Mostrando postagens com marcador Lula. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Lula. Mostrar todas as postagens

sábado, 28 de setembro de 2024

#UNGA: Apelos de Lula, Petro e Guterres na ONU lembram que oligarquias são a raiz do desastre global


“Aqueles que têm o poder de destruir a vida não nos escutam [...] ainda que representemos a grande maioria”, declarou Gustavo Petro durante discurso na ONU


ONU
 

O mundo está à beira do desastre, mas ninguém assume a responsabilidade por isso, pareceu ser a conclusão do primeiro dia do chamado “debate geral” da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.

Talvez por isso, o secretário-geral, António Guterres, condenou o que chamou de “impunidade” global, ao abrir, nesta terça-feira (24), a sessão inicial do debate geral, junto com “a desigualdade” e “a incerteza”, um trio que está levando a civilização à beira de desastres, e essa rota é insustentável. “Estamos nos aproximando do inimaginável, um barril de pólvora que está envolvendo o mundo inteiro”, advertiu Guterres, e assinalou que as guerras, a mudança climática e a desigualdade estão piores do que nunca. Ao mesmo tempo, convidou aos participantes: “os desafios que enfrentamos podem ser resolvidos”.


Incapaz de impedir guerras e dar basta ao
 genocídio palestino, seria o fim da ONU?

Ele ressaltou a impunidade, onde “as violações e abusos ameaçam o próprio alicerce do direito internacional e da Carta da ONU”. Acrescentou que “o nível de impunidade no mundo é politicamente indefensável e moralmente intolerável”, onde governos acreditam que podem violar as convenções internacionais e a Carta da ONU, “invadir outro país ou destruir sociedades inteiras” sem consequências. Assinalou os casos da Ucrânia e de Gaza, aos quais chamou “um pesadelo sem fim que ameaça levar toda uma região”; condenou os atos do Hamas, mas afirmou que “nada pode justificar o castigo coletivo do povo palestino”, que incluiu também a morte de mais de 200 funcionários da ONU. Guterres detalhou as injustiças da desigualdade econômica e também da mudança climática, insistindo que a única solução é multilateral e urgente. E que não há muito tempo.


Lula na ONU

O desfile anual de mandatários e altos representantes dos 193 países membros começou, por tradição, com o presidente do Brasil. Luiz Inácio Lula da Silva, uma das vozes mais poderosas do Sul Global, elevou o alerta sobre o rumo atual do planeta.

Lula falou sobre os esforços do Brasil para impulsionar um acordo para frear as guerras em Gaza e na Ucrânia, e advertiu que esses conflitos demonstram o fracasso da comunidade internacional.

Da mesma forma, deplorou um sistema econômico internacional que se “converteu em um Plano Marshall ao contrário, onde os mais pobres financiam os mais ricos”. Os mais ricos, afirmou, duplicaram suas fortunas e pagam menos impostos que os pobres, proporcionalmente 60% da humanidade é agora mais pobre — ante o qual o Brasil está promovendo uma proposta para estabelecer normas mínimas de impostos globais.


Outras vozes do Sul Global

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, acusou, com um discurso lírico, que nesse fórum da ONU “aqueles que têm o poder de destruir a vida não nos escutam”, [não escutam] os que não têm armas de destruição em massa ou grande quantidade de dinheiro, “ainda que representemos a grande maioria”.

Ele advertiu ainda que “a floresta amazônica está queimando” e isso implica o fim do mundo. Acusou que, “quando Gaza morrer, toda a humanidade morrerá”, pois as crianças palestinas “são o povo escolhido de Deus”. O que ele chamou de “oligarquia mundial” da mudança climática, das guerras, das punições econômicas contra países desobedientes como Cuba, e concluiu que a pergunta agora para o mundo é: a vida ou a ganância? Indicou que chegou a hora de pôr fim à oligarquia mundial e substituí-la por uma democracia dos povos. Que já não se precisa ouvir os BidenXiPutin e os europeus, mas sim os povos.


“Todos no mundo estão menos seguros”
após ataque terrorista no Líbano, alerta Snowden


Cyril Ramaphosa, da África do Sul, abriu seu discurso condenando a guerra de Israel em Gaza e destacou que seu país realizou uma denúncia por genocídio à Corte Internacional de Justiça contra Tel Aviv, com as obrigações do direito internacional, “o qual não pode ser aplicado de forma seletiva”.


O último discurso de Biden

Em seu último ato formal ante a comunidade mundial, o presidente Joe Biden ilustrou a incongruência que define essa conjuntura mundial, apresentando-se como líder da paz e da cooperação, enquanto justificou a cumplicidade de seu governo com as guerras em Gaza e na Ucrânia. “As coisas podem, sim, melhorar”, afirmou, e ofereceu como exemplo histórico o fato de que os Estados Unidos e o Vietnã agora são parceiros, insistindo que, apesar dos grandes desafios, é preciso manter o otimismo.

A guerra de Putin fracassou” e “não podemos desistir até que a Ucrânia vença esta guerra… não deixaremos de apoiar a Ucrânia”, afirmou ele, ignorando o consenso dos especialistas de que essa guerra não é vencível. Ele mencionou a América Latina apenas uma vez, usando o caso da Venezuela para ilustrar como seu país deve ser o campeão da democracia. Falou sobre como enfrentar a China no Pacífico, assegurando que os blocos não são contra nenhum país, quando é óbvio que são contra Pequim.


EUA, polícia do mundo: na ONU, Biden aposta
em velho discurso recheado de cinismo

Em relação a Gaza, condenou novamente o ataque do Hamas de 7 de outubro, reconheceu que “inocentes também estão enfrentando o inferno” em Gaza e apelou às partes a aceitarem um acordo e “pôr fim a essa guerra”. Disse que têm buscado prevenir a ampliação da guerra e acusou o Hezbollah pelos ataques mais recentes. “Estamos trabalhando incansavelmente” para conter esse conflito. Biden incansavelmente repete essa frase há quase um ano, enquanto seu governo continua fornecendo bombas e outras munições a Israel para o que uma maioria da Assembleia Geral considera um “possível” genocídio, algo que grande parte de seu público hoje criticou.


