Enquanto esteve na orla, foi tietado por apoiadores
do governo federal que pediram por fotos e registros do encontro com o Fabrício
- apontado pelo Ministério Público como operador de um esquema de desvio de
dinheiro público na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Junto ao bolsonarista estava o deputado federal Otoni de
Paula (PSL-RJ) - que recentemente foi alvo de buscas expedido pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), investigado por incitar atos violentos e
antidemocráticos.
Bandido de estimação Fabrício Queiroz, apontado pelo MP como operador do esquema de "rachadinhas" no gabinete de Flávio Bolsonaro, hoje foi tietado por bolsonaristas no Rio de Janeiro.#ForaBolsonaropic.twitter.com/Auz2pD9V8w
Patriotas abraçam e festejam Queiroz, o homem no centro do escândalo do peculato da Família Bolsonaro. Do esconderijo em Atibaia para os braços dos homens de bem. pic.twitter.com/OFuLZejKHd
Grampos sugerem que comparsas do miliciano Adriano da
Nóbrega recorreram a Bolsonaro
Diálogos transcritos de grampos telefônicos sugerem que o
presidente Jair Bolsonaro foi contactado por integrantes da rede de proteção do
ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, chefe da milícia Escritório do Crime. As
conversas fazem parte de um relatório da Subsecretaria de Inteligência da
Secretaria de Polícia Civil do Rio elaborado a partir das quebras de sigilo
telefônico e telemático de suspeitos de ajudar o miliciano nos 383 dias em que
circulou foragido pelo país.
Logo após a morte do miliciano, cúmplices de Adriano da
Nóbrega fizeram contato com “Jair”, “HNI (PRESIDENTE)” e “cara da casa de
vidro”. Para fontes do Ministério Público do Rio de Janeiro ouvidos na condição
de anonimato, o conjunto de circunstâncias permite concluir que os nomes são
referências ao presidente Jair Bolsonaro. “O cara da casa de vidro” seria uma
referência aos palácios do Planalto, sede do Executivo federal, e da Alvorada,
a residência oficial do presidente, ambos com fachada inteiramente de vidro.
Após as citações, o Ministério Público Estadual pediu que a
justiça encerrasse as escutas dos envolvidos nas conversas, apesar de eles
seguirem trocando informações sobre as atividades ilegais de Adriano da
Nóbrega. A interrupção reforça a ideia de que trata-se do mesmo Jair que
hoje ocupa o Planalto. O MP estadual não pode investigar o presidente da
República. Em casos deste tipo, tem a obrigação constitucional de encerrar a
investigação e encaminhar o processo à Procuradoria Geral da República, que tem
esse poder. Questionada, a PGR informou que buscas nos sistemas da Procuradoria
por meio do número de processo indicado não retornaram resultados. Uma fonte
ouvida pela reportagem que conhece o sistema da PGR, no entanto, entende que
isso pode significar tanto que o processo foi encaminhado com outro número
quanto que ainda não foi encaminhado ou mesmo que a procuradoria apenas não o
encontrou em seus arquivos.
O Intercept já havia reportado sobre as
escutas em fevereiro,
quando mostramos como Adriano dizia que “se fodia” por ser amigo do presidente
da República, e em março, quando detalhamos a briga pelo espólio
deixado pelo ex-caveira. As referências a “Jair” e “cara da casa de vidro”
constam em novos documentos recebidos pela reportagem, que, em conjunto com as
escutas anteriores, permitem entender a amplitude das relações do miliciano e
da rede que lhe deu apoio no período em que passou foragido.
Adriano da Nóbrega fugia da justiça desde janeiro de 2019,
quando o Ministério Público do Rio pediu a sua prisão, acusando-o de chefiar a
milícia Escritório do Crime, especializada em assassinatos por encomenda.
Ex-integrante da elite do batalhão de elite da Polícia Militar do Rio, ele foi
expulso da corporação em 2014 por relações com a máfia do jogo do bicho.
As conversas de apoiadores do miliciano com supostas
referências ao presidente começaram a aparecer nos grampos a partir do dia
da morte de Adriano, em 9 de fevereiro de 2020, e continuaram por mais 11
dias. No dia 9 pela manhã, o miliciano foi cercado por policiais do Rio e
da Bahia, quando se escondia no sítio do vereador Gilson Batista Lima Neto, o
Gilsinho de Dedé, do PSL, em Esplanada, cidade a 170 quilômetros de Salvador.
Segundo os agentes, o miliciano reagiu a tiros à ordem de se render. Os
policiais reagiram e mataram Adriano com dois tiros.
‘Cara da casa de vidro’
De acordo com as transcrições, a primeira ligação
supostamente feita ao presidente aparece no dia 9 de fevereiro de 2020 à noite,
horas depois que Adriano foi morto. Ronaldo Cesar, o Grande, identificado pela
investigação como um dos elos entre os negócios legais e ilegais do miliciano,
diz a uma mulher não identificada (MNI, no jargão policial) que ligaria para o
“cara da casa de vidro”. No telefonema, demonstra preocupação com pendências
financeiras e diz que alertou Adriano que “iria acontecer algo ruim”. Ele fala
ainda que quer saber “como vai ser o mês que vem” e que a “parte do cara tem
que ir”.
