Trabalhadores que receberam dinheiro, no interior de SP, dizem que o pagamento era feito por uma grande empresa de equipamentos agrícolas, que nega. No entanto, deputado bolsonarista mostrou carreata organizada pela companhia
Imagem: Redes sociais
Um grupo de trabalhadores aparece em um vídeo que circula
pelas redes sociais recebendo dinheiro de um homem vestido com uma camiseta dos
atos golpistas promovidos por Jair Bolsonaro nesta terça-feira (7). Nas
imagens, gravadas dentro de um ônibus, eles comentam sobre quem seria o
responsável pelos pagamentos e pela iniciativa da excursão à Avenida Paulista,
parodiando uma música do programa Sílvio Santos, famoso por distribuir
dinheiro.
“Grupo Jacto vem aí… Nishimura vem aí… Olha isso, cara. Eu
achei que era brincadeira. Uma camiseta para cada um, mais o ônibus, mais R$
100 para alimentação. Esse é o nosso grupo Jacto de Pompeia. Deus abençoe.
Heróis, mano”, cantam, enquanto o homem que detém os valores entrega uma nota
de para cada participante da caravana.
O nome de origem japonesa a quem se referem os envolvidos no
vídeo seria o do empresário Jorge Nishimura, presidente da empresa Jacto, que
produz equipamentos agrícolas, além de atuar em vários outros segmentos,
segundo o site da companhia, sediada em Pompeia (SP).
Horas depois, na página da Jacto na internet, um comunicado
negava a organização da caravana, sob a justificativa de que a empresa não se
envolve em assuntos políticos.
“O Grupo Jacto informa que não patrocinou o envio de
manifestantes para eventos de 7 de setembro. A empresa não apoia candidatos ou
partidos políticos de nenhuma corrente doutrinária, seja na esfera federal,
estadual ou municipal”, diz a nota.
No entanto, uma publicação do deputado estadual paulista
Frederico d’Ávila (PSL), de maio deste ano, mostra que a família Nishimura e a
Máquinas Agrícolas Jacto S/A realizou uma carreata em Pompeia em defesa de Jair
Bolsonaro, contrariando a versão oficial divulgada nesta tarde.
Siga o dinheiro. Em vídeo que circula hoje gravado dentro de um ônibus rumo à manifestação é possível ver homens distribuindo camisas e R$ 100,00 para quem fosse participar dos atos em defesa do presidente. Quem financiou esses atos?#ForaBolsonaro#7SForaBolsonaropic.twitter.com/P4eBiRdUks
Em São Paulo uma caminhonete estacionou na entrada destinada às autoridades e distribuiu placas prontas. Até as manifestações do bolsonarismo são fakes!
Enquanto esteve na orla, foi tietado por apoiadores
do governo federal que pediram por fotos e registros do encontro com o Fabrício
- apontado pelo Ministério Público como operador de um esquema de desvio de
dinheiro público na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Junto ao bolsonarista estava o deputado federal Otoni de
Paula (PSL-RJ) - que recentemente foi alvo de buscas expedido pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), investigado por incitar atos violentos e
antidemocráticos.
Bandido de estimação Fabrício Queiroz, apontado pelo MP como operador do esquema de "rachadinhas" no gabinete de Flávio Bolsonaro, hoje foi tietado por bolsonaristas no Rio de Janeiro.#ForaBolsonaropic.twitter.com/Auz2pD9V8w
Patriotas abraçam e festejam Queiroz, o homem no centro do escândalo do peculato da Família Bolsonaro. Do esconderijo em Atibaia para os braços dos homens de bem. pic.twitter.com/OFuLZejKHd
Apoiadora convicta de Jair
Bolsonaro (sem partido), a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP)
decidiu apagar cinco tweets em que mencionava a vacina Covaxin, cujo processo
de importação é investigado pela CPI da Covid por suspeitas de irregularidades
e superfaturamento.
Quem trouxe à tona a informação foi o projeto 7c0, que
monitora mensagens apagadas de políticos com cargos públicos. Em uma publicação
do dia 3 de março, Zambelli anunciava que o governo Bolsonaro havia comprado
“20 milhões de doses da Covaxin”.
“URGENTE: Vacina indiana Covaxin tem 81% de eficácia, afirma
a fabricante @BharatBiotech. O Governo Bolsonaro comprou 20 milhões de doses da
Covaxin, além de ter garantido 42 milhões via consórcio…”, dizia o tweet.
URGENTE: Vacina indiana Covaxin tem 81% de eficácia, afirma a fabricante @BharatBiotech!🇮🇳🤝🇧🇷
O Governo Bolsonaro comprou 20 milhões de doses da Covaxin, além de ter garantido 42 milhões via consórci...
Em outra postagem, a deputada bolsonarista destacava a
autorização da Anvisa dada para importação excepcional da Covaxin, além da
russa Sputnik V. Ou seja, Carla Zambelli tinha informações de todos os trâmites
que envolveram a compra da vacina indiana.
Em depoimento à CPI da Covid na sexta-feira, o deputado
federal Luís Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde
Luis Ricardo Miranda, afirmaram que denunciaram pessoalmente a Bolsonaro
suspeitas de irregularidades na compra da Covaxin.
Caso isso seja confirmado, Bolsonaro pode ter cometido crime
de prevaricação. Saiba o que é.
Cena ridícula
Na última segunda-feira, 21, Bolsonaro esteve em
Guaratinguetá, São Paulo, e uma cena fez com que Carla Zambelli passasse a
maior vergonha na web.
Ao ver Bolsonaro retirar a máscara e mandar uma repórter
“calar a boca”, a deputada seguiu o presidente e também retirou o equipamento
de proteção contra a covid-19, em claro sinal de subserviência a ele. Zambelli
virou meme nas redes sociais. Assista aqui.
A Secretaria da Segurança Pública de São
Paulo informou que foram gastos mais de R$ 1,2 milhão com o
reforço no policiamento para a motociata com o presidente Jair Bolsonaro realizada
neste sábado, 12, na capital paulista e região de Jundiaí.
Policiais das três forças de segurança estaduais foram convocados para garantir
a segurança do presidente e a fluidez no trânsito.
