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sábado, 20 de abril de 2024

No Dia dos Povos Indígenas: (19/Abril ) Apib cobra ações contra o garimpo no território Munduruku


A incidência faz parte das ações do Abril Indígena e antecede o Acampamento Terra Livre 2024


Apib

No Dia Nacional dos Povos Indígenas (19/04) a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), por meio do seu departamento jurídico, protocolou uma manifestação no Supremo Tribunal Federal (STF), no qual cobra ações contra o garimpo no território Munduruku. O documento foi protocolado pela Apib na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 709.

A manifestação faz parte das ações do Abril Indígena e  antecede o Acampamento Terra Livre (ATL) 2024, que ocorrerá entre os dias 22 e 26 de abril em Brasília (DF). No documento a Apib cobra a realização de ações urgentes de comando e controle que busquem conter o garimpo nos territórios tradicionalmente ocupados pelo povo Munduruku.

A organização também pede ao STF que o Ministério da Saúde crie uma política nacional de saúde de pessoas afetadas pelo mercúrio e inclua uma série de contaminação humana por mercúrio no sistema DATASUS, além do protocolo para coleta de dados e alimentação do sistema.

As terras indígenas Munduruku estão entre as cinco terras com maior área de garimpo devastados pela atividade ilegal, conforme estudo do MapBiomas publicado em 2023. Porém, a presença do garimpo ilegal em terras Munduruku não é novidade. Em 2020, a TI Munduruku foi a segunda com maior registro de garimpo no Brasil. No ano seguinte a posição se manteve a mesma, mas com expressivo aumento da área garimpada, que subiu de 1.592 ha, em 20205, para 4.743 ha, em 2021.

“Vamos ao STF informar a situação de calamidade que os povos indígenas Munduruku vem vivenciando em seus territórios. Diversos estudos sinalizam que a contaminação pelo mercúrio tem começado a prejudicar toda saúde dos indígenas quanto da biodiversidade do território, tudo isso devido ao garimpo ilegal que tem operado dentro da terra indígena. Por esse motivo, dentro da manifestação a gente pede que diferentes instâncias do governo brasileiro tomem para si essa situação. O Brasil é signatário da Convenção de Minamata e o Ministério de Relações Exteriores precisa começar a implementar essa convenção e fazer dela uma ferramenta de combate ao garimpo”, afirma Maurício Terena, coordenador jurídico da Apib.

Veja a lista completa de pedidos da Apib:

1. Em regime de urgência, a realização de ações de comando e controle destinadas à contenção da atividade garimpeira nos territórios tradicionalmente ocupados pelo povo Munduruku;

2. Sejam o Ministério da Saúde e, especificamente, a SESAI, instados a se manifestarem sobre os dados aqui apresentados, bem como sobre o estágio de cumprimento das ações previstas no Plano Setorial de Implementação da Convenção de Minamata, particularmente em seu Eixo 4;

3. Manifesta-se o Ministério da Saúde sobre a criação de uma política nacional de saúde de pessoas afetadas pelo mercúrio.

4. O Ministério da Saúde seja instado a apresentar, em prazo razoável, alternativa qualificada – via SINAN ou novo sistema – para a inclusão de dados, incluída a série histórica, de contaminação humana por mercúrio no sistema DATASUS, bem como protocolo para coleta de dados e alimentação do sistema;

5. A determinação de inclusão, pela Secretaria do Meio Ambiente do

Estado do Pará, de dados conhecidos sobre as áreas de risco expostas ou potencialmente expostas a contaminantes químicos, notadamente em territórios indígenas, em razão de mineração, no Sistema de Informação de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Solo Contaminado (SISSOLO), do Ministério da Saúde, nos termos do recomendado pelo Ministério Público Federal na Recomendação no 2, de 08 de fevereiro de 2024;

6. Inste o Ministério das Relações Exteriores para que apresente plano de trabalho e qual a metodologia eleita para implementar a convenção de minamata no Brasil.

7. Inste o Ministério do Meio Ambiente para que apresente as medidas que estão sendo adotadas internamente no órgão para recuperar o território munduruku.

20 anos de Acampamento Terra Livre

Cerca de 5 mil indígenas de mais de 200 povos devem ocupar a Fundação Nacional de Artes (Funarte), em Brasília, no Acampamento Terra Livre 2024. A mobilização ocorre entre os dias 22 e 26 de abril e tem como tema principal “Nosso marco é ancestral. Sempre estivemos aqui!”, uma oposição à tese ao marco temporal.

A tese foi derrubada no Supremo Tribunal Federal (STF), porém legalizada por meio da lei 14.701/2023, considerada pela Apib como lei do genocídio e aprovada pela bancada anti-indígena do Congresso Nacional.

A programação do ATL, que este ano completa 20 anos de luta e resistência, irá relembrar a trajetória da mobilização e homenagear lideranças históricas do movimento indígena. A saúde mental, a luta das mulheres indígenas e o aldeamento da política brasileira também são temas que devem ser debatidos durante o acampamento.

Fazem parte da programação as marchas “#EmergênciaIndígena: Nossos Direitos não se negociam”, prevista para o dia 23 de abril às 9h. Além da marcha “Nosso marco é ancestral”. Sempre estivemos aqui” no dia 25, às 15h.

“Esse deve ser um dos maiores acampamentos. A expectativa é que o ATL 2024 seja o mais participativo de toda a história, tanto em número de pessoas, quanto de representatividade de povos. É o momento de nos unirmos nas assembleias e debater os próximos caminhos”, diz Kleber Karipuna, coordenador executivo da Apib.

No dia 22 de abril, a partir das 10h, a coordenação executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) irá receber a imprensa para uma coletiva sobre o ATL 2024. A coletiva irá ocorrer na tenda do cinema, dentro do Acampamento Terra Livre.

Jornalistas que desejam cobrir a mobilização devem se inscrever por meio do link:

Fonte: Apib



Povos Indígenas 01

Povos Indígenas 02


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quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Garimpeiros invadem o Rio Madeira com 300 balsas para extração de ouro em terras indígenas (vídeo)


Cerca de 300 balsas foram vistas às margens do Rio Madeira (AM) em direção a terras indígenas. Extração de minério é proibida na região


Balsas de garimpo são vistas no rio Madeira (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

247 - O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) está apurando denúncias de invasão do Rio Madeira, próximo à comunidade de Rosário, no município de Autazes, distante 113 quilômetros de Manaus, por garimpeiros. Em um vídeo publicado no Twitter, o perfil Fiscal do Ibama mostra cerca de 300 balsas e dragas descendo o rio em direção a terras indígenas para a extração ilegal de ouro. (veja o vídeo ao final da reportagem)

De acordo com reportagem do G1, as embarcações começaram a chegar ao local há cerca de 15 dias, quando surgiu a informação de que havia ouro na região.