Assembleia vai até o dia 30

O debate geral continuará durante toda esta semana e até 30 de setembro. Estão na lista vários dos envolvidos nos conflitos que desafiam o mandato da ONU de promover a paz. O primeiro-ministro de IsraelBenjamin Netanyahu, está programado para esta quinta-feira (26), pouco depois de o presidente palestino, Mahmoud Abbas, subir ao pódio. O presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, teve sua vez nesta quarta-feira (25), mas na segunda também tinha um encontro numa sessão do Conselho de Segurança.



Muitos se referiram ao surgimento da inteligência artificial (IA) e como isso mudará quase tudo, e, portanto, é necessário um manejo “responsável” dessa nova ferramenta pela comunidade internacional. Mas, se o passado serve de guia para o manejo desses líderes políticos do mundo atual, vale questionar se existe a inteligência natural coletiva para alcançar esse e os outros grandiosos objetivos que foram mencionados aqui.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.

As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.


David Brooks

Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.


Jim Cason

Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

Fonte: Diálogos do Sul Global


Gustavo Petro

79ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas




Lula


A solidariedade ao povo palestino nos une, presidente Mahmoud Abbas.


A solidariedade ao povo palestino nos une, presidente Mahmoud Abbas. 🎥 Ricardo Stuckert

[image or embed]

— Lula (@lula.com.br) September 26, 2024 at 1:44 PM


ONU Info


#Gaza : O Secretário-Geral da ONU @antonioguterres insta o Conselho de Segurança a se unir para apoiar um cessar-fogo imediato que conduza a uma solução viável de dois Estados


 

Geopolítica 01

Geopolítica 02


👉 Click Verdade - Jornal Missão 👈


sábado, 31 de agosto de 2024

LULA E ZEMA ACERTAM ENTRADA DE MG NO NEFASTO “REGIME DE RECUPERAÇÃO FISCAL”


Governo de MG passa por cima do Legislativo e decreta congelamento de gastos sociais


Auditoria Cidadã da Dívida


Nesta semana, após acordo com o Governo Federal sobre a entrada no nefasto “Regime de Recuperação Fiscal” (RRF), o governador de Minas Gerais decretou o congelamento dos gastos sociais, cujo crescimento não poderá ser superior à inflação (IPCA), o que é um absurdo completo. Isso significa que todo o crescimento real da arrecadação do estado nos próximos anos somente poderá ser destinado para o pagamento da dívida de MG, formada principalmente pelo endividamento com a União, de origem questionável e que, devido aos juros escorchantes, desde 1998 já foi paga mais de TRÊS vezes e mesmo assim seu estoque se multiplicou por quase DEZ VEZES!!!

Somente estão fora do teto alguns gastos específicos, como os pisos da saúde e educação, cujos recursos devem ficar restritos a esses respectivos pisos, e qualquer recurso adicional implicará no corte em outras áreas sociais.

Conforme já denunciado no post de ontem, essa dívida continua sendo utilizada como instrumento de chantagem pela União, para forçar os estados a cortarem direitos fundamentais do funcionalismo público e da população como um todo. É inadmissível que o Governo Federal , com R$ 1,7 TRILHÃO em caixa, e já tendo recebido a mesma dívida 3 vezes, ainda queira impor o nefasto RRF ao Estado de Minas Gerais, para continuar cobrando juros escorchantes do povo mineiro para destinar os recursos para os pagamentos da dívida pública federal, que beneficia principalmente os super-ricos.

Importante ressaltar que a outra alternativa para a dívida dos estados, colocada pelo Presidente Rodrigo Pacheco (Projeto de Lei Complementar 121/2024, ainda pendente de aprovação pela Câmara dos Deputados), também prevê teto de gastos sociais.


CHEGA DE SER CHANTAGEADO POR ESSA “DÍVIDA”. AUDITORIA JÁ!


#InteressePúblico #TransparênciaFinanceira #AuditoriadaDívidaJá #AuditoriaCidadãdaDívida #AuditoriaJá #ACD



Fonte: Auditoria Cidadã da Dívida


Economia 01

Economia 02


👉 Click Verdade - Jornal Missão 👈


sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Lula indica para presidente do Banco Central diretor que defende a atual política de juros


A AUDITORIA CIDADÃ DA DÍVIDA é uma associação sem fins lucrativos que estuda e divulga fatos sobre o endividamento público e seus desdobramentos


Auditoria Cidadã da Dívida
 

Os jornais noticiaram que o Presidente Lula indicou, para ser o próximo Presidente do Banco Central, o economista Gabriel Galípolo, que, conforme temos divulgado em posts anteriores, tem votado junto com o atual Presidente Roberto Campos Neto na manutenção da altíssima Taxa Selic, usada como base para os ganhos dos rentistas da dívida pública.

Tais decisões têm sido tomadas sempre sob o equivocado argumento de controle inflacionário, mesmo que a inflação no Brasil esteja dentro da meta, e não esteja relacionada a uma suposta demanda aquecida, mas a preços administrados pelo próprio governo e outros preços que também não caem com a alta de juros.

Se, por um lado, apoiadores do governo poderiam argumentar que o Senado reprovaria um nome comprometido com uma forte queda nos juros, por outro lado, tal argumento mostra a importância de se alterar a estratégia do governo, já que desta forma nunca se conseguirá alterar de fato a política de juros do Banco Central, tão criticada pelo Presidente Lula.

Já passou da hora de o governo decretar a auditoria da dívida pública, que tem relação direta com as insanas taxas de juros praticadas no Brasil.

Para surtir os efeitos necessários, a auditoria deve ser integral, com participação social (como no Equador e Grécia), e deve denunciar os mecanismos que geram dívida sem contrapartida; mostrar quem se beneficia desse Sistema da Dívida que atua no Brasil, além de demonstrar para toda a população que essa dívida não tem servido para investimentos sociais, mas para pagar os próprios juros e mantê-los elevados, amarrando toda a economia do país.