Identificado pela polícia como ele entre os negócios legais
e ilegais do miliciano, Grande diz que vai “ligar para o cara da Casa de
Vidro”. Imagem: Reprodução/MPRJ
Quatro dias após a morte de Adriano, em 13 de fevereiro de
2020, Grande fala com um homem supostamente não identificado (HNI), que tem ao
lado, entre parênteses, a descrição “PRESIDENTE” em letras maiúsculas, e relata
problemas com a família de Adriano devido à divisão de bens. O interlocutor se
coloca à disposição caso ele venha a ter algum problema futuro. Apenas duas
frases do diálogo de 5 minutos e 25 segundos foram transcritas.
Polícia identifica interlocutor que conversa com comparsa de
Adriano como “PRESIDENTE”. Imagem: Reprodução/MPRJ
No mesmo dia 13, o nome “Jair” aparece em conversas de
outros comparsas de Adriano – o pecuarista Leandro Abreu Guimarães e sua
mulher, Ana Gabriela Nunes. O casal, segundo as investigações, escondeu Adriano
da Nóbrega numa fazenda da família nos arredores de Esplanada após ele ter
conseguido escapar ao cerco policial a uma luxuosa casa de praia na Costa do
Sauípe, no litoral baiano, em 31 de janeiro de 2020.
Num dos diálogos, de pouco mais de cinco minutos, Ana
Gabriela relata a uma interlocutora identificada apenas como “Nina” que “a
polícia retornou com o promotor” a sua casa e que não pretende voltar para lá
por causa dos jornalistas. Na sequência, diz: “Leandro está querendo falar com
Jair”.
Após a morte do miliciano, Ana Gabriela diz a uma
interlocutora identificada apenas como Nina que o esposo, Leandro Guimarães,
quer falar com Jair, numa possível referência ao presidente.
Imagem: Reprodução/MPRJ
Leandro Guimarães é descrito pelos policiais como um
vaqueiro premiado, que ganha a vida organizando e participando de rodeios. Foi
num desses eventos que o ex-capitão comprou 22
cavalos de raça mesmo estando foragido da justiça.
Minutos depois, Ana Gabriela faz outra ligação. O telefonema
iniciou às 8h50 e terminou às 8h51. No campo de comentários, o documento sugere
que o diálogo aconteceu entre Gabriela e Jair. A conversa, contudo, não é
transcrita na íntegra. Os analistas apenas reproduzem a mesma frase destacada
anteriormente: “Gabriela diz que Leandro quer falar com Jair”.
No campo de comentários, o documento sugere que o diálogo
aconteceu entre Ana Gabriela e Jair. Imagem: Reprodução/MPRJ
Logo após os episódios, o analista da Polícia Civil sugere
que não sejam renovados os grampos do casal. O mesmo acontece com Grande, que,
pelo teor dos telefonemas, segue tratando dos negócios de Adriano da Nóbrega e
chega a ser chamado de “chefe” em uma das interceptações. O Ministério Público
Estadual do Rio, que não tem atribuição para investigar suspeitas sobre o
presidente da República, aceitou a recomendação. O mesmo procedimento já havia
sido adotado depois que Orelha e a irmã de Adriano citaram
Bolsonaro em seus telefonemas, como mostramos em fevereiro no Intercept.
Questionamos o Ministério Público Estadual sobre o porquê
das escutas dos suspeitas terem sido encerradas após as menções ao “homem da
casa de vidro”, a “Jair” e “HNI (PRESIDENTE)” e, sobretudo, se a instituição
remeteu à Procuradoria-Geral da República as suspeitas da ligação dos suspeitos
com o presidente Jair Bolsonaro. Não recebemos nenhum retorno até a publicação
desta reportagem.
Por favor, preste atenção: esta reportagem faz parte de uma
série de matérias baseadas nas escutas que o MP realizou enquanto investigava o
miliciano Adriano da Nóbrega. Apesar das escutas, o processo foi paralisado.
Ele voltou a andar depois que começamos a investigar. O Intercept quer
continuar contando essa história porque ela pode mudar os rumos do país.
Precisamos da ajuda dos nossos leitores para isso. → Clique e contribua com qualquer valor.
‘Muito fiscalizado’
O nome do presidente já havia sido citado anteriormente em
diálogos da irmã de Adriano, Tatiana da Nóbrega, e do sargento da PM Luiz
Carlos Felipe Martins, o Orelha, um dos homens de confiança do miliciano, como
revelou o Intercept
em março. Ao dizer a um interlocutor não identificado que “Adriano falava
que se fodia por ser amigo do presidente da República”, Orelha acendeu a luz
amarela entre policiais e promotores envolvidos na perseguição ao ex-capitão.
“Essa luz passou a piscar vermelha no decorrer da análise das escutas e
transcrição das conversas dos suspeitos de proteger o miliciano foragido
enquanto o cerco se fechava”, me disse um dos envolvidos na investigação sob a
condição de anonimato.
Para os investigadores, o conteúdo das novas transcrições
sugere que a amizade entre o miliciano e o presidente não seria mera bravata
entre os seus comparsas. Os Bolsonaro têm uma relação antiga com o ex-caveira.
