas foi, e continua sendo, fundamental para o campo socioambientalista”, parabeniza o coordenador. 

Como forma de agradecimento, a liderança Kayapó, que habita uma região de transição entre Amazônia e Cerrado, no estado do Mato Grosso, enviou sua mensagem pedindo o fim da guerra contra indígenas e o fim do desmatamento. 

"Não quero que a guerra volte entre nós. Eu só quero que convivamos em paz", diz Raoni na gravação. Ela lembra que seus antepassados chegaram primeiro na região das Américas e que os colonizadores europeus retiraram todas as riquezas dos povo originários.

"Eu não gosto de coisa ruim de verdade. O que é ruim? Ameaça. Vocês, brancos, se matam. Desmatam a floresta, que é algo ruim. Isso é ruim para nós indígenas. Para vocês, brancos, isso é bom", prossegue o cacique. 

Ele conclui pedindo um basta na destruição da floresta e dos recursos naturais. "Por isso que eu digo: 'me ouçam!'. Parem com isso, para que possamos conviver em paz. Esse é o meu trabalho. Muito obrigado".

::Atacado pelo presidente na ONU, cacique Raoni defende: "Bolsonaro tem que sair"::


Quem é Raoni?

Aos 91 anos, Cacique Raoni coleciona uma trajetória de resistência em busca da paz. Nacionalmente, teve destaque na década de 1970, quando liderou protestos contra a construção da BR-080 (hoje MT-322) em defesa da demarcação da TI Capoto Jarina. Em 1987 e 1988, teve protagonismo, ao lado de outras lideranças indígenas, na garantia dos direitos dos povos indígenas na Constituição Federal.

Politicamente, ao longo dos anos, reuniu-se com líderes políticos para visibilizar a causa indígena. Lutou contra a Usina de Belo Monte e, em 2020, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz (saiba mais). Neste ano de 2021, contraiu covid-19, chegou a ser internado, mas se recuperou e segue uma inspiração para todas as pessoas que lutam pela conservação ambiental em todo o mundo.

Edição: Vinícius Segalla

Fonte: Brasil de Fato


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quarta-feira, 8 de setembro de 2021

"Vim para rua porque o fascismo está aí": o que moveu os ativistas de esquerda no 7 de setembro


Grito pelo "Fora, Bolsonaro" unifica manifestantes de diferentes perfis que compareceram ao protesto na capital paulista


Brasil de Fato
 

Neste 7 de setembro, Dia da Independência, o ato contrário ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido) no Vale do Anhangabaú, em São Paulo (SP), reuniu 50 mil pessoas, segundo estimativa dos organizadores.

A capital paulista foi uma das cerca de 200 cidades do Brasil e do Exterior que tiveram protestos unificados com o histórico Grito dos Excluídos e Excluídas contra o governo federal e pela democracia. 

::"Fora, Bolsonaro" e Grito dos Excluídos mobilizam 200 cidades contra a fome e pela democracia::

O Brasil de Fato circulou pelo Anhangabaú e ouviu manifestantes com diferentes perfis. Seja pela fome, pela falta de moradia digna ou pelo receio de uma ofensiva antidemocrática, todos carregavam, em comum, a palavra de ordem "Fora, Bolsonaro". 

Maria Arapoty, 55 anos

"Cada ano que passa fica pior. Precisa proteger os espíritos das árvores" / Thais Haliski

Maria Arapoty é uma dos 60 moradores da aldeia do Jaraguá, do povo Guarani, localizada na zona oeste de São Paulo.

“A gente pensa que esse governo Bolsonaro precisar deixar a gente viver em paz em nosso território. Estamos sendo atacados. Precisa proteger a natureza", afirmou, ao justificar sua presença no ato,

Sentindo na pele os efeitos da política anti-indígena de Bolsonaro, ela percorreu 25 quilômetros para participar do protesto.   

"Nós queremos a demarcação do nosso território. As florestas e a mata atlântica precisam ser protegidas. Só existe natureza onde tem povo indígena", defendeu.

Silmara Silva, 45 anos

“Vim para a gente conseguir mudar a situação do país" / Thais Haliski

Aos 45 anos, Silmara vive com cerca de 2.000 famílias na ocupação Nova Canudos, em Taipas, zona norte de São Paulo. O local reúne moradores que, sem emprego e renda, não têm dinheiro para pagar por moradia na cidade mais cara do país. 

"Hoje tem mais pessoas nas ocupações do que antes desse governo. As pessoas não têm dinheiro para comprar comida, quanto mais pagar aluguel. Vim porque precisamos mudar essa situação", afirma. 

Wilson Raimundo Rodrigues, 72 anos

"Vamos ter que lutar mais, ser mais radicais" / Thais Haliski

A idade não foi impeditivo para Wilson se juntar à multidão no centro de São Paulo. Vacinado e de máscara, ele opinou que é responsabilidade da população frear as ameaças golpistas de Bolsonaro. 