#InteressePúblico #AuditoriadaDívidaJá#AuditoriaCidadãdaDívida #AuditoriaJá #ACD



Fonte: Auditoria Cidadã da Dívida


Economia 01

Economia 02


👉 Click Verdade - Jornal Missão 👈


Musk se recusa a apresentar representante legal do X no país e volta a fazer acusações contra Moraes


Prazo dado pelo ministro do Supremo para nomeação de representante venceu pouco depois das 20h desta quinta


Rede social pertencente a Elon Musk seguia no ar até 20h30 desta quinta-feira - AFP

 

Minutos após o fim do prazo dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para indicação de representante legal no Brasil da rede social X (antigo Twitter), o empresário Elon Musk decidiu, mais uma vez, dobrar a aposta e se negou a cumprir a determinação.

Em postagem na página Global Government Affairs (ou "Assuntos Governamentais Globais", em tradução livre) na noite desta quinta-feira (29), o X afirmou que espera que o ministro ordene o bloqueio da rede no país em breve "simplesmente porque não cumprimos suas ordens ilegais para censurar seus opositores políticos".

Deixando claro que não mencionaria um novo representante, a mensagem prossegue com acusações sobre supostas ordens "ilegais" que teriam sido dadas por Moraes. O texto chega a dizer que o ministro exige que a rede viole leis do Brasil – sem deixar claro que leis seriam essas.

A nota, que não leva a assinatura de Musk, ataca ainda os demais ministros do STF ao dizer que "Os colegas do Ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal estão ou impossibilitados de ou não querem enfrentá-lo".

Há, ainda, uma promessa de que "nos próximos dias" serão publicadas "todas as exigências ilegais do Ministro e todos os documentos judiciais relacionados, para fins de transparência", além de defesas vazias da "liberdade de expressão".



 Rede seguia no ar


A mensagem postada pela conta de assuntos governamentais aconteceu horas depois de Elon Musk, em seu perfil pessoal, postar ofensas contra Alexandre de Moraes, o Supremo e o governo brasileiro.

Durante o dia, ele chegou a afirmar que o ministro era um "tirano", e que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era seu "cãozinho".

O prazo dado pelo Supremo para que a rede social indicasse representante legal no país venceu pontualmente às 20h07 desta quinta-feira. Por volta das 20h45, porém, a rede seguia operando no país.

A ordem para indicação de novo representante aconteceu depois que, em 17 de agosto, Musk fechou escritórios e demitiu seus funcionários em território brasileiro alegando censura. Com fortuna estimada em US$ 250 bilhões (cerca de R$ 1,3 trilhão), Musk costuma apoiar políticos de extrema direita, como Donald Trump nos EUA.

Recentemente vem crescendo a pressão para responsabilizar Musk por interferir na política de vários países. O sul-africano de cidadania estadunidense já sugeriu um golpe de Estado na Bolívia, foi acusado de interferir nas eleições presidenciais de 2024 na Venezuela e disse que uma guerra civil no Reino Unido seria inevitável.

Edição: Felipe Mendes

Fonte: Brasil de Fato



Tecnologia 01

Tecnologia 02 


👉 Click Verdade - Jornal Missão 👈


Itamaraty expressa ‘preocupação’ com ataques israelenses à Cisjordânia


Em comunicado, governo brasileiro pede que Israel, se abstenha de ações que possam ‘resultar no alastramento do conflito’


Ministério das Relações Exteriores - Comunicado do Itamaraty pede que Israel se abstenha de novas ações militares em territórios palestinos
 

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu uma nota na noite de quarta-feira (28/08) para expressar sua “preocupação” com a operação militar de Israel contra as cidades de Jenin Tulkarm e Tubas, na Cisjordânia.

No texto, o Itamaraty mostrou sua preocupação com uma possível evacuação das cidades atacadas, enfatizando que essa ação poderia “resultar em novo deslocamento forçado de milhares de palestinos, como ocorre na Faixa de Gaza desde o início do conflito”.

O alerta também soou como uma crítica ao chanceler israelense Israel Katz, que tem se envolvido em diversas polêmicas com o Brasil, ao ser autor de ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principalmente no início deste ano.

A nota do Itamaraty termina recordando “as obrigações impostas pelas Convenções de Genebra, bem como o parecer consultivo emitido pela Corte Internacional de Justiça, em 19 de julho passado” e pedindo ao governo de Israel, “como potência ocupante”, que se abstenha de “ações que possam resultar no alastramento do conflito da Faixa de Gaza para a Cisjordânia”.


Leia o comunicado do Itamaraty na íntegra:


Operação militar israelense em cidades na Cisjordânia

O governo brasileiro acompanha, com preocupação, a operação militar israelense lançada em 28 de agosto, nas cidades de Jenin, Tulkarm e Tubas, no Norte da Cisjordânia, que resultou na morte de pelo menos dez palestinos e em significativos danos materiais.

O governo brasileiro alerta que possível evacuação de residentes das cidades visadas pelas forças israelenses, aventada em declarações do ministro de Negócios Estrangeiros Israel Katz, poderá resultar em novo deslocamento forçado de milhares de palestinos, como ocorre na Faixa de Gaza desde o início do conflito.

Ao recordar as obrigações impostas pelas Convenções de Genebra, bem como o parecer consultivo emitido pela Corte Internacional de Justiça, em 19 de julho passado, o governo brasileiro conclama o Estado de Israel, como potência ocupante, a abster-se de ações que possam resultar no alastramento do conflito da Faixa de Gaza para a Cisjordânia.

Fonte: Opera Mundi  /  Itamaraty Brasil



Geopolítica 01

Geopolítica 02 


👉 Click Verdade - Jornal Missão 👈


terça-feira, 27 de agosto de 2024

O curral do mundo


Agronegócio e transição ecológica no Brasil


Pecuária
 

Recentemente, um visitante da floresta amazônica narrou sua surpresa diante do animal que mais lhe chamou a atenção: não foi a onça pintada, mas “a branca, lustrosa e corcovada vaca nelore, de orelhas caídas, a conquistadora última da fronteira”. Nas últimas duas décadas, a economia brasileira transformou-se na principal fornecedora de carne bovina do capitalismo global. Na medida em que isso acontecia, a floresta tropical, que abriga em torno de 10% das espécies animais do mundo, foi incendiada para dar passagem a milhões de vacas. Estima-se que, na parte brasileira da Amazônia, há hoje duas vezes mais vacas do que pessoas: cerca de 63 milhões e 28 milhões, respectivamente. 