Em 2005, enquanto estava preso preventivamente pelo assassinato de um guardador
de carros, Adriano foi condecorado pelo então deputado estadual Flávio
Bolsonaro com a medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia
Legislativa do Rio, a Alerj. Uma semana após a morte do miliciano, em 15 de
fevereiro de 2020, o presidente Bolsonaro o chamou de “herói”
e afirmou que recomendou pessoalmente que o filho desse a medalha ao
então policial. Flávio ainda empregou
a mãe e a ex-mulher de Adriano em seu gabinete na Alerj, situação hoje
investigada no inquérito
das Rachadinhas.
Embora o ex-capitão usasse uma identidade falsa em nome de
Marco Antônio Cano Negreiros, trechos das transcrições das quebras de sigilo
mostram que todos os suspeitos ligados à rede de proteção de Adriano da Nóbrega
sabiam que ele era foragido.
Em um diálogo captado em 7 de fevereiro, dois dias antes da
operação que resultou na morte do ex-capitão, Ana Gabriela diz à mãe que não
pode dar maiores explicações por telefone. A mãe então pergunta: “o rapaz está
aí com você?” Ela reage com nervosismo e desconversa: “Não adianta que não vou
dizer onde o rapaz está. Ele está em Esplanada com o Leandro”. A mãe insiste e
acrescenta: “Graças a Deus que vocês não estavam na Costa do Sauípe. Esse rapaz
não poderia estar por aqui. Ele está sendo muito fiscalizado”, concluiu.
Trecho de uma conversa entre Ana Gabriela e a mãe em que ela
diz que o “rapaz”, que a polícia entende ser Adriano, está em Esplanada (BA)
com o marido. Imagem: Reprodução/MPRJ
Antes de se refugiar no sítio do vereador Gilsinho de Dedé,
em que acabou sendo morto, e na fazenda do casal Leandro e Gabriela, o
ex-oficial do Bope contou ainda com a ajuda de uma prima e de outro fazendeiro
da região. As escutas dão a entender que a veterinária Juliana Magalhães da
Rocha, que trabalhava como tratadora dos cavalos e das cabeças de gado do
miliciano, chegou a alugar um carro que foi usado na fuga do ex-capitão do
litoral baiano para o interior do estado. Já o fazendeiro Eduardo Serafim, proprietário
de um rancho em Itabaianinha, na divisa de Sergipe com a Bahia, abrigou parte
dos animais do chefe do Escritório do Crime.
É na fazenda de Serafim que ficavam os 22 cavalos de raça
comprados por Adriano. Nas transcrições, a polícia sugere que Adriano ou a
atual esposa Julia Lotufo visitaram o local. Imagem: Reprodução/MPRJ
Mesmo com provas robustas de que ajudaram Adriano na fuga,
nem o casal Leandro e Gabriela, nem o vereador Gilsinho, a veterinária Juliana
ou o fazendeiro Serafim foram denunciados à justiça pelo MP do Rio. Procurada
pela reportagem, a instituição não explicou porque preferiu deixá-los de fora
da denúncia.
Uma investigação pegando poeira
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado,
o Gaeco, do MP do Rio, levou 406 dias para denunciar parte da rede de apoio ao
miliciano. A operação Gárgula foi posta em prática após o Intercept ter
revelado a disputa em torno dos bens do miliciano, em 19 de fevereiro deste
ano. No mesmo dia da publicação da reportagem, o MP denunciou à 1ª Vara
Criminal Especializada do Tribunal de Justiça nove dos 32 suspeitos.
Apesar das evidências de que a mãe de Adriano, suas irmãs
Tatiana e a sua ex-mulher também se beneficiaram do dinheiro ilegal acumulado
pelo miliciano, o MP optou por levar à justiça apenas a então companheira do
miliciano, Júlia Lotufo, e os policiais militares Rodrigo Bittencourt Rego e
Orelha. Os três tiveram as prisões decretadas a pedido dos promotores.
No dia seguinte ao pedido de prisão, Orelha sofreu uma
emboscada em frente de sua casa, em Realengo, na zona oeste do Rio e foi
morto a tiros de fuzil. Dois dias depois, o coordenador do Gaeco,
promotor Bruno Gangoni, aventou a possibilidade de o crime ter sido queima de
arquivo, mas sem dar maiores esclarecimentos. Um dos principais aliados de
Adriano, o PM poderia ter informações fundamentais para o desenrolar de
investigações relacionadas às Rachadinhas no gabinete de Flávio Bolsonaro e à
morte de Marielle, em que há fortes suspeitas do envolvimento do Escritório do Crime.
O Intercept questionou o MP sobre quem seriam os
beneficiados com a morte do policial-miliciano e o motivo da denúncia não ter
incluído os nomes dos integrantes da família de Adriano e seus aliados na
Bahia. Mais uma vez, não obteve resposta até a publicação desta reportagem. A
Presidência da República também não nos respondeu se o presidente entrou ou não
em contato com comparsas do miliciano logo após a sua morte.
Atualização – 24 de abril de 2021, 12h40
O texto foi atualizado para acrescentar mais detalhes do
posicionamento da PGR.
Parlamentares, movimentos sociais, amigos e familiares da
vereadora do PSOL realizam hoje, ações nas ruas e nas redes sociais para
pedir por Justiça pelo assassinato brutal que marcou a história do país.
Para muitos, o assassinato foi um ataque à democracia, e uma
tentativa de silenciar uma voz que clamava pelos direitos da população negra e
periférica, das mulheres, e das pessoas LGBTQIA+.