“Espero que essa manifestação seja uma demonstração no Brasil contra a tentativa de uma ditadura bolsonarista. Eu acho que tem pouca gente aqui, tem que aumentar", cobrou. 

"Vamos ter que lutar mais, ser mais radical contra esse poder que tá tentando acabar com o Brasil", finaliza o aposentado. 

Felipe Rozini, 30 anos

"Hoje demonstramos que também temos poder" / Thais Haliski

Com o antifascismo estampado no rosto, Felipe saiu de casa por acreditar na importância dos atos populares para conter a onda antidemocrática capitaneada por bolsonaristas.     

“Já está demonstrado que o fascismo está aí. Do outro lado, eles querem violência. Nós temos que estar preparados. Particularmente acho vantajoso fazer atos. Mostra que tem gente vem se opondo, demonstra união. Precisamos de uma frente ampla", opina. 

Luzia Paula Cantal, 54 anos

"As manifestação são movimentos democráticos" / Thais Haliski

Luzia é uma das advogadas que compunha o grupo de observadores da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) responsável por prevenir violações de direitos humanos cometidas por militares e civis durante o protesto na capital paulista. 

“A minha expectativa é de que a população de forma pacífica e democrática demonstre suas insatisfações. As manifestação são movimentos democráticos. É um direito pleno. Seja de que partido for", afirmou. 

"Não vejo como uma ato negativo aqui ou na (avenida) Paulista (onde se concentraram manifestantes em apoio ao presidente), desde que, como pautas democráticas, que não ferem a Constituição".


Ameaças bolsonaristas não se concretizaram

A OAB avaliou que a expectativa de violência contra a população e de atos de ruptura institucional por parte de apoiadores do governo federal, anunciadas publicamente nos dias anteriores ao 7 de setembro, não se concretizou.  

“Todas as ameaças que nós havíamos recebido, compartilhadas nas redes sociais por policiais militares incitando colegas à comparecem na manifestação armados, diante de tudo isso, acho que realmente os atos correram de forma tranquila e pacífica", avaliou Ana Amélia Mascarenhas, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP.

“Sem adentrar ao mérito dos absurdos contra o estado democrático e de direito que faz parte dos discursos do presidente, a Policia Militar de São Paulo teve organização suficiente para impedir tumultos e atos de violência na manifestação que abarcava pautas contrárias ao estado democrático e de direito, na avenida Paulista", afirmou a advogada, que também é professora do curso de Direito da

 PUC-SP. 


Atos pelo Brasil

Veja, abaixo, imagens dos atos progressistas neste 7 de setembro em todo o país.


 

 


Fonte: Brasil de Fato


 Mídia NINJA

7 de Setembro foi o Grito dos Excluídos em todo o Brasil

Assista ao VÍDEO


sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Rachadinha e Rachadões


O cerco vai se fechando aos poucos sobre a família Bolsonaro. Alguns desconfiam que a ameaça de golpe e a busca por reeleição seria um subterfúgio do capitão para não ser preso ao sair do Planalto - Ueslei Marcelino


 Brasil de Fato

Olá! Às vésperas do 7 de setembro e da hora de colocarem as cartas e algemas na mesa, a história de amor entre o capitão e o mercado vive um momento de turbulências.


.Filhos da contravenção. O cerco vai se fechando aos poucos sobre a família Bolsonaro. Alguns desconfiam que a ameaça de golpe e a busca por reeleição seria um subterfúgio do capitão para não ser preso assim que deixar o Planalto. Especialmente porque ele segue produzindo provas contra si mesmo. A PGR investiga reuniões preparatórias para o dia 7 de setembro em que participaram membros do governo e lideranças que reivindicaram o fechamento do STF em atos anteriores. Mas se a hipótese de Bolsonaro ir fazer companhia para Roberto Jefferson ainda parece distante, o mesmo não vale para seus filhos. Carluxo está na mira do Ministério Público do Rio de Janeiro por seus rolos na Câmara de Vereadores e teve o sigilo bancário quebrado, juntamente com o de sete empresas ligadas a ele e da ex-esposa de Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle, que na época tinha seis parentes empregados no gabinete do enteado. Além disso, nesta quinta (02), um ex-empregado de Ana Cristina denunciou que entregou para a família 80% de tudo o que recebeu como assessor de Flávio na Assembleia do Rio por quase quatro anos, cerca de R$ 340 mil. Já o mais novo dos metralhas, Jair Renan, aparece envolvido com Marconny  Faria, o lobista foragido ligado à Precisa Medicamentos e que está sendo investigado pela CPI da Covid. Na mesma rede de contatos encontra-se a advogada da família Bolsonaro, Karina Kufa, que teria organizado um jantar para apresentar Marconny a Ricardo Santana, uma espécie de consultor informal do Ministério da Saúde. Ou seja, a Comissão começou a desenrolar um fio que pode implicar diretamente a família Bolsonaro no esquema de superfaturamento e compra ilegal de vacinas da Precisa Medicamentos. E os gordos rendimentos do deputado governista Ricardo Barros também levantaram suspeitas do Coaf e foram parar na CPI. Com tudo isso e mais a incrível história de um motoboy vinculado à VTCLog, que fazia saques milionários no banco e visitava com frequência o Ministério da Saúde, a CPI, que já se encaminhava para o fim, ganhou sobrevida e deve durar até meados de outubro.


