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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

EUA: Movimento pró-Palestina se faz ouvir na Convenção Nacional Democrata de 2024


Manifestantes em Chicago e usuários online colocaram o Partido Democrata sob fogo apenas um dia após a convenção em Chicago


Manifestantes marcham perto da Convenção Nacional Democrata no United Center em 19 de agosto de 2024, em Chicago, Illinois (John Moore/Getty Images via AFP)

Com apenas um dia de duração, a Convenção Nacional Democrata já causou comoção dentro dos muros do United Center, nas ruas de Chicago e nas plataformas de mídia social. 

O evento quadrienal é onde os delegados do Partido Democrata nomeiam formalmente seus escolhidos para presidente e vice-presidente e decidem sobre a plataforma do partido antes das eleições no final do ano.

Mas como a vice-presidente Kamala Harris e o governador Tim Walz já foram nomeados como indicados deste ano, a convenção consistiu em longos discursos de elogios a Harris e ao presidente Joe Biden (especificamente por sua decisão de se retirar da disputa), críticas a Donald Trump e ao Partido Republicano, e é um palco para vários movimentos destacarem suas questões, como os movimentos trabalhistas e de direitos ao aborto. 

Para aqueles no movimento pró-Palestina, a convenção serviu como um microcosmo do relacionamento entre os defensores da Palestina e o Partido Democrata — não apenas desde que a guerra de Israel em Gaza começou em outubro, mas nas últimas décadas. 

A convenção, por exemplo, começou com um reconhecimento de terra dos líderes do Prairie Band Potawatomi Nation Tribal Council: o vice-presidente Zach Pahmahmie e a secretária do conselho tribal Lorrie Melchior. Eles subiram ao palco para dar as boas-vindas ao Partido Democrata em suas "terras ancestrais".

"Aqui estamos, juntos em nossas terras ancestrais da Nação Potawatomi da Banda das Pradarias e nossas nações irmãs Potawatomi. Também honramos o espírito das outras nações tribais que viajaram para o oeste para esta bela área. Bem-vindos à Convenção Nacional Democrata de 2024 em nossas terras. Esta terra tem e sempre terá enorme importância para seus administradores originais, nossos ancestrais e nossas comunidades atuais", disse Pahmahmie.

Muitos online viram a ironia no apoio inabalável do Partido Democrata a Israel — que deslocou à força 1,9 milhão de palestinos de sua terra natal ancestral somente desde outubro — como uma prova das crenças inconsistentes do partido quando se trata dos palestinos.



Gaza foi mencionada várias vezes no palco principal. O presidente Biden disse que "continuaria trabalhando para trazer os reféns para casa, acabar com a guerra em Gaza e trazer paz e segurança ao Oriente Médio".



 A congressista de Nova York Alexandria Ocasio-Cortez ecoou a mensagem de Biden para o partido e disse que Harris estava "trabalhando incansavelmente para garantir um cessar-fogo em Gaza e trazer os reféns para casa".

Para aqueles que estavam esperando os EUA revogarem seu apoio financeiro e moral inabalável a Israel, essas mensagens são mais frustrantes do que reconfortantes, dizem os defensores. 



 A advogada e ativista palestino-americana Noura Erakat disse que os discursos equivalem a "gaslighting". 


 

 Outro usuário disse que essas mensagens são perigosas para minimizar o papel dos EUA na guerra de Israel em Gaza, que matou mais de 40.000 palestinos desde outubro até agora. 



 Protestos  


Protestos sobre a cumplicidade do governo Biden-Harris na guerra foram feitos dentro e fora da convenção. 

No domingo, uma pessoa invadiu o palco durante a festa de boas-vindas do DNC antes de pegar o microfone e dizer: "150.000 estão mortos. Vocês estão financiando um genocídio". 



 Na segunda-feira, um grupo de membros do DNC desfraldou uma faixa que dizia: "Parem de armar Israel". Membros ao redor tentaram bloquear a visão da faixa com cartazes que diziam: "Nós amamos Joe" e "EUA". O público respondeu com cânticos de "Nós amamos Joe" enquanto a faixa era retirada.


 

 Naquela época, delegados supostamente usaram seus cartazes "We Love Joe" para bater na cabeça de delegados pró-Palestina. Uma das que foi atingida foi Nadia Ahmad, que estava usando um hijab. 


 

 Em outra ação de protesto, vários delegados do DNC cobriram suas bocas durante o discurso do presidente Biden. 


"Queríamos enviar a mensagem de que não concordamos com o que Biden tem feito. Ele tem financiado o genocídio do povo palestino há dez meses", disse a delegada do estado de Washington e organizadora do Uncommited, Sabrine Odeh. 

E nas ruas de Chicago, milhares se reuniram para protestar contra o partido e a convenção. Quando a convenção começou, os números protegendo o DNC eram supostamente maiores do que os que estavam presentes. 



 A tensão era alta entre os manifestantes e as centenas de policiais que estavam posicionados em comícios e passeatas. 

A AP informou que 13 manifestantes foram detidos após "romperem" uma cerca que foi construída para a convenção. 

A mensagem dos protestos foi bem específica – impor um embargo de armas a Israel. 



 O acadêmico Eman Abdelhadi discursou em um dos comícios, dizendo que o Partido Democrata deve "ganhar [seus] votos".


 

 'Histórico, mas não o prêmio'


Em resposta aos protestos esperados, o DNC tentou chegar a um acordo com os membros que pressionavam pelo fim da guerra em Gaza, criando um painel para o movimento Uncommited para discutir a situação do povo palestino.

O painel não foi televisionado e foi realizado em um posto avançado a quatro milhas de distância do centro principal da convenção. 

O painel era composto por um cirurgião que havia tratado palestinos em Gaza, um ex-membro do DNC, ativistas do partido e um dos líderes do movimento Uncommitted. 