Dos mais de 6,3 mil policiais escalados, 1.433 atuaram
exclusivamente nas medidas relacionadas ao deslocamento dos manifestantes ao
longo dos 129 km do trajeto. Foram empregados policiais de batalhões territoriais
e especializados, como Baep, Choque, Trânsito, Rodoviária e Comando de Aviação
da PM, Canil, além de equipes do Corpo de Bombeiros e do Resgate.
A operação contou ainda com dedicação exclusiva de 5 aeronaves, 10 drones e aproximadamente 600 viaturas, entre motos, carros, bases comunitárias móveis e unidades especiais. Todo ato foi monitorado pelo sistema Olho de Águia, por meio de câmeras fixas, móveis, motolink e bodycams.
A manifestação custou ainda R$ 75,2 mil à Prefeitura de São Paulo, que contratou a empresa SPTuris para arcar com custos de organização do evento. O recurso foi desembolsado a pedido do secretário de Esportes, Thiago Milhim, que ocupa cota do Podemos no governo montado no começo do ano pela gestão Covas. Planilha de custos obtida pelo Estadão mostra que os recursos públicos pagaram a instalação de banheiros químicos, gradis para separação de público, geradores elétricos e som, além de seguranças.
O governo paulista autuou o presidente Bolsonaro, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o deputado Coronel Tadeu e o ministro Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia, por não terem usado máscara na manifestação.
A multa de R$ 552,71 que, acertadamente, o Centro de
Vigilância Sanitária de São Paulo deu a Jair Bolsonaro, neste sábado (12), por
ignorar o uso de máscara, foi um ato civilizatório. Mas o arrecadado com a
infração não faz nem cócegas considerando os R$ 1,2 milhão que os contribuintes
do estado tiveram que desembolsar para garantir policiamento extra para que o
presidente da República pudesse fazer seu passeio de moto com milhares de
apoiadores.
Crédito: Reprodução/Youtube “Quem está falando ‘fora, Bolsonaro’ deveria ir de jegue”,
disse presidente a apoiadores e tripulação
No aeroporto de Vitória, o presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) visitou um avião antes da decolagem para
cumprimentar apoiadores e a equipe de voo. Um grupo que tinha embarcado se
manifestou contra o chefe do executivo, gritando “fora, Bolsonaro” e
“genocida”.
“‘Fora, Bolsonaro’ tem que estar viajando de jegue, não de
avião É ou não é?”, questionou o presidente. “Para ser solidário ao candidato
deles”, conclui.
Abaixo, assista a um dos vídeos:
Bolsonaro foi vaiado nesse voo. Se fosse você no mesmo avião que ele, faria igual? pic.twitter.com/U97vmF20QZ
A comitiva presidencial chegou ao Espírito Santo para a
cerimônia de entrega do Residencial Solar São Mateus, em São Mateus (ES), com o
ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, o deputado federal
Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o ex-senador Magno Malta (PL-ES).
Na saída do aeroporto, Maria Clara Gama, de 27 anos, que
fazia um protesto sozinha contra a gestão do governo federal durante a crise da
pandemia do coronavírus, foi hostilizada por bolsonaristas. Ela foi
xingada de “lixo” e de “vagabunda”.
Ela sozinha. Sozinha na frente de fanáticos. Em silêncio. O cartaz gritava por todos nós. A cena é de uma coragem estonteante. Assistam ao vídeo no @MidiaNINJApic.twitter.com/PFHJ6Ww06z
O presidente Jair Bolsonaro foi vaiado e xingado nesta
sexta-feira (11) quando entrou em um avião para cumprimentar passageiros no
aeroporto de Vitória, no Espírito Santo. Bolsonaro respondeu aos ataques:
"Quem fala 'Fora Bolsonaro' tinha que estar viajando de jegue e não de
avião".
Antigo partido de Bolsonaro recebeu R$ 92 milhões do
orçamento secreto. "Coube à liderança fazer a triagem", conta
Júnior Bozella (Divulgação)
O deputado federal Júnior Bozzella (PSL-SP), que rompeu com
o presidente Jair Bolsonaro após a saída do mandatário do partido, em 2019,
confirmou em entrevista à revista Crusoé o
esquema de cooptação de parlamentares por meio do “orçamento paralelo” do
governo. Ele conta que Bolsonaro usava o esquema para negociar com
parlamentares em diferentes votações.
O antigo partido do presidente, o PSL, recebeu sozinho R$ 92
milhões, a maior parte destinada a bolsonaristas. A liderança do PSL fez
contato com meu chefe de gabinete para pedir para fazermos os apontamentos, as
indicações. Coube à liderança fazer a triagem com base na nossa relação
política com prefeitos, com quem a gente tem ligação”, contou Bozzella.
“Perguntaram quem a gente queria contemplar. Igual com as
emendas impositivas. Os técnicos da liderança falaram: ‘Olha, tenho aqui um
recurso para indicar para a base’. A liderança do partido liga no gabinete e
fala que pode fazer a indicação, é assim. Fui um dos menos contemplados. Os
governistas é que foram realmente beneficiados”, completou o deputado.
Bozzella conta ainda que as negociações variam dependendo da
votação em curso no Congresso. “O que a gente escuta é que cada caso tem um
acordo específico. Numa determinada votação, liberação de ‘x’ milhões para
aquela votação. A última que teve foi por causa do auxílio emergencial. Aí teve
mais um quantitativo para a eleição do Arthur [Lira, presidente da Câmara]”,
relata.
O deputado afirmou que o governo Bolsonaro é o “mais corrupto da história do Brasil” e que “o mensalão, se comparado a isso, foi ‘barato’ para o povo brasileiro”.
Reinaldo Azevedo: Bolsolão é a maior compra de votos do
Congresso da história - 21 de mai. de 2021
A área técnica do TCU vai investigar a forma com que o Ministério do Desenvolvimento Regional e a Codevasf usaram R$ 3 bilhões das emendas do relator-geral do Orçamento de 2020 em contratos com empresas privadas. Reinaldo Azevedo comenta as apurações.
