Enquanto esteve na orla, foi tietado por apoiadores
do governo federal que pediram por fotos e registros do encontro com o Fabrício
- apontado pelo Ministério Público como operador de um esquema de desvio de
dinheiro público na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Junto ao bolsonarista estava o deputado federal Otoni de
Paula (PSL-RJ) - que recentemente foi alvo de buscas expedido pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), investigado por incitar atos violentos e
antidemocráticos.
Bandido de estimação Fabrício Queiroz, apontado pelo MP como operador do esquema de "rachadinhas" no gabinete de Flávio Bolsonaro, hoje foi tietado por bolsonaristas no Rio de Janeiro.#ForaBolsonaropic.twitter.com/Auz2pD9V8w
Patriotas abraçam e festejam Queiroz, o homem no centro do escândalo do peculato da Família Bolsonaro. Do esconderijo em Atibaia para os braços dos homens de bem. pic.twitter.com/OFuLZejKHd
Em entrevista ao Metrópoles, senador diz que fatos que ligam
o 01 e advogados à vacina indiana estão sob investigação
A CPI da Pandemia está investigando o envolvimento
de Flávio Bolsonaro no caso Covaxin,
esquema que pode ter envolvido a promessa de propina para a compra pelo Ministério da Saúde de
uma vacina indiana. A revelação foi feita por Renan
Calheiros, relator da CPI, durante entrevista ao Metrópoles (assista
à íntegra ao fim deste texto) realizada por vídeo nessa quarta-feira
(7/7), quando explicou que estão sob investigação fatos sobre a participação do
filho mais velho do presidente da República e de dois advogados na negociação
de imunizantes: Willer Tomaz, próximo a diversos políticos do Centrão e amigo
de Flávio Bolsonaro, e Frederick Wassef, um dos integrantes da defesa de Flávio
e também seu amigo.
Questionado por que perguntou sobre Willer e Wassef a Luis Miranda,
há duas semanas, no depoimento do deputado do DEM-DF, Renan afirmou que o fez
porque tem conhecimento de fatos que lhe despertaram suspeitas sobre uma
possível atuação ilegal dos dois.
“O relator tem acesso a aspectos variados da investigação. E
eu, como relator, fico obrigado a toda vez que há dúvida sobre o envolvimento
de alguém, ou sobre uma relação indecorosa de alguém com seja lá quem for, você
tem que perguntar”, disse, sendo indagado na sequência qual seria a suspeita da
relação dos dois advogados com o caso Covaxin: “Não posso antecipar fatos, mas
eu queria te dizer que nós estamos investigando e vamos continuar investigando,
sim”, disse.
Wassef
Willer Tomaz
OMetrópoles perguntou, então, se Flávio
Bolsonaro também era investigado. Respondeu Renan: “Também, da mesma forma, né?
Alguns aspectos precisam ser investigados (…) Eu estou compromissado com essa
investigação, seja em qual direção ela puder caminhar”.
Na sequência, diante de nova insistência do Metrópoles sobre
quais fatos seriam esses, Renan voltou a dizer que não detalharia a respeito do
que tem conhecimento, mas apontou o que já considera a confissão de um crime
por parte de Flávio Bolsonaro:
“O Flávio, por exemplo, numa intervenção na própria Comissão
Parlamentar de Inquérito, confessou que teria levado o dono da Precisa
[laboratório que intermediava a compra da vacina indiana] ao BNDES, né? Isso é
a confissão de um crime. Advocacia administrativa [quando um servidor defende
interesses particulares no órgão em que trabalha]. Isso não é competência de um
senador da República. Levar um driblador da lisura e do dinheiro público
[Francisco Maximiano, dono da Precisa] a um banco oficial para obter
empréstimos não é correto do ponto de vista da atribuição de um senador. Isso
foi uma confissão.”
Renan Calheiros disse ainda que Flávio não é formalmente
investigado porque isso só ocorre “na medida em que você vai tendo conhecimento
dos fatos e das provas e dos indícios”.
Renan Calheiros diz que relação de Flávio Bolsonaro com caso Covaxin deve ser investigada. Suspeita do senador recai também sobre dois advogados. Assista à entrevista do senador a mim e ao @caio_barbieri. https://t.co/hMYEgAF8Qdpic.twitter.com/aK9AgkCWUN
Grupo comandado por pastor foi ao Ministério junto a
Dominguetti e ofereceu doses de Astrazeneca e Johnson em parceria com Davati
Em março, uma organização evangélica que articulou a
aquisição de vacinas com o Ministério da Saúde (MS) ofereceu imunizantes da
AstraZeneca e da Johnson para prefeituras e governos estaduais junto à Davati
Medical Supply, revela apuração exclusiva da Agência Pública. A reportagem teve
acesso à carta encaminhada aos prefeitos e governadores pela Secretaria
Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) — presidida pelo reverendo Amilton
Gomes de Paula — na qual a entidade oferece as doses no valor de US$ 11 a
unidade, com prazo de entrega de até 25 dias. O valor seria 3 vezes maior que ofechado pelo Governo Federal para a mesma vacina da AstraZeneca com a Fiocruz,
que foi de US$ 3,16, e o dobro do valor do Instituto Sérum, de US$ 5,25.
Conforme a apuração, a carta da Senah teria sido enviada a
diversas prefeituras da região Sul do país. Uma delas foi parar em Ijuí,
município de pouco mais de 80 mil habitantes no noroeste do Rio Grande do Sul.
A Agência Pública conversou com Luciana Bohrer (PT), vereadora do gabinete
coletivo das Gurias, na cidade. Ela conta que tomou conhecimento da oferta por
meio de uma pessoa ligada à Senah e que não teve contato com representantes da
Davati.
Na época, de acordo com a vereadora, a organização
evangélica junto à Davati já haviam tentado “por mais de trinta dias” negociar
diretamente em reuniões com o Ministério da Saúde em Brasília, mas não teria
obtido sucesso. “Eram 400 milhões de doses, que eu me lembre, ainda seria
fechado em quatro pacotes de 100 milhões”, diz Bohrer. A carta da entidade
chegou à vereadora de Ijaí no dia 23 de março de 2021 e foi encaminhada ao
prefeito Andrei Cossetin, do Progressistas (PP). Segundo Bohrer, a negociação
não foi para frente. Procurada pela reportagem, a assessoria do prefeito
afirmou que ele estava em viagem e não respondeu até a publicação da
reportagem.