O rio Madeira percorre cerca de 3.300 km desde sua nascente na Bolívia através da floresta no Brasil até desaguar no rio Amazonas.

As balsas de dragagem navegaram rio abaixo da área de Humaitá, onde houve um aumento na extração ilegal de ouro, e foram vistas pela última vez a cerca de 650 quilômetros de distância em Autazes, um município a sudeste de Manaus.

Em entrevista à Reuters, uma porta-voz do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) disse que a dragagem ilegal no rio Madeira não é responsabilidade do governo federal, mas do Estado do Amazonas e do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam).

O chefe do Ipaam, Juliano Valente, disse que seu órgão instruiu as forças de segurança estaduais a agirem, mas insistiu que o rio é de jurisdição federal e que a fiscalização cabe à Polícia Federal e à Agência Nacional de Mineração (ANM).

A Polícia Federal e a ANM não responderam de imediato a pedidos de comentário.

Em nota, o Ipaam afirma que além da extração ilegal outros crimes estão sendo cometidos. “Em atividades como a citada, pode haver outras possíveis ilegalidades que devem ser investigadas, tais como: mão de obra escrava; tráfico; contrabando; problemas com a Capitania dos Portos. E, ainda, de ordem econômica, social e fiscal, o que requer o envolvimento de diversas forças para um enfrentamento efetivo do problema”, lista o comunicado.

O texto informa, também, que atividades de exploração mineral naquela região não estão licenciadas, portanto, se existindo de fato, são irregulares.


Leia a nota na íntegra: 

O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) informa que tomou conhecimento das denúncias sobre a movimentação de dragas (balsas) de garimpo na região entre os municípios de Autazes e Nova Olinda do Norte, e que será feito um diagnóstico apurando a real situação no local.

O Ipaam informa, também, que atividades de exploração mineral naquela região não estão licenciadas, portanto, se existindo de fato, são irregulares.

Vale ressaltar que há competência de órgãos federais na referida situação, considerando a Lei Federal Complementar 140/201, que trata sobre as ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas.

O Instituto também destaca que, em atividades como a citada, pode haver outras possíveis ilegalidades que devem ser investigadas, tais como: mão de obra escrava; tráfico; contrabando; problemas com a Capitania dos Portos. E, ainda, de ordem econômica, social e fiscal, o que requer o envolvimento de diversas forças para um enfrentamento efetivo do problema.

Desta forma, o Ipaam está buscando informações, com intuito de planejar e realizar as devidas ações no âmbito de sua competência, integrado aos demais órgãos estaduais e federais.

Veja o vídeo: 



 UOL

As balsas equipadas com bombas de água são amarradas juntas em filas que quase atravessam o rio Madeira.

Assista ao VÍDEO


terça-feira, 12 de outubro de 2021

Bolsonaro é denunciado pela 7ª vez em Haia por destruir a Amazônia

 

Ecologistas, advogados e cientistas estrangeiros vão denunciar o presidente no Tribunal Penal Internacional nesta terça-feira (12/10)



O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) será denunciado nesta terça-feira (12/10) por crimes ambientais no Tribunal Penal Internacional (TPI), o órgão judiciário da Organização das Nações Unidas (ONU). Essa é a sétima denúncia contra Bolsonaro que se conhece no TPI.

“O presidente brasileiro Jair Bolsonaro está governando um sistemático e difundido ataque à Amazônia. Suas ações nos ameaçam a todos”, diz o texto do grupo All Rise, cujo lema é “O planeta contra Bolsonaro”.

De acordo com o colunista Jamil Chade, do UOL, a denúncia tem 300 páginas, das quais 200 são de argumentos legais e cem outras com dados científicos.

A ação da entidade dedicada a litígios ambientais é apoiada por sir Howard Morrison, juiz da Corte Penal Internacional entre 2011 e 2021, e Nema Milaninia, que trabalhou previamente como advogada de Defesa para o Ministério Público na Corte Penal Internacional.

O caso será apresentado nesta terça-feira à procuradoria da Corte, com sede em Haia. Na primeira etapa, a procuradoria vai avaliar se a denúncia é válida, antes de abrir um processo preliminar de investigação.

O caso é apresentado às vésperas da cúpula do Clima, em Glasgow, na Escócia. Na COP 26, que ocorre entre 31 de outubro e 12 de novembro, o Brasil deverá ser cobrado pela comunidade internacional para dar garantias de que adotará medidas para reduzir emissões e o desmatamento.

Bolsonaro durante abertura da 74º assembleia geral da Nações Unidas, em 2019


Outras denúncias

É a sétima denúncia que o presidente Bolsonaro enfrenta no Tribunal de Haia. Três dizem respeito ao combate à pandemia e a quarta aborda direitos das populações indígenas. Só no ano de 2020, o chefe do Executivo brasileiro foi denunciado três vezes por genocídio em razão da gestão diante da pandemia do coronavírus.

Em janeiro deste ano, o presidente brasileiro foi denunciado por crimes ambientais pelos caciques Raoni Metuktire e Almir Suruí.

A denúncia citava recordes de desmatamento desde o início do governo Bolsonaro, recorde também de assassinatos de lideranças indígenas em 2019 e descreve o desmantelamento de agências responsáveis pela proteção ambiental.

Fonte: Metrópoles


UOL

Bolsonaro é denunciado Haia por desmatamento na Amazônia; 'fez prova contra si mesmo', diz Josias

Ambientalistas, ex-juízes e cientistas devem apresentar hoje um denúncia contra o presidente no Tribunal Penal de Haia por crimes contra a humanidade e a destruição da Amazônia. No UOL News, o colunista Josias de Souza fala sobre a política ambiental do presidente Jair Bolsonaro, que, para ele, já "começa errada" e vê que há elementos contra o presidente: "Fez prova contra si mesmo"

Assista ao VÍDEO



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quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Bolsonaro mente e distorce dados em discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU


Em Nova Iorque, presidente brasileiro falou por 13 minutos sobre temas como meio ambiente, indígenas e pandemia



O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) distorceu dados e mentiu durante discurso na 76ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira (21).