 

 Uma das painelistas, Hala Hijazi, disse que era uma democrata de longa data que havia arrecadado mais de dois milhões de dólares para o partido, mas estava no painel porque teve mais de 100 membros da família mortos em Gaza. 


Embora muitos tenham comemorado o progresso de abrir espaço para a luta palestina na Convenção Nacional Democrata, eles apontaram que esse não é um objetivo final. 

Por: Maysa Mustafa

Fonte: Middle East Eye


Status Coup News


Marcha Pró-Palestina CONTRA O GENOCÍDIO no DNC ​​em Chicago

Jon Farina está ao vivo em Chicago, do lado de fora da Convenção Nacional Democrata, enquanto os manifestantes da Palestina Livre se reúnem para marchar contra o genocídio em Gaza e exigir um cessar-fogo. Isso acontece na esteira da crescente agressão policial contra os manifestantes, enquanto a multidão dentro da Convenção Nacional Democrata tenta ignorá-los.





sábado, 10 de agosto de 2024

A democracia nas Américas


Enquanto discussão sobre democracia se foca na Venezuela, nos EUA candidatos de esquerda são ignorados: apenas em alguns estados é possível votar neles


Os candidatos à presidência dos EUA Cornell West, Claudia de la Cruz e Jill Stein. (Foto: Reprodução)

Enquanto todos os olhos seguem voltados para a qualidade da democracia na Venezuela, onde a extrema-direita recusa-se novamente a reconhecer resultados eleitorais, o debate sobre as eleições norte-americanas, mesmo entre a esquerda, nem sequer discute a qualidade da democracia, ou falta dela, no Grande Irmão do Norte. Reféns do estreito campo discursivo que oscila entre o conservadorismo e o liberalismo, parece que ficamos presos a discussões estéreis que não ultrapassam o bipartidarismo do mundo político capitalista oficial, i.e., Democrata vs. Republicano. 

No meio disso, movimentos realmente populares, antirracistas e antipatriarcais permanecem silenciados, como é o caso das candidatas a presidenta e vice-presidenta pelo Partido Socialismo e Liberação (PSL), Claudia de la Cruz e Karina Garcia, respectivamente uma mulher negra e outra hispânica, de origem trabalhadora. Ambas estão dispostas a mudar o sistema político do seu país e não apenas a chegar ao poder para manter tudo como está. Mas ninguém por aqui fala delas. O grande problema é que, ao embarcarmos neste apagamento das vozes negras, feministas, anticapitalistas e periféricas, nós nos tornamos cúmplices do mesmo sistema que dizemos combater.

Apesar de seu partido possuir praticamente o mesmo nome do PSOL no Brasil, é curioso que nem os psolistas nem militantes de outras agremiações de esquerda brasileiras tenham dada alguma atenção às candidatas socialistas e libertárias dos EUA, mesmo quando comenta-se sobre o processo eleitoral yankee. É uma pena que seja assim, além de um grave erro político. Pois o slogan das candidatas da esquerda estadunidense trata justamente daquilo que as esquerdas daqui se esquecem de falar: 



“Termine com o capitalismo antes que ele termine conosco”. 

Em inglês, o fim da frase tem duplo sentido, podendo significar também que o capitalismo está acabando com os Estados Unidos (Before It Ends US).

Sua propaganda não é destinada a capturar o ‘eleitor-médio’ ou a ser mais palatável para a ‘classe média’. Trata-se de uma verdadeira campanha da classe trabalhadora, cujo objetivo principal não é um cargo no sistema político burguês mas, principalmente, atuar de forma pedagógica, educando as massas – e a si próprios – durante o processo. No plano doméstico, são bem diretas ao denunciar os “patrocinadores corporativos” da campanha de Kamala Harris[1]. No plano internacional, apresentam sem titubear sua posição sobre as crises atuais, ao defender a solidariedade com “Venezuela e Palestina, unidas contra o imperialismo estadunidense”. Não se trata, portanto, de duas mulheres não-brancas que querem gerenciar o genocídio em Gaza ou o golpe em Caracas, mas de duas revolucionárias que usam a eleição como tática de mobilização, formação e organização dos setores populares em luta. 

Em vez de ignorá-las, portanto, deveríamos questionar que democracia é essa onde os candidatos legalmente constituídos não constam das cédulas nas urnas de todo o país. Pouco se fala sobre essa aberração escandalosamente antidemocrática, mas muito se falou sobre Maria Corina Machado não estar habilitada a ser candidata na Venezuela. Atualmente, as candidatas do PSL nos EUA estão nas urnas de apenas 9 dos 50 estados que compõem a federação norte-americana, pois cada estado decide qual candidato presidencial pode concorrer ali… Mesmo se um trabalhador quiser votar nelas, não poderá fazê-lo na enorme maioria dos casos. Sequer verá seus nomes na lista de opções no dia de votação, sem falar da ausência de campanha eleitoral para quem não está habilitado. Onde está a gritaria política? Onde estão os debates na TV sobre democracia? Onde estão os articulistas de esquerda? Influencers? Nada.

Elas são apenas um exemplo. Existem outras opções de esquerda na corrida presidencial dos EUA, como a grande ambientalista Jill Stein, do Partido Verde, representante da luta ecossocialista e que, ao contrário de outros partidos verdes mundo afora, mantém uma inflexível postura anti-imperialista e anticapitalista. Seu slogan é: People, Planet, Peace (pessoas, planeta e paz). Sua campanha contém cartazes em espanhol e até em árabe, com o fim de dialogar com as comunidades imigrantes subalternizadas na América. Novamente, não estará em todas as urnas como uma opção no dia da votação, que ocorre num dia normal da semana e não conta como dispensa justificável para faltar ao trabalho, por sinal. Mas tudo bem, são os EUA; não é o ‘regime de Maduro’. 