O reverendo Amilton Gomes, fundador e presidente da Senah,
esteve no Ministério da Saúde, conforme fotos publicadas em suas redes sociais
no dia 4 de março de 2021. Na postagem ele afirma que se reuniu com
representantes da pasta “para articulação mundial em busca de vacinas”. Na visita,
estava ao seu lado o policial militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominguetti,
que afirmou à Folha de S. Paulo que o diretor do Departamento de Logística
(DLOG) do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, teria cobrado propina
para compra de vacinas . Também esteve na visita o major da Força Aérea
Brasileira (FAB) Hardaleson Araújo de Oliveira, antigo conhecido do pastor.
Na foto, o pastor Amilton Gomes, da Senah, em visita ao
Ministério da Saúde junto a Dominguetti (o primeiro da foto à esquerda), o
diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis, Lauricio
Monteiro Cruz (ao meio) e major da Força Aérea Hardaleson Araújo de Oliveira
(segundo à direita)
Pastor Amilton Gomes foi à vigilância sanitária do
Ministério da Saúde tentar articular vacinas, junto a major da Força Aérea
Brasileira
A carta da Senah encaminhada aos gestores é assinada por
Amilton Gomes e indica um e-mail da organização religiosa, da Davati e do
empresário Renato Gabbi como contatos para “maiores esclarecimentos”. Gabbi é
dono de um bar em Chapecó, em Santa Catarina. A reportagem procurou o
empresário, que não respondeu até a publicação.
Roberto Dias, que foi indicado ao cargo pelo líder de
governo na Câmara, Ricardo Barros (PP/PR), foi exonerado nesta quarta-feira
(30/06), após denúncia do jornal.
Também teriam participado desse encontro, segundo
Dominguetti, o tenente-coronel Marcelo Blanco, que era assessor do DLOG na
gestão de Roberto Dias, e um empresário de Brasília.
A reportagem procurou o Ministério da Saúde e questionou a
pasta sobre a visita da Senah, tratativas de negociação de vacina e relações
com Luiz Paulo Dominguetti. A assessoria não respondeu até a publicação.
Na foto, pastor Amilton Gomes ao lado do senador Flávio
Bolsonaro
Líder da Senah criou frente parlamentar religiosa
O reverendo Amilton Gomes parece ter bom trânsito no meio político de Brasília. Em suas redes sociais ele tem fotos com o filho do presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota/RJ), como mostra a imagem acima, publicada em junho de 2019. Em uma outra postagem de maio daquele ano, o religioso comemorou receber uma moção de louvor na Câmara dos Deputados. Recentemente, o pastor apareceu na divulgação da “Conferência Nacional de Liderazgo” ao lado da deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL/SP).
Amilton Gomes participou ainda da criação da Frente Parlamentar Mista Internacional Humanitária pela Paz Mundial (FremhPaz) junto ao pastor Laurindo Shalom, da Associação Internacional Cristã Amigos Brasil-Israel, e do deputado federal Fausto Pinato (PP/SP), em 17 de setembro de 2019.
No estatuto da frente, a Senah aparece com a missão de dar apoio jurídico “para pessoas e comunidades em situações de guerras, calamidades, e aos refugiados, em ajudas humanitárias nacionais e internacionais”. No mesmo artigo do estatuto, que trata da cooperação interdisciplinar, diz que a frente irá “fomentar e financiar cursos de formação na temática da proteção à liberdade religiosa e aos refugiados, especialmente por meio da Senar [atual Senah], promovendo o intercâmbio de experiências nacionais e internacionais”. A entidade também integra o conselho consultivo da frente.
A Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários, que até o ano passado se chamava Secretaria Nacional de Assuntos Religiosos, foi fundada por Amilton Gomes em 1999. “Hoje nosso DNA está na cultura pela paz mundial, na fomentação de apoio ao meio ambiente, sempre buscando meios sustentáveis para o desenvolvimento da sociedade harmonizando Homem e Meio Ambiente”, informa em sua página na internet a entidade que tem sede em Brasília.
Líder da Igreja Batista Ministério da Nova Vista, Amilton Gomes também foi cabo do Exército, na década de 1990. Ele publicou imagens do Movimento Cristão Conservador Brasileiro com sua assinatura e sua foto e se apresenta como reitor da Faculdade Batista do Brasil, além de participar da direção de entidades de psicologia, como, por exemplo, a Sociedade de Psicologia do Centro-Oeste.
Procurado, Amilton Gomes confirmou as negociações e a visita ao Ministério da Saúde.
Líder religioso, Amilton Gomes foi homenageado no Congresso
e participou de criação de Frente Parlamentar
Davati procurou Pazuello para vender vacinas
Também em março, um representante oficial da Davati Medical
Supply procurou o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello enquanto ele chefiava o
ministério para negociar a venda de vacinas, revelam documentos que Pública
acessou via consulta de Acesso à Informação do governo federal.
De acordo com a troca de emails, o advogado Julio Adriano de
Oliveira Caron e Silva procurou Pazuello no seu email oficial da pasta no dia 9
de março deste ano. Na mensagem ele oferecia 300 milhões de doses da vacina AZD1222,
da Astrazeneca, para compra imediata pelo Ministério da Saúde. O advogado
informou que representava a empresa Davati Medical Supply LLC.
Em entrevista à reportagem, Adriano Caron confirmou
representar a Davati. Documento da empresa também o confirma como representante
no Brasil. Não há menção a outros representantes, como Luiz Paulo Dominguetti
Pereira.
O advogado disse não conhecer Dominguetti. “Como a empresa
me deu uma autorização de apenas representá-la aqui e oferecer as vacinas, eu
não sei se ela fez isso com outras pessoas. Talvez tenha feito, mas eu não
conheço essa pessoa, não sei das relações dele com o governo”, disse.
Caron também disse desconhecer qualquer operação da empresa
e de que a Davatti estaria ofertando a vacina da Johson.