Após chamar atenção ao circular por Nova Iorque sem estar vacinado, o chefe de Estado brasileiro declarou oficialmente na abertura do evento que "os recursos para fiscalização, nos órgãos ambientais, foram dobrados. E os resultados já começam a aparecer.”

Em abril, o governo aprovou corte de 24% no orçamento do meio ambiente para 2021 em relação ao ano passado.

Leia também: Oito mentiras e uma verdade contadas por Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU

Bolsonaro também mentiu sobre dados de desmatamento na Amazônia em agosto. Ele falou em 32% de redução em relação ao mesmo mês de 2020. Segundo o Imazon, houve aumento de 7%, um recorde desde 2012.

“Nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa quanto a nossa. Nossa agricultura é sustentável e de baixo carbono", afirmou o presidente brasileiro. Bolsonaro acrescentou que “indígenas desejam utilizar suas terras para agricultura e outras atividades.”

O discurso reforçou a polarização política interna, mentindo que as manifestações pró-governo do último dia 7 foram "as maiores da história do país."

“Estávamos à beira do socialismo. Apresento agora um novo Brasil, com credibilidade reconhecida em todo o mundo”, disse o presidente. Em seguida, mentiu mais uma vez, dizendo que não houve nenhum caso de corrupção em seu governo – apesar de todos os indícios levantados pela CPI da Covid.

Sobre a pandemia, ele disse que sempre defendeu "combater o vírus e o desemprego com a mesma responsabilidade."

Para o capitão reformado, “as medidas de lockdown deixaram um legado de inflação”, e as pessoas foram "obrigadas a ficar em casa" por prefeitos e governadores.

Bolsonaro foi obrigado a usar máscara nas dependências do prédio / John Minchillo / POOL / AFP

O discurso durou, ao todo, 13 minutos.

Jair Bolsonaro valorizou os números da vacinação no Brasil, embora nunca tenha feito um pronunciamento incentivando os cidadãos a se imunizarem. 

"Fiz tratamento inicial [contra a covid]. Nosso governo é contra a vacinação obrigatória", ressaltou.

“Meu governo recuperou a credibilidade, e hoje o Brasil se apresenta como um dos melhores destinos para investimentos”, disse ainda o capitão reformado, citando os programas de concessão e privatização no setor de infraestrutura.

Edição: Anelize Moreira

Fonte: Brasil de Fato


Brasil de Fato

7 mentiras de Jair Bolsonaro na ONU

A reportagem do Brasil de Fato selecionou as principais informações falsas do pronunciamento do presidente brasileiro na manhã desta terça (21) em discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.

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sábado, 11 de setembro de 2021

Mulheres indígenas fazem ato em Brasília contra 'marco temporal'

 

De acordo com os organizadores, o grupo é formado por mulheres indígenas de 172 povos de diversas regiões do país


Fotos de Hugo Barreto para o Metrópoles

247 - Mulheres indígenas foram a Brasília (DF) fazer uma marcha, na manhã desta sexta-feira (10), para pedir por "mais direitos" aos povos originários e protestar contra o chamado "marco temporal", em julgamento no no Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com os organizadores, o grupo é formado por mulheres indígenas de 172 povos de diversas regiões do país.

O grupo deixou a sede do acampamento, na Funarte, às 9h, e saiu em marcha pelo Eixo Monumental e pela via W3 Sul, que foi interditada pela Polícia Militar por causa do ato, segundo o portal G1

O ato estava previsto para ocorrer nesta quinta-feira, mas a marcha foi adiada em consequência das manifestações golpistas que vinham acontecendo na Esplanada dos Ministérios desde o dia 7 de setembro.

Um dos projetos do Marco Temporal é o PL nº490/2007. Segundo a proposta, os índios só podem fazer reivindicação da demarcação de terras que eles já tinham ocupado até a promulgação da Constituição de 1988, em 5 de outubro.

Outra proposta, o PL nº191/2020, libera a exploração das terras indígenas por projetos de infraestrutura e mineração. O PL nº 3.729/2004, flexibiliza o licenciamento ambiental de obras e empreendimentos.

O PL nº 510/2021 permite a legalização de terras públicas invadidas até 2014 e a titulação de áreas consideradas latifúndios. Também anistia o crime de invasão de terra pública para quem ocupou entre o final de 2011 e 2014. Por meio do PL nº 4843/2019, a iniciativa privada pode ter a apropriação de terras destinadas à reforma agrária e a titulação de áreas consideradas latifúndios.


Mídia NINJA

A Luta histórica das Mulheres Indígenas em Brasília

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sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Cacique Raoni recebe prêmio em congresso mundial de conservação, em Marselha, na França


Honraria é concedida a cada quatro anos em reconhecimento por serviços à natureza; presidente francês saudou brasileiro


Cacique Raoni: 90 anos de vida e uma vida em defesa da natureza - Ricardo Stuckert

Ropni Metyktire, mais conhecido como Cacique Raoni, liderança mundialmente conhecida do povo indígena Kayapó, recebeu o título de Membro Honorário da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). O anúncio foi feito na última quarta-feira (8) durante a programação do Congresso Mundial da União, que acontece em Marselha, na França, até 11 de setembro, quando se celebra, no Brasil, o Dia Nacional do Cerrado. 

Na cerimônia de abertura do evento internacional, o presidente francês Emmanuel Macron saudou o premiado ao lado do ator Harrisson Ford e do fotógrafo Sebastião Salgado.


Instituto Sociedade, População e Natureza - ISPN

Cacique Raoni: Membro Honorário da IUCN

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A honra é concedida a cada quatro anos como reconhecimento pelo excepcional serviço para a conservação da natureza e dos recursos naturais. Cacique Raoni foi homenageado ao lado de outras três personalidades: o ornitólogo de Fiji Richard John Watling, o ambientalista libanês Assad Serhal, e a cientista britânica Jane Goodall, cuja contribuição revolucionou a compreensão sobre a relação entre primatas e humanos.

A indicação de Cacique Raoni ao prêmio foi feita pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), com intenção de ampliar o conhecimento sobre a grande contribuição da liderança para o equilíbrio climático global. 