Confissão no Bolsolão? Dep. Junior Bozzella, vice-presidente do PSL, falou à @RevistaCrusoe sobre distribuição de 92 milhões ao PSL via orçamento paralelo. "Este é o governo mais corrupto da História" diz ele ao explicar compra de apoio. Bozzella está listado no bolsolão. CPI JÁ!
A parlamentar teria contratado em janeiro empresa para
gerenciar conta do Telegram “VotoImpressoAuditável”
A deputada federal Bia Kicis
(PSL-DF) gastou cerca de R$ 12,5 mil da verba parlamentar em campanhas
virtuais pelo voto impresso. A parlamentar é autora da PEC 135 de 2019 e já foi até consagrada pelo
presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como “mãe” da pauta.
De acordo com informações reveladas pelo jornal O Globo, Kicis teria contratado em janeiro, por R$ 2
mil mensais, a Inovatum Tecnologia da Informação para gerenciar a conta do
Telegram “VotoImpressoAuditável”.
A partir de dezembro, a presidente da Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara também desembolsou cerca de R$ 4,5 mil
para que a Gohawk Tecnologia da Informação criasse uma página para o cadastro
de simpatizantes do voto impresso e acesso ao grupo “VotoImpressoAuditável”.
No grupo do Telegram, são veiculados ”memes” e piadas com o
intuito de desacreditar o processo eleitoral legal e a eficácia da urna
eletrônica. O grupo foi criado no dia 7 de abril e tem 125 mil pessoas, entre
elas parlamentares que são simpatizantes da proposta.
Reinaldo Azevedo: O inconstitucional voto impresso de Bia
Kicis só serviria às milícias - 19 de abr. de 2021
A deputada Bia Kicis, presidente da CCJ, disse que vai criar
uma comissão especial para discutir uma PEC dela mesma, sobre voto impresso nas
eleições. Reinaldo Azevedo afirma que o voto impresso serve para a milícia
controlar o pleito.
Levantamento revela estrutura do grupo que aconselhava o
presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia
Ex-assessor da presidência da República, o advogado Arthur
Weintraub deu indicações em discurso no Palácio do Planalto e em lives nas
redes sociais que coordenou um grupo de aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia.
Segundo Weintraub, esse grupo teria defendido a eficácia da cloroquina para
tratar a Covid-19 — o medicamento não tem comprovação científica para esse fim.
Em 14 de agosto de 2020, Weintraub discursou em um evento no
Palácio do Planalto e disse: “Eu, a partir de fevereiro [de 2020], como
assessor do presidente, então é uma oportunidade que me foi dada pelo
presidente, eu comecei a entrar em contato com os médicos. Os médicos que tenho
referência, como o doutor Luciano Azevedo, a doutora Nise [Yamagushi], o Paulo
Zanotto”. Os três nomes citados se notabilizaram pela defesa do tratamento
precoce contra a Covid-19.
No mesmo evento, o anestesiologista Luciano Dias Azevedo
agradeceu: “Gostaria de agradecer ao Arthur Weintraub porque desde o início de
fevereiro ele nos procurou, começou unir os grupos de médicos para estudar a
doença e pesquisar soluções. Senhor Arthur abriu portas”.
Em live veiculada em 12 de abril de 2020, Weintraub também
falou sobre o assunto com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP): “Seu
pai virou pra mim e disse: ô magrelo, você que é porra louca, vai lá e estuda
isso daí. Ai comecei a ler artigo científico, artigo que o pessoal começa a
soltar. Esses caras me mandando, o Luciano Dias Azevedo, Paulo Zanotto, e falei
pra ele [Bolsonaro]: cloroquina tá funcionando, já tem resultado. Passei pra
ele os estudos, ele lê. Eu passo no zap e depois ta impresso na mesa dele”.
Exclusivo 🚨 Vídeos levantam suspeita de que Arthur Weintraub, ex-assessor presidencial, teria - sob orientação de Jair Bolsonaro - coordenado o “ministério paralelo” da saúde em 2020. À época, Arthur defendeu a mudança na bula da Cloroquina citada na #CPIdaCovid
Em abril do mesmo ano, respondendo às críticas por seu
envolvimento em assuntos médicos, Arthur disse considerar que poderia “dirigir
a OMS”. Arthur é o irmão mais novo do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub
e hoje atua como um dos representantes do Brasil na Organização dos Estados
Americanos (OEA).
BRASÍLIA – Primeiro a ser interrogado pela CPI da
Covid, o ex-ministro da Saúde Luiz
Henrique Mandetta disse nesta terça-feira, 4, ter sido chamado no
Palácio do Planalto para tratar sobre incluir na bula da cloroquina a
recomendação para tratar covid-19. O medicamento, propagandeado pelo
presidente Jair Bolsonaro como solução para a doença, é
usado para contra malária, artrite reumatoide e lúpus, mas não há comprovação
científica de que tenha efeito contra o novo coronavírus.
O ex-ministro, demitido em 16 de abril de 2020, narrou ter
sido chamado às pressas para uma reunião no terceiro andar do Palácio do
Planalto, onde fica o gabinete presidencial, na qual outros integrantes da
equipe e médicos convidados discutiam mudar a bula por meio de decreto. Na
versão de Mandetta, o presidente da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, teria
barrado a ideia.
“Era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma
reunião de vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina
que eu nunca havia conhecido. Ele (Bolsonaro) tinha um assessoramento
paralelo. Nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não timbrado de
decreto presidencial para que fosse sugerido naquela reunião que se mudasse a
bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação da para
coronavírus”, afirmou. “O presidente da Anvisa disse que não. Jorge Ramos (na
verdade Jorge Oliveira, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência)
disse que era uma sugestão. Uma sugestão de alguém que se deu trabalho de
colocar aquilo em formato de decreto.”
Em outro momento, Mandetta afirmou não ter dado qualquer
orientação sobre aumentar a produção de cloroquina nos laboratórios do
Exército. A medida foi tomada pelo governo no ano passado, quando alguns
médicos passaram a recomendar o medicamento para tratar a doença com base em
alguns casos, mas sem embasamento em estudos científicos.