Outra excelente opção é o grande intelectual negro e militante histórico Cornell West, candidato independente lançado por uma plataforma de movimentos sociais. Sua candidata a vice é uma mulher de origem muçulmana, Melina Abdullah. Juntos, carregam o slogan: “Verdade, Justiça e Amor”, que se desdobra num programa político composto por 17 injustiças que precisam ser combatidas com novas formas de justiça: justiça maternal negra; justiça para as crianças; justiça para pessoas com deficiência; justiça econômica; justiça educacional; justiça para os idosos; justiça ambiental; justiça de gênero; justiça global; justiça para mortos por armas de fogo; justiça na saúde; justiça para os imigrantes; justiça para a comunidade LGBTQIA+; justiça racial; justiça transformativa; justiça para o eleitor; justiça para o trabalhador. Infelizmente, esta plataforma política progressista só está habilitada a estar nas cédulas eleitorais de 7 estados até o momento. Mas quem se importa? Vida que segue.

Muito mais poderia e deveria ser visibilizado, questionado, denunciado, combatido. Já houve, nos EUA, candidatos indígenas condenados à prisão, como Leonard Peltier, concorrendo às eleições presidenciais enquanto cumpriam pena e que tratavam justamente de combater, simultaneamente, o colonialismo genocida e o encarceramento em massa. Alguém se lembrou de fazer uma postagem em solidariedade a ele numa rede social?

Debater as eleições no centro do império é crucial. Ignorar nosso lado, paradoxal.


Notas:

[1]  Em um dos cartazes do PSL a candidata democrata é chamada de Cop-Mala Harris, em alusão a seu papel “racista” como procuradora-geral da Califórnia, onde liderou o encarceramento em massa de negros e latinos acusados de tráfico de drogas por possuírem pequenas quantidades de entorpecentes. Ver: https://www.instagram.com/claudia_karina2024/p/C9vLdACShR8/

Miguel Borba de Sá

Especial para Opera Mundi



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quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Campanha de Harris nega relatos de "discussões" sobre embargo de armas a Israel


A candidata presidencial dos EUA também reiterou seu compromisso de garantir que "Israel seja capaz de se defender"


(Crédito da foto: Kenny Holston/The New York Times/Bloomberg via Getty Images)

A campanha da vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, confirmou em 8 de agosto que não há discussões planejadas sobre a possibilidade de impor um embargo de armas a Israel caso Harris vença as próximas eleições, negando as alegações feitas pelo Movimento Nacional Não Comprometido (UNM).

“Desde 7 de outubro, a vice-presidente tem priorizado o envolvimento com membros da comunidade árabe, muçulmana e palestina e outros em relação à guerra em Gaza... Neste breve envolvimento, ela reafirmou que sua campanha continuará a se envolver com essas comunidades”, diz uma declaração da campanha de Harris. 

“A vice-presidente foi clara: ela sempre trabalhará para garantir que Israel seja capaz de se defender contra o Irã e grupos terroristas apoiados pelo Irã. A vice-presidente está focada em garantir o cessar-fogo e o acordo de reféns atualmente na mesa”, acrescenta a declaração.

Mais cedo na quinta-feira, a UNM anunciou que seus fundadores falaram com Harris e seu companheiro de chapa, Tim Walz, em seu comício de campanha em Detroit. A organização acrescentou que eles solicitaram uma reunião com Harris para discutir suas demandas por um embargo de armas a Israel e um cessar-fogo permanente.

“A vice-presidente compartilhou suas condolências e expressou abertura para uma reunião com os líderes não comprometidos para discutir um embargo de armas”, disse a UNM em um comunicado.



Harris se encontrou com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu durante sua visita a Washington no mês passado, reiterando “seu compromisso de longa data e inabalável com a segurança do Estado de Israel e do povo de Israel”.

Em comentários à imprensa após a reunião, a candidata presidencial pelo Partido Democrata dos EUA disse que pediu a Netanyahu que concluísse um acordo de cessar-fogo para Gaza.

“É hora de esta guerra terminar de uma forma em que Israel esteja seguro, todos os reféns sejam libertados, o sofrimento dos palestinos em Gaza acabe e o povo palestino possa exercer seu direito à liberdade, dignidade e autodeterminação. E como acabei de dizer ao Primeiro-Ministro Netanyahu, é hora de fechar esse acordo. Vamos fechar o acordo”, disse Harris aos repórteres. 

Fonte: The Cradle


TRT World

“Kamala, Kamala, você não pode se esconder, não votaremos no genocídio!

Manifestantes pró-Palestina interromperam o discurso de Kamala Harris durante um comício democrata em Detroit, Michigan



 Dr. Jill Stein

Enquanto Kamala está rindo…



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terça-feira, 23 de julho de 2024

Vingar, punir e lucrar: Kamala Harris e o encarceramento de minorias nos EUA


É compreensível considerar uma vitória como "mal menor", mas é sensato admitir que Harris será "mais do mesmo"


Kamala Harris
 

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, é o grande assunto em destaque desde o último domingo (21/07) quando o presidente Joe Biden anunciou que estava desistindo de concorrer à reeleição.

Biden e outros líderes democratas imediatamente anunciaram seu apoio a Kamala, agora vista como favorita para encabeçar a campanha do partido à Casa Branca.

No Brasil, o anúncio gerou entusiasmo em grande parte da esquerda. De parlamentares e ministras a jornalistas e influenciadores, não faltaram elogios e declarações celebrando a possibilidade de se eleger “a primeira mulher presidente dos Estados Unidos”, “uma mulher negra”, “filha de imigrantes”, que poderia inspirar o Brasil e o mundo a “promover a igualdade racial e de gênero”. Mas uma análise mais detida sobre a atuação pregressa de Kamala recomendaria substituir a comoção pela cautela.