.Sofrência. Em 2018, não foi uma escolha difícil para o mercado embarcar, ainda no primeiro turno, na candidatura Bolsonaro. E, ano passado, enquanto Jair passeava a cavalo na frente do Planalto ou tratava a pandemia como gripezinha, não se ouvia nada na Faria Lima. Ao contrário. Abílio Diniz, os donos do Madeiro, SmartFit e outros se somaram à ideia de derrubar logo as restrições sanitárias. Nunca foi a democracia, nem a pandemia. Mas algo se quebrou em 2021 entre Bolsonaro e o topo do PIB. Como resume Vinicius Torres Freire, o descontentamento que gerou o polêmico manifesto empresarial tem a ver com a administração incompetente, o risco do “fura teto” e a incapacidade de entregar as reformas liberais. E, acrescenta Thomas Traumann, há um fastio do setor empresarial com a instabilidade política provocada por Bolsonaro e a impressão de que este governo “não tem mais nada a entregar” e só se concentra na própria reeleição. A operação capitaneada por Arthur Lira para fazer água no manifesto foi bem sucedida, entre outras coisas, porque não há unidade entre os empresários, nem desejo real de desembarcar do governo, como alerta o economista Guilherme Mello. É o que se vê no caso do agronegócio, em que uma associação lançou seu manifesto solo, enquanto as outras financiam os atos bolsonaristas de 7 de setembro. Mas há fissuras e descontentamento, em especial nos setores mais financeirizados e internacionalizados que veem o investimento externo fugindo de Bolsonaro e do Brasil. O movimento anima João Dória, já que o manifesto é sinal de que o mercado prefere uma “terceira via” ao capitão, mas o recuo também significa que se a alternativa não for competitiva, o mercado prefere ficar onde está do que apostar em Lula.


.Faria Losers. O único consenso neste país polarizado é de que a economia naufraga. Segundo o Instituto Quaest, a preocupação com a economia cresceu na mesma proporção em que diminuiu com a pandemia. Não é à toa: o desemprego atinge 14,4 milhões de pessoas e a renda caiu 6,6%. Mesmo com a vacinação avançando, a combinação de inflação e desemprego derruba o consumo, e portanto, a indústria e o comércio. E se depender do governo, não haverá políticas públicas para sair do buraco: o propagado substituto do Bolsa Família não tem orçamento para 2022, o programa de habitação não saiu do papel e o salário mínimo, corroído pela inflação, não terá aumento real. O coração dividido do empresariado em relação ao governo se explica pelos juros altos, aumento do preço da energia e instabilidade política. Soma-se a isso a decepção do setor financeiro com o PIBinho de Paulo Guedes no segundo trimestre, que caiu -0,1% em relação ao período anterior. Mesmo com um discurso preconceituoso, típico das elites nacionais, o ex-superministro é criticado inclusive por economistas liberais como Delfim Netto. O próprio Guedes sabe que sua relevância agora depende não das reformas, mas de trabalhar para a reeleição do chefe. Daí, a proposta de reforma do Imposto de Renda que pretendia injetar diretamente R$ 22 bilhões no bolso da classe média em ano eleitoral, antes de ser aprovada com alíquota menor na Câmara. Porém, com o sepultamento da minirreforma trabalhista no Senado, Rodrigo Pacheco mandou, ao mesmo tempo, um recado para Arthur Lira e outro para o mercado: Guedes não manda em nada e o governo aqui é fraco.