O email enviado por Caron ao Ministério da Saúde foi
respondido no dia seguinte, 10 de março, pelo chefe de Gabinete do Ministro de
Estado da Saúde, o capitão Paulo César Ferreira Junior. O militar está à frente
do gabinete desde maio de 2020, quando Pazuello se tornou ministro. Homem de
confiança de Pazuello, ambos estiveram na intervenção federal em Roraima, em
2018, e receberam a Ordem do Mérito Forte São Joaquim.
Em resposta ao advogado, o capitão pediu uma carta de
autorização da Astrazeneca que concordasse com a intermediação da Davati. Caron
disse à Pública que as negociações não avançaram porque a empresa não o
retornou com os documentos solicitados pelo Ministério da Saúde.
“Dando seguimento com a Davati, pedindo maiores informações
sobre as vacinas, eles não conseguiram me confirmar a disponibilidade do
estoque e nem de que eles estavam autorizados pela empresa de vender vacinas
aqui no Brasil, então o negócio não seguiu em frente”, justificou Caron. “Não
marquei reunião nenhuma e a conversa não seguiu em frente”,
acrescentou.
Ainda segundo o advogado, “a Davati deixou bem claro que
iria buscar junto à fabricante das vacinas toda a documentação necessária para
vender”. “Se ela estava tentando negociar com a Astrazeneca a possibilidade de
oferecer essas vacinas para o Brasil, ou qualquer outro país, e ela não
conseguiu por algum motivo, talvez seja esse o motivo de que ela não me mandou
a informação porque o negócio seria fechado com a Astrazeneca, a Astrazeneca
que iria fornecer a vacina. Se ela não conseguiu autorização da Astrazeneca
para vender, parou de me mandar informação e eu não poderia vender um produto
que ela não tinha”.
Linha do tempo
25 de fevereiro — segundo Dominguetti, diretor de logística
do MS pediu propina para oferta de vacinas feita em nome da Davati
4 de março — pastor Amilton Gomes da Senah posta foto
no MS e anuncia articulação para vacinas
23 de março — carta da Senah assinada por Amilton Gomes
chega a Ijaí oferecendo vacinas da Davati
Dominguetti, que afirmou à @constancarezend ter recebido pedido de propina para negociar vacinas, afirmou hoje na CPI que o 1º contato com o Ministério da Saúde ocorreu junto a grupo religioso.
BRASÍLIA – Primeiro a ser interrogado pela CPI da
Covid, o ex-ministro da Saúde Luiz
Henrique Mandetta disse nesta terça-feira, 4, ter sido chamado no
Palácio do Planalto para tratar sobre incluir na bula da cloroquina a
recomendação para tratar covid-19. O medicamento, propagandeado pelo
presidente Jair Bolsonaro como solução para a doença, é
usado para contra malária, artrite reumatoide e lúpus, mas não há comprovação
científica de que tenha efeito contra o novo coronavírus.
O ex-ministro, demitido em 16 de abril de 2020, narrou ter
sido chamado às pressas para uma reunião no terceiro andar do Palácio do
Planalto, onde fica o gabinete presidencial, na qual outros integrantes da
equipe e médicos convidados discutiam mudar a bula por meio de decreto. Na
versão de Mandetta, o presidente da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, teria
barrado a ideia.
“Era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma
reunião de vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina
que eu nunca havia conhecido. Ele (Bolsonaro) tinha um assessoramento
paralelo. Nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não timbrado de
decreto presidencial para que fosse sugerido naquela reunião que se mudasse a
bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação da para
coronavírus”, afirmou. “O presidente da Anvisa disse que não. Jorge Ramos (na
verdade Jorge Oliveira, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência)
disse que era uma sugestão. Uma sugestão de alguém que se deu trabalho de
colocar aquilo em formato de decreto.”
Em outro momento, Mandetta afirmou não ter dado qualquer
orientação sobre aumentar a produção de cloroquina nos laboratórios do
Exército. A medida foi tomada pelo governo no ano passado, quando alguns
médicos passaram a recomendar o medicamento para tratar a doença com base em
alguns casos, mas sem embasamento em estudos científicos.
“A única orientação sobre cloroquina que partiu do
Ministério foi sobre o uso compassivo, ou seja, quando não há outro recurso,
para pacientes graves em ambiente hospitalar. A cloroquina tem margem de
segurança estreita. Ela tem uma série de reações adversas e cuidados que devem
ser feitos. Poderia ser perigoso para as pessoas”, afirmou.
No depoimento, o ex-ministro afirmou que filhos políticos de
Bolsonaro acompanhavam reuniões ministeriais que tratavam do enfrentamento ao
vírus e atrapalharam a relação com a China, principal fornecedora de insumos.
Segundo o ex-ministro, o vereador Carlos
Bolsonaro (Republicanos-RJ) participava de reuniões ministeriais
tomando notas. E os demais, o deputado Eduardo
Bolsonaro (PSL-SP) e o senador Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ), chegaram a barrar uma reunião
presencial com o embaixador da China no Planalto.
“O outro filho do presidente, Eduardo (Bolsonaro),
tinha rotas de colisão com a China. Um dia estavam os três filhos do presidente
(no Palácio do Planalto). E disse a eles que precisava conversar com o
embaixador da China. E ele disse que ‘aqui não’. Acabei fazendo por telefone.
Havia dificuldade de superar essas questões”, relatou.
Aos senadores, Mandetta afirmou que a postura de Bolsonaro
na pandemia contribuiu para o agravamento da crise e para o aumento do número
de mortes.“Se a postura teve um impacto? Sim. Em tempos de pandemia, tem que
ter unidade, fala única. O raciocínio não é individual, o vírus ataca a
sociedade como um todo. Ataca a economia, o esporte, o lazer”, disse, em
resposta ao senador Randolfe
Rodrigues (Rede-AP).
Ainda no começo de seu depoimento, Mandetta descreveu o
comportamento errático de Bolsonaro: durante algumas reuniões, o presidente
dizia concordar com as orientações do Ministério da Saúde e da Organização
Mundial de Saúde (OMS). Mas, em seguida, fazia declarações públicas defendendo
tratamentos e estratégias que não foram corroboradas pela evidência científica,
como o uso da cloroquina e o chamado “isolamento vertical”. Este último é a
ideia de manter em isolamento apenas pessoas idosas ou com comorbidades,
liberando as demais para transitar normalmente.