“A única orientação sobre cloroquina que partiu do
Ministério foi sobre o uso compassivo, ou seja, quando não há outro recurso,
para pacientes graves em ambiente hospitalar. A cloroquina tem margem de
segurança estreita. Ela tem uma série de reações adversas e cuidados que devem
ser feitos. Poderia ser perigoso para as pessoas”, afirmou.
No depoimento, o ex-ministro afirmou que filhos políticos de
Bolsonaro acompanhavam reuniões ministeriais que tratavam do enfrentamento ao
vírus e atrapalharam a relação com a China, principal fornecedora de insumos.
Segundo o ex-ministro, o vereador Carlos
Bolsonaro (Republicanos-RJ) participava de reuniões ministeriais
tomando notas. E os demais, o deputado Eduardo
Bolsonaro (PSL-SP) e o senador Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ), chegaram a barrar uma reunião
presencial com o embaixador da China no Planalto.
“O outro filho do presidente, Eduardo (Bolsonaro),
tinha rotas de colisão com a China. Um dia estavam os três filhos do presidente
(no Palácio do Planalto). E disse a eles que precisava conversar com o
embaixador da China. E ele disse que ‘aqui não’. Acabei fazendo por telefone.
Havia dificuldade de superar essas questões”, relatou.
Aos senadores, Mandetta afirmou que a postura de Bolsonaro
na pandemia contribuiu para o agravamento da crise e para o aumento do número
de mortes.“Se a postura teve um impacto? Sim. Em tempos de pandemia, tem que
ter unidade, fala única. O raciocínio não é individual, o vírus ataca a
sociedade como um todo. Ataca a economia, o esporte, o lazer”, disse, em
resposta ao senador Randolfe
Rodrigues (Rede-AP).
Ainda no começo de seu depoimento, Mandetta descreveu o
comportamento errático de Bolsonaro: durante algumas reuniões, o presidente
dizia concordar com as orientações do Ministério da Saúde e da Organização
Mundial de Saúde (OMS). Mas, em seguida, fazia declarações públicas defendendo
tratamentos e estratégias que não foram corroboradas pela evidência científica,
como o uso da cloroquina e o chamado “isolamento vertical”. Este último é a
ideia de manter em isolamento apenas pessoas idosas ou com comorbidades,
liberando as demais para transitar normalmente.
“Eu imagino que ele (Bolsonaro) construiu,
fora do Ministério da Saúde, alguns aconselhamentos que o levaram para estas
tomadas de decisões que ele as teve. Mas não saberia lhe nominar cada uma
delas”, completou Mandetta.
Precisamos de explicações sobre as intenções do governo de mudar bula da Cloroquina para que remédio fosse indicado para coronavírus! #CPIdaPandemiapic.twitter.com/R2owLtSYQZ
Grampos sugerem que comparsas do miliciano Adriano da
Nóbrega recorreram a Bolsonaro
Diálogos transcritos de grampos telefônicos sugerem que o
presidente Jair Bolsonaro foi contactado por integrantes da rede de proteção do
ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, chefe da milícia Escritório do Crime. As
conversas fazem parte de um relatório da Subsecretaria de Inteligência da
Secretaria de Polícia Civil do Rio elaborado a partir das quebras de sigilo
telefônico e telemático de suspeitos de ajudar o miliciano nos 383 dias em que
circulou foragido pelo país.
Logo após a morte do miliciano, cúmplices de Adriano da
Nóbrega fizeram contato com “Jair”, “HNI (PRESIDENTE)” e “cara da casa de
vidro”. Para fontes do Ministério Público do Rio de Janeiro ouvidos na condição
de anonimato, o conjunto de circunstâncias permite concluir que os nomes são
referências ao presidente Jair Bolsonaro. “O cara da casa de vidro” seria uma
referência aos palácios do Planalto, sede do Executivo federal, e da Alvorada,
a residência oficial do presidente, ambos com fachada inteiramente de vidro.
Após as citações, o Ministério Público Estadual pediu que a
justiça encerrasse as escutas dos envolvidos nas conversas, apesar de eles
seguirem trocando informações sobre as atividades ilegais de Adriano da
Nóbrega. A interrupção reforça a ideia de que trata-se do mesmo Jair que
hoje ocupa o Planalto. O MP estadual não pode investigar o presidente da
República. Em casos deste tipo, tem a obrigação constitucional de encerrar a
investigação e encaminhar o processo à Procuradoria Geral da República, que tem
esse poder. Questionada, a PGR informou que buscas nos sistemas da Procuradoria
por meio do número de processo indicado não retornaram resultados. Uma fonte
ouvida pela reportagem que conhece o sistema da PGR, no entanto, entende que
isso pode significar tanto que o processo foi encaminhado com outro número
quanto que ainda não foi encaminhado ou mesmo que a procuradoria apenas não o
encontrou em seus arquivos.
O Intercept já havia reportado sobre as
escutas em fevereiro,
quando mostramos como Adriano dizia que “se fodia” por ser amigo do presidente
da República, e em março, quando detalhamos a briga pelo espólio
deixado pelo ex-caveira. As referências a “Jair” e “cara da casa de vidro”
constam em novos documentos recebidos pela reportagem, que, em conjunto com as
escutas anteriores, permitem entender a amplitude das relações do miliciano e
da rede que lhe deu apoio no período em que passou foragido.
Adriano da Nóbrega fugia da justiça desde janeiro de 2019,
quando o Ministério Público do Rio pediu a sua prisão, acusando-o de chefiar a
milícia Escritório do Crime, especializada em assassinatos por encomenda.
Ex-integrante da elite do batalhão de elite da Polícia Militar do Rio, ele foi
expulso da corporação em 2014 por relações com a máfia do jogo do bicho.
As conversas de apoiadores do miliciano com supostas
referências ao presidente começaram a aparecer nos grampos a partir do dia
da morte de Adriano, em 9 de fevereiro de 2020, e continuaram por mais 11
dias. No dia 9 pela manhã, o miliciano foi cercado por policiais do Rio e
da Bahia, quando se escondia no sítio do vereador Gilson Batista Lima Neto, o
Gilsinho de Dedé, do PSL, em Esplanada, cidade a 170 quilômetros de Salvador.