.A camisa surrada do Neymar. Sem resultados econômicos para apresentar, com popularidade em queda e o empresariado inquieto, Bolsonaro vê três finais alternativos para seu futuro distópico: prisão, morte ou vitória. Sua única alternativa é preparar-se para a guerra, provando que ainda tem uma legião de fiéis dispostos a sair às ruas, mobilizada nas redes com o uso de robôs e fake news. Compreende-se, pois, porque ele vetou os artigos sobre crime contra as eleições  e comunicação enganosa em massa previstos na matéria que revogou a Lei de Segurança Nacional. Mas, faltando poucos dias para o 7 de setembro, ainda não se sabe exatamente o que esperar. Depois da radicalização inicial, a temperatura baixou, reduzindo as possibilidades de “quebra da ordem pública”, segundo os serviços de inteligência. A adesão dos policiais militares agora parece menor do que a imaginada inicialmente. Os generais, por sua vez, não estariam muito interessados em participar de uma aventura golpista, na avaliação de Vicente Nunes. A mesma opinião parece ter o governo estadunidense, que não vê golpe militar no horizonte, mas acompanha a crise brasileira com preocupação. Mesmo assim, Ayrton Centeno alerta que não se pode esperar boa coisa. Para além do discurso raivoso, os números preocupam. Afinal, mesmo que apenas 7% do eleitorado de Bolsonaro saia às ruas, conforme indica a pesquisa Quaest, já seria um “mundaréu” de 10 milhões de pessoas capazes de superar os atos contra Dilma em 2015 e 2016, observa Thomas Traumann. Já do lado da esquerda o cenário é de divisão entre aqueles que defendem uma resposta imediata à convocatória bolsonarista e os que consideram que os atos serão uma armadilha do inimigo. O tradicional “grito dos excluídos” deve ocorrer em grande parte do país, mas não promete ser massivo.

 

.Terra Brasilis. O acampamento dos povos indígenas em Brasília já dura mais de uma semana e não tem data para acabar. Mais uma vez a decisão do STF sobre o marco temporal foi adiada e deve ser retomada na próxima quarta-feira (8). O cenário aumenta os riscos de um embate no dia 7 de setembro, quando grupos bolsonaristas farão manifestação em Brasília. Bolsonaro tem utilizado o tema para inflar seus seguidores, inclusive os militares, a exemplo do general Augusto Heleno, para quem as reservas indígenas ameaçam a integridade do território nacional. A atitude dos militares justifica o desabafo de Valdelice Veron, liderança Guarani Kaiowá que está acampada em frente ao STF: “Somos vistos como estrangeiros no nosso próprio país”. Mas mais do que preocupação com a integridade territorial, os militares agem como força de sustentação dos interesses da mineração e do agronegócio. De 1985 até 2020, a área de exploração de minérios no Brasil cresceu seis vezes e a atividade ilegal ganhou maior impulso depois da crise mundial de 2008, quando se intensificou a busca por recursos estratégicos nos países periféricos. Assim, na última década, o garimpo em terras indígenas aumentou quase cinco vezes. O agronegócio é outro interessado no tema. Mesmo que o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) diga em tv aberta que o setor “não precisa invadir terra indígena para crescer”, os representantes Sociedade Rural Brasileira (SRB) e da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) desmentem seu colega ao posicionaram-se contra a revisão do marco temporal. A discussão é fundamental para a sobrevivência dos povos indígenas, mas os interesses e pressões são enormes. Bolsonaro já escolheu seu lado. Aguardemos para ver qual será o lado do STF.

 

.Ponto Final: nossas recomendações.

.Faltam só 66. A Piauí foi até Manaus, um dos cenários da tragédia da pandemia, para acompanhar a volta às aulas presenciais na Escola Paulo Freire.

 

.A máquina de vendas que financia Olavo e a extrema direita. Quem são os integrantes e como funciona a Cedet, empresa que alavanca o olavismo.


.Quem é o homem que conecta a extrema-direita alemã com evangélicos brasileiros. A Agência Pública revela a agenda de Waldemar Herdt com políticos e neopentecostais brasileiros.

 

.A nova década perdida. O PIB brasileiro hoje é menor do que era em 2014. Na Jacobin, Edemilson Paraná explica porque tivemos mais uma década sem crescimento econômico no país.

 

.A força da Primavera Grega – e o que faltouOutras Palavras traduz artigo de Stathis Kouvelakis que analisa porque emergiu a revolta grega e como ela foi derrotada.

 

.Mostra de cinema chinês 5º Intercâmbio Brasil China 2021. No YouTube neste mês, produções chinesas entre 1937 e 1964 estão disponíveis gratuitamente para o público.

 

Obrigado por nos acompanhar. O Ponto é uma das iniciativas do Brasil de Fato para compreendermos melhor a conjuntura. Acompanhe também os debates políticos no Tempero da Notícia, no podcast 3 x 4 e diariamente na Central do Brasil. Você pode assinar o Ponto e os outros boletins do Brasil de Fato neste link aqui.


Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

Edição: Vivian Virissimo

Fonte: Brasil de Fato


Allan dos Panos

A FAMÍLIA SINFOROSO É LIMPA

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quarta-feira, 7 de julho de 2021

Crise no Haiti tem digital de generais bolsonaristas; saiba quais ministros atuaram no país


Missão militar brasileira na nação da América Central é símbolo de violação imperialista e desastre humanitário


Augusto Heleno, Fernando Azevedo e Silva, Tarcísio de Freitas e Carlos Alberto dos Santos Cruz: todos ocuparam cargos de ministro no governo Bolsonaro - Agência Brasil e Divulgação

assassinato do presidente do Haiti, Jovenal Moise, dentro da própria casa, na madrugada desta quarta-feira (7), representa mais um episódio das sucessivas crises políticas e humanitárias no país da América Central. Uma das passagens simbólicas da história recente haitiana tem a digital de militares que integram o governo do presidente Jair Bolsonaro.