“Eu imagino que ele (Bolsonaro) construiu,
fora do Ministério da Saúde, alguns aconselhamentos que o levaram para estas
tomadas de decisões que ele as teve. Mas não saberia lhe nominar cada uma
delas”, completou Mandetta.
Precisamos de explicações sobre as intenções do governo de mudar bula da Cloroquina para que remédio fosse indicado para coronavírus! #CPIdaPandemiapic.twitter.com/R2owLtSYQZ
Integrantes da União dos Policiais do Brasil se dizem
traídos por Bolsonaro, que teria prometido poupá-los dos congelamentos
realizados pela PEC Emergencial, que foi aprovada no Senado, onde o senador
Flávio Bolsonaro votou contra a exclusão dos policiais
Integrantes da União dos Policiais do Brasil se dizem
traídos por Bolsonaro, que teria prometido poupá-los dos congelamentos
realizados pela PEC Emergencial, que foi aprovada no Senado, onde o senador
Flávio Bolsonaro votou contra a exclusão dos policiais.
O texto congela salários e proíbe progressão na carreira e
novas contratações sempre que houver decretação de estado de calamidade ou
quando a relação entre despesas correntes e receitas correntes alcançar 95%.
Na época da Reforma da Previdência, sem conseguir abrandar
regras da reforma para policiais, Bolsonaro foi chamado de “traidor” e alvo de
protestos em Brasília.
No Twitter
Policiais chamam Bolsonaro de traidor e ameaçam protestos pelo país para anunciar desembarque do governo. Servidores da segurança pública se irritaram com atuação do governo na PEC Emergencial https://t.co/Xw85AdhUps
— Emílio Moreno💉VACINA JÁ! (@emiliomoreno) March 10, 2021
Mobilização anônima toma as redes e as ruas destacando a alta dos preços dos alimentos; "Todo dia é dia de preço alto no Brasil. Não é caro, é bolsocaro"
A turma do “Bolsocaro” ataca novamente e vem bombando nas
redes sociais com um vídeo denunciando a alta nos preços dos alimentos no
Brasil e a associando diretamente com o governo de Jair Bolsonaro.
A mobilização anônima começou
nas ruas no último domingo (28) com lambe-lambes espalhados em
diversos pontos do país. Os cartazes se assemelham a anúncios de preço de
supermercado e destacam a alta do preço de itens como arroz, carne, gás de
cozinha, cesta básica e gasolina.
Nesta sexta-feira (5), o grupo de ativistas lançou um novo
vídeo em que um narrador, ao estilo locutor de supermercado, anuncia as
“ofertas” do Brasil de Bolsonaro.
“Todo dia é dia de preço alto no Brasil do Bolsonaro. Batata
normal: de 2 reais o quilo em 2018, por 7 reais o quilo em 2021. Carne de
segunda: agora 45 reais o quilo. Não é caro, é bolsocaro!”, diz o locutor em um
dos trechos do vídeo, que ainda cita a redução do auxílio emergencial, os
cheques depositados por Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle
Bolsonaro e também a mansão de R$6 milhões comprada por Flávio Bolsonaro.
“Vacina contra a Covid? Essa quase não tem”, debocha ainda a
campanha.
Alguns chegaram a aventar nas redes que a mobilização
estaria sendo encampada por grupos de direita liberal, mas Fórum teve contato
com seus organizadores e eles são, na verdade, ligados ao setor progressista.
Todo o dia é dia de aproveitar preços altos no Brasil de #Bolsocaro! Enquanto o Auxílio Emergencial despenca, confira ofertas imperdíveis: ⛽Gasolina: R$6,00/lt 🥔Batata: R$7,00/kg 🔥 Botijão de Gás: R$100,00 💵 Dólar: R$6,00 🍚 Arroz: Melhor trocar por outra coisa#ForaBolsonaropic.twitter.com/ncVTug7s0m
Carmen Eliza foi madrinha de casamento de Luciana Pires,
defensora do filho do presidente
Nas redes sociais, Carmen Eliza aparece em fotos no chá de
lingerie de Luciana Pires e na foto oficial do casamento da advogada, em 2018
São Paulo – A promotora Carmen Eliza assumirá a investigação contra Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ) no inquérito que apura o crime de falsidade
ideológica eleitoral cometido pelo senador. Carmen, porém, é madrinha de
casamento de Luciana Pires, advogada do filho do presidente da República, e
também apoiadora assídua de Jair Bolsonaro.
O senador é investigado, há dois anos, por suspeita de cometer
falsidade ideológica eleitoral por ter omitido bens e ter apresentado valores
diferentes sobre um mesmo imóvel em declarações de bens entregues à Justiça
Eleitoral em 2014 e em 2016.
O imóvel é uma cobertura que fica no bairro de
Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Na declaração de bens em 2014, Flávio
Bolsonaro informou que o apartamento foi comprado pelo valor total de R$ 565
mil. Dois anos depois, em 2016, o senador declarou somente R$ 423 mil.
Entretanto, outros documentos mostram que o valor total da cobertura é de R$
1,7 milhão.
Quem é Carmen Eliza?
A nova promotora da investigação do caso é amiga íntima da
defensora de Flávio Bolsonaro. Nas redes sociais, Carmen Eliza aparece em fotos
no chá de lingerie de Luciana Pires e na foto oficial do casamento da advogada,
em 2018.
No fim
de 2019, Carmen Eliza se afastou do inquérito sobre o assassinato da
vereadora Marielle Franco, depois que foi revelado que a promotora apoiou a
campanha de Jair Bolsonaro para a Presidência. Em suas redes, ela aparece
usando uma camiseta com o rosto de Jair Bolsonaro e a frase “Bolsonaro
presidente”.
Em outra postagem de 1º de janeiro de 2019, Carmen Eliza
fotografou a cerimônia de posse de Jair Bolsonaro e escreveu na legenda: “Há
anos não me sinto tão emocionada. Essa posse entra naquela lista de conquistas,
como se fosse uma vitória”.
Em outra foto, a promotora aparece abraçada com o deputado
Rodrigo Amorim (PSL-RJ), que quebrou uma placa em homenagem à vereadora
Marielle Franco. Depois da repercussão, Carmen Eliza pediu afastamento da
investigação, na época.