:: Raoni é indicado para membro de maior entidade de conservação ambiental do mundo :: 

“Indicamos Raoni como representante da importância dos Povos Indígenas e das Comunidades Tradicionais para a conservação da natureza”, comenta Fabio Vaz, coordenador-geral do ISPN. Vaz destaca que essa importância foi reiterada recentemente em um estudo publicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

“Achamos que a contribuição histórica do Cacique Raoni nas lutas pela conservação da natureza e na defesa dos direitos indígenas foi, e continua sendo, fundamental para o campo socioambientalista”, parabeniza o coordenador. 

Como forma de agradecimento, a liderança Kayapó, que habita uma região de transição entre Amazônia e Cerrado, no estado do Mato Grosso, enviou sua mensagem pedindo o fim da guerra contra indígenas e o fim do desmatamento. 

"Não quero que a guerra volte entre nós. Eu só quero que convivamos em paz", diz Raoni na gravação. Ela lembra que seus antepassados chegaram primeiro na região das Américas e que os colonizadores europeus retiraram todas as riquezas dos povo originários.

"Eu não gosto de coisa ruim de verdade. O que é ruim? Ameaça. Vocês, brancos, se matam. Desmatam a floresta, que é algo ruim. Isso é ruim para nós indígenas. Para vocês, brancos, isso é bom", prossegue o cacique. 

Ele conclui pedindo um basta na destruição da floresta e dos recursos naturais. "Por isso que eu digo: 'me ouçam!'. Parem com isso, para que possamos conviver em paz. Esse é o meu trabalho. Muito obrigado".

::Atacado pelo presidente na ONU, cacique Raoni defende: "Bolsonaro tem que sair"::


Quem é Raoni?

Aos 91 anos, Cacique Raoni coleciona uma trajetória de resistência em busca da paz. Nacionalmente, teve destaque na década de 1970, quando liderou protestos contra a construção da BR-080 (hoje MT-322) em defesa da demarcação da TI Capoto Jarina. Em 1987 e 1988, teve protagonismo, ao lado de outras lideranças indígenas, na garantia dos direitos dos povos indígenas na Constituição Federal.

Politicamente, ao longo dos anos, reuniu-se com líderes políticos para visibilizar a causa indígena. Lutou contra a Usina de Belo Monte e, em 2020, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz (saiba mais). Neste ano de 2021, contraiu covid-19, chegou a ser internado, mas se recuperou e segue uma inspiração para todas as pessoas que lutam pela conservação ambiental em todo o mundo.

Edição: Vinícius Segalla

Fonte: Brasil de Fato


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Greta Thunberg responsabiliza governo Bolsonaro por destruição da Amazônia

 

"A Amazônia, os pulmões do mundo, agora está no limite e emitindo mais carbono do que consumindo por causa do desmatamento e das queimadas. Isso está acontecendo enquanto nós assistimos, isso está sendo diretamente alimentado pelo governo", disse a ativista sueca


Ativista ambiental sueca Greta Thunberg, em pronunciamento via videoconferência. (Foto: Pedro França/Agência Senado)

247A ativista sueca Greta Thunberg voltou a responsabilizar o governo brasileiro pela destruição da Amazônia. "O Brasil não tem desculpas para assumir sua responsabilidade. A Amazônia, os pulmões do mundo, agora está no limite e emitindo mais carbono do que consumindo por causa do desmatamento e das queimadas. Isso está acontecendo enquanto nós assistimos, isso está sendo diretamente alimentado pelo governo. O mundo não pode arcar com o custo de perder a Amazônia", disse a ambientalista sem citar o nome de Jair Bolsonaro, de acordo com o jornal Folha de S. Paulo

A declaração de Greta foi feita durante uma audiência pública realizada pela Comissão de Meio Ambiente do Senado nesta sexta-feira (10). Ela também qualificou como “vergonhosas” as atitudes  das lideranças nacionais em relação aos povos originários e ressaltou que "esses acontecimentos no Brasil têm colocado em risco essa população e a própria Floresta Amazônica". 


TV Senado

Senadores debatem nesta sexta-feira o Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, também conhecido como relatório do IPCC. Foram convidados especialistas internacionais e a ativista ambiental sueca Greta Thunberg participa do evento. O documento destaca o aquecimento global de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais e o aumento da emissão de gases de efeito estufa. Os resultados do IPCC vão ser avaliados sob o ponto de vista do impacto e das recomendações para o Brasil.

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quarta-feira, 8 de setembro de 2021

"Vim para rua porque o fascismo está aí": o que moveu os ativistas de esquerda no 7 de setembro


Grito pelo "Fora, Bolsonaro" unifica manifestantes de diferentes perfis que compareceram ao protesto na capital paulista


Brasil de Fato
 

Neste 7 de setembro, Dia da Independência, o ato contrário ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido) no Vale do Anhangabaú, em São Paulo (SP), reuniu 50 mil pessoas, segundo estimativa dos organizadores.

A capital paulista foi uma das cerca de 200 cidades do Brasil e do Exterior que tiveram protestos unificados com o histórico Grito dos Excluídos e Excluídas contra o governo federal e pela democracia. 

::"Fora, Bolsonaro" e Grito dos Excluídos mobilizam 200 cidades contra a fome e pela democracia::

O Brasil de Fato circulou pelo Anhangabaú e ouviu manifestantes com diferentes perfis. Seja pela fome, pela falta de moradia digna ou pelo receio de uma ofensiva antidemocrática, todos carregavam, em comum, a palavra de ordem "Fora, Bolsonaro". 

Maria Arapoty, 55 anos

"Cada ano que passa fica pior. Precisa proteger os espíritos das árvores" / Thais Haliski

Maria Arapoty é uma dos 60 moradores da aldeia do Jaraguá, do povo Guarani, localizada na zona oeste de São Paulo.

“A gente pensa que esse governo Bolsonaro precisar deixar a gente viver em paz em nosso território. Estamos sendo atacados. Precisa proteger a natureza", afirmou, ao justificar sua presença no ato,

Sentindo na pele os efeitos da política anti-indígena de Bolsonaro, ela percorreu 25 quilômetros para participar do protesto.   

"Nós queremos a demarcação do nosso território. As florestas e a mata atlântica precisam ser protegidas. Só existe natureza onde tem povo indígena", defendeu.