Durante 13 anos, de 2004 a 2017, cerca de 37 mil oficais das Forças Armadas do Brasil foram deslocados para o Haiti. O general Augusto Heleno, que foi o primeiro comandante da missão, ainda em 2004, se integrou à campanha presidencial de Jair Bolsonaro em 2018, está no governo desde o primeiro momento e hoje ocupa o cargo de ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

:: Haiti: tribunal popular denuncia violações de missão da ONU comandada pelo Brasil ::

O general Santos Cruz, comandante no Haiti entre 2007 e 2009 ocupou o cargo de ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República no primeiro ano de governo e foi demitido após atritos com a família do presidente e seguidores do "filósofo" Olavo de Carvalho, espécie de guru dos Bolsonaros.

Santos Cruz foi substituído no cargo pelo general Luiz Eduardo Ramos, atual ministro da Casa Civil, que comandou as tropas brasileiras no Haiti entre 2011 e 2012. O general Floriano Peixoto, que chefiou as tropas entre 2009 e 2010, foi ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República de Bolsonaro.

:: Presidente do Haiti é assassinado a tiros na residência oficial ::

O general Edson Leal Pujol, que dirigiu a Minustah entre 2013 e 2014, foi comandante do Exército brasileiro de 2019 a fevereiro de 2021. Tarcísio Gomes de Freitas, ministro da Infraestrutura, atuou de 2005 a 2006 no Haiti, como chefe da seção técnica da Companhia Brasileira de Engenharia de Força de Paz.

Moise governava o Haiti desde 2017 e, no ano passado, rompeu com o Legislativo e passou a governar por decretos / Chandan Khanna/ AFP

Acusação de massacre em 2005

Na madrugada de 6 de julho de 2005, tropas da Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah), comandadas pelo Exército Brasileiro, fizeram uma operação de “pacificação” na maior favela da capital haitiana, Porto Príncipe, conhecida como Cité Soleil. Segundo testemunhas, cerca de 300 homens fortemente armados invadiram o bairro e assassinaram 63 pessoas, deixando outras 30 feridas. Na época, o comandante das tropas era o general brasileiro Augusto Heleno. 

A ação foi objeto de uma denúncia na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), baseada em depoimentos de moradores e em relatório elaborado pelo Centro de Justiça Global e da Universidade Harvard (EUA). No documento, a Minustah foi acusada de permitir a ocorrência de abusos, favorecer a impunidade e contribuir para a onda de violência no país caribenho. 

:: Fantasmas de massacre no Haiti assombram generais do governo Bolsonaro ::

O caso teria causado desconforto no Palácio do Planalto, liderado na época pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2020, fonte ligada ao Ministério da Defesa confirmou ao Brasil de Fato que o governo brasileiro teria recebido uma solicitação da ONU para substituir o comando das tropas no Haiti, o que foi feito dias depois, com a entrada do general Urano da Teixeira da Matta Bacellar no comando. 

Em resposta às denúncias, assim que assumiu Bacellar afirmou que o número de mortes não coincidia com as informações levantadas pelo exército. Segundo o general, “nove ou dez pessoas” teriam morrido depois de enfrentarem as forças de segurança.

“Fato é que o [Augusto] Heleno foi removido do Haiti e isso começou a cozinhar a raiva aos governos do PT. O estopim foi realmente a Comissão Nacional da Verdade. Daí pra frente, ele se tornou um militante antipetista”, disse a fonte consultada.


Os militares da missão no Haiti no Governo Bolsonaro

1. Augusto Heleno, ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), atuou de 2004 a 2005 nas tropas internacionais;

2. Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, atuou de 2007 a 2009 nas tropas internacionais;

3. Floriano Peixoto Vieira Neto, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, atual presidente dos Correios, atuou de 2009 a 2010 nas tropas internacionais;

4. Edson Leal Pujol, ex-comandante do Exército Brasileiro, atuou de 2013 a 2014 nas tropas internacionais;

5. Luís Eduardo Ramos, ministro-chefe da Casa Civil, atuou de 2011 a 2012 nas tropas brasileiras;

6. Fernando Azevedo e Silva, ex-ministro da Defesa, atuou de 2004 a 2005 como chefe de operações do contingente brasileiro no Haiti;

7. Tarcísio Gomes de Freitas, ministro da Infraestrutura, atuou de 2005 a 2006 como chefe da seção técnica da Companhia Brasileira de Engenharia de Força de Paz;

8. Otávio Rêgo Barros, ex-porta-voz do governo Bolsonaro, atuou como comandante do 1º Batalhão de Infantaria de Força de Paz.