PROMOTORA BOLSONARISTA SE AFASTA DO CASO MARIELLE. SÓ ISSO? - 7 de nov. de 2019
Após ser desmascarada pelo site The Intercept-Brasil e por
vários ativistas digitais, a promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho
“solicitou voluntariamente” na sexta-feira (1) o seu afastamento da
investigação sobre os assassinatos da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e do
motorista Anderson Gomes. Há boatos, porém, de que o “pedido” foi precedido de
bate-boca entre integrantes do Ministério Público do Rio de Janeiro, que não
gostaram da sua presença na entrevista que livrou a cara do “capetão” Jair
Bolsonaro e rotulou de “mentira” o depoimento do porteiro do condomínio
Vivendas da Barra – que vazou no Jornal Nacional da TV Globo.
FLÁVIO BOLSONARO FINANCIOU e lucrou com a
construção ilegal de prédios erguidos pela milícia usando dinheiro público. É o
que mostram documentos sigilosos e dados levantados pelo Ministério Público do
Rio de Janeiro aos quais o Intercept teve acesso. A
investigação preocupa a família Bolsonaro – os advogados do senador já pediram
por nove vezes que o procedimento seja suspenso.
O investimento para as edificações levantadas por três
construtoras foi feito com dinheiro de “rachadinha”, coletado no antigo
gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio, como
afirmam promotores e investigadores sob a condição de anonimato. O
andamento das investigações que fecham o cerco contra o filho de Jair Bolsonaro
é um dos motivos para que o presidente tenha pressionado o ex-ministro Sergio
Moro pela troca do comando da Polícia Federal no Rio, que também investiga o
caso, e em Brasília.
O inquérito do Ministério Público do Rio, que
apura fatos de organização criminosa, lavagem de dinheiro e peculato
(desvio de dinheiro público) pelo filho de Bolsonaro segue em sigilo. O
Intercept teve acesso à íntegra da investigação. Os investigadores dizem que
chegaram à conclusão com o cruzamento de informações bancárias de 86 pessoas
suspeitas de envolvimento no esquema ilegal, que serviu para irrigar o ramo
imobiliário da milícia. Os dados mostrariam que o hoje senador receberia o
lucro do investimento dos prédios, de acordo com os investigadores, através de
repasses feitos pelo ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega – executado em
fevereiro – e pelo ex-assessor Fabrício Queiroz.
Trecho da denúncia do Ministério Público que tornou o
capitão Adriano Magalhães da Nóbrega foragido da justiça. Essa denúncia serviu
de base para o inquérito das rachadinhas
O esquema funcionaria assim:
• Flávio pagava os salários de seus funcionários com a
verba do seu gabinete na Alerj.
• A partir daí, Queiroz – apontado no inquérito como
articulador do esquema de rachadinhas – confiscava em média 40% dos vencimentos
dos servidores e repassava parte do dinheiro ao ex-capitão do Bope, Adriano da
Nóbrega, apontado como chefe do Escritório do Crime, uma milícia especializada
em assassinatos por encomenda.
• A organização criminosa também atua nas cobranças de
“taxas de segurança”, ágio na venda de botijões de gás, garrafões de água,
exploração de sinal clandestino de TV, grilagem de terras e na construção civil
em Rio das Pedras e Muzema.
• As duas favelas, onde vivem mais de 80 mil pessoas, ficam
em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, e assistiram a um boom
de construções de prédios irregulares nos últimos anos. Em abril do
ano passado, dois desses prédios ligados a outras milícias desabaram,
deixando 24 mortos e dez feridos.
• O lucro com a construção e venda dos prédios seria
dividido, também, com Flávio Bolsonaro, segundo as investigações, por ser o
financiador do esquema usando dinheiro público.
Condecorado por Flávio Bolsonaro com a Medalha Tiradentes,
principal honraria do Rio, o ex-caveira Adriano da Nóbrega foi morto
a tiros em fevereiro em um controverso cerco policial no interior da
Bahia com indícios de queima de arquivo. Foragido da justiça, o ex-capitão
estava escondido no sítio de um vereador bolsonarista. Os diversos celulares do
miliciano ainda aguardam por perícia.
As investigações do MP revelaram que os repasses da rachadinha chegavam às mãos do capitão Adriano por meio de contas usadas por sua mãe, Raimunda Veras Magalhães, e sua esposa, Danielle da Costa Nóbrega. As duas ocupavam cargos comissionados no gabinete do deputado na Alerj entre 2016 e 2017. Ambas nomeadas por Queiroz, amigo do ex-capitão dos tempos de 18º batalhão da Polícia Militar, Jacarepaguá.
Segundo o MP, a mãe e a mulher de Adriano movimentaram ao menos R$ 1,1 milhão no período analisado pela investigação, amealhado com o esquema de rachadinha por meio de contas bancárias e repasses em dinheiro a empresas, dentre as quais dois restaurantes, uma loja de material de construção e três pequenas construtoras.
Com sede em Rio das Pedras, as construtoras São Felipe Construção Civil Eireli, São Jorge Construção Civil Eireli e ConstruRioMZ foram registradas, segundo o MP, em nome de “laranjas” do Escritório do Crime. O dinheiro então chegava aos canteiros de obras ilegais por meio de repasses feitos pelo ex-capitão aos laranjas das empresas.
Trecho de interceptação detalha registro da construtora em
nome de laranja.
O papel de “investidor” nas construções da milícia ajudaria
a explicar a evolução patrimonial de Flávio Bolsonaro, que teve um salto entre
os anos de 2015 e 2017 com a aquisição de dois apartamentos: um no bairro de
Laranjeiras e outro em Copacabana, ambos na zona sul do Rio. Os investimentos
também permitiram a compra de participação
societária numa franquia da loja de chocolates Kopenhagen.
Flávio entrou na vida política em 2002, com apenas um carro
Gol 1.0, declarado por R$ 25,5 mil. Na última declaração de bens, de 2018, o
senador disse ter R$ 1,74 milhão. A elevação patrimonial coincide com o período
em que a mãe e a mulher do ex-capitão estavam nomeadas em seu gabinete.
O papel de Adriano
A ligação do ex-capitão com as pequenas empreiteiras
envolvidas no boom da verticalização em Rio das Pedras e Muzema foi levantada em
meio à investigação sobre as execuções da
vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, na noite de
14 de março de 2018. Foi a partir das quebras de sigilos telefônicos e
telemáticos dos integrantes do Escritório do Crime que os promotores
descobriram que o grupo paramilitar havia evoluído da grilagem de terras à
construção civil, erguendo prédios irregulares na região e, assim,
multiplicando seus lucros.