Em 2003, quando o presidente Luís Inácio Lula da Silva iniciou seu primeiro mandato,  o Brasil era o terceiro maior exportador, em toneladas, de carne bovina congelada do mundo, representando cerca de 11% do total. Ao final do seu segundo mandato, em 2010, o Brasil era o primeiro colocado, responsável por 23% de toda a carne bovina congelada exportada mundialmente. As exportações cresceram de 317 para 781 mil toneladas. A década seguinte consolidou a supremacia brasileira no mercado de carne bovina: em 2022, o Brasil era a origem de 32% de toda carne bovina congelada comercializada internacionalmente, exportando quase o dobro do segundo colocado no ranking, a Índia. A ascensão do Brasil como curral do mundo esteve estreitamente ligada à ascensão da China como superpotência econômica: as importações chinesas de carne bovina congelada dispararam, entre 2002 e 2022, de onze mil para mais de dois milhões de toneladas.1

A história da soja é ainda mais dramática. A participação brasileira na exportação global do grão cresceu de cerca de 25% em 2003 para cerca de 50% a partir de 2018. Uma porção substancial dessa commodity é usada para produzir ração animal para os rebanhos de outros países. As mudanças recentes nas relações agroalimentares globais vêm sendo descritas como um emergente “complexo soja-carne Brasil-China” por pesquisadores da área. As duas commodities—carne bovina e soja em grãos—se alastraram pelo interior do Brasil como fogo em campo aberto, e grande parte de sua produção não observa normas ambientais (cf. a expansão geográfica das duas atividades nas Figuras 1 e 2). Numa pesquisa de 2020 que compila dados de 815.000 propriedades rurais na Amazônia e no Cerrado, Raoni Rajão e seus coautores concluíram que “cerca de 20% das exportações de soja e pelo menos 17% das exportações de carne bovina de ambos os biomas para a União Europeia devem ter sido contaminadas pelo desmatamento ilegal”. As proporções podem ser até maiores no caso de exportações para outros destinos com normas menos estritas.





O caminho que leva aos píncaros luminosos do desenvolvimento não costuma ser sinalizado pelo crescimento explosivo nas exportações de commodities. Os preços desses produtos são altamente voláteis, sujeitando as economias que dependem de sua exportação a trajetórias acidentadas em detrimento do crescimento de longo prazo. E, de modo crucial, a produção primária raramente proporciona os encadeamentos produtivos para trás e para frente que incentivam aumentos de produtividade em toda a economia e promovem mudanças técnicas cumulativas. Na maioria das vezes, a produção primária é um enclave com repercussões limitadas em outros ramos industriais e no mercado de trabalho—e com o potencial de derrubar toda a economia, se a queda dos preços internacionais levar à desvalorização da moeda e à crise econômica. O colapso da economia brasileira entre 2014 e 2016 teve múltiplas determinantes, mas inegavelmente esteve relacionado com a queda nos preços das commodities.

Na era da emergência climática, as desvantagens da especialização em exportações primárias, para o desenvolvimento, são ainda mais acentuadas. Como argumentaram pesquisadores da London School of Economics e da Universidade de Oxford, uma “corrida verde global está em andamento; quem sair na frente será recompensado e quem ficar para trás correrá o risco de perder competitividade global”. Além das barreiras à ascensão na cadeia global de valor, o custo econômico de se tornar o curral do mundo é agravado pelos impactos ambientais, tanto em termos de emissões de gás carbônico quanto de perda de biodiversidade. O Brasil é o sétimo maior emissor de gases de efeito estufa. Mas a composição de suas emissões difere drasticamente da tendência mundial: enquanto agricultura, silvicultura e alterações no uso do solo respondem por cerca de 18% das emissões globais, no Brasil, entre 2000 e 2020, representaram mais de três quartos. Em termos de emissões, no país, os combustíveis fósseis ficam em segundo plano, ofuscados pela carne bovina e pela soja. Se os mercados globais de commodities um dia apoiaram uma agenda interna redistributiva, a atual dependência arraigada da economia brasileira de uma produção primária baseada em desmatamento não só a impede de oferecer um padrão de vida decente à maioria de sua população, mas também contribui para a degradação de seus ecossistemas e para o aquecimento do planeta.


Esperanças verdes


Recentemente, esse quadro sombrio deu lugar a perspectivas mais positivas para o Brasil na transição verde global. A ascensão eleitoral de Lula a um terceiro mandato, depois de quatro anos de um governo de extrema direita negacionista da mudança climática e que promoveu ativamente o desmatamento, produziu algum otimismo. Lula tem procurado se posicionar no cenário mundial como forte apoiador da transição ecológica. Marina Silva—a líder ambiental que ocupou seu gabinete ministerial entre 2003 e 2008 e renunciou por discordar dos rumos políticos de seus governos de então—está de volta como ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Na atual gestão, Marina logrou reduzir o desmatamento na Amazônia em quase 40% em 2023. Lustrando ainda mais suas credenciais de ação climática, em 2025 o Brasil sediará a COP30 na cidade amazônica de Belém. Ao escrever no Financial Times, em setembro passado, o ministro da fazenda Fernando Haddad emoldurou a agenda econômica do governo com a linguagem da transformação verde: “uma transformação abrangente da nossa economia e sociedade através de infraestrutura mais verde, agricultura sustentável, reflorestamento, economia circular, e uso cada vez mais intensivo de tecnologia no processo produtivo e na adaptação climática”.

A perspectiva alvissareira não se restringe aos círculos governamentais. No último Relatório sobre clima e desenvolvimento focado no Brasil, o Banco Mundial argumentou que a “matriz energética relativamente limpa e renovável” do país, baseada predominantemente em energia hidrelétrica, proporciona-lhe “uma vantagem importante para a construção de um setor industrial de baixa emissão”. Dessa perspectiva, a composição singular das emissões brasileiras não põe em evidência o destrutivo setor do agronegócio, grande emissor de poluentes do país, mas o setor energético de baixo carbono. Esse último poderia ser mobilizado para impulsionar a indústria, dando ao país uma vantagem em relação aos concorrentes que suprem a produção industrial mediante a queima de carvão ou gás natural e colocando a descarbonização total da economia mais ao alcance do Brasil do que de outros lugares. Como afirmou Ricardo Abramovay, o país pode reduzir pela metade suas emissões “sem transformação estrutural na economia”, visto que a eliminação do desmatamento pode ser alcançada “sem qualquer modificação no sistema de transportes, na matriz energética, nos padrões de consumo, no aquecimento ou na refrigeração dos imóveis”. Ou, como outros formularam, o país “poderia atingir de forma bem barata” a meta de emissões para 2030.