"Não podemos ficar caladas e precisávamos agir de
alguma forma para seguir denunciando esse crime e contando justiça, mesmo nesse
contexto de pandemia, de altos índices de contaminação, em que não podemos
estar nas ruas coletivamente. por isso as mulheres do PSOL se uniram em todo
país para somar-se as ações nesse dia 14 de pressão para que o caso tenha
celeridade", aponta a jornalista Simone Nascimento, que esteve a
frente das ações de hoje do PSOL, em São Paulo (SP).
Já para a professora Rose Cipriano, vinculada ao partido de
Marielle no estado do Rio de Janeiro, as ações de hoje são fundamentais
diante do silêncio que perdura após 3 anos sem resolução das
investigações.
"O 14 de março significa manter viva a memória e a
luta por justiça que marcaram a vida e a trajetória de Marielle Franco. Neste
duro momento de pandemia, as imagens de Marielle falaram por nós" afirma.
Até o momento, somente o sargento aposentado da Polícia Militar Ronnie
Lessa e o ex-PM Élcio Queiroz foram detidos. Eles estão presos
desde março de 2019 e irão a júri popular.
Confira como foram as ações do #14M no Brasil e no mundo:
Em São Paulo (SP), na região da Avenida
Paulista, mulheres parlamentares do PSOL fizeram ato simbólico, pedindo
justiça para Marielle e Anderson.
Ação das parlamentares do PSOL-SP, em memória a Marielle -
Annelize Tozetto
Na ponte de Westminster, em Londres, capital da Inglaterra,
o ato ‘Justice for Marielle’ foi uma ação conjunta dos coletivos Amazon
Rebellion, Brazil Matters, Democracy for BRASIL e UK Tambores Livres.
Ato ‘Justice for Marielle’ , em Londres / Francisco Santos
O comitê Lula Livre de Genebra, na Suíça, escolheu se
manifestar em frente à ONU, em homenagem à Marielle.
Ato por Marielle em Genebra, Suíça / Comitê Lulalivre
Genebra
No Alto Sertão de Alagoas, a Brigada José Elenilson, do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), também cobrou justiça pelo
assassinato.
Mulheres do MST em luta por Marielle / MST em Alagoas
Mulheres do assentamento Fidel Castro, em Joaquim Gomes
(AL), também denunciaram o crime e celebraram o legado da parlamentar.
Mulheres do MST unidas por Marielle/ MST
Em Governador Valadares (MG), alimentos saudáveis e roupas
foram doados no Residencial Sertão do Rio Doce. Na ocasião, foi debatido a
história e o legado de Marielle.
Mulheres sem terra, em Alagoas / MST
Nos estados do Ceará e na Paraíba, as mulheres sem-terra
plantaram árvores em homenagem a Marielle e cobrando respostas ao caso que
segue impune.
Plantio de árvores / MST
No assentamento Dandara dos Palmares, em Campos dos
Goytacazes (RJ), ipê, abacate, laranja,
limão, romã e café foram plantados no Bosque Marielle Franco, construído neste
domingo (14).
Acampamento Noelton Angélico, em Brazlândia (DF) / MST
No Aterro do Cocotá, na Ilha do Governador (RJ), foi
inaugurado o Bosque Marielle Franco, para celebrar a morte da vereadora e a
“esperança de que suas sementes continuem florescendo”.
Ação hoje no Aterro do Cocotá / Comunicação MST no RJ
A Campanha de Solidariedade da Escola Nacional Paulo Freire,
que reúne organizações como Levante Popular da Juventude, MTD, MST, Rede de Cursinhos
Podemos+ e Consulta Popular, realizou o Marmitaço "Por Marielle, pela
vida, Mulheres contra a fome, Fora Bolsonaro" neste domingo. Foram 300
marmitas distribuídas nos bairros Boqueirão e Jardim São Savério, na periferia
de São Paulo.
Ação da Escola Nacional Paulo Freire, hoje (14), na zona sul
de São Paulo (SP) / Comunicação - Campanha de Solidariedade Periferia Viva
A noite deste domingo (14), em diversas capitais
brasileiras, também foi de projeções para lembrar Marielle e os três anos de
impunidade.
Projeção por Marielle, em São Paulo (SP) / Annelize Tozetto
Sobrevivente do atentado contra Marielle desabafa: Ainda
estamos sem respostas
Em entrevista ao Brasil TVT, a jornalista e ex-assessora de
Marielle Franco, Fernanda Chaves fala dos três anos do assassinato da
ex-vereadora e do ex-motoris Anderson Gomes sem resposta.
Carmen Eliza foi madrinha de casamento de Luciana Pires,
defensora do filho do presidente
Nas redes sociais, Carmen Eliza aparece em fotos no chá de
lingerie de Luciana Pires e na foto oficial do casamento da advogada, em 2018
São Paulo – A promotora Carmen Eliza assumirá a investigação contra Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ) no inquérito que apura o crime de falsidade
ideológica eleitoral cometido pelo senador. Carmen, porém, é madrinha de
casamento de Luciana Pires, advogada do filho do presidente da República, e
também apoiadora assídua de Jair Bolsonaro.
O senador é investigado, há dois anos, por suspeita de cometer
falsidade ideológica eleitoral por ter omitido bens e ter apresentado valores
diferentes sobre um mesmo imóvel em declarações de bens entregues à Justiça
Eleitoral em 2014 e em 2016.