Campanha ‘Free Palestina’

Nascida em Oakland, Califórnia, em 1964, Kamala Harris é filha de uma cientista indiana e de um economista jamaicano. Ela estudou ciência política e economia na Universidade Howard, em Washington, e posteriormente se graduou em direito pela Universidade da Califórnia. Serviu como procuradora-adjunta do condado de Alameda entre 1990 e 1998 e depois gerenciou a Unidade de Criminosos Reincidentes.

Já filiada ao Partido Democrata, Kamala tornou-se procuradora de São Francisco em 2003, tomando posse no ano seguinte. Em 2011, assumiu o cargo de procuradora-geral da Califórnia, no qual permaneceu até 2017.

A atuação de Kamala como procuradora rendeu diversas críticas dos movimentos sociais, organizações de defesa dos direitos das minorias e de militantes do próprio Partido Democrata. Sua gestão foi marcada pelo punitivismo e pelo perfilamento de minorias étnicas e de imigrantes — algo especialmente pernicioso e preocupante diante da natureza do sistema penal norte-americano.

Os Estados Unidos possuem a maior população carcerária do mundo, com 2,3 milhões de presidiários. A nação que se autodenomina “Terra dos Livres” responde por apenas 5% da população mundial, mas concentra 25% de todos os prisioneiros do planeta. A taxa de encarceramento dos Estados Unidos — aproximadamente 700 presos para cada 100.000 habitantes — é quase seis vezes maior do que a da China, país frequentemente rotulado como uma “ditadura” pelas autoridades norte-americanas.

A seletividade da justiça penal se reflete no perfil étnico dos encarcerados. Negros e latinos perfazem 29% da população dos Estados Unidos, mas representam 60% da população carcerária. Em vários estados, os prisioneiros são obrigados a realizar trabalho compulsório — uma medida que, somada à privatização dos presídios, tem contribuído para transformar o encarceramento em massa em um negócio extremamente lucrativo.

O mercado das prisões movimenta mais de 200 bilhões de dólares por ano nos Estados Unidos e os empresários do setor possuem lobistas poderosos financiando campanhas de parlamentares e cooptando apoio de procuradores. Megacorporações do porte da IBM, McDonald’s, Intel, Wal-Mart, Microsoft, Nike, AT&T e várias outras se beneficiam enormemente da mão de obra barata dos prisioneiros.

Os interesses financeiros frequentemente se misturam-se ao populismo penal e à competição eleitoreira dos procuradores e juízes para descobrir quem é mais “duro no combate ao crime”, com resultados desastrosos. A atuação de Kamala Harris é um exemplo disso.

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Durante sua eleição à procuradoria-geral, Kamala se posicionou à direita de seu adversário republicano em relação à “Three Strikes Law” — uma lei que determinava que qualquer pessoa que fosse condenada por três delitos, incluindo crimes não violentos e de menor potencial ofensivo, seria automaticamente sentenciada à prisão perpétua.

A lei foi desastrosa. Pessoas eram condenadas a passar o resto da vida na cadeia por motivos banais, como fumar maconha ou furtar uma fatia de pizza. Mesmo assim, Kamala foi contra a reforma da lei e encorajou os eleitores a rejeitarem a proposta 66, que previa aplicar a regra somente a crimes graves. 

Para deleite do negócio de encarceramentos privados, Kamala não se deu por satisfeita apenas com a aplicação indiscriminada da prisão perpétua contra delitos banais. Ela apoiou uma medida do condado de São Francisco que obrigava as escolas a entregarem crianças imigrantes não documentadas para serem detidas por autoridades policiais. A procuradora se esforçou também em enviar para a cadeia pais de alunos que faltassem ou cabulassem às aulas, medida prevista em um projeto de “combate à vadiagem” em 2011.

Ao ser questionada pela imprensa sobre um caso específico de uma mãe que foi presa após a filha, paciente oncológica, faltar às aulas por vários dias por estar debilitada, Kamala respondeu com risadas e ironias.

Buscando consolidar a imagem de “intolerante contra o crime”, Kamala ajudou a implementar uma série de medidas que levaram milhares de jovens negros e latinos para a cadeia por motivos fúteis. A procuradora também se tornou conhecida por perseguir trabalhadoras do sexo e forçar mulheres transexuais a serem encarceradas em prisões masculinas.

E, embora tenha sido a primeira mulher negra a ocupar o cargo de procuradora na Califórnia, Kamala foi muito criticada pelo movimento negro por ter acobertado e livrado de punição vários policiais envolvidos em atos de racismo ou de execução extrajudicial de jovens negros.

Kamala também resistiu às pressões pelo desencarceramento. Alarmada com o gigantesco aumento da população prisional e com as denúncias de superlotação, tortura e abusos no sistema penal, a Suprema Corte dos Estados Unidos determinou a criação de novos programas de liberdade condicional na Califórnia e ordenou a soltura dos prisioneiros que tivessem cometido delitos de menor gravidade.

Não obstante, Kamala se recusou a cumprir a decisão do tribunal, conduzindo uma verdadeira campanha de obstrução que quase gerou uma crise constitucional. A procuradora chegou a justificar sua postura dizendo que, caso fosse obrigada a libertar os detentos, as prisões “perderiam importante contingente de mão-de-obra”. Ela também se recusou a apoiar um projeto de lei criado por iniciativa popular que visava diminuir a taxa de encarceramento através da reforma dos códigos penais e do sistema de sentenças.