Adriano da Nóbrega e dois outros oficiais da PM integrantes
do grupo – o tenente reformado, Maurício da Silva Costa, e o major Ronald Paulo
Alves Pereira – usaram, segundo os promotores, nomes de moradores de Rio das
Pedras para registrar as construtoras na junta comercial do Rio de Janeiro. A
estratégia de usar “laranjas”, segundo o MP, foi adotada para tentar dar
legitimidade às atividades do Escritório do Crime na construção civil.
A descoberta foi usada pelos promotores como base para a
abertura do inquérito que resultou na Operação Intocáveis – nome escolhido numa
referência às patentes de oficiais da Polícia Militar ostentadas pelos chefes
da organização criminosa. A ação contra a milícia foi coordenada pelo Grupo de
Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do MP, o Gaeco, e desencadeada,
em janeiro de 2019, como forma de fechar o cerco à milícia suspeita de
arregimentar os assassinos da vereadora do PSOL. Na ocasião, o ex-capitão
Adriano e outros 12 suspeitos tiveram as prisões decretadas.
Trecho da denúncia cita a milícia de Adriano, construções e
empresas em nome de laranjas.
Dados do inquérito a que tive acesso comprovam que Adriano,
Costa e Pereira eram os “donos ocultos” das construtoras ConstruRioMZ, São
Felipe Construção Civil e São Jorge Construção Civil. As três empresas foram
registradas na junta comercial no segundo semestre de 2018, respectivamente, em
nome Isamar Moura, Benedito Aurélio Carvalho e Gerardo Mascarenhas, conhecido
como Pirata. Os três “laranjas” foram presos na operação policial, juntamente
com os oficiais da PM Costa e Pereira.
Numa das interceptações, o miliciano Manoel de Brito
Batista, que atuava como uma espécie de gerente das obras, alerta em tom
ameaçador a um interlocutor que o questiona sobre um prédio recém erguido na
favela Rio das Pedras: “Eu tenho oito apartamentos naquele prédio, o resto é
tudo do Adriano e do Maurício. Entendeu? Você procura eles e fala com eles,
entendeu? Não adianta ficar me mandando mensagem”. Batista também foi preso na
Operação Intocáveis.
Manoel era o síndico dos negócios no ramo imobiliário.
Na denúncia do MP, Batista é citado como responsável pela
supervisão dos canteiros de obras e pela negociação de imóveis. Numa das
escutas telefônicas, ele oferece um andar inteiro num prédio recém erguido por
60 parcelas de R$ 4 mil. Valor previamente acertado com o ex-capitão Adriano,
ora tratado por “Gordinho”, ora por “Patrãozão”, apelidos captados nas
investigações da rachadinha e das execuções de Marielle e Anderson.
Trecho de conversa entre Manoel e Adriano.
Era Adriano que definia preços, condições de pagamentos e,
em muitos dos casos, fazia a cobrança dos valores diretamente aos compradores e
inquilinos. Não há na investigação uma estimativa dos lucros obtidos pela
milícia no ramo imobiliário, mas o preço médio dos apartamentos, com dois
quartos, sala, banheiro e cozinha nas duas favelas gira em torno de R$ 100 mil.
Planilhas apreendidas durante a operação policial num imóvel
usado como sede do Escritório do Crime, o Moradas do Itanhangá, indicavam
retiradas semanais feitas pelo ex-capitão e também pelo tenente reformado
Maurício e pelo o major Ronald,
também amigo de Flávio Bolsonaro. Além de ser o responsável pela
contabilidade do grupo, Ronald também foi homenageado por Flávio Bolsonaro com
uma menção honrosa em 2004. Em várias conversas gravadas pelo MP, o major
aparece combinando de se encontrar com Batista para “bater” as contas no fim da
semana.
Major Ronald mantinha planilhas contábeis, com repasses de
dinheiro para Adriano, plantas de prédios e outros documentos relacionados às
construções ilegais.
‘O MP está preparando uma pica do tamanho de um cometa
para empurrar na gente’
A frase de Queiroz foi dita em áudios de Whatsapp divulgados pelos jornais O Globo e Folha de S.Paulo em outubro. Desde então, muito se
especulou a que ele se referia. Investigadores ouvidos pela reportagem
acreditam que Queiroz sabia que o inquérito tinha identificado o uso do
dinheiro desviado no esquema de rachadinha para financiar o boom de construções
ilegais na Muzema e em Rio das Pedras, comunidade onde Fabrício Queiroz se
refugiou em dezembro de 2018, como revelam as quebras de sigilos telefônicos e
telemáticos.
Na opinião de envolvidos na investigação da rachadinha, a
conclusão do cruzamento de dados financeiros dos 86 citados no inquérito,
dentre eles o atual senador Flávio Bolsonaro, vai ser capaz de comprovar os
crimes, entre eles lavagem de dinheiro. E, assim, explicar a suspeita evolução
patrimonial do primeiro-filho e, sobretudo, justificar a movimentação do
senador para tentar a todo custo paralisar o trabalho dos promotores.
Item 29 revela que o crime de lavagem de dinheiro está sendo
apurado em procedimento específico no inquérito da rachadinha do então deputado
Flávio Bolsonaro.
Antes da publicação da reportagem, o Ministério Público foi
consultado formalmente sobre as investigações relacionadas ao uso de parte dos
recursos obtidos com o esquema de rachadinha no gabinete do ex-deputado no
financiamento de construções da milícia. Por e-mail, a assessoria de imprensa
do órgão confirmou a existência dos procedimentos investigatórios que serviram
de base para a reportagem. Disse o MPRJ: “após consulta junto às coordenações
dos grupos com atribuição nas investigações”, foi informado que os
procedimentos encontram-se com sigilo decretado, razão pela qual as questões
enviadas pela reportagem não poderiam ser elucidadas.
Resposta do MP por e-mail aos questionamentos da reportagem
confirmando a existência da investigação.