O imóvel é uma cobertura que fica no bairro de
Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Na declaração de bens em 2014, Flávio
Bolsonaro informou que o apartamento foi comprado pelo valor total de R$ 565
mil. Dois anos depois, em 2016, o senador declarou somente R$ 423 mil.
Entretanto, outros documentos mostram que o valor total da cobertura é de R$
1,7 milhão.
Quem é Carmen Eliza?
A nova promotora da investigação do caso é amiga íntima da
defensora de Flávio Bolsonaro. Nas redes sociais, Carmen Eliza aparece em fotos
no chá de lingerie de Luciana Pires e na foto oficial do casamento da advogada,
em 2018.
No fim
de 2019, Carmen Eliza se afastou do inquérito sobre o assassinato da
vereadora Marielle Franco, depois que foi revelado que a promotora apoiou a
campanha de Jair Bolsonaro para a Presidência. Em suas redes, ela aparece
usando uma camiseta com o rosto de Jair Bolsonaro e a frase “Bolsonaro
presidente”.
Em outra postagem de 1º de janeiro de 2019, Carmen Eliza
fotografou a cerimônia de posse de Jair Bolsonaro e escreveu na legenda: “Há
anos não me sinto tão emocionada. Essa posse entra naquela lista de conquistas,
como se fosse uma vitória”.
Em outra foto, a promotora aparece abraçada com o deputado
Rodrigo Amorim (PSL-RJ), que quebrou uma placa em homenagem à vereadora
Marielle Franco. Depois da repercussão, Carmen Eliza pediu afastamento da
investigação, na época.
PROMOTORA BOLSONARISTA SE AFASTA DO CASO MARIELLE. SÓ ISSO? - 7 de nov. de 2019
Após ser desmascarada pelo site The Intercept-Brasil e por
vários ativistas digitais, a promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho
“solicitou voluntariamente” na sexta-feira (1) o seu afastamento da
investigação sobre os assassinatos da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e do
motorista Anderson Gomes. Há boatos, porém, de que o “pedido” foi precedido de
bate-boca entre integrantes do Ministério Público do Rio de Janeiro, que não
gostaram da sua presença na entrevista que livrou a cara do “capetão” Jair
Bolsonaro e rotulou de “mentira” o depoimento do porteiro do condomínio
Vivendas da Barra – que vazou no Jornal Nacional da TV Globo.
O maior lobista pró-armas de Bolsonaro só não está preso
graças ao pacote que Sergio Moro chamava de anticrime.
Loester Trutis foi eleito na onda conservadora de 2018.
Antes da posse, vendia “Trump Burguer” em uma lanchonete em Mato
Grosso do Sul. Foto: Assessoria Loester Trutis
O DEPUTADO BOLSONARISTA Loester Trutis relata
ter sofrido uma emboscada em fevereiro do ano passado. Ele e seu assessor
estariam na rodovia BR-060, entre Sidrolândia e Campo Grande, em Mato Grosso do
Sul, quando o motorista de uma caminhonete emparelhou com o seu carro e disparou
uma rajada de tiros de carabina. Por milagre, nenhum dos tiros teria atingido o
deputado e seu assessor, que dirigia o carro. O deputado, que estaria
descansando no banco de trás, disse que reagiu valentemente com tiros,
colocando os criminosos para correr. Orgulhoso do seu heroísmo, escreveu no
Facebook ao lado de uma foto do seu carro alvejado: “Graças a Deus pude revidar
e aguardar a chegada da polícia. Quem achou que eu ia parar ou me calar, digo
que estamos apenas começando e sigo trabalhando”.
Trutis contou para a Polícia Federal que suspeitava que os
criminosos fossem traficantes de drogas e cigarros insatisfeitos com sua
atuação parlamentar implacável contra a bandidagem. Realmente seria um ato
heroico, digno de Hollywood, se não fosse só mais uma mentira escabrosa dita
por um político bolsonarista. Sim, Loester Trutis forjou o atentado. Pelo menos
foi isso o que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal concluíram após
meses de investigação.
Nenhuma das informações fornecidas pelo deputado batiam com
o que foi apurado pela PF, o que fez com que os policiais desconfiassem da
história. O GPS do carro indicava localizações completamente diferentes das
relatadas por Trutis. Ele também informou o modelo e o final da placa da
caminhonete, mas as câmeras de segurança da rodovia não registraram a passagem
do veículo. Com os dados fornecidos, a polícia encontrou a única caminhonete
que batia com a descrição: era de propriedade de um fazendeiro de 71 anos,
velha, com problemas mecânicos que a tornavam inútil para uma perseguição em
alta velocidade numa rodovia. Com aquela inteligência própria dos reacionários,
Trutis deu detalhes
das armas dos atiradores: “CTT, calibre .40, […] não se tratava de um
fuzil, pois o carregador era retilíneo e não curvo”. Mas a perícia indicou que
os tiros partiram de uma Glock 9mm de um atirador que estava em pé e parado. O
modelo da arma é o mesmo de uma que o deputado gostava de exibir nas redes
sociais. O exibicionismo bélico, esse fetiche do bolsonarismo, fez os
investigadores ficarem ainda mais desconfiados.