Gage Skidmore / Wikimedia Commons / Kamala Harris em 2019

Um dos casos mais emblemáticos da intransigência punitivista da procuradora ocorreu em 2012. Um homem chamado Daniel Larsen, reincidente do sistema prisional, foi condenado a 28 anos de prisão em 1999 por ameaçar uma pessoa com uma faca. Ele foi declarado inocente por um juiz federal, que ordenou sua soltura. A decisão foi tomada com base nas declarações do ex-chefe da polícia envolvido na denúncia e no depoimento do próprio dono da faca, que inocentou o réu. Mesmo assim, Kamala recorreu da decisão e se negou a libertar Larsen. Organizações humanitárias alegaram que a sentença de 28 anos era desproporcional, mas Kamala seguiu se opondo à libertação com base em uma tecnicalidade burocrática — o fato de que o habeas corpus fora pedido por seu advogado fora do prazo legal.

Diversos outros exemplos de excessos de Kamala foram divulgados no período, incluindo casos de manipulação de evidências e impetração de recursos para impedir a realização de testes de DNA — inclusive em casos que poderiam inocentar pessoas que aguardavam execuções no corredor da morte.

O rigor punitivista e a “linha dura” demonstrada pela procuradora contra jovens negros, latinos, pobres e imigrantes contrastava bastante com o tratamento dispensado aos réus de maior poder aquisitivo. Em 2013, por exemplo, Kamala se recusou a denunciar o Banco OneWest, de propriedade de Steven Mnuchin, mesmo com várias evidências sugestivas de “ilegalidades generalizadas”, conforme um memorando vazado do Departamento de Justiça. Coincidentemente ou não, o banqueiro Steve Mnuchin doou milhares de dólares para a campanha de Kamala.

A procuradora também se envolveu em um escândalo em 2015, quando a imprensa revelou que uma equipe de procuradores que ela chefiava havia falsificado confissões, alterado transcrições de interrogatórios, cometido perjúrio e outras formas de manipulação de evidências para influenciar nos vereditos.

Eleita para o Senado em 2016 e para a vice-Presidência dos Estados Unidos em 2020, Kamala segue perfilada às alas mais conservadoras do Partido Democrata, mas tem flexibilizado suas posições em temas como pena de morte e legalização da maconha. No plano externo, ela é próxima da facção dos “Hawks”, defensores de uma política externa agressiva e intervencionista.

Ela foi uma das principais apoiadoras da proposta de intervenção dos Estados Unidos na Síria. Defendeu igualmente a imposição de sanções contra a China, acusando o país de possuir “níveis abismais” de desrespeito aos direitos humanos, atacou o governo venezuelano e manifestou-se a favor da continuidade do embargo a Cuba. Contemplada com mais de 5 milhões de dólares pela AIPAC, principal agência do lobby sionista, Kamala é uma apoiadora incondicional do Estado de Israel e defendeu o envio de mais 38 bilhões de dólares para financiar o genocídio na Faixa de Gaza.

Diante do exposto, o entusiasmo de alguns com a possibilidade de vitória de Kamala parece extremamente equivocado — e perigosamente despolitizante. É compreensível que a esquerda brasileira considere a vitória da democrata como “um mal menor”, uma vez que a alternativa é o retorno de Donald Trump e o provável fortalecimento do bolsonarismo. Mas é preciso ter a sensatez e a honestidade intelectual de admitir que, no melhor dos cenários, Kamala Harris será “mais do mesmo” — e esse “mesmo” já é muito ruim. Guardemos a exaltação para quem merece.



Fonte: Opera Mundi


AIPAC Tracker

A vice-presidente Kamala Harris recebeu > $ 5 milhões em apoio do lobby pró-Israel. Esse total inclui seu tempo no Senado e nas campanhas presidenciais Biden-Harris.


 

Patti Politics

 Deixe-me ser claro. Não esquecerei a Palestina! #JoinJill #VoteGreen2024

@KamalaHarris

@DrJillStein



 FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil

- "Kamala, o que você acha de Israel bombardear o campo de refugiados mais populoso de Gaza duas vezes em dois dias?"

- Kamala: "Ah, meio chato né... Mas Israel sabe o que está fazendo e vamos continuar enviado bilhões de dólares em armas para exterminar crianças palestinas"



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sexta-feira, 12 de julho de 2024

Biden chama sua vice Kamala Harris de Trump e Zelensky de Putin


O presidente dos EUA cometeu duas grandes gafes em um mesmo dia


Presidente dos EUA, Joe Biden Foto: Nathan Howard/Reuters
 

O presidente dos EUA, Joe Biden, cometeu duas grandes gafes em um mesmo dia, nesta quinta-feira, 11, em meio a uma série de questionamentos sobre se ele deve manter sua candidatura à reeleição.



"Veja, eu não teria escolhido a vice-presidente Trump para ser vice-presidente se ela não fosse qualificada para ser presidente. Portanto, comecem por aí", disse.

Mais cedo, Biden se referiu ao presidente ucraniano, Volodymr Zelenskiy, como "presidente Putin" antes de se corrigir na cúpula da OTAN.


Saúde mental do presidente

Biden tem tido sua saúde mental colocada em cheque por opositores e até apoiadores. Durante a entrevista a jornalistas nesta quinta, o presidente dos EUA disse que sua saúde está em boa forma e que faria outro exame neurológico para determinar sua acuidade mental se isso lhe for recomendado por seus médicos.

Biden afirmou que havia feito três exames neurológicos significativos e intensos, o mais recente em fevereiro, e que os médicos lhe disseram que "estou em boa forma". Ele acrescentou que ninguém estava sugerindo que ele fizesse outro exame desse tipo no momento.

*Com informações da Reuters

Fonte: Portal Terra

Repercussão do caso no X


DD Geopolitics


As palmas das mãos estão suadas, os joelhos fracos, os braços pesados...

Deixa para lá.



 DD Geopolitics


Senhoras e senhores, Vice-Presidente Kamala Trump.