Silmara Silva, 45 anos

“Vim para a gente conseguir mudar a situação do país" / Thais Haliski

Aos 45 anos, Silmara vive com cerca de 2.000 famílias na ocupação Nova Canudos, em Taipas, zona norte de São Paulo. O local reúne moradores que, sem emprego e renda, não têm dinheiro para pagar por moradia na cidade mais cara do país. 

"Hoje tem mais pessoas nas ocupações do que antes desse governo. As pessoas não têm dinheiro para comprar comida, quanto mais pagar aluguel. Vim porque precisamos mudar essa situação", afirma. 

Wilson Raimundo Rodrigues, 72 anos

"Vamos ter que lutar mais, ser mais radicais" / Thais Haliski

A idade não foi impeditivo para Wilson se juntar à multidão no centro de São Paulo. Vacinado e de máscara, ele opinou que é responsabilidade da população frear as ameaças golpistas de Bolsonaro. 

“Espero que essa manifestação seja uma demonstração no Brasil contra a tentativa de uma ditadura bolsonarista. Eu acho que tem pouca gente aqui, tem que aumentar", cobrou. 

"Vamos ter que lutar mais, ser mais radical contra esse poder que tá tentando acabar com o Brasil", finaliza o aposentado. 

Felipe Rozini, 30 anos

"Hoje demonstramos que também temos poder" / Thais Haliski

Com o antifascismo estampado no rosto, Felipe saiu de casa por acreditar na importância dos atos populares para conter a onda antidemocrática capitaneada por bolsonaristas.     

“Já está demonstrado que o fascismo está aí. Do outro lado, eles querem violência. Nós temos que estar preparados. Particularmente acho vantajoso fazer atos. Mostra que tem gente vem se opondo, demonstra união. Precisamos de uma frente ampla", opina. 

Luzia Paula Cantal, 54 anos

"As manifestação são movimentos democráticos" / Thais Haliski

Luzia é uma das advogadas que compunha o grupo de observadores da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) responsável por prevenir violações de direitos humanos cometidas por militares e civis durante o protesto na capital paulista. 

“A minha expectativa é de que a população de forma pacífica e democrática demonstre suas insatisfações. As manifestação são movimentos democráticos. É um direito pleno. Seja de que partido for", afirmou. 

"Não vejo como uma ato negativo aqui ou na (avenida) Paulista (onde se concentraram manifestantes em apoio ao presidente), desde que, como pautas democráticas, que não ferem a Constituição".


Ameaças bolsonaristas não se concretizaram

A OAB avaliou que a expectativa de violência contra a população e de atos de ruptura institucional por parte de apoiadores do governo federal, anunciadas publicamente nos dias anteriores ao 7 de setembro, não se concretizou.  

“Todas as ameaças que nós havíamos recebido, compartilhadas nas redes sociais por policiais militares incitando colegas à comparecem na manifestação armados, diante de tudo isso, acho que realmente os atos correram de forma tranquila e pacífica", avaliou Ana Amélia Mascarenhas, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP.

“Sem adentrar ao mérito dos absurdos contra o estado democrático e de direito que faz parte dos discursos do presidente, a Policia Militar de São Paulo teve organização suficiente para impedir tumultos e atos de violência na manifestação que abarcava pautas contrárias ao estado democrático e de direito, na avenida Paulista", afirmou a advogada, que também é professora do curso de Direito da

 PUC-SP. 


Atos pelo Brasil

Veja, abaixo, imagens dos atos progressistas neste 7 de setembro em todo o país.


 

 


Fonte: Brasil de Fato


 Mídia NINJA

7 de Setembro foi o Grito dos Excluídos em todo o Brasil

Assista ao VÍDEO


sexta-feira, 3 de setembro de 2021

“O AGRONEGÓCIO E A DÍVIDA PÚBLICA”, POR MARIA LUCIA FATTORELLI


Muita propaganda é feita sobre o volume de recursos movimentados pelo grande agronegócio voltado à exportação de commodities (mercadorias cotadas na Bolsa de Valores de Chicago), porém, poucos prestam atenção no caminho desse dinheiro e seu reflexo perverso às contas públicas.



Preliminarmente, é preciso lembrar que enquanto se comemora recordes de safras e de exportação de commodities[1], mais da metade da população brasileira se encontra em situação de insegurança alimentar[ii]. Esse paradoxo mostra claramente que o grande agronegócio de exportação não tem relação com a alimentação do povo brasileiro: é um grande negócio! O que de fato alimenta a população é a pequena agricultura familiar, que tem recebido pouca ou nenhuma atenção dos sucessivos governos, enquanto o grande agronegócio recebe quase toda a verba pública destinada à Agricultura, além de subsídios tributários e creditícios, com acesso a empréstimos subsidiados, investimentos em infraestrutura etc.


O Agronegócio não contribui para o financiamento do Estado

A análise dos orçamentos públicos de todas as esferas – federal, estadual e municipal – mostra que a participação do agronegócio no financiamento do Estado é negativa, devido às inúmeras isenções e subsídios, incentivos fiscais etc. de tal maneira que os tributos arrecadados do setor são próximos de zero[iii].

Além de pouco contribuir para o financiamento do Estado, o rombo provocado pelo agronegócio às contas públicas e a toda a sociedade é imenso. O custo decorrente do dano ambiental brutal que tem sido causado pelo desmatamento desenfreado para a contínua expansão do agronegócio, desrespeitando territórios de povos originários e reservas ecológicas; o uso abusivo de água; as graves consequências da contaminação pelo uso excessivo de agrotóxicos, e a exploração da classe trabalhadora, inclusive com inúmeras denúncias de trabalho escravo, estão entre os diversos fatores a serem quantificados para se calcular a dívida ecológica gerada pelo agronegócio no Brasil.

Ora, se o imenso volume de dinheiro movimentado pelo setor não é refletido nos orçamentos públicos, quem está se beneficiando do agronegócio de exportação? Os grandes latifundiários do agronegócio e as grandes empresas nacionais e internacionais (trading companies), que comercializam e financiam tanto o agronegócio como a bancada de políticos que garantem os privilégios do setor na legislação do país, por exemplo: BRFoods, Monsanto, Seara, Bunge, Raizen, Tereos, Phillip Morris, Souza Cruz, Amaggi, Basf, Bayer, Yara, Suzano, Klabin, Rabobank, Santander[iv]. Assim, esses grandes grupos econômicos é que se beneficiam dos vultosos lucros do grande agronegócio.