Mas qual seria a motivação de Trutis em simular um atentado?
A PF e o MPF concluíram que ele queria faturar politicamente em cima do caso. O
MPF apontou que o deputado seguiu fazendo
postagens sobre o atentado durante muito tempo, “sempre associando os fatos a
uma disputa política no Mato Grosso do Sul e exaltando o fato de que estava
armado”. A conclusão das autoridades faz todo sentido, já que a principal pauta
de Trutis na política é justamente a flexibilização do Estatuto do
Desarmamento.
Em sua casa, foram encontradas um arsenal de armas: a
pistola Glock que ele adorava exibir na internet, um fuzil, um revólver calibre
357 e muita munição. Além de estarem em nome de laranjas, todas essas armas são
ilegais, pois são de uso restrito. Outro agravante: o deputado estava impedido
de ter armas em seu nome porque a lei exige uma ficha criminal limpa, o que
definitivamente não é o seu caso. Trutis tem antecedentes
criminais, que vão de violência doméstica a tentativa de estupro.
O machão foi preso em flagrante, mas ficou apenas um dia na
cadeia. A ministra Rosa Weber determinou a soltura imediata do parlamentar com base numa mudança
feita pelo pacote anticrime de Sergio Moro: a Lei 13.965, aprovada no Congresso
com o voto favorável de Trutis, mudou a pena para o flagrante de posse de arma
de uso restrito, que deixou de ser um crime inafiançável. Um sujeito como
Trutis pode agora desfrutar da liberdade graças às medidas de Moro e Bolsonaro.
É irônico que o pacote seja chamado de anticrime.
Uma lei do pacote anticrime de Moro livrou Trutis da prisão
por porte ilegal de armas. Foto: Reprodução/Facebook
Loester Trutis é um legítimo representante do jeito novo de
fazer política consagrado pelo bolsonarismo. Até pouco tempo antes de se
candidatar pela primeira vez em 2018 e ser eleito na onda reacionária que tomou
conta do país, Trutis era um cidadão comum, proprietário de lanchonete e
militante reacionário na internet. Atacava comunistas e xingava jornalistas, a
quem costuma
chamar de “maconheiros”. Ficou famoso nas redes sociais por vender em sua
lanchonete o Bolso
Burger, The Trump Burger e o Geisel Burger, uma homenagem aos extremistas
de direita.
Durante a eleição, apresentou-se como um cidadão de bem que
luta em defesa da família e pelo direito de andar armado. O seu jingle de campanha
era uma paródia da música tema do filme Tropa de Elite: “chegou o Tio Trutis,
osso duro de roer. Malandro e maconheiro ele vai mandar prender”. A letra da
música também exaltava a Polícia Federal, a mesma que hoje ele acusa de
manipular as investigações do seu atentado falso.
Apesar de neófito na política, o deputado é da linha de
frente da bancada da bala. “Tio Trutis”, como é conhecido, é o idealizador da
segunda bancada da bala, criada para defender a facilitação da compra, posse e
porte de armas de fogo. Inclusive, ele usou o fato de presidir a bancada
para justificar
seu arsenal de armas ilegais: “Sim, foram encontradas várias armas na minha
casa, pois sou o presidente da Frente Parlamentar Armamentista, presidente do
Instituto Brasileiro da Cultura Armamentista. Porra, vocês queriam que achassem
o que na minha casa?”.
A Frente
Parlamentar Armamentista nasceu da iniciativa de Trutis, que logo no
começo do mandato recolheu assinaturas para a sua criação. O lobby para a
indústria de armas é descarado. Trutis e outros quatro deputados do PSL,
integrantes da nova frente, foram até o Rio Grande do Sul para visitar a fábrica da Taurus, líder do mercado
nacional. A Taurus fabrica mais de 1 milhão de pistolas, fuzis,
submetralhadoras e revólveres por ano. A viagem dos deputados foi bancada pela
Associação Nacional de Indústria de Armas e Munições (Aniam), da qual a Taurus
é filiada.
Graças ao desfiguramento do Estatuto do Desarmamento,
resultado desse lobby bolsonarista, nunca circularam tantas armas no país.
Durante o governo Bolsonaro, a
importação de revólveres e pistolas é maior que nos governos Lula,
Dilma e Temer somados. Em dois anos, foram importadas mais armas do que nos 16
anos anteriores. Em 2020, houve uma alta de importação de 94% em relação ao ano
anterior, e a expectativa para 2021 é ainda maior. A explosão de registro de
novas armas no último ano aconteceu em
meio à alta no número de homicídios.
Negar a relação do aumento de homicídios com o aumento de
pessoas armadas é negar a ciência. Estudos do Mapa da Violência calculam que
o Estatuto do Desarmamento foi responsável por salvar mais de 160 mil vidas
entre 2003 e 2015. A relação direta entre o aumento do número de armas e o de
homicídios não está em debate entre os especialistas. Trata-se de um consenso
científico. O esquartejamento do estatuto, sustentado pela falsa ideia de
que cidadãos armados estão mais protegidos, favoreceu a criminalidade.
Estudos mostram que
entre 30% e 40% das armas apreendidas pela polícia com criminosos foram
compradas legalmente por pessoas não envolvidas em crimes. As milícias
agradecem. Afirmar que há mais segurança com cidadãos mais armados é mais um
negacionismo assassino — algo que a pandemia mostrou ser um traço fundamental
do bolsonarismo.