Morte do presidente

A informação sobre a morte de Jovenal Moise foi transmitida pelo premiê interino do país, Claude Joseph, e confirmada por agência de notícias. O ataque, por volta da 1h, foi feito por um grupo ainda não identificado, mas alguns dos envolvidos estariam falando em espanhol.

A primeira-dama, Martine Marie Etienne Joseph, também foi baleada, chegou a ser socorrida, mas não sobreviveu aos ferimentos. Joseph repudiou o “ato odioso, inumano e bárbaro” e pediu calma. “Todas as medidas para garantir a continuidade do Estado e proteger a Nação foram tomadas. A democracia e a República vão vencer.”

A primeira-dama, Martine Marie Etienne Joseph, chegou a ser socorrida, mas não sobreviveu aos ferimentos / Chandan Khanna/AFP


Autoridades do país disseram ter frustrado uma “tentativa de golpe” de Estado contra o presidente, que teria sido alvo de um atentado mal sucedido em fevereiro. Mais de 20 pessoas foram presas na ocasião, inclusive um juiz federal do Tribunal de Cassação e uma inspetora geral da Polícia Nacional.

A oposição negou uma tentativa de golpe, mas há meses pressionava pela renúncia de Moise e pela nomeação de um presidente interino para um período de transição.

Moise governava o Haiti desde 2017 e, no ano passado, rompeu com o Legislativo e passou a governar por decretos. Ele dizia que ficaria no cargo até 7 de fevereiro de 2022, o que causou revolta da oposição, que reclamava o fim do mandato em 7 de fevereiro deste ano.

A atual crise política no Haiti se iniciou na última eleição presidencial, realizada em 2015. No país, o mandato do presidente dura cinco anos e começa no dia 7 de fevereiro do ano seguinte às eleições.

::Quem são e o que querem as gangues armadas do Haiti?::

As eleições de outubro de 2015 terminaram com a vitória de Moise no primeiro turno, mas a votação foi anulada após denúncias de fraude. Declarado vencedor na eleição organizada um ano depois, o atual presidente assumiu o cargo finalmente em 7 de fevereiro de 2017. Por isso, Moise dizia ter direito a um mandato de 60 meses, enquanto a oposição afirma que o presidente já teria cumprido o período legal do mandato.

Edição: Vivian Virissimo

Fonte: Brasil de Fato


Nexo Latino

José Saavedra: Grupos descontentos habrían asesinado a Moise en Haití

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RT en Español

Haití: la inocultable crisis que ni se ve ni se oye - 15 de fev. de 2019

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quinta-feira, 1 de julho de 2021

Observatório do Clima alerta para riscos de nova tragédia por incêndios no Pantanal


Especialista afirma que regime de seca começou sem preparo do governo e aponta recursos ainda não executados


Homens e mulheres brigadistas se arriscam suportando fumaça e calor altíssimos para impedir o avanço do fogo no Pantanal - PREVFOGO

Monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para os próximos dias indica aumento de risco de queimadas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estados do Pantanal. Segundo o Observatório do Clima, coalizão que reúne organizações de defesa do meio ambiente, a tragédia do ano passado pode se repetir.

Nas análises dos satélites do Inpe, é possível observar que pelo menos metade do território dos dois estados está sob perigo alto ou crítico para incêndios. As previsões para o resto da semana mostram que o cenário deve piorar ainda mais.

Além das indicações do Instituto, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais apontou que a maior parte do Mato Grosso do Sul apresentou seca severa ou extrema em maio.

No Mato Grosso, havia mais pontos passando por seca fraca a moderada, mas locais em situação mais grave também foram identificados.

:: Se queimadas continuarem, Pantanal tende a virar um deserto, afirma biólogo ::

Suely Araújo, especialista sênior em Políticas Públicas do Observatório do Clima e ex-presidenta do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), afirma que o poder público precisa se preparar.

Ela lembra que, em 2020, quando o Bioma perdeu 26% da biodiversidade por causa de incêndios, as condições climáticas foram historicamente desfavoráveis e, este ano, a situação é ainda pior.

"Ano passado a seca foi mais severa do que o normal. O período seco começou antes e as temperaturas foram bastante elevadas. Isso está se repetindo este ano. Na verdade, as chuvas pararam  até antes este ano, já em abril", ressalta.

Correndo contra o tempo

Para evitar a realidade dramática de 2020, a especialista afirma que seria essencial investir em prevenção com antecedência. Suely lembra os fortes indícios de que os incêndios de 2020 começaram a partir de ação humana, com objetivo de limpeza de espaços para atividades agropecuárias.

"Esse fogo se espalha para áreas protegidas e reservas indígenas, não tem limite. Você tem que chegar antes, não pode esperar os incêndios florestais", alerta a ex-presidenta do Ibama. "É preciso trabalhar com o que a gente chama de manejo integrado do fogo", explica.