Nas redes sociais e nas poucas entrevistas em que falou
sobre o esquema de rachadinha, Flávio Bolsonaro afirma ser vítima de
perseguição da imprensa e critica o vazamento de informações do processo, que
está sob segredo de justiça. O político também afirma não ter conhecimento
sobre o fracionamento de salários de seus funcionários. Procurado pelo
Intercept, o senador não se manifestou.
O filho 01 chegou a atribuir a responsabilidade das supostas
irregularidades a Queiroz, que teve identificados 438 transferências e
depósitos em suas contas, totalizando cerca de R$ 7 milhões entre os anos de
2014 e 2017.
Queiroz também fez depósitos regulares de cheques e em
dinheiro em contas do primeiro-filho e da primeira-dama, Michelle Bolsonaro,
que numa das operações recebeu R$ 24 mil. Na ocasião, o presidente disse que o
valor era parte de um empréstimo de R$ 40 mil que teria feito ao ex-assessor
parlamentar e amigo. Para os investigadores, apenas a conclusão do inquérito
permitirá o esclarecimento do fluxo de dinheiro, mas a decisão sobre o
prosseguimento da investigação depende dos desembargadores do Tribunal de
Justiça do Rio, que suspenderam os julgamentos devido à pandemia de
coronavírus.
Desde o início da investigação, em outubro de 2018, o
trabalho dos promotores foi suspenso três vezes, atendendo à defesa de Flávio
Bolsonaro. Ao todo, os advogados impetraram nove pedidos no Supremo Tribunal
Federal e no Tribunal de Justiça do Rio, alegando que as quebras de sigilo
bancário e fiscal do então deputado estadual não poderiam ter sido concedidas
por um juiz de primeira instância. Medo de que alguém descobrisse que nem só de
chocolate é feito o milionário patrimônio do senador que entrou na vida
política em 2002 com um Gol 1.0 e um sobrenome influente.
Atualização: 25 de abril, 16h50
O texto foi atualizado para que fosse acrescentado um print com o retorno
formal do Ministério Público do Rio à reportagem, confirmando a existência da
investigação contra o ex-deputado estadual Flávio Bolsonaro.
Investigação mostra ligação de Flávio Bolsonaro com milícias
no Rio📰
O site The Intercept Brasil publicou no fim de semana
reportagem com novas informações sobre o esquema de rachadinha que supostamente
funcionava no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. O site teve
acesso a documentos do Ministério Público do Rio de Janeiro que mostram que o
filho de Jair Bolsonaro teria financiado e lucrado com a construção de prédios
ilegais pela milícia.
Senador tirou o final de semana para passear em Fernando de
Noronha e queria pagar passagens com dinheiro público
Em nota divulgada na noite deste sábado (31), o senador
Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) responsabilizou sua equipe pelo fato de ter
pedido reembolso do Senado para pagar as passagens aéreas de sua viagem
ao arquipélago de Fernando de Noronha.
A denúncia de que o filho do presidente queria pagar seu
passeio, que não inclui nenhum compromisso oficial relacionado ao seu mandato,
foi feita pelo portal Metrópoles. Ao todo, entre todos os trechos de voos, o
senador pediu reembolso de R$ 1.620,60 para que pudesse curtir o final de
semana.
“O Gabinete do Senador Flávio Bolsonaro informa que houve um
equívoco da equipe que emitiu as passagens para Fernando de Noronha. As
passagens foram pagas pelo próprio senador, mas a equipe, por engano, pediu
reembolso. Ele já fez a solicitação para cancelar o reembolso e para também
cancelar os pedidos de diárias”, diz a nota do parlamentar.
Para entrar em Noronha, Flávio e sua esposa teriam
apresentado laudos médicos que comprovariam que eles já tiveram Covid-19. O
casal chegou à Noronha na quinta-feira (29) e, na sexta-feira (30), o ex-chefe
de Fabrício Queiroz já foi visto por locais pescando com o dono de uma pousada
de luxo. Ele retorna à Brasília na terça-feira (2), logo após o feriado de
Finados.
Convescote na ilha
Flávio Bolsonaro, ao viajar para Fernando de Noronha, se
junta a outros membros do governo que já
estavam no arquipélago para um compromisso oficial e resolveram
esticar a estadia para aproveitar o feriado: os ministros do Meio Ambiente,
Ricardo Salles, e do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, além de Gilson Machado,
presidente da Embratur.
A comitiva estava em visita oficial a Noronha para vistoria
técnica do Parque Nacional Marinho em meio à onda de privatizações de parques
nacionais pelo governo Jair Bolsonaro.
Clã Bolsonaro: Flávio, Jair, Eduardo e Carlos Foto:
Reprodução
Investigações indicam pagamentos em gabinetes para
servidores que não exerciam suas funções; entre 1991 e 2019, R$ 1 em cada R$ 4
da remuneração contabilizada foi destinado a pessoas sob suspeita
A intrincada organização dos gabinetes da família Bolsonaro
sugere um hábito longevo de preencher cargos comissionados com funcionários que
nem sempre davam expediente em seus locais de trabalho. Um levantamento feito
por ÉPOCA joga luz sobre essas movimentações e seus números, que hoje estão nas mesas dos investigadores. Do total pago
aos 286 funcionários que o presidente Jair Bolsonaro e seus três filhos mais
velhos contrataram em seus gabinetes entre 1991 e 2019, 28% foi depositado na
conta de servidores com indícios de que efetivamente não trabalharam.
É como se de cada R$ 4 reais pagos, mais de R$ 1 fosse para
as mãos de pessoas que hoje, em grande maioria, são investigadas por devolver
parte dos vencimentos aos chefes. Ao menos 39 possuem indícios de que não trabalharam de fato nos cargos -
13% do total.
Enquanto recebiam como funcionários, esses profissionais tinham
outras profissões como cabeleireira, veterinário, babá e personal trainer, como
é o caso de Nathalia Queiroz, filha de Fabrício Queiroz, apontado pelo MP
como operador do esquema da rachadinha no gabinete de
Flávio. Juntos, os 39 receberam um total de 16,7 milhões em salários brutos (o
equivalente a R$ 29,5 milhões em valores corrigidos pela inflação do período)
durante o período em que trabalharam com a família.