Durante a campanha para a presidência da Câmara, Arthur Lira
foi a Campo Grande para costurar apoios com a bancada sul mato-grossense. Entre
os deputados presentes estava Trutis que, apesar de parte do seu partido ter
orientado o voto em Baleia Rossi, se rebelou para
atender um “pedido do Planalto”. Na verdade, ter aderido ao bloco vencedor
pode ajudá-lo a garantir a manutenção do mandato em um provável processo no
Conselho de Ética por conta do falso atentado.
Loester Trutis personifica o bolsonarismo na sua mais pura
essência. É um negacionista sem freio, capaz de simular um atentado apenas para
conquistar dividendos políticos e eleitorais. As mamadeiras de piroca
fabricadas durante a campanha são brincadeira de criança perto do que o fetiche
bélico bolsonarista pode fabricar. A bancada da bala nunca esteve tão poderosa
e vem crescendo com base em falácias rejeitadas por todos os especialistas em
segurança pública. As mentiras do bolsonarismo seguem matando.
Durante operação que investiga suposto atentado contra o
Deputado Federal Tio Trutis, o parlamentar foi detido hoje (12) pela manhã por
posse ilegal de arma de fogo. Ele continua na Superintendência da Polícia
Federal de Campo Grande.
O programa, dirigido por Lázaro Ramos, vai ao ar no Dia da
Consciência Negra
A atriz Taís Araújo foi uma das escaladas pela TV Globo para
participar do especial “Falas Negras”, programa dirigido por Lázaro Ramos para ao
Dia da Consciência Negra, 20 de novembro. A premiada artista viverá a vereadora
Marielle Franco, assassinada em março de 2018 em um crime até hoje não
solucionado.
Em entrevista à jornalista Ana
Cláudia Guimarães, da coluna do Ancelmo do O Globo, a atriz contou que
gostaria de ter conhecido melhor a vereadora antes da execução e disse que
todos os brasileiros mereciam conhecê-la. “Eu senti vontade de ter conhecido
mais a Marielle. Me deu esse desejo de falar ‘meu Deus, por que eu não sabia
tão mais dela antes da execução?’. Eu acho que todos os brasileiros mereciam
conhecê-la mais. Ela tinha tanto a dizer e tanto a fazer…”, disse.
O programa contará com 22 atores negros interpretando
personalidades da vida real. Além de Marielle, aparecerão na tela Olaudah
Equiano, Martin Luther King, Nina Simone, Muhammad Ali e Angela Davis.
A atriz, que já recebeu o prêmio Most Influential People of
African Descent (Mipd) – concedido às personalidades afrodescendentes mais
influentes do mundo – da Organização das Nações Unidas (ONU) ao lado do esposo
Lázaro Ramos, ainda comentou sobre o racismo no Brasil durante a entrevista.
“Acho que tem uma conversa que saiu de dentro dos movimentos
e foi para as ruas. A sociedade civil está discutindo o assunto do racismo no
Brasil. O Brasil, inclusive, era tido como um país não racista, o que é uma
grande mentira. Então, eu acho que a gente tem um avanço nesse sentido, de que
a sociedade civil está discutindo o assunto. Agora, avanço propriamente dito de
qualidade de vida para a população negra, não”, declarou.
Rogério Ferreira da Silva morreu neste último domingo, 09,
após abordagem policial (Foto: Reprodução)
Policiais alegam que atiraram em Rogério Ferreira da Silva
Júnior porque tiveram a impressão de que ele iria “sacar arma”; vítima fez 19
anos no dia de sua morte
Segundo os PMs Guilherme Tadeu Figueiredo Giacomelli e Renan
Conceição Fernandes Branco, eles patrulhavam a região quando viram Rogério de
moto. Eles afirmam que deram sinal de parada, mas o jovem negro, que fazia 19
anos naquele dia, teria fugido.
Ainda de acordo com a versão dada pelos policiais ao DHPP
(Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, responsável
por investigar o caso, Rogério fez menção de sacar uma arma durante a
perseguição.
Giacomelli e Branco identificaram o ato de colocar a mão na
cintura como um risco “iminente de agressão”. O PM Giacomelli, então, decidiu
atirar. Deu um único tiro, que atingiu Rogério no lado direito das costas e
saiu abaixo da axila esquerda.
Segundo osPMs, o jovem dirigiu por mais 50 metros e, quando
parou a moto, caiu no chão e tentou se proteger no muro. Estas imagens foram
captadas por câmeras de segurança e têm “indício de execução”, segundo o
advogado Ariel de Castro, conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa
dos Direitos da Pessoa Humana).
Os PMs dizem não ter atirado em Rogério no momento em que
ele para a moto, como registrado em vídeo. Quando o revistaram, identificaram
que não havia nenhuma arma.
Ontem, o Rogério fez 19 anos e pegou a motocicleta de um amigo emprestado para comemorar o aniversário com o seu pessoal, em São Paulo.
Não deu tempo.
Rogério foi executado por dois policiais militares. Ele não estava armado, andando de boa em uma moto emprestada.
A versão oficial é de que pediram imediatamente socorro, mas
moradores da região viram a cena e um deles colocou o jovem negro no carro e o
levou ao Hospital Sesi, também no Parque Bristol. Rogério não resistiu aos
ferimentos.