Segundo os agentes, o miliciano reagiu a tiros à ordem de se render. Os
policiais reagiram e mataram Adriano com dois tiros.
‘Cara da casa de vidro’
De acordo com as transcrições, a primeira ligação
supostamente feita ao presidente aparece no dia 9 de fevereiro de 2020 à noite,
horas depois que Adriano foi morto. Ronaldo Cesar, o Grande, identificado pela
investigação como um dos elos entre os negócios legais e ilegais do miliciano,
diz a uma mulher não identificada (MNI, no jargão policial) que ligaria para o
“cara da casa de vidro”. No telefonema, demonstra preocupação com pendências
financeiras e diz que alertou Adriano que “iria acontecer algo ruim”. Ele fala
ainda que quer saber “como vai ser o mês que vem” e que a “parte do cara tem
que ir”.
Identificado pela polícia como ele entre os negócios legais
e ilegais do miliciano, Grande diz que vai “ligar para o cara da Casa de
Vidro”. Imagem: Reprodução/MPRJ
Quatro dias após a morte de Adriano, em 13 de fevereiro de
2020, Grande fala com um homem supostamente não identificado (HNI), que tem ao
lado, entre parênteses, a descrição “PRESIDENTE” em letras maiúsculas, e relata
problemas com a família de Adriano devido à divisão de bens. O interlocutor se
coloca à disposição caso ele venha a ter algum problema futuro. Apenas duas
frases do diálogo de 5 minutos e 25 segundos foram transcritas.
Polícia identifica interlocutor que conversa com comparsa de
Adriano como “PRESIDENTE”. Imagem: Reprodução/MPRJ
No mesmo dia 13, o nome “Jair” aparece em conversas de
outros comparsas de Adriano – o pecuarista Leandro Abreu Guimarães e sua
mulher, Ana Gabriela Nunes. O casal, segundo as investigações, escondeu Adriano
da Nóbrega numa fazenda da família nos arredores de Esplanada após ele ter
conseguido escapar ao cerco policial a uma luxuosa casa de praia na Costa do
Sauípe, no litoral baiano, em 31 de janeiro de 2020.
Num dos diálogos, de pouco mais de cinco minutos, Ana
Gabriela relata a uma interlocutora identificada apenas como “Nina” que “a
polícia retornou com o promotor” a sua casa e que não pretende voltar para lá
por causa dos jornalistas. Na sequência, diz: “Leandro está querendo falar com
Jair”.
Após a morte do miliciano, Ana Gabriela diz a uma
interlocutora identificada apenas como Nina que o esposo, Leandro Guimarães,
quer falar com Jair, numa possível referência ao presidente.
Imagem: Reprodução/MPRJ
Leandro Guimarães é descrito pelos policiais como um
vaqueiro premiado, que ganha a vida organizando e participando de rodeios. Foi
num desses eventos que o ex-capitão comprou 22
cavalos de raça mesmo estando foragido da justiça.
Minutos depois, Ana Gabriela faz outra ligação. O telefonema
iniciou às 8h50 e terminou às 8h51. No campo de comentários, o documento sugere
que o diálogo aconteceu entre Gabriela e Jair. A conversa, contudo, não é
transcrita na íntegra. Os analistas apenas reproduzem a mesma frase destacada
anteriormente: “Gabriela diz que Leandro quer falar com Jair”.
No campo de comentários, o documento sugere que o diálogo
aconteceu entre Ana Gabriela e Jair. Imagem: Reprodução/MPRJ
Logo após os episódios, o analista da Polícia Civil sugere
que não sejam renovados os grampos do casal. O mesmo acontece com Grande, que,
pelo teor dos telefonemas, segue tratando dos negócios de Adriano da Nóbrega e
chega a ser chamado de “chefe” em uma das interceptações. O Ministério Público
Estadual do Rio, que não tem atribuição para investigar suspeitas sobre o
presidente da República, aceitou a recomendação. O mesmo procedimento já havia
sido adotado depois que Orelha e a irmã de Adriano citaram
Bolsonaro em seus telefonemas, como mostramos em fevereiro no Intercept.
Questionamos o Ministério Público Estadual sobre o porquê
das escutas dos suspeitas terem sido encerradas após as menções ao “homem da
casa de vidro”, a “Jair” e “HNI (PRESIDENTE)” e, sobretudo, se a instituição
remeteu à Procuradoria-Geral da República as suspeitas da ligação dos suspeitos
com o presidente Jair Bolsonaro. Não recebemos nenhum retorno até a publicação
desta reportagem.
Por favor, preste atenção: esta reportagem faz parte de uma
série de matérias baseadas nas escutas que o MP realizou enquanto investigava o
miliciano Adriano da Nóbrega. Apesar das escutas, o processo foi paralisado.
Ele voltou a andar depois que começamos a investigar. O Intercept quer
continuar contando essa história porque ela pode mudar os rumos do país.
Precisamos da ajuda dos nossos leitores para isso. → Clique e contribua com qualquer valor.
‘Muito fiscalizado’
O nome do presidente já havia sido citado anteriormente em
diálogos da irmã de Adriano, Tatiana da Nóbrega, e do sargento da PM Luiz
Carlos Felipe Martins, o Orelha, um dos homens de confiança do miliciano, como
revelou o Intercept
em março. Ao dizer a um interlocutor não identificado que “Adriano falava
que se fodia por ser amigo do presidente da República”, Orelha acendeu a luz
amarela entre policiais e promotores envolvidos na perseguição ao ex-capitão.
“Essa luz passou a piscar vermelha no decorrer da análise das escutas e
transcrição das conversas dos suspeitos de proteger o miliciano foragido
enquanto o cerco se fechava”, me disse um dos envolvidos na investigação sob a
condição de anonimato.
Para os investigadores, o conteúdo das novas transcrições
sugere que a amizade entre o miliciano e o presidente não seria mera bravata
entre os seus comparsas. Os Bolsonaro têm uma relação antiga com o ex-caveira.