Fogo no Pantanal tem origem na ação humana, mostra perícia

Uma das técnicas de prevenção detalhas por Suely é a delimitação de áreas com aceiros, faixas sem vegetação, que servem para evitar alastramento do fogo. A prática é usada inclusive para proteger cercas, estradas e propriedades vizinhas.

Os aceiros devem ser feitos no início dos períodos de estiagem. Em caso do uso do fogo, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) recomenda que as fazendas contem com profissionais que tenham experiência no combate e no manejo de incêndios, mas ressalta que os donos de terra devem buscar tecnologias mais eficientes e seguras do que as queimadas. 

A resposta governamental 

Na terça-feira (29), o governo publicou um decreto proibindo as queimadas em todo o Brasil por 120 dias. Mas o texto traz diversas exceções. Queimas controladas, em áreas não localizadas nos biomas Amazônia e Pantanal, que sejam "imprescindíveis à realização de práticas agrícolas" e previamente autorizadas estão liberadas.

Também está permitido usar o fogo para práticas de prevenção e combate a incêndios realizadas ou supervisionadas por instituições públicas, trabalhos agrícolas de subsistência de populações tradicionais e indígenas; e atividades de pesquisa que tenham autorização do poder público.

No Pantanal sul-mato-grossense, o governo do estado cancelou qualquer tipo de autorização de queima também por 120 dias. A suspensão vale para propriedades na Área de Uso Restrito do Pantanal.

No entanto, o Observatório do Clima relata que há dinheiro parado no Ministério do Meio Ambiente e que deveria ser aplicado no combate aos incêndios no Pantanal. 

O Congresso Nacional liberou recursos suplementares para a Ministério do Meio Ambiente que contemplam ações de prevenção a queimadas.

Pantanal: oposição entra com ação no STF para cobrar plano de contenção de queimadas

Frente ao risco de uma nova tragédia, partidos de oposição entraram com ação no STF para que os governos dos estados pantaneiros e o governo federal apresentem um plano de prevenção em até 30 dias. .

De autoria das legendas PSOL, Rede, PSB e PT, a arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental questiona o descumprimento de pontos primordiais da Constituição brasileira.

A reportagem do Brasil de Fato enviou questionamentos sobre o tema ao Ministério do Meio Ambiente, mas não recebeu resposta até o fechamento deste texto. 

Edição: Leandro Melito

Fonte: Brasil de Fato


WWF-Brasil

As queimadas de 2020 deixaram um cenário desolador no Pantanal. O bioma teve mais de 30% da sua área queimada, o equivalente a 4 milhões de campos de futebol arrasados. Muitos dos animais que escaparam do fogo, sobreviveram com auxílio de voluntários e instituições que concentraram esforços no resgate e recuperação. Pelo menos 30 deles foram levados ao Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), em Campo Grande (MS), entre julho e setembro. Na lista, onças-pintadas, lobinhos, tamanduás, araras, anta, cotia e gavião-telha que habitam o Pantanal e também áreas de Cerrado. Para auxiliar na recuperação dos animais, o WWF-Brasil doou materiais e medicamentos. A ação faz parte do projeto “Respostas Emergenciais em Campo”, iniciado em 2019 na Amazônia e ampliado este ano para atender o Pantanal, por conta do aumento das queimadas, a partir de julho. Saiba mais: https://bit.ly/AnimaisFeridosPantanal

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quarta-feira, 30 de junho de 2021

Marco temporal vai ao pleno do STF e define demarcação: o que esperar do julgamento?


Tese jurídica levantada no início dos anos 2000 é considerada "absurda" por organizações ligadas à causa indígena


Com a iminência da indicação de um novo membro do STF por Bolsonaro, indígenas têm pressa pelo julgamento - Fábio Nascimento /MNI

O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) deve retomar na quarta-feira (30) o julgamento do chamado "marco temporal", uma das teses jurídicas utilizadas por representantes do agronegócio para questionar a demarcação de terras indígenas.

Uma vez julgada, a ação terá repercussão geral, ou seja, poderá ser usada como base para decisões judiciais em casos semelhantes, definindo o futuro de milhares de indígenas brasileiros. A sessão está marcada para as 14h e será realizada por meio de videoconferência.

O julgamento imediato é de interesse dos povos originários, já que o ministro Marco Aurélio Mello marcou aposentadoria para o 5 de julho de 2021. Com isso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) poderá indicar um novo membro para a Corte, o que aumenta as chances de validação do "marco temporal", tendo em vista o alinhamento do governo federal aos interesses ruralistas.  

:: "Caráter originário dos direitos territoriais": procuradores rechaçam marco temporal ::

"A gente não sabe quem será e qual o posicionamento desse novo ministro, então isso nos preocupa", disse Samanta Pataxó, assessora jurídica da Articulação dos Povos Indígenas (Apib). "Porém, considerando outros ministros, que têm um entendimento mais razoável e proporcional ao que traz a Constituição, isso nos dá esperança de que haja a construção de uma tese que possa efetivar direitos e não mais limitar o reconhecimento de direitos constitucionais dos povos indígenas".