 Sputnik Brasil


Biden chama sua vice-presidente, Kamala Harris, de Trump

"Eu não teria escolhido a vice-presidente Trump para ser vice-presidente se ela não estivesse qualificada […]", respondeu, citando o nome do adversário republicano, ao ser questionado por um jornalista durante uma coletiva de imprensa.


 

 Jackson Hinkle


O novo presidente da Ucrânia (de acordo com Biden)!



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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Biden recebe dossiê recomendando suspensão de acordos entre EUA e governo Bolsonaro


Quatro meses depois de fazer críticas públicas contra o desmatamento no Brasil, o presidente Joe Biden e membros do alto escalão do novo governo dos EUA receberam nesta semana um longo dossiê que pede o congelamento de acordos, negociações e alianças políticas com o Brasil enquanto Jair Bolsonaro estiver na Presidência.


O documento surge em momento de intensa expectativa sobre os próximos passos da relação entre Brasil e Estados Unidos sob o governo de Biden e da vice-presidente Kamala Harris
 

O documento de 31 páginas, ao qual a BBC News Brasil teve acesso, condena a aproximação entre os dois países nos últimos dois anos e aponta que a aliança entre Donald Trump e seu par brasileiro teria colocado em xeque o papel de "Washington como um parceiro confiável na luta pela proteção e expansão da democracia".

"A relação especialmente próxima entre os dois presidentes foi um fator central na legitimação de Bolsonaro e suas tendências autoritárias", diz o texto, que recomenda que Biden restrinja importações de madeira, soja e carne do Brasil, "a menos que se possa confirmar que as importações não estão vinculadas ao desmatamento ou abusos dos direitos humanos", por meio de ordem executiva ou via Congresso.

A mudança de ares na Casa Branca é o combustível para o dossiê, escrito por professores de dez universidades (9 delas nos EUA), além de diretores de ONGs internacionais como Greenpeace EUA e Amazon Watch.

Consultado pela BBC News Brasil, o Palácio do Planalto informou, via Secretaria de Comunicação, que não comentará o dossiê.

A BBC News Brasil apurou que os gabinetes de pelo menos dois parlamentares próximos ao gabinete de Biden — a deputada Susan Wild, do comitê de Relações Internacionais, e Raul Grijalva, presidente do comitê de Recursos Naturais — revisaram o documento antes do envio.

O texto têm o endosso de mais de 100 acadêmicos de universidades como Harvard, Brown e Columbia, além de organizações como a Friends of the Earth, nos EUA, e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), no Brasil. A iniciativa é da U.S. Network for Democracy in Brazil, uma rede criada por acadêmicos e ativistas brasileiros no exterior há dois anos que hoje conta com 1500 membros.

Tanto Biden quanto a vice-presidente Kamala Harris, além de ministros e diretores de diferentes áreas do novo governo, já criticaram abertamente o presidente brasileiro, que desde a derrota de Trump na última eleição assiste a um derretimento em negociações em andamento entre os dois países.

"O governo Biden-Harris não deve de forma nenhuma buscar um acordo de livre-comércio com o Brasil", frisa o dossiê, organizado em 10 grandes eixos: democracia e estado democrático de direito; direitos indígenas, mudanças climáticas e desmatamento; economia política; base de Alcântara e apoio militar dos EUA; direitos humanos; violência policial; saúde pública; coronavírus; liberdade religiosa e trabalho



O material, segundo a BBC News Brasil apurou, chegou ao núcleo do governo Biden por meio de Juan Gonzales, recém-nomeado pelo próprio presidente americano como diretor-sênior para o hemisfério ocidental do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca — e conhecido pelas críticas a políticas ambientais de Bolsonaro.

Assessor de confiança de Biden desde o governo de Barack Obama, quando atuou como conselheiro especial do então vice-presidente Biden, Gonzales passou por diversos cargos na Casa Branca e no Departamento de Estado e hoje tem livre acesso ao salão Oval como o principal responsável por políticas sobre América Latina no novo governo.

"Qualquer pessoa, no Brasil ou em outro lugar, que achar que pode promover um relacionamento ambicioso com os EUA enquanto ignora questões importantes como mudança climática, democracia e direitos humanos, claramente não tem ouvido Joe Biden durante a campanha", disse Gonzales recentemente.


 

 O dossiê também circula por membros do Conselho de Assessores Econômicos (CEA, na sigla em inglês) do gabinete-executivo de Biden e pelo ministério do Interior - cuja nova chefe, Debra Haaland, também é crítica contumaz de Bolsonaro.


Rede internacional

O documento surge em momento de intensa expectativa sobre os próximos passos da relação entre Brasil e Estados Unidos sob o governo de Biden e da vice-presidente Kamala Harris.

Até dezembro do ano passado, os líderes dos dois países celebravam anúncios conjuntos, como protocolos de comércio e cooperação econômica, e mostravam intimidade em encontros públicos. Na Assembleia Geral da ONU de 2019, por exemplo, Bolsonaro chegou a dizer "I love you" (eu amo você) a Trump, que respondeu "Bom vê-lo outra vez".

Na primeira semana de janeiro, Ivanka Trump, filha do ex-presidente, foi fotografada carregando no colo a filha de Eduardo Bolsonaro, que visitava a Casa Branca junto à esposa Heloisa e à recém-nascida Georgia — nome do Estado que se tornou um dos pivôs da derrota de Trump na eleição.


Juan Gonzales (à direita) é diretor-sênior para o hemisfério ocidental do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca — e conhecido pelas críticas a políticas ambientais de Bolsonaro.

A declaração gerou uma dura resposta do presidente Jair Bolsonaro, que classificou o comentário como "lamentável", "desastroso e gratuito" e quebrou o protocolo presidencial ao declarar sua torcida pelo hoje derrotado Donald Trump.