A estratégia do governo para aproveitar essa oportunidade gira em torno do Plano de Transformação Ecológica, lançado na COP28. De acordo com o Ministério da Fazenda, o plano representa “um novo modelo de desenvolvimento econômico, inclusivo e sustentável”. Seus objetivos são “promover o aumento da produtividade por meio da criação e da difusão de inovações tecnológicas e da construção de uma infraestrutura sustentável, aproveitando as características geográficas e ambientais singulares do país, a ampla disponibilidade de fontes renováveis de energia e a biodiversidade abundante que o Brasil possui”. Em um comunicado de maio de 2024, anunciando que “o Plano de Transformação Ecológica já começou”, o governo lista uma série de ações em fase de implementação que assentam as bases desse novo modelo de desenvolvimento: títulos verdes, crédito subsidiado, debêntures e tarifas para fomentar o investimento em descarbonização, reflorestamento e reindustrialização, a elaboração de uma taxonomia verde interna e avanços nas negociações com o Congresso visando à aprovação do mercado de carbono—citado por Haddad em 2023 como o “primeiro marco” da transformação verde.

Outra ação nesse âmbito foi o lançamento do plano Nova Indústria Brasil, um conjunto de políticas industriais que visam aproveitar a base econômica atual do país para impulsionar o desenvolvimento. Três das seis missões escolhidas estão relacionadas com a sustentabilidade ambiental. Uma delas impacta o agronegócio, com a intenção de promover “cadeias agroindustriais digitais e sustentáveis para a segurança alimentar, nutricional e energética”. Entre as metas elencadas, figuram as de fortalecer a participação do setor agroindustrial no PIB do agronegócio, ampliar a mecanização da agricultura familiar com equipamentos produzidos internamente e aumentar a sustentabilidade ambiental da produção agroindustrial. De acordo com Mariana Mazzucato, que ajudou o governo a elaborar a nova política, “dependendo de como forem implantadas, essas novas missões podem ajudar a promover coordenação e colaboração público-privada, intersetorial e interministerial alinhadas ao Plano de Transformação Ecológica e à agenda de crescimento sustentável e inclusivo em sentido amplo”. Mazzucato também afirmou que, ao “colocar a transição ecológica no centro da política econômica, o governo do Brasil está definindo um curso diferente, capaz de transformar desafios sociais e ambientais em oportunidades”.

O papel do agronegócio na estratégia de transição verde do país, no entanto, além de servir como uma das bases para um esforço de reindustrialização, não foi abordado em detalhes. Um estudo recente sobre o assunto, que examina as mudanças setoriais mínimas necessárias para que a economia brasileira cumpra suas promessas de descarbonização, simplesmente desconsidera as emissões relacionadas a mudanças no uso do solo (especialmente o desmatamento), com o argumento de que “é sabido que elas resultam de atividades ilegais”. Essa opção problemática tem consequências comprometedoras: as mudanças setoriais propostas exigiriam que a produção se distanciasse de atividades industriais de alto carbono e se voltasse à agricultura, pecuária e produção de carne, bem como às diferentes indústrias de serviços. Perversamente, a descarbonização brasileira resultaria da expansão do agronegócio.

O relatório do Banco Mundial, por outro lado, fornece uma imagem mais precisa da relação entre agronegócio e transição climática. Ele argumenta que a recente adoção do Plano ABC+, política setorial do governo voltada à agricultura de baixo carbono que consiste em “crédito rural a juros baixos para financiar a implementação de práticas ou tecnologias agrícolas que provavelmente contribuirão para a mitigação e/ou adaptação às mudanças climáticas”, poderia contribuir para reduzir o desmatamento sem comprometer a produção agrícola, desde que fosse reforçada, e não sabotada, pelas demais políticas de crédito rural. O relatório estima que esse esforço não chegaria a eliminar as emissões oriundas da agricultura e das mudanças no uso do solo, podendo, contudo, reduzi-las pela metade até 2030. Além disso, destaca a existência de obstáculos políticos significativos: “grupos de interesse ligados à produção agrícola (incluindo alguns pecuaristas e afiliados à indústria pecuária) têm influência notável nos níveis subnacional e federal”. A força política desses grupos explica por que os subsídios governamentais e as políticas de crédito rural proveem “incentivos adicionais para desmatar”.

Em 2021, por exemplo, o orçamento do Plano ABC+ representou apenas 2% do Plano Safra, a principal política rural que, entre outras coisas, “apoia a criação de gado nos estados menos desenvolvidos da Amazônia Legal”. Em 2023, o primeiro Plano Safra anunciado pelo atual governo destinou parcela semelhante do valor total à agricultura de baixo carbono: o RenovAgro, novo nome do Plano ABC+, recebeu 1,9% do montante final.2 O governo argumenta, no entanto, que outros aspectos da política também estimulam a sustentabilidade na agricultura, ajustando a taxa de juros cobrada dos agricultores, por exemplo, com base em sua conformidade com práticas sustentáveis.


O poder do agronegócio


Planejar a transição verde no Brasil sem enfrentar os desafios postos pelo predomínio do agronegócio implica ignorar as tensões entre a estratégia proposta e o padrão de acumulação que se consolidou nas últimas duas décadas. Nesse período, o agronegócio se tornou um dos segmentos mais poderosos da vida política e econômica brasileira. No momento em que suas exportações se tornaram uma peça crucial do quebra-cabeça do capitalismo global, o agronegócio brasileiro assumiu uma posição de liderança na economia doméstica, especialmente por garantir o acesso do país a moeda estrangeira. 