De onde surgiu 

O processo que volta a ser analisado pelos ministros diz respeito à posse do território do povo Xokleng, de Santa Catarina. Trata-se de uma ação de reintegração de posse movida em 2009 pelo governo do estado referente à Terra Indígena (TI) Ibirama-Laklãnõ, declarada em 2003, habitada por mais de 2.000 indígenas também dos povos Guarani e Kaingang, segundo o Instituto Sócio Ambiental (ISA). 

Rejeitado por organizações ligadas à causa indígena, o "marco temporal" entrou na pauta do STF no dia 11 de junho, mas a análise foi interrompida por um pedido de destaque do ministro Alexandre de Moraes. O relator do processo, ministro Edson Fachin, deu voto contrário à utilização do critério para demarcação de territórios.

O governo catarinense obteve ganho de causa nas instâncias inferiores. Agora, as decisões anteriores são contestadas no STF pela Fundação Nacional do Índio (Funai). 


O que é o "marco temporal"?

Pelo "marco temporal", os territórios só podem ser demarcados se os povos indígenas conseguirem provar que estavam ocupando a área anteriormente ou na data exata da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988, ou se ficar comprovado conflito pela posse da terra. 

"Essa tese perversa desconsidera o histórico de violência a que foram submetidas as populações indígenas antes de 1988, bem como as ameaças e assassinatos que resultaram na expulsão das comunidades de suas terras", avalia Antônio Eduardo Oliveira, secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

"Mas essas terras são inalienáveis, indisponíveis, ou seja, o direito sobre elas é imprescritível e seu usufruto é exclusivo. A posse e uso dessa terra só pode ser usufruída pelos povos originários", continua o integrante do Cimi.  

A tese foi usada pela primeira vez para questionar a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Em 2009, o Supremo determinou a demarcação contínua da TI e retirada da população não indígena, afastando a necessidade de os povos originários provarem que estavam lá em 1988.

:: No Central do Brasil, a luta contra o PL 490 e o Marco Temporal, com Sônia Guajajara ::

"Eles [os indígenas] de fato não estavam na sua terra nessa data porque foram expulsos, tiveram suas terras tomadas por fazendeiros", afirmou a assessora jurídica da Apib. "Embora a decisão tenha sido favorável ao indígenas, esse critério começou a ser aplicado de maneira indevida e descabida em outros processos de demarcação que não têm nenhum aspecto parecido com esse processo em específico".

"Assim, o 'marco temporal' acabou sendo o grande trunfo, principalmente da bancada ruralista, que tem interesses contrários às demarcações", explica a Samanta Pataxó. 


STF x Legislativo 

O "marco temporal" foi embutido pela bancada ruralista no Projeto de Lei (PL) 490, que abre as áreas protegidas ao agronegócio, à mineração e à construção de hidrelétricas. A tramitação da matéria foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara na semana passada, sob forte oposição de lideranças. O texto ainda não foi à votação no plenário da Casa.

:: Terras não demarcadas dificultam acesso de indígenas a vacina e políticas públicas ::

Caso o STF rejeite o "marco temporal", a decisão deverá se sobrepor a qualquer legislação aprovada pelo Congresso que seja baseada no critério, conforme avalia a assessora jurídica da Apib. "O que tem que prevalecer é o entendimento do STF porque ele é o guardião da Constituição. Logo, os preceitos do PL 490, e futuramente a lei que pretende se criar, serão inconstitucionais", afirmou Samanta Pataxó. 


Isolados ameaçados 

O "marco temporal" tem a aplicabilidade questionada no caso de povos que mantêm contato permanente com não-indígenas, mas o retrocesso seria ainda maior para os isolados, aqueles que preferem não manter laços com o restante da população.  

Conforme aponta o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), na maioria dos casos é impossível comprovar a presença desses grupos em determinada área e em uma data específica. Isso porque essas populações estão em constante deslocamento, recuando para áreas mais preservadas em função da pressão sofrida pelo desmatamento.

"Se o "marco temporal" se tornar uma lei, praticamente todas as terras indígenas demarcadas de isolados seriam extintas. Não dá para perguntar para eles [indígenas] se eles estavam lá em 1988. Provavelmente não estavam", explica o membro da OPI Fabrício Amorim. "Fica muito fácil entender por que essa é uma tese totalmente absurda e inaplicável para todos os povos indígenas, em especial para os isolados". 

Edição: Vinícius Segalla

Fonte: Brasil de Fato


Jornalistas Livres

GUARANIS DA TERRA INDÍGENA JARAGUÁ OCUPAM A FRENTE DO PARQUE JARAGUÁ PARA PROTESTAR CONTRA O PL 490 QUE TRAMITA NA CÂMARA FEDERAL

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