No grupo de pessoas que constaram como assessores, mas
possuem indícios de que não atuavam nos cargos, 17 foram lotadas exclusivamente
no gabinete de Flávio Bolsonaro, outros dez no de Carlos, ambos alvos de investigação do Ministério Público. No gabinete do
então deputado federal Jair Bolsonaro, três funcionários constam na lista. Há,
ainda, outros nove que passaram por vários gabinetes do clã, parte do modus
operandi hoje apurado pelo MP.
Marcia Aguiar, mulher do Queiroz, e Nathália Queiroz,
são dois casos emblemáticos desde o início das investigações.
Márcia se declarava cabeleireira em documentos do Judiciário em 2008 e Nathalia
é conhecida entre atores e personalidades públicas por seu trabalho como
personal trainer. Cada uma das duas recebeu ao longo de uma década um total de
R$ 1,3 milhão atualizados pela inflação, mas nunca tiveram crachá na Alerj.
Mas a maior parte dos casos está na família de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair
Bolsonaro. A maioria é investigada pelo Ministério Público nos casos de Flávio
ou no de Carlos. No caso dos 10 assessores de Flávio que são parentes de Ana
Cristina, o MP descobriu que eles sacaram até 90% dos salários no período em que
constaram como servidores, num total de R$ 4 milhões.
A história de Andrea Siqueira Valle, irmã de Ana Cristina e
ex-cunhada de Bolsonaro, é o ponto mais extremo da curva. Desse grupo, ela é
quem mais recebeu.
Entre os gabinetes de Jair, Carlos e Flávio, Andrea somou 20
anos de cargos comissionados e recebeu em salário bruto R$ 1,2 milhão (R$ 2,25
milhões, corrigido pela inflação). Fisiculturista, ela mantinha uma rotina de
malhação de duas a três vezes por dia na academia Physical Form. Nos
intervalos, atuava como faxineira em residências e vivia em uma casa construída
no fundo do terreno onde moram seus pais. Mas seguia trabalhando como faxineira
e com grandes dificuldades financeiras.
“Ela também me ajudou com faxina na academia. Ela faz
esse tipo de serviço aqui na academia”, contou Renata Mendes, dona da nova
academia que Andrea frequentava em Guarapari, no Espírito Santo. Procurada,
disse que não tinha nada a declarar.
Em seguida, surge, o veterinário Francisco Siqueira
Guimarães Diniz, de 36 anos, primo de Ana Cristina. Ele tinha apenas 21 anos quando foi
nomeado em 2003 e ficou lotado no gabinete de Flávio por 14 anos. Recebeu um
total de R$ 1,2 milhão - R$ 1,95 milhão, corrigido pela inflação. Em 2005, ele
começou a cursar a faculdade de Medicina Veterinária no Centro Universitário de
Barra Mansa, cidade a 140 quilômetros do Rio e próxima a Resende.
O curso era integral e ele se formou em 2008. Em 2016, ele
trabalhou para a H.G.VET Comércio de Produtos Agropecuários e Veterinários.
Apesar de ter ficado mais de uma década nomeado, só teve crachá nos últimos dois meses em que esteve lotado, em 2017.
Procurado, Diniz disse que trabalhou para Flávio, mas não recordava por quanto
tempo.
A dona de casa Ana Maria Siqueira Hudson, tia de Ana
Cristina, aparece em seguida. Foi nomeada no gabinete de Flávio em 2005 e ficou
lotada até meados de 2018. Ela obteve um total de R$1,22 milhão (R$ 1,85
milhão, corrigido pela inflação). Nesse período, ele sempre viveu em Resende e,
por um período, cuidou de uma loja de decoração da família. Ela é mãe de
Guilherme de Siqueira Hudson, que constou como chefe de gabinete de Carlos por
10 anos quando também vivia em Resende e sequer teve crachá da Câmara de
Vereadores. Ambos são investigados pelo MP.
Na lista dos 10, consta ainda Marta Vale, cunhada de Ana
Cristina. Ela sempre morou em Juiz de Fora, em Minas Gerais, e constou como
assessora de Carlos Bolsonaro na Câmara de Vereadores do Rio entre 2001 e 2009.
Nunca teve crachá funcional e, procurada por ÉPOCA, no ano passado, disse que nunca trabalhou para Carlos. Ela recebeu R$
550 mil em salários (R$ 1,2 milhão, corrigido pela inflação). Hoje é
investigada no procedimento do MP sobre o "02".
No local, uma casa simples e com uma pintura antiga em tom
rosado, mora Diva da Cruz Martins, mãe de Andrea e outra ex-assessora de Carlos
entre fevereiro de 2003 e agosto de 2005. Foto: Gabriel Monteiro / Agência O
Globo
Outro caso que chama atenção no gabinete de Carlos é o de
Andrea da Cruz Martins. Ela esteve lotada 2005 até fevereiro de 2019. Em
novembro de 2013, no entanto, quando Andrea deu entrada nos papéis de seu
casamento no cartório de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, ela identificou-se
como “babá”. Ela recebeu um total de R$ 1,26 milhão (R$ 1,83 milhão atualizado
pela inflação). Procurada na casa da família, os parentes disseram que não
sabem onde ela vive. Andrea é investigada pelo MP no caso de Carlos.
Em Santa Cruz, bairro da Zona Oeste do Rio, vive outra
família que lidera o ranking de parentes nomeados e de valores recebidos no
gabinete da família Bolsonaro. Lá moram Edir e Neula Góes. Ela constou como
assessora de Carlos de 2001 até fevereiro deste ano. Ele está nomeado desde
2008. Ele já obteve vencimentos brutos da Câmara num total de R$ 1,3 milhão (R$
1,7 milhão, atualizado) — Neula, de R$ 956 mil (R$ 1,5 milhão, corrigido)
Marcia Salgado Oliveira, tia do ministro Jorge Oliveira, da
Secretaria-Geral da Presidência, apareceu nos registros da Alerj como
funcionária de Flávio de 2003 até fevereiro de 2019. Em 2014, porém, num
processo que tramitou no Juizado Especial da Comarca de Mesquita, na Baixada
Fluminense, quando acionou uma empresa de telefonia, Márcia apresentou uma
procuração escrita de próprio punho, na qual informou que sua ocupação era “do
lar”. Além disso, em 16 anos, ela jamais teve crachá emitido pela Alerj. Ela
recebeu um total de R$ 1 milhão (R$ 1,6 milhão, corrigido). Procurada, não se
pronunciou.