Nas últimas duas décadas, a participação da soja em grãos no total das exportações brasileiras cresceu de menos de 5% para mais de 12%. Atualmente, todos os bens agrícolas combinados (grãos de soja, diferentes tipos de carne bovina, cana-de-açúcar e milho, entre outros) são responsáveis por mais de um terço do total de exportações. Somados aos minerais, especialmente minérios de ferro e petróleo, representam mais que 70% de todas as exportações. A partir dos anos 2000, o Brasil consolidou sua integração subordinada na divisão internacional do trabalho como exportador de commodities primárias. Por ter se industrializado mais do que seus vizinhos, o Brasil costumava ser um ponto fora da curva em termos de participação de bens manufaturados no total das exportações, que somavam 55% durante a década de 1990 e início dos anos 2000, em comparação com, no máximo, um terço do total em países como Argentina, Colômbia e Uruguai. Nas duas últimas décadas, contudo, a composição das exportações brasileiras foi se assemelhando cada vez mais à dos demais países da região: a porcentagem das exportações manufaturadas caiu para 25% do total desde 2020.3

O papel desempenhado pelo agronegócio também pode ser identificado nas estatísticas referentes à composição da economia doméstica. Durante o boom de commodities, o agronegócio cresceu menos do que o restante da economia. A participação de toda a cadeia do agronegócio (que compreende produção de insumos, agricultura, pecuária, agroindústria e agrosserviços) no PIB caiu de cerca de 30% para 21% entre 2003 e 2010.4 À medida que a margem fiscal criada pelo boom nas exportações foi usada para adotar políticas redistributivas e expandir o investimento público, o consumo de massa aumentou e os serviços urbanos ultrapassaram o agronegócio. O período, no entanto, também foi caracterizado pela consolidação das principais corporações do setor e de seu crescente poder político. A JBS, por exemplo, tornou-se uma das maiores empresas de processamento de carne bovina do mundo, comprando vários dos seus concorrentes brasileiros, bem como grandes empresas nos Estados Unidos, com o apoio crucial do BNDES.

Durante seus dois mandatos anteriores, Lula tirou vantagem da bonança das commodities para implementar políticas de redução da pobreza, sem afrontar a ascensão do agronegócio. Nas políticas agrícolas, o governo preservou a dualidade herdada, mantendo a existência de um ministério dominado pela elite do agronegócio ao lado de outro focado nas demandas dos movimentos sociais agrários. A ambiguidade também prevaleceu em relação ao meio ambiente. De um lado, o governo adotou melhorias significativas na legislação ambiental e na fiscalização, que levaram a uma redução do desmatamento por um fator de quatro. De outro lado, muitas vezes priorizou investimentos que poderiam impulsionar o crescimento de curto prazo, ignorando implicações ambientais problemáticas. A construção da hidrelétrica de Belo Monte na bacia amazônica é um desses casos. Belo Monte é um dos maiores exemplos de megaprojetos que resultaram no deslocamento em massa de comunidades e causaram perda significativa de biodiversidade, ao mesmo tempo em que contribui para a matriz energética renovável do país.

As classes dominantes agrárias usaram as oportunidades abertas pelo boom de commodities para consolidar seu poder. Sem nenhuma lealdade particular ao governo que supervisionou sua ascensão, algumas facções do lobby do agronegócio logo pressionariam por um curso político diferente (e perigoso). Como Rodrigo Nunes argumentou, quando se opôs à sucessora de Lula, a presidenta Dilma Rousseff, em 2015, o agronegócio “pareceu ter atingido a maioridade política: não mais se contentou com meramente defender seus interesses econômicos imediatos e, em vez disso, buscou impor sua agenda ao país inteiro”. Tornou-se um ator político que liderou o golpe parlamentar que derrubou Rousseff em 2016, fomentando uma guinada violenta para a direita na política brasileira e lançando as bases para a vitória eleitoral do candidato de extrema direita Jair Bolsonaro, em 2018.

Os resultados foram imediatos: o Estado brasileiro foi efetivamente transformado em “comitê executivo” da burguesia agrária, desmantelando normas ambientais, direitos indígenas e o aparato ministerial e institucional que havia sido penosamente construído desde a democratização e a aprovação da Constituição Federal de 1988. Um bloco político reacionário foi estabelecido, amalgamando capitalistas rurais, a facção militante do cristianismo e o aparato de segurança (compreendendo diferentes ramos da polícia e das forças armadas): o infame tripé “boi, bala e bíblia” que alçou Bolsonaro ao palácio presidencial.

Com esse respaldo político, o agronegócio estava pronto para vicejar. Durante o governo Bolsonaro, enquanto o resto da economia estagnava, a cadeia do agronegócio explodiu, crescendo em média 7,8% ao ano entre 2019 e 2022, enquanto o PIB se arrastava a uma taxa média anual de 1,4%. Em consequência, a partir de 2020, a participação do setor no PIB oscilou em torno de 25%, recuperando parte do terreno perdido nos anos 2000. Houve dois booms associados ao fenômeno: o da recuperação das taxas de desmatamento e o do aumento da desigualdade. O crescimento da parcela da renda apropriada pelo 0,1% e 0,01% mais ricos entre 2017 e 2022 foi acarretado principalmente pela concentração de renda ocorrida nos  estados em que predomina a produção de carne bovina e soja.

O relacionamento entre a extrema direita e o agronegócio não foi um caso furtivo. André Singer identificou a formação de “uma coalizão com bases territoriais, econômicas e sociais”—estendendo-se de seus representantes em Brasília às elites rurais e aos segmentos cada vez maiores de grupos mais pobres no interior—e observa que, na eleição presidencial de 2022, Bolsonaro recebeu mais votos do que Lula “nos 265 municípios dos nove estados amazônicos”. Nunes escreveu sobre o significado histórico mais amplo desse fato: “a reversão da dominação política do campo pelas grandes cidades (e pelos setores industrial e de serviços) que começou com Getúlio Vargas na década de 1930”. O modelo letárgico de crescimento pautado em exportações do agronegócio, gradualmente implementado nas últimas duas décadas, finalmente mostrou os dentes: ameaça não só a biodiversidade brasileira, mas também a democracia.