Divisas do Agronegócio e Dívida Externa ilegítima

Alguns podem estar questionando: mas o agronegócio de exportação traz divisas para o país! Sem dúvida, porém, é preciso analisar os dados e o caminho do dinheiro para verificar se esse ingresso de divisas de fato beneficia o país, e quem está ganhando com isso.

A moeda estrangeira advinda das exportações de commodities ingressa no país por meio do Banco Central (a partir de 1964, quando foi criado) e é trocada por moeda nacional, que é entregue ao latifundiário do agronegócio. Assim, o latifundiário recebe todo o dinheiro das exportações, enquanto a moeda estrangeira fica em poder do Banco Central, que a tem utilizado principalmente para pagar dívida externa ilegítima, como evidenciado no gráfico seguinte, além de pagamento de importações (muitas delas destinadas ao próprio agronegócio) e remessas de lucros ao exterior.

No período de 1970 a 1989, quando se verificou aumento exponencial da dívida externa ilegítima e, consequentemente, elevação do volume de pagamento de juros ao exterior, o crescimento das exportações (que compreendiam principalmente as commodities) serviu para que o país obtivesse os dólares necessários a esse pagamento, conforme mostra a relação direta, em correlação que atinge 85% na comparação entre as exportações e as remessas de juros ao exterior:


Fonte: https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/Documents/Tabelas_especiais/BalPagAbpm5.xls – Aba “Balanço 1”, Linhas 7 (“Exportação de bens”) e 113 (“Juros Pagos”).

Nessas duas décadas (1970-1989), a maior parte do período sob ditadura civil-militar que contou com grande apoio da elite do agronegócio[v], o país foi duplamente pilhado: (1) a dívida externa possuía inúmeras inconsistências e indícios de ilegalidades, ilegitimidades e até fraudes; e (2) o ingresso de divisas advindas das exportações se consumiam nos pagamentos dessa dívida ilegítima.

As inúmeras inconsistências e indícios de ilegalidades, ilegitimidades e até fraudes da dívida externa no período (1970-1989) estão documentadas em investigações feitas pelo Congresso Nacional na década de 80 e pela CPI da Dívida realizada na Câmara dos Deputados em 2009/2010[vi]. Dentre as inconsistências sobressai a falta de comprovação documental da maior parte de seu estoque, que explodiu no período. Na década de 80, o Brasil se tornou exportador de capitais ao exterior, em grandes volumes durante toda a década, sem que recebesse um centavo em dinheiro novo, e, apesar disso, a dívida externa seguiu crescendo. Além da alta unilateral das taxas de juros internacionais pelos próprios bancos credores que controlavam o FED[vii] e a associação de bancos de Londres, outra causa relevante da explosão do estoque da dívida de forma ilegítima decorre do fato de o Banco Central ter assumido o papel de devedor das dívidas externas tanto do setor privado (aí incluídos bancos e empresas transnacionais) como do setor público junto a bancos privados internacionais. Essa parte da dívida externa assumida pelo Banco Central correspondia à maior parte da dívida externa brasileira e era identificada nas estatísticas como “Empréstimos em Moeda”, para não mostrar que os bancos internacionais eram, disparadamente, os mais relevantes credores internacionais do país, como mostra o gráfico seguinte:


É fundamental compreender o processo histórico ilegítimo da dívida externa, porque toda aquela dívida externa obscura da ditadura (sem comprovação da maior parte de seu estoque, como mostrou a CPI) foi transferida, juntamente com dívidas do setor privado, para a responsabilidade do Banco Central na década de 80, e, na década de 90, apesar de graves suspeitas de prescrição dessa dívida externa junto a bancos privados internacionais, ela foi transformada em novos títulos, no questionável Plano Brady. E a partir daí, além da aceitação desses títulos Brady como moeda na insana privatização de empresas estatais, houve sucessivas transformações em dívida interna, de tal forma que essa dívida ilegítima vem impactando as contas públicas até hoje, e durante todos esses anos, a sangria de recursos para pagamento de juros tem sido imensa.

Por sua vez, os recursos advindos das exportações se consumiam principalmente em pagamentos de juros dessa dívida externa ilegítima, que seguia crescendo sem contrapartida ao país, ao mesmo tempo em que os grandes latifundiários privados se beneficiam das receitas de exportação de commodities e seus lucros, pois recebiam integralmente a receita de exportação convertida em moeda nacional. Cabe lembrar que a partir de 1964, junto com a criação do Banco Central foram criadas as ORTN, títulos públicos que passaram a garantir a atualização monetária automática do capital, às custas do orçamento público e de geração de dívida pública interna.


Agronegócio e Dívida Interna ilegítima

Na década de 90, logo após o questionável Plano Brady que trocou a dívida representada por aqueles questionáveis contratos do Banco Central por novos títulos da dívida externa e, em seguida, em dívida interna, novos mecanismos financeiros entraram em funcionamento[viii], provocando a explosão da dívida interna – mais uma vez – sem contrapartida ao país, como já declarado inclusive pelo Tribunal de Contas da União[ix].

Muitos desses mecanismos que provocaram a elevação da dívida interna têm relação com o agronegócio. Por exemplo: quando o Banco Central troca a moeda internacional por moeda nacional, essa moeda nacional é aplicada pelos latifundiários em instituições financeiras e, imediatamente, entra em ação o mecanismo de “enxugamento de liquidez” operado pelo Banco Central. Inicialmente, até a edição da chamada Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000), o Banco Central utilizava títulos próprios. Em seguida, o Banco Central passou a usar as “Operações Compromissadas” que utilizam títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional[x]. Recentemente foi aprovada a figura dos “Depósitos Voluntários Remunerados”[xi] (Lei 14.185/2021). Todos esses mecanismos têm funcionamento semelhante: o Banco Central troca o dinheiro (da sociedade) depositado nos bancos por títulos públicos que rendem juros aos bancos. Os danos desse mecanismo são imensos, pois ele provoca escassez de moeda e incentiva os bancos a cobrarem elevadíssimas taxas de juros de mercado, além de provocar rombo aos cofres públicos e aumento da dívida pública.