A versão é considerada verídica para o delegado Ricardo
Travassos da Silva, do DHPP, responsável pela apuração do crime. Segundo ele, a
explicação de Giacomelli e Branco para a morte condiz com legítima defesa.
Travassos argumenta no Boletim de Ocorrência que o disparo
que matou Rogério é correto “diante de uma possível agressão por arma de fogo”.
Ainda destaca o fato de o motociclista ter incorrido “em várias infrações
criminais” ao fugir da PM como forma de sustentar seu argumento.
O documento da Polícia Civil tem sete enquadramentos para o
caso: homicídio simples, resistência, desobediência, dano qualificado, dirigir
sem permissão ou habilitação, trafegar em velocidade incompatível, permitir
direção do veículo automotor a pessoa não habilitada.
O delegado ainda cita o coronel Vinícius, identificado no
documento como comandante do 46º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano como
outra autoridade a considerar a legítima defesa neste caso. O coronel comanda o
batalhão onde os PMs Giacomelli e Branco trabalham, sendo responsável pelo
inquérito policial militar do crime.
Depois do socorro, os PMs alegam terem sido alvo de
protesto. As pessoas, revoltadas com a morte de Rogério, teriam jogado pedra na
direção das motos policiais, danificando o vidro de uma delas.
Tentativa de livrar a polícia
O advogado criminalista Flavio Roberto Campos, integrante da
EduCafro, considera errado o enquadramento em legítima defesa. Para ele, a
competência de fazer tal definição é do juiz ou do júri e não do delegado.
“O delegado não está fazendo um juízo de Polícia Judiciária,
está fazendo um de juiz. Está avaliando até o dolo do cara em uma situação
subjetiva”, avalia. “É um exagero de interpretação. Fica nítido o viés da
condução dessa investigação para isentar a SSP de responsabilidade”, argumenta.
Campos explica que a legítima defesa pode ser enquadrada,
mas em casos específicos. Exemplifica quando o policial está diante de uma
pessoa com uma arma de brinquedo e a mata. Neste caso, seria legítima defesa
por não saber se tratar de uma simulação de arma de fogo.
“Como o delegado coloca em inquérito? Você tem uma pessoa
baleada pelas costas, desarmada, ponto. Se o réu vai usar uma defesa dessas,
que use no júri. Vai absolver o cara no começo?”, questiona.
A advogada Débora Roque, integrante da Rede de Proteção e
Resistência ao Genocídio, que acompanha o caso, considera que a versão da PM é
uma justificativa para “atuação violenta da polícia”.
“O que as imagens mostram é mais uma das várias comprovações
do despreparo de uma polícia militar que atua como se estivesse em uma zona de
guerra, e a população, em sua grande maioria jovens, negros e moradores de
bairros periféricos, acabam por ser vítimas dessas atuações”, sustenta a
defensora.
Ela cobra que a investigação não acabe em impunidade, o que,
para Roque, seria matar Rogério duas vezes. “Independente da versão policial
contada no boletim, há uma certeza, Rogério não estava armado e o policial não
precisava ter atirado”.
Uma nova manifestação está agendada por moradores para às
18h desta segunda-feira (10/8), em frente ao CEU Bristol, unidade escolar
vizinha ao local em que Rogério foi atingido e caiu antes de morrer.
TV Globo dedicou quase meia hora do programa para explicar de forma didática a relação de Queiroz com o clã Bolsonaro e milicianos
O programa Fantástico, da TV Globo, apresentou três
reportagens na edição deste domingo (21), totalizando 27 minutos, que revelaram
didaticamente a relação de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro,
com os demais membros do clã presidencial e sua ligação com milicianos.
O programa também revelou a rotina “animada” de festas e
churrascos que o ex-assessor levava na casa de Atibaia (SP) de Frederick
Wasseff, advogado do presidente Jair Bolsonaro, onde foi preso na semana
passada.
“Ano Novo teve festa mesmo. Barulhenta, madrugada,
foguetório”, disse um morador à reportagem, que preferiu não se identificar.
De acordo com o programa, Queiroz também esteve por duas
vezes em um hospital de Atibaia para consultas e exames. Uma delas aconteceu no
dia 17 de janeiro, o que mostra que o ex-assessor estava em Atibaia há meses.
A reportagem também citou que investigações em curso no
Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) apontam para uma rede de amigos e
milicianos que davam apoio a Queiroz enquanto ele se escondia em Atibaia. De
acordo com a matéria, agentes estavam a postos para ajudar o ex-assessor caso
ele fosse preso.
Moradores falam de festas animadas na casa. Documentos mostram o ex-assessor de Flávio Bolsonaro cuidando da saúde em Atibaia em janeiro deste ano e, em um telefonema, a marcação de uma consulta médica: https://t.co/zWdXtZvNEQ#Fantástico
Um deles afirmou que levou Queiroz a Atibaia, em São Paulo, no ano passado. Muitos detalhes dessa investigação apareceram em conversas e imagens de um celular apreendido: https://t.co/9c97Rr2f3x#Fantástico
Há um ano e meio, Fabrício Queiroz é investigado por atuar como operador de um suposto esquema de rachadinha que seria liderado por Flávio Bolsonaro na Alerj: https://t.co/FNhi8fyLb3#Fantástico