Desafios candentes


O principal desafio para o novo modelo de desenvolvimento de Lula é suplantar o predomínio do agronegócio na economia política do país. Os capitalistas rurais mostraram claramente que não vão depor as armas sem lutar, resistindo a qualquer mudança que desvincule o crescimento da economia do “complexo soja-carne”. Após eleger grande quantidade de representantes para o Congresso no último pleito, o bloco agrário perfaz atualmente cerca de 60% dos membros do legislativo federal em ambas as casas—detendo poder suficiente para derrotar o atual governo.5

Nos primeiros meses da nova gestão, enquanto Lula estruturava seu gabinete, o lobby do agronegócio no Congresso conseguiu esvaziar pastas do Ministério dos Povos Indígenas e do Ministério do Meio Ambiente, transferindo alguns de seus encargos para outros departamentos do governo. Também conseguiu proteger seus múltiplos benefícios fiscais, impondo uma série de mudanças na abrangente reforma da tributação indireta apoiada pelo governo, que visava justamente tornar sua incidência mais homogênea entre os setores. Ainda, alterou o projeto do mercado de carbono—que, segundo o governo, teria “um escopo universal”—, para excluir os setores de agricultura e pecuária de seus dispositivos. E, quando o Supremo Tribunal Federal decidiu contra o lobby do agronegócio em um caso sobre a demarcação de territórios indígenas —uma política que visa à reparação histórica, mas que tem impactos significativos na contenção do desmatamento—, o Congresso se apressou a aprovar uma legislação na direção oposta, efetivamente anulando a decisão do tribunal.

O novo modelo de desenvolvimento prometido pelo governo teria potencial para mudar o equilíbrio de poder, tornando a economia menos dependente das fortunas do agronegócio e, assim, enfraquecendo essa facção das classes dominantes. E a transição verde pode ser usada precisamente como oportunidade de mobilizar o aparato estatal para transformar a economia brasileira, reduzindo sua sujeição às exportações primárias e criando empregos decentes. Até agora, porém, apesar da retórica em torno do Plano de Transformação Ecológica, o governo parece estar terceirizando a maior parte da transição climática para o setor privado, devido ao seu espaço fiscal limitado—espremido entre um compromisso autoimposto com a austeridade e a erosão da base tributária promovida pelo agronegócio.6 Tanto é que o ministro da fazenda fez questão de contrastar seus planos verdes com as políticas recentemente adotadas pelos Estados Unidos, alegando que um “mosaico de políticas regulatórias e tributárias” guiará a transição brasileira, relativamente à “vasta quantidade de recursos orçamentários” mobilizados pelo governo de Joe Biden. A nova política industrial, por exemplo, terá de se contentar principalmente com crédito subsidiado do BNDES, tendo sido efetivamente excluída do orçamento do governo.7

A estratégia funcionará? A despeito do progresso do IRA [Inflation Reduction Act], críticas contundentes já reiterarammais de uma vez, que os desafios da transição climática não podem ser vencidos apenas mediante a mobilização das forças do mercado, contando com incentivos que internalizam os custos ambientais. O que se requer, em vez disso, é uma ação governamental decisiva que discipline o capital em uma estratégia de longo prazo de transformação estrutural sustentável—uma abordagem que Daniela Gabor chama de “grande Estado verde”. O argumento é ainda mais relevante para uma economia como a brasileira, que sofreu décadas de estagnação e na qual, de acordo com um estudo recente, a competitividade verde e o potencial de competitividade verde “têm mostrado uma tendência declinante”. Finalmente, a intervenção governamental é indispensável, dada a influência avassaladora de uma facção das classes dominantes que trabalha para sabotar a transição verde e que é responsável pela maior parte das emissões de carbono do país.

O apoio leal que o governo atual tem entre a metade mais pobre da população proporciona um ponto de partida para a tarefa de construir uma forte coalizão política, a fim de disciplinar o capital em uma estratégia de longo prazo que possa estabelecer um novo modelo de desenvolvimento. Isso exigiria o que Alice Amsden chamou de “mecanismos de controle recíproco”: o manejo de apoio governamental direcionado a setores tecnologicamente sofisticados, condicionado ao cumprimento regular de padrões de desempenho, para que a participação das commodities primárias nas exportações possa diminuir à medida que novos atores econômicos redirecionam a economia e simultaneamente criam uma base eleitoral para o novo modelo de desenvolvimento. Alguns dos elementos necessários estão presentes nos planos atuais do governo. Mas eles foram mantidos à margem, enfraquecendo sua capacidade de desencadear mudanças transformadoras na economia.

O tempo está acabando. A economia liderada pelo agronegócio, enquanto não for efetivamente contestada, continuará fortalecendo o bloco de extrema direita, reforçando ainda mais os capitalistas agrários e alimentando a desilusão das classes populares. Essa é uma das razões pelas quais a esperança que floresceu com a eleição de Lula em 2022 já se transformou em uma sensação generalizada de impasse político. Na medida em que eventos climáticos extremos arrasam cidades inteiras e alimentam as turbulências—o exemplo mais recente é a trágica inundação de boa parte do Rio Grande do Sul—, desafiar o predomínio do agronegócio nunca foi tão urgente. É indispensável não só para desacelerar o aquecimento global e dar à humanidade uma chance de evitar as piores consequências das mudanças climáticas, mas também para enfraquecer os ataques da extrema direita às instituições democráticas e abrir caminho para uma transformação econômica que restaure a esperança de um padrão de vida melhor para a maioria de brasileiros que enfrentou uma década de empobrecimento.

Por: Fernando Rugitsky

Fonte: Phenomenal World



Economia 01

Economia 02 


👉 Click Verdade - Jornal Missão 👈


domingo, 18 de agosto de 2024

Venezuela: o petróleo e as atas


Lula deve se lembrar que para se apoderar do petróleo e do gás do Brasil, Washington precisa primeiro fomentar a inimizade entre o Brasil e a Venezuela


29.05.2023 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro. Cerimônia Oficial de chegada ao Brasil. Palácio do Planalto – Brasília DF. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

 

As notícias do dia são de vários meios de comunicação da globosfera de língua espanhola, informando que o governo brasileiro não aceitará a decisão da Sala Eleitoral do Supremo Tribunal Constitucional da Venezuela na disputa sobre os resultados das eleições. Os governos da Colômbia e do México e, com uma postura mais beligerante, o Chile estão em uma posição semelhante.