Semanas antes, a agora vice-presidente Kamala Harris escreveu que "o presidente do Brasil Bolsonaro precisa responder pela devastação" na Amazônia.

"Qualquer destruição afeta a todos nós", completou.


 

 Mais recentemente, após ser questionado pela jornalista Raquel Krähenbühl, da GloboNews, sobre quando conversaria com o par brasileiro, Biden apenas riu.


Meio ambiente

Membros do partido democrata ouvidos pela reportagem sob anonimato descrevem Bolsonaro como uma figura "tóxica" no xadrez global.

Continuar investindo em uma relação próxima com o líder brasileiro seria, na avaliação destes críticos, uma contradição com as bandeiras de sustentabilidade, defesa aos direitos humanos e à diversidade levantadas pela chapa democrata que venceu as eleições.

Pela primeira vez na história dos EUA, Biden nomeou uma mulher indígena para chefiar um ministério (Interior) e mulheres transexuais para cargos importantes nas áreas de defesa e saúde. Negros, latinos e asiáticos aparecem em número recorde de nomeações.



O apoio a estes grupos é o eixo principal do dossiê, que também defende que Biden retire o apoio atual dos EUA para a adesão do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e questione a participação do Brasil no G7 e G20 enquanto Bolsonaro for presidente.

"Os EUA têm obrigação moral e interesse prático em se opor a uma série de iniciativas da atual presidência do Brasil", diz o texto. "A recente 'relação especial' entre os dois países por meio da ampliação de relações comerciais e ajuda militar possibilitou violações dos direitos humanos e ambientais e protegeu Bolsonaro de consequências internacionais."


A vice-presidente Kamala Harris escreveu recentemente que "o presidente do Brasil Bolsonaro precisa responder pela devastação" na Amazônia.

O texto não cita diretamente a proposta de um fundo internacional de 20 bilhões de dólares, sugerida por Biden na campanha eleitoral, para conter o desmatamento na Amazônia.

No capítulo sobre meio ambiente, no entanto, o texto alerta que financiar programas de conservação do atual governo brasileiro poderia significar "jogar dinheiro no problema", a não ser que o país mude a direção de suas políticas de proteção ambiental.

O remédio, segundo os autores, seria vincular qualquer financiamento às demandas de representantes da sociedade civil, povos indígenas, quilombolas e comunidades ribeirinhas.


Dossiê classifica governo Bolsonaro como "o mais agressivo antagonista do meio ambiente brasileiro visto até hoje"

"Um dos valores deste documento é preparar o governo (Biden) para o fluxo de desinformação vindo do governo Bolsonaro. O problema é que este governo não é apenas o mais agressivo antagonista do meio ambiente brasileiro visto até hoje, mas também um grande investidor em relações públicas divulgando informações deturpadas. Eles investem para encobrir problemas. Então o grande objetivo é mostrar ao governo quais devem ser as fontes seguras para informação sobre o Brasil: a sociedade, as organizações que estão em campo, as comunidades e grupos marginalizados", diz à BBC News Brasil Daniel Brindis, diretor do Greenpeace nos EUA e um dos autores do dossiê.

"O presidente Biden precisa ter certeza de onde está investindo o dinheiro, ou corre o risco de jogá-lo fora", afirma.


Alcântara e minorias

Mas o dossiê diz que a atenção do governo dos EUA deve ir além do financiamento a políticas de conservação no Brasil e também deve mirar o papel de empresários, investidores e da política externa norte-americana "na ampliação do desmatamento e permissão de abusos de direitos humanos".

Depois da China, os EUA são os maiores compradores de madeira brasileira no mundo. O documento ressalta, no entanto, que a lei Lacey, aprovada nos EUA em 2008, proíbe o comércio de produtos vegetais vindo de fontes ilegais nos Estados Unidos e em outros países.



Em 11 de janeiro deste ano, o Ministério Público Federal entrou em contato com o governo dos EUA para recuperar cargas de madeira extraída ilegalmente na Amazônia. Uma operação realizada em dezembro na divisa do Pará e do Amazonas recolheu mais de 130 mil metros cúbicos de madeira ilegal — o equivalente a mais de 6 mil caminhões de carga lotados, segundo a polícia federal.

O texto também lembra que os problemas ambientais brasileiros não se limitam à Amazônia e também incluem o cerrado, o Pantanal e a Mata Atlântica.

Além do foco ambiental, boa parte do dossiê se dedica a políticas sobre grupos historicamente marginalizados no Brasil como indígenas e quilombolas.

Sobre os últimos, o texto defende que os EUA reverta a assinatura do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas assinado pelos governos Trump e Bolsonaro, em 2019, permitindo a exploração comercial da Base Espacial de Alcântara, no Maranhão.

 
O Brasil diz pretender "tornar o Centro Espacial de Alcântara, no Maranhão, competitivo mundialmente e um grande atrativo de recursos para o Brasil no setor espacial".

Como foi assinado, o acordo prevê a remoção de centenas de famílias de quilombolas que vivem na região há quase dois séculos.

"O governo Biden-Harris deve se colocar de maneira firme contra qualquer desapropriação de terras quilombolas, enquanto se engaja em ações pacíficas colaboração com a Agência Espacial Brasileira em Alcântara", sugere o texto, citando o Tratado do Espaço Sideral, um instrumento multilateral assinado tanto por EUA quanto pelo Brasil.

Segundo o texto do tratado, criado em meados dos anos 1960, em meio à Guerra Fria, iniciativas que envolvam exploração no espaço só podem acontecer a partir de fins pacíficos. "O governo Biden e Harris deve rejeitar firmemente qualquer envolvimento militar na colaboração espacial no Brasil. Qualquer colaboração entre os programas espaciais dos EUA e do Brasil deve eliminar o racismo e o legado ambiental destrutivo de Trump e Bolsonaro", prossegue o dossiê.