Em 2005, enquanto estava preso preventivamente pelo assassinato de um guardador
de carros, Adriano foi condecorado pelo então deputado estadual Flávio
Bolsonaro com a medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia
Legislativa do Rio, a Alerj. Uma semana após a morte do miliciano, em 15 de
fevereiro de 2020, o presidente Bolsonaro o chamou de “herói”
e afirmou que recomendou pessoalmente que o filho desse a medalha ao
então policial. Flávio ainda empregou
a mãe e a ex-mulher de Adriano em seu gabinete na Alerj, situação hoje
investigada no inquérito
das Rachadinhas.
Embora o ex-capitão usasse uma identidade falsa em nome de
Marco Antônio Cano Negreiros, trechos das transcrições das quebras de sigilo
mostram que todos os suspeitos ligados à rede de proteção de Adriano da Nóbrega
sabiam que ele era foragido.
Em um diálogo captado em 7 de fevereiro, dois dias antes da
operação que resultou na morte do ex-capitão, Ana Gabriela diz à mãe que não
pode dar maiores explicações por telefone. A mãe então pergunta: “o rapaz está
aí com você?” Ela reage com nervosismo e desconversa: “Não adianta que não vou
dizer onde o rapaz está. Ele está em Esplanada com o Leandro”. A mãe insiste e
acrescenta: “Graças a Deus que vocês não estavam na Costa do Sauípe. Esse rapaz
não poderia estar por aqui. Ele está sendo muito fiscalizado”, concluiu.
Trecho de uma conversa entre Ana Gabriela e a mãe em que ela
diz que o “rapaz”, que a polícia entende ser Adriano, está em Esplanada (BA)
com o marido. Imagem: Reprodução/MPRJ
Antes de se refugiar no sítio do vereador Gilsinho de Dedé,
em que acabou sendo morto, e na fazenda do casal Leandro e Gabriela, o
ex-oficial do Bope contou ainda com a ajuda de uma prima e de outro fazendeiro
da região. As escutas dão a entender que a veterinária Juliana Magalhães da
Rocha, que trabalhava como tratadora dos cavalos e das cabeças de gado do
miliciano, chegou a alugar um carro que foi usado na fuga do ex-capitão do
litoral baiano para o interior do estado. Já o fazendeiro Eduardo Serafim, proprietário
de um rancho em Itabaianinha, na divisa de Sergipe com a Bahia, abrigou parte
dos animais do chefe do Escritório do Crime.
É na fazenda de Serafim que ficavam os 22 cavalos de raça
comprados por Adriano. Nas transcrições, a polícia sugere que Adriano ou a
atual esposa Julia Lotufo visitaram o local. Imagem: Reprodução/MPRJ
Mesmo com provas robustas de que ajudaram Adriano na fuga,
nem o casal Leandro e Gabriela, nem o vereador Gilsinho, a veterinária Juliana
ou o fazendeiro Serafim foram denunciados à justiça pelo MP do Rio. Procurada
pela reportagem, a instituição não explicou porque preferiu deixá-los de fora
da denúncia.
Uma investigação pegando poeira
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado,
o Gaeco, do MP do Rio, levou 406 dias para denunciar parte da rede de apoio ao
miliciano. A operação Gárgula foi posta em prática após o Intercept ter
revelado a disputa em torno dos bens do miliciano, em 19 de fevereiro deste
ano. No mesmo dia da publicação da reportagem, o MP denunciou à 1ª Vara
Criminal Especializada do Tribunal de Justiça nove dos 32 suspeitos.
Apesar das evidências de que a mãe de Adriano, suas irmãs
Tatiana e a sua ex-mulher também se beneficiaram do dinheiro ilegal acumulado
pelo miliciano, o MP optou por levar à justiça apenas a então companheira do
miliciano, Júlia Lotufo, e os policiais militares Rodrigo Bittencourt Rego e
Orelha. Os três tiveram as prisões decretadas a pedido dos promotores.
No dia seguinte ao pedido de prisão, Orelha sofreu uma
emboscada em frente de sua casa, em Realengo, na zona oeste do Rio e foi
morto a tiros de fuzil. Dois dias depois, o coordenador do Gaeco,
promotor Bruno Gangoni, aventou a possibilidade de o crime ter sido queima de
arquivo, mas sem dar maiores esclarecimentos. Um dos principais aliados de
Adriano, o PM poderia ter informações fundamentais para o desenrolar de
investigações relacionadas às Rachadinhas no gabinete de Flávio Bolsonaro e à
morte de Marielle, em que há fortes suspeitas do envolvimento do Escritório do Crime.
O Intercept questionou o MP sobre quem seriam os
beneficiados com a morte do policial-miliciano e o motivo da denúncia não ter
incluído os nomes dos integrantes da família de Adriano e seus aliados na
Bahia. Mais uma vez, não obteve resposta até a publicação desta reportagem. A
Presidência da República também não nos respondeu se o presidente entrou ou não
em contato com comparsas do miliciano logo após a sua morte.
Atualização – 24 de abril de 2021, 12h40
O texto foi atualizado para acrescentar mais detalhes do
posicionamento da PGR.
Pelas periferias do país, milhares de jovens frequentam os bailes de funk - Foto: Mídia Ninja
Perseguidos pelo deputado que quebrou a placa de Marielle
Franco, Mcs foram intimados a depor por “apologia ao crime"
Às vésperas de completar um ano do massacre
de Paraisópolis, quando 9 jovens morreram no Baile da DZ7, o funk
voltou a ser notícia nas páginas policiais, graças ao deputado estadual Rodrigo
Amorim (PSL-RJ), que denunciou os Mcs Cabelinho e Maneirinho por apologia ao
crime, por conta da música “Migué”, lançada em parceria pelos dois
músicos.
Em 2018, Amorim, bolsonarista declarado, quebrou a placa com o nome da vereadora Marielle Franco,
ao lado do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) e do ex-governador do Rio
de Janeiro Wilson Witzel (PSC), todos eram candidatos na época.
Cabelinho e Maneirinho,
que já prestaram depoimento à polícia, se manifestaram pelas redes
sociais. “É uma denúncia política, feita por um deputado do PSL. É
impressionante como preto favelado quando faz sucesso, pra essa gente só pode
ser bandido”, afirmou o primeiro. “Eu não li e nem assisti a nossa realidade.