O que essa atitude revela? Simples: a enorme eficácia do poder de chantagem do império, que, por meio de uma ofensiva midiática, diplomática e econômica sem precedentes (ainda pior do que a sofrida pelo presidente Salvador Allende no Chile, porque naquela época a mídia tinha muito menos poder de fogo e as redes sociais ainda não haviam nascido), conseguiu instalar a ideia de que a eleição de Nicolás Maduro foi fraudulenta como uma certeza irrevogável.

Essa farsa nada mais é do que outro exemplo do poder da propaganda produzida pelas fábricas de mentiras e notícias falsas sediadas nos Estados Unidos, que há meses vêm anunciando que haveria fraude nas eleições venezuelanas. E isso foi anunciado com a mesma irresponsabilidade e impunidade com que costumavam dizer que havia armas de destruição em massa no Iraque. Infelizmente, os governos latino-americanos parecem impotentes para neutralizar a extorsão projetada em Washington, executada por centenas de meios de comunicação e martelada por milhares de falastrões que cantam a mesma melodia: houve fraude, mostrem as atas!



Mas acontece que, quando na quarta-feira passada a direita teve a oportunidade de mostrar as atas que comprovavam sua vitória perante a Sala Eleitoral do Supremo Tribunal Constitucional, seus porta-vozes não mostraram absolutamente nada. Além disso, eles disseram, e eu cito, que “não têm as atas de contagem das testemunhas nas seções eleitorais, nem listas de testemunhas, alegando, além disso, que não participaram do processo de transferência e proteção de nenhum material. Também destacaram que a organização SUMATE faz parte da equipe de assessoramento técnico da Alianza Plataforma Unitária Democrática e, ao mesmo tempo, não sabiam quem havia carregado a informação das supostas atas de apuração na página web dessa organização, que deu a vitória a Edmundo González Urrutia”.

Apesar de uma confissão tão contundente, o governo do presidente Lula da Silva continua a exigir que “as atas sejam mostradas”, uma atitude que não é apenas incomum e desrespeitosa com os assuntos internos de um estado irmão, mas também paradoxal, porque onde estão as atas que provam que Lula venceu as eleições de 2022? Ele já as mostrou? Não, apesar das denúncias dos bolsonaristas e de Steve Bannon. Nem Joe Biden, e vários outros governantes, porque não há nenhuma. O que acontece é que no sistema eleitoral brasileiro, que é menos confiável que o venezuelano, essas atas não existem; não há recibos em papel para confirmar os resultados eleitorais produzidos pelas máquinas de votação. Há apenas a confiança cega e suicida de que elas não podem ser hackeadas e que o resultado eleitoral fornecido pelo dispositivo computadorizado é uma transcrição fiel da vontade dos cidadãos. Essa crença é, no mínimo, imprudente, se não absurda ou irrisória. Justamente por causa dessa falta de transparência, já que o resultado eletrônico não pode ser comparado com as cédulas de votação, países como Reino Unido, Alemanha, Finlândia, Holanda, Irlanda, Cazaquistão e Noruega proibiram o voto eletrônico. Repito: onde estão suas atas, Presidente Lula? Por que agora as está exigindo do governo bolivariano?

O líder brasileiro e seus assessores devem ter muito claro que o que está em jogo na Venezuela não é o veredicto eleitoral, mas a apropriação pelos Estados Unidos das imensas reservas de petróleo do país. É ingenuidade pensar que todos esses estilhaços dos assassinos contratados pela mídia se referem a alguns minutos ou a uma porcentagem de votos. “É o petróleo, estúpido”, parafraseando Bill Clinton. E a vontade de Washington de saquear não será apaziguada apenas com o roubo do petróleo venezuelano. Tome nota, Presidente Lula: eles também estão vindo para o pré-sal brasileiro, que com seus quase 14 bilhões de barris – nada comparado aos mais de 300 bilhões de barris que a Venezuela possui – ainda é um petisco que excita o apetite insaciável do império, e você verá como eles também tentarão se apoderar dessa riqueza que pertence a todos os brasileiros.

Não lhe parece coincidência que a 4ª Frota dos Estados Unidos, desativada desde 1950, tenha sido reativada em 2008, poucos meses depois de o senhor anunciar a descoberta do pré-sal, saudando-a como “a segunda independência do Brasil”? Não há coincidências no mundo da geopolítica, presidente. Mas para se apoderar do petróleo e do gás do Brasil, Washington precisa primeiro romper o bloco sul-americano e fomentar a inimizade entre o Brasil e a Venezuela, impedindo que esses dois grandes países atuem em conjunto e, assim, tornando-os indefesos diante do império. Eles estão prestes a fazer isso. Esperemos que o senhor consiga se libertar da extorsão a que o império o submete com seu exército de operadores, pseudojornalistas, diplomatas contratados e políticos venais que o atacam dia e noite e reconheça, de uma vez por todas, que Nicolás Maduro é o legítimo presidente da Venezuela e que as acusações da oposição são totalmente infundadas, como já foi provado em juízo. E, além disso, que seja elaborado sem demora um projeto conjunto no âmbito da Unasul para defender as enormes riquezas da América do Sul. Caso contrário, elas passarão para as mãos dos Estados Unidos por meio da Quarta Frota e do Comando Sul.


Breno Altman


As atas das eleições venezuelanas estão onde deveriam estar depois da tentativa golpista desencadeada pela extrema direita com apoio dos EUA: no Tribunal Supremo de Justiça, sendo verificadas e recontadas, para uma sentença definitiva nos próximos dias.



Fonte: Opera Mundi


 Jackson Hinkle


Os EUA têm 48 BILHÕES de barris de PETRÓLEO, avaliados em US$ 3,5 TRILHÕES.

A Venezuela tem 303 BILHÕES de barris de PETRÓLEO, avaliados em US$ 22,7 TRILHÕES (a maior parte do petróleo do mundo).

Agora você entende por que eles querem dar um GOLPE ao presidente Maduro?



Denis Rogatyuk


O que @elonmusk odeia ver...

Um mar de vermelho em Caracas hoje, marchando em defesa de #Venezuela e em apoio ao presidente @NicolasMaduro .



 COMBATE


Quer saber por que o governo dos EUA está indo atrás da Venezuela? Assista a este vídeo.



Geopolítica 01

Geopolítica 02


👉 Click Verdade - Jornal Missão 👈

 

Comentários Facebook