A desculpa usada pelo BC para esse nocivo “enxugamento” de moeda é falsa, como se o “excesso de moeda em circulação” provocasse inflação, sendo que no Brasil a inflação tem outras razões completamente distintas do alegado: decorre do aumento abusivo dos preços administrados (combustíveis, energia, transportes etc.) e da alta dos preços de alimentos, devido à política agrícola e agrária que favorece o agronegócio de exportação, descuida de estoques reguladores de alimentos e não estabelece uma política séria de segurança alimentar.

A tabela seguinte mostra o expressivo aumento percentual de preços de alguns dos itens que mais impactaram no índice geral de inflação IPCA calculado pelo IBGE para os últimos 12 meses, até julho/2021:


As commodities que mais impactaram no índice de inflação – carnes, óleo diesel, gasolina, arroz, etanol e óleo de soja – coincidem com os campeões de exportação, como revela recente notícia Brasil registra recorde de exportações para o mês de julho[xii], que menciona “Ainda segundo o subsecretário, é possível observar aquecimento de quase todos os setores, especialmente nos combustíveis, carnes, soja e celulose.”

Isso ocorre porque o grande latifundiário exportador, apesar das inúmeras vantagens e privilégios que recebe no país, age como o negociante que é e prefere lucrar com as vendas ao exterior, com o dólar em alta, do que garantir alimento para o povo brasileiro. Não se importa nem com a pandemia e aplica aqui o preço que ganharia lá fora.

Dessa forma, a inflação de preço de alimentos, que afeta drasticamente a vida do povo brasileiro, tem sido também um dos principais fatores para o cálculo da inflação geral, com reflexos nocivos sobre a política monetária e a dívida pública, tendo em vista que o Banco Central usa a desculpa da inflação alta para aumentar a taxa básica de juros Selic[xiii] e isso aumenta a dívida pública, além de travar toda a economia do país[xiv].

Na verdade, a inflação de alimentos decorre do modelo primário-exportador, e não de um suposto “excesso de moeda” ou “demanda aquecida”, como alega o Banco Central para justificar o lesivo aumento de juros. Por sua vez, os juros altos amarram toda a economia e dificultam cada vez mais a sobrevivência das pequenas e médias empresas, assim como das indústrias, empurrando o país para a reprimarização dos tempos coloniais, como evidenciam os dados do IBGE retratados em gráfico divulgado pelo Poder360[xv]


Benefício em cima de benefício para o Agronegócio: você paga a conta

Quando a cotação do dólar está muito baixa, o volume de moeda nacional obtido na conversão também fica reduzido e, ainda que podendo aplicar em títulos da dívida interna e ganhar seus elevados juros, os ganhos não seriam tão vantajosos para o exportador como aguardar a valorização do Real.

Desde 2004 o dólar vinha caindo, razão pela qual em 2006 foi editada a Lei 11.371/2006, que permitiu ao Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelecer o percentual das receitas de exportação que poderia permanecer no exterior. Inicialmente, foi estabelecido que o patamar de até 30% das receitas de exportação poderia ficar lá fora, ficando o exportador obrigado a internalizar 70%[xvi].

Em 2008, a cotação do dólar ainda estava bem baixa: R$1,7 por 1 dólar. Nessa circunstância, o CMN[xvii] expediu norma que passou a permitir ao exportador deixar até 100% de suas receitas de exportação no exterior, pelo tempo que desejar, o que fez com que o dólar parasse de entrar no país, pois todo mundo já sabia que a valorização do real viria em breve[xviii].

Assim, o agronegócio se aproveita da situação cambial favorável a ele para aumentar ainda mais os seus lucros, ingressando grandes volumes de dólares quando lhe é conveniente, e, devido à política monetária suicida praticada pelo Banco Central, isso faz aumentar o estoque da dívida pública e o gasto público[xix] com o pagamento dos elevados juros incidentes sobre essa dívida que não tem contrapartida alguma.

Você vai pagar essa conta, porque a dívida pública elevada tem servido para justificar privatizações insanas de patrimônio público, contrarreformas (como as diversas reformas da Previdência e a Administrativa), além de medidas de ajuste fiscal que prejudicam a coletividade (EC 95, EC 109, entre outras).


Agronegócio e mais Dívida Interna ilegítima: o escandaloso SWAP

O grande agronegócio de exportação tem relação também com os questionáveis contratos de swap, que em diversos anos provocaram vultosos prejuízos ao Banco Central e que, de acordo com o Art. 7º da chamada Lei de Responsabilidade Fiscal, são transferidos ao Tesouro Nacional e cobertos por mais emissão de títulos da dívida pública. Essas operações de swap já foram objeto de questionamento inclusive pelo Tribunal de Contas da União em importante Representação[xx], cujo trecho a seguir menciona explicitamente o reflexo da alta dos preços das commodities e seu reflexo sobre os preços internos:

Entretanto, a política monetária, utilizada para garantir a estabilidade da moeda, acaba sendo indiretamente influenciada pelos efeitos da política cambial.
4.11. Quando a cotação da moeda estrangeira sobe, diversos efeitos econômicos são sentidos. A balança comercial tende a ficar superavitária, ou menos deficitária, os produtos importados, por encarecerem, acabam abrindo espaço para o aumento dos produtos nacionais concorrentes ou encarecerem o custo de produção de produtos nacionais que os utilizem, os preços de commodities, negociados no exterior, por valorizarem-se, acabam elevando os preços no mercado interno, e diversos outros efeitos que já são suficientes para demonstrar o impacto inflacionário de uma desvalorização cambial.

A política monetária suicida do BC (que inclui aumento dos juros, remuneração da sobra de caixa dos bancos e questionáveis contratos de swap) entra em cena e impacta no aumento da dívida pública e do gasto público não só quando os latifundiários ingressam seus dólares no país, mas também quando aumentam os preços dos seus produtos, impactando na inflação calculada no país, que é usada também para justificar elevação das taxas de juros, como estamos assistindo em 2021, quando o BC já subiu os juros 4 vezes, como antes comentado, e anuncia novas altas.

Com o dólar alto, latifundiários preferem vender seus produtos no exterior e elevam o preço praticado internamente de forma desvinculada do custo efetivo, apenas visando lucro, sacrificando a população brasileira e impactando na inflação que favorece os rentistas.