O governo Bolsonaro afirma que o acordo de Alcântara estimulará o desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro e poderá gerar investimentos de até R$ 1,5 bilhão na economia nacional.

O Brasil diz pretender "tornar o Centro Espacial de Alcântara, no Maranhão, competitivo mundialmente e um grande atrativo de recursos para o Brasil no setor espacial".


Outros temas

Ao longo de mais de suas mais de 30 páginas, o texto também defende que os EUA divulguem documentos secretos sobre a ditadura no Brasil e que o Departamento de Justiça responda a questionamentos sobre a suposta participação dos EUA na operação Lava Jato.

Em agosto de 2019, o parlamentar Hank Johnson, junto outros 12 congressistas, pediu esclarecimentos sobre a relação dos norte-americanos com a operação brasileira, mas não teve resposta.

Em coro com relatórios recentes de organizações globais de direitos humanos sobre o Brasil, o dossiê também recomenda que o governo americano se coloque enfaticamente contra a violência policial no Brasil, os assassinatos de ativistas e trabalhadores rurais no país e a ataques contra religiões de matriz africana.

O texto também cita extinção do Ministério do Trabalho pelo governo Bolsonaro e "políticas de desmantelamento de direitos dos sindicatos, financiamento sindical, negociações coletivas e sistemas de fiscalização do trabalho" como temas a serem revertidos antes da discussão de qualquer acordo de livre-comércio com o Brasil.

Em foto de março de 2018, Bolsonaro assina livro de visitas da Casa Branca

O dossiê não foi enviado a membros do governo brasileiro.

Longe de Washington, após se tornar o último líder de um pais democrático a reconhecer a vitória de Biden e Harris, Bolsonaro vem tentando manobrar para reduzir os danos na relação entre os dois países.

Em janeiro, depois de defender teorias de conspiração infundadas sobre fraudes na eleição americana, o presidente brasileiro assinou uma carta de cumprimentos ao novo líder dos EUA.

"A relação Brasil e Estados Unidos é longa, sólida e baseada em valores elevados, como a defesa da democracia e das liberdades individuais. Sigo empenhado e pronto para trabalhar pela prosperidade de nossas nações e o bem-estar de nossos cidadãos", dizia o texto, que não teve resposta.

À BBC News Brasil, em novembro, o embaixador brasileiro em Washington, Nestor Forster, disse acreditar que a proximidade entre os dois países se manteria em um eventual governo Biden. "Acreditamos firmemente que, independente do resultado das eleições aqui nos EUA, essa agenda vai continuar e a importância do Brasil não vai mudar porque está esse ou aquele partido. Temos a melhor relação com os dois partidos políticos, como é natural em uma democracia."

Dias antes, no entanto, parlamentares democratas haviam chamado Bolsonaro de "pseudoditador" e classificado acordos entre os dois países como "tapa na cara do Congresso".

Fonte: BBC News Brasil


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Jamil Chade: Biden deverá desmontar agenda que uniu Trump e líderes populistas, como Bolsonaro


(Foto: KEVIN LAMARQUE/REUTERS)

 Governo do presidente dos EUA, Joe Biden, deverá se distanciar criadas por Donald Trump e outros líderes populistas, como Jair Bolsonaro. Objetivo é se afastar da “defesa de agendas religiosas, políticas ultraconservadoras, ataques às instituições multilaterais e de desmonte dos pactos de direitos humanos"


247 O governo do novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deverá se distanciar “das alianças formais e informais que tinham sido criadas nos últimos anos” entre seu antecessor, Donald Trump, e outros líderes populistas, como Jair Bolsonaro. Segundo reportagem do jornalista Jamil Chade, no UOL, o objetivo é se afastar da “defesa de agendas religiosas, políticas ultraconservadoras, negacionismo ambiental, ataques às instituições multilaterais e de desmonte dos pactos de direitos humanos”.

De acordo com Chade, um dos indicativos da mudança de agenda que deve ser imposta por Biden foi feito pelo novo chefe da diplomacia dos EUA. “Questionado por mais de quatro horas, o experiente negociador que irá assumir o Departamento de Estado norte-americano foi explícito em dizer que será uma de suas prioridades lidar com a ameaça do populismo”.

Dentre os planos expostos por ele,  está “a ideia da realização no segundo semestre do ano de uma cúpula para a promoção da democracia, reunindo países aliados”. O encontro seria uma espécie de “resposta ao movimento mundial de extrema direita, assim como um marco de sua presidência diante de ditaduras pelo mundo”, ressalta o jornalista. “Diplomatas brasileiros interpretaram a referência ao projeto como um sinal claro de que o tema da "democracia" estará presente nas decisões de Biden e que isso, potencialmente, pode ser uma pressão sobre o governo Bolsonaro”, afirma. 

Ainda conforme Jamil Chade, “Blinken ainda deixou claro que a agenda ambiental do novo governo americano será implementada "imediatamente". Isso inclui a volta ao Acordo Climático de Paris e o engajamento de Washington em negociações em diferentes fóruns”.

Chade também destaca que o governo Biden ‘colocará "atenção sustentável" nas questões das Américas e que a região será uma "área de foco"’. 


UOL

Joe Biden faz o 1° discurso como presidente dos EUA: "A democracia prevaleceu" O democrata Joe 

Biden tomou posse como presidente dos EUA nesta quarta-feira (20). Ele assume presidência em cerimônia com segurança reforçada e sem a presença de Donald Trump. "Este é o dia da América ... Hoje celebramos o triunfo não de um candidato, mas de uma causa - a causa da democracia", afirmou. "Eu serei um presidente para todos os americanos", disse na posse.





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