Mas playboy interpretando o que acontece na favela, concorre ao Oscar”,
lamentou o segundo.
Thiago de Souza, dono do Canal
do Thiagson no Youtube, e doutorando na Escola de Música da
Universidade de São Paulo (USP), onde pesquisa a musicologia do funk, saiu em
defesa dos Mcs em suas redes sociais e afirmou que “quem acusa o funk não deve
saber o significado da palavra ‘estética’, não sabe, ou não quer saber, que
certas letras são consequência e não a causa de problemas sociais.”
Thiago Souza: “Um baile grande é uma organização
política" / Foto: Arquivo Pessoal
Em entrevista ao Brasil de Fato, Souza lembrou
que a capoeira, o samba e o rap sofreram a mesma perseguição. “O funk nem
é visto como arte. Pelo fato dele tratar dos assuntos de uma forma mais direta,
ele sofre preconceito. O funk é arte, tem poesia, tem metáfora, enfim", aponta.
Souza considera que a origem desse preconceito contra o
gênero musical está “na origem preta e periférica” dos músicos.
"O funk não está preocupado em idealizar uma realidade,
ele fala diretamente sobre o que vive. Aí você cria um conflito, entre um país
como Machado de Assis falava, um país oficial, dos políticos, dos brancos e da
classe média, e o Brasil real”, defende.
Histórico
Para Renata Prado, diretora da Frente Nacional de Mulheres do Funk e
integrante da Frente de Dançarinas de Funk, a perseguição ao estilo musical tem
se intensificado e pode acabar em mais tragédias.
“Se nos próximos anos não pensarmos políticas públicas
que deem conta do funk na cidade, a chance de termos massacres como o de
Paraisópolis acontecendo constantemente, é muito grande", afirma.
Idealizador do Baile da Gaiola, na Penha, zona norte do Rio
de Janeiro, o DJ Rennan da Penha ficou preso preventivamente por oito meses em
2019, entre março e novembro.
O músico, que foi inocentado da acusação de associação ao
tráfico de drogas em primeira instância, teve a sentença revertida na segunda
instância e foi condenado a seis anos e oito meses de prisão. Um habeas corpus
do Supremo Tribunal Federal (STF) permitiu a soltura do músico.
A prisão do DJ motivou a campanha “DJ Não é Bandido”, que
foi encampada por diversos artistas no país. Rennan é acusado de ser olheiro do
tráfico na região da Penha e ter feito músicas para os criminosos. Na época, a
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) repudiou a sentença e afirmou que se
tratava de “criminalização da arte popular.”
Prado afirma que o “momento político do país deve aumentar a
violência do Estado contra a população pobre e preta que vive nas periferias”.
A dançarina esteve à frente de protestos em dezembro de 2019, após 9 jovens
morrerem durante o Baile da DZ7, em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo,
após ação da Polícia Militar para dispersar o evento.
Renata prado: "Temos o direito de ocupar a cidade
de
forma democrática" / Foto: Arquivo Pessoal
“Nós sabemos que foram policiais militares que
mataram esses jovens, todos com menos de 21 anos. Existe uma cultura de
massacre do movimento funk e isso precisa acabar. Infelizmente, o funk é
tratado como caso de Segurança Pública”, lamenta Prado.
A versão da PM era de que os jovens morreram asfixiados,
após milhares de pessoas correrem quando as viaturas chegaram ao local. Segundo
os moradores, as mortes ocorreram após os policiais agredirem os funkeiros. Na
época, 31 agentes que participaram da ação foram afastados pelo governo de São
Paulo. O caso segue em investigação e os culpados ainda não foram
apontados.
Entre abril de 2010 e junho de 2013, quatro Mcs e um
DJ foram assassinados na Baixada Santista: Careca, Duda do Marapé, Primo,
Felipe Boladão e DJ Felipe. Na época, familiares das vítimas e moradores da
região acusaram policiais militares pelos crimes. Os assassinos nunca foram
identificados.
"Quando mataram o Duda, eu estava indo fazer uma
atividade cultural com os meninos da Fundação Casa. O Duda pra mim foi
extermínio, quem fez está na rua", lembra o poeta Tubarão Dulixo, criado
na Baixada Santista e amigo de Duda do Marapé.
“Hoje, o funk toca na televisão e virou uma indústria. Mas
naquela época, era cada um por si, era submundo, marginalizado. Eu já fui mais
revoltado com isso, hoje eu consigo ter mais calma. Um estilo de música não é
um problema social”, conclui.
Duda do Marapé canta com amigos em Santos (Vídeo cedido por Tubarão Dulixo)
Na lista de músicos do funk presos, está na o MC Poze,
detido em setembro de 2019 por tráfico de drogas, associação ao tráfico,
incitação ao crime, apologia ao crime, corrupção de menores e por fornecer
bebida alcoólica a menores.
A operação policial ocorreu após uma denúncia de que o baile
em que o músico se apresentava, em Sorriso, no Mato Grosso, seria um ponto de
venda de drogas.
“Temos o direito de ocupar a cidade”
“Apesar de ser reprimido pela polícia, a massa funkeira não
vai deixar de ir ao baile, pois sabemos que temos o direito de ocupar a cidade
de forma democrática", afirma Prado. Apesar do histórico, ele acredita que
os bailes seguirão como uma das principais alternativas de lazer nas
periferias.
"O funk ocupa a cidade, mas não tem consciência de que
tem esse direito. Então, quando tem operação policial, a molecada corre. Isso
acaba se tornando algo cultural, você vai no baile funk sabendo que a qualquer
momento vai correr da polícia", relata.
Souza concorda com Renata Prado. “Tem ambivalência. Tem o
medo, mas tem outra coisa: quem que quer sair à noite pra curtir e aparece
a polícia enchendo o saco, jogando bomba, atirando bala de borracha, tomar
esculacho, enfim, ninguém quer isso. Agora, tem a vontade de resistir também. A
galera que sai, já sabe que pode tomar um enquadro no caminho. Ser funkeiro é
ser resistência.”
Por fim, Souza exalta a mobilização para que as festas
existam, apesar da repressão. “Um baile grande é uma organização política, a quebrada se prepara para um
baile, muita gente tem que se comprometer, muitas responsabilidades precisam
ser divididas e os próprios Mcs falam isso, que o baile é esse espaço de
resistência. Eles sabem disso.”