Conclusão

O grande agronegócio de exportação e o Sistema da Dívida (geração de dívida pública sem contrapartida) estão relacionados em vários aspectos, como abordado neste artigo. Ambos fazem parte do modelo econômico[xxi] injusto que atua no Brasil, o qual produz escassez para a imensa maioria da população brasileira.

A responsabilidade das autoridades econômicas do país é imensa e precisa ser interrompida, pois o volume de títulos da dívida pública federal interna entregues pelo Tesouro Nacional (TN) ao Banco Central (BC) já chegou a R$ 2 trilhões de reais, sendo que, além de doar esses títulos ao BC, o TN ainda paga juros ao BC sobre esses títulos doados: o custo desses títulos e juros somou quase R$3 trilhões em 10 anos[xxii]. O BC usa a maior parte desses títulos nas chamadas “Operações Compromissadas”, que na prática corresponde à remuneração da sobra de caixa dos bancos, gerando dívida pública sem contrapartida alguma.

Tanto as receitas de exportação internalizadas, como as aplicações financeiras dos grandes latifundiários do agronegócio compõem essa denominada “sobra de caixa” dos bancos. Adicionalmente, a inflação de alimentos (causada pelo modelo agroexportador) tem sido usada como falsa justificativa pelo Banco Central para aumentar a taxa de juros e para retirar moeda de circulação (por meio das “Operações Compromissadas” e “Depósitos Voluntários Remunerados”), provocando assim o consequente aumento da dívida pública e o gasto excessivo com juros, sacrificando todos os investimentos nas áreas sociais e investimentos de interesse da coletividade.

Grandes bancos e investidores são os principais beneficiários deste “Sistema da Dívida”, que leva todo ano cerca de 40% de todo o orçamento federal[xxiii]. Apesar disso, o estoque dessa chamada dívida pública continua crescendo, a pobreza e a desigualdade social aumentam, o lucro dos bancos bate sucessivos recordes históricos, e o atraso socioeconômico do país se agrava.

A imprensa anuncia os recordes de safras e de exportações, mas tudo isso tem beneficiado somente os grandes latifundiários do agronegócio e as trading companies, pois o nosso povo passa fome, no país da abundância! Esse modelo é inaceitável sob todos os aspectos, por isso, É HORA de VIRAR o JOGO[xxiv] .


[1] https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2021/01/04/exportacoes-de-commodities-do-brasil-em-2020-tem-recordes-que-vao-do-petroleo-ao-cafe.ghtml

[i] Coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida e membro da Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), organismo da CNBB

[ii] https://exame.com/brasil/pela-1a-vez-em-17-anos-mais-de-50-nao-tem-seguranca-alimentar-no-brasil/

[iii] https://monitormercantil.com.br/agronegocio-paga-imposto/

[iv] https://agroefogo.org.br/o-agronegocio-e-o-estado-brasileiro-quem-lucra-quando-a-boiada-passa/

[v] https://www.scielo.br/j/es/a/j8xVHFMTVm9xZjcWLpYSQJy/?lang=pt&format=pdf

[vi] https://auditoriacidada.org.br/conteudo/analise-preliminar-no-5-divida-externa-analise-elaborada-para-prestar-assessoria-a-cpi-da-divida-publica-instalada-na-camara-dos-deputados-2009-2010/

[vii] Federal Reserve Bank (FED) é o Banco Central Estadunidense, que é privado e controlado pelos principais bancos nos EUA.

[viii] Para que tem servido a dívida pública no Brasil. Ver: palestra em Audiência Pública CAE/Senado  https://bit.ly/36AbwLJ , Artigo https://bit.ly/39ITU24 , LIVE https://bit.ly/3dwIxvP

[ix] https://auditoriacidada.org.br/video/tcu-afirma-que-divida-nao-serviu-para-investimento-no-pais/

[x] Ver os capítulos da novela ‘Assalto aos Cofres Públicos”, que explica o funcionamento das “Operações Compromissadas” e seus imensos danos à economia do país: https://auditoriacidada.org.br/conteudo/assalto-aos-cofres-publicos-pl-3-877-2020-pl-9-248-2017-plp-19-2019-e-plp-112-2019/

[xi] https://auditoriacidada.org.br/conteudo/deposito-voluntario-remunerado-e-bolsa-banqueiro-sem-limite-e-sem-causa/

[xii] https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2021/08/4941319-brasil-registra-recorde-de-exportacoes-para-o-mes-de-julho.html

[xiii] https://auditoriacidada.org.br/conteudo/banco-central-autonomo-aumenta-a-taxa-selic-pela-quarta-vez-seguida-e-da-mais-r-71-bilhoes-de-juros-por-ano-para-os-rentistas/

[xiv] https://auditoriacidada.org.br/conteudo/monitor-mercantil-banco-central-dispara-a-selic-e-aprofunda-a-crise-fabricada-por-maria-lucia-fattorelli/

[xv] https://www.poder360.com.br/economia/industria-perde-participacao-no-pib/

[xvi] https://oglobo.globo.com/economia/mantega-dolar-esta-derretendo-problema-precisa-ser-enfrentado-3624024

[xvii] https://www.bcb.gov.br/rex/LegCE/Port/Ftp/Medidas_Simplificacao_Area_de_Cambio.pdf  , pág. 5.

[xviii] Ver por exemplo https://www.seudinheiro.com/2018/mercados/estrangeiro-fecha-2018-com-aposta-na-valorizacao-do-real/

[xix] Esse fato ocorreu em 2010 por exemplo https://auditoriacidada.org.br/alta-de-juros-atrai-enxurrada-de-dolares-para-o-pais/ , entre outros.

[xx] https://auditoriacidada.org.br/conteudo/rrepresentacao-tcu-contra-swap/

[xxi] https://auditoriacidada.org.br/conteudo/sistema-da-divida-publica-desafios-e-superacao-do-modelo-atual-por-maria-lucia-fattorelli/

[xxii] https://auditoriacidada.org.br/conteudo/tesouro-gastou-quase-r-3-trilhoes-com-o-banco-central/

[xxiii] Ver https://auditoriacidada.org.br/conteudo/gastos-com-a-divida-publica-cresceram-33-em-2020/

[xxiv] https://auditoriacidada.org.br/e-hora-de-virar-o-jogo/


Fonte: Auditoria Cidadã da Dívida


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