Empresa recebe R$ 850 mil mensais; desde o início do contrato apenas sete vídeos – lives gravadas – foram publicados no canal da Prefeitura no Youtube - arquivo pessoal/Facebook
Contratada na véspera da eleição, empresa não está no
endereço do contrato e sócia não sabia informar sobre serviços
Desde o dia 31
de julho, Bruno Covas (PSDB), prefeito de São Paulo e candidato à
reeleição, pagou R$ 1,7 milhão à YuYu Produções Ltda, para registros
audiovisuais da agenda do Executivo. Porém, por força da lei eleitoral, a
publicidade institucional dos agentes públicos foi suspensa no dia 15 de
agosto. Isso significa que o tucano não pode divulgar imagens de sua rotina
como mandatário do município até o fim do segundo turno da eleição, marcado
para 29 de novembro.
O contrato, que o Brasil de Fatoteve
acesso, prevê o pagamento total de R$ 10,2 milhões em um ano, com parcelas de
R$ 850 mil mensais. Em troca, a YuYu deve manter uma equipe de 15
profissionais à disposição da Prefeitura por 5 mil horas mensais (cerca de 333
horas por trabalhador), de segunda-feira a sábado, das 6h às 22h. O município
também contratou um motolink, ilha de edição, equipamentos de som, câmera e
tripé, entre outros itens.
Porém, esse efetivo não se comprova no resultado da
produção. De acordo com o município, as produções feitas pela YuYu estão
no canal da Prefeitura no Youtube, onde há somente sete
vídeos publicados desde a data da contratação da produtora. Todos são
transmissões ao vivo de coletivas de Bruno Covas e sua equipe, sem edição.
Em nenhum dos vídeos, há indicação de que a YuYu tenha feito
a produção, gravação ou edição do material. Somadas, as publicações possuem 237
minutos, quase 4 horas, e alcançaram 45 mil pessoas.
As candidaturas de Joice Hasselmann (PSL) e Arthur do Val
(Patriota) foram à Justiça no dia 10 de agosto, exigindo que a Prefeitura
explique o empenho dos R$ 10,2 milhões em uma produtora de vídeos, às vésperas
da eleição.
Na
época, Hasselmann argumentava que a contratação da YuYu poderia
beneficiar a campanha de Bruno Covas, já que fotos e imagens feitas pela
produtora poderiam subsidiar a candidatura do tucano.
De acordo com a Lei 8.666, de 1993, conhecida como Lei Geral
de Licitações, o capital mínimo da empresa contratada deve ser de, pelo menos,
10% do valor estimado da contratação. A YuYu Produções possui um capital social
de R$ 10 mil, apenas 1% do valor total do contrato com a Prefeitura, R$ 10,2
milhões.
Produtora
O Brasil de Fato ligou no telefone de
contato da YuYu que está indicado no contrato. Quem atendeu, sem identificar a
produtora, apenas com “alô”, foi Edna Satiko Asahi Seki, que consta como sócia
da empresa. Em contato com a reportagem, a empresária afirmou que não se
recorda quando foi a última vez que sua produtora acompanhou e gravou uma
agenda da Prefeitura de São Paulo.
Edna atendeu ao Brasil de Fato às 12:57
dessa quinta-feira (22). No mesmo instante, ocorria, na sede da Prefeitura de
São Paulo, a 17ª coletiva de imprensa online sobre anúncio de medidas de
combate ao coronavírus, com a presença de Bruno Covas e dos secretários de
Saúde, Edson Aparecido, e Educação, Bruno Caetano.
A reportagem foi até o endereço da produtora – que
consta em seu registro na Junta Comercial de São Paulo (Jucesp) e no contrato
com a Prefeitura. Quem atendeu a porta da casa foi uma idosa, que
afirmou ser a proprietária do imóvel e afirmou que lá não funciona nenhuma
empresa. A mulher é sogra de Edna Satiko Asahi Seki, proprietária YuYu.
Seki foi encontrada na casa vizinha, onde mora. Porém,
quando perguntada sobre a sede da produtora, afirmou que seria no imóvel ao
lado, onde sua sogra negou que funcionasse a empresa. Mais uma vez, a
empresária não soube informar onde suas equipes de gravação estavam e nem se
estariam acompanhando o prefeito em alguma agenda.
No endereço indicado como sede da empresa, no bairro da Saúde, vive uma idosa, sogra da proprietária da empresa / Foto: Igor Carvalho
Nas duas casas não há indicação visual de que ali funcione a
YuYu. No interior dos imóveis, não há equipamentos de gravação, áudio ou
iluminação, nem mesmo a ilha de edição. Segundo Seki, todo o material da
empresa fica com os funcionários, que são contratados por demanda.
A Yuyu não possui site próprio, perfil nas redes sociais e
nem um canal no Youtube onde divulgue suas produções.
Outro lado
O Brasil de Fato perguntou à Prefeitura de
São Paulo se a YuYu Produções tem acompanhado as agendas de campanha de Bruno
Covas. A Secretaria Especial de Comunicação do município afirmou que o contrato
“transcende o período eleitoral e não tem qualquer relação com o calendário
político-eleitoral".
"Além disso, os conteúdos e as imagens a serem
produzidos têm caráter informativo sobre ações e serviços da Prefeitura de
interesse público, inclusive os diretamente ligados à pandemia, e serão
disponibilizados para toda a imprensa”, informou.
Indagada sobre a Lei Geral de Licitações, a Prefeitura disse
ter seguido "rigorosamente todas as regras previstas na Lei 8.666/93,
que disciplina as licitações públicas, e o contrato assinado não gera direito
ao fornecedor”.
A deputada, que está com Covid-19, se esqueceu de trocar o
perfil e mandou recado de solidariedade para ela mesma
A deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) se esqueceu
de sair de sua conta e mandou recado solidário para ela mesma, nesta
sexta-feira (21), pelo Twitter.
Zambelli, que está com a Covid-19, escreveu para Zambelli:
‘Força e muita força! Você é nossa representante’.