Elementos pagos pelo PSDB para sabotar o ato provocaram os
manifestantes e foram escorraçados
Manifestante rasga bandeira do PSDB – Foto: DCO
Os infiltrados do PSDB no ato na Avenida Paulista, em São
Paulo, tentaram provocar os manifestantes de vermelho e foram escorraçados.
Quando a passeata começou a andar, no sentido da Rua da
Consolação, os manifestantes trabalhadores, estudantes e militantes se
depararam com os agentes fascistas do PSDB, que entraram na manifestação para
sabotá-la.
No entanto, os bate-paus do PSDB, achando que poderiam se
dar bem, iniciaram uma briga com os manifestantes. Se deram mal. Foram
escorraçados sem piedade pelos manifestantes, que não aceitam os elementos
fascistas de João Doria e da PM nos atos da esquerda.
Como noticiado
mais cedo em primeiro mão pelo DCO, elementos pagos pelo PSDB haviam se
concentrado próximo do cruzamento da Avenida Paulista com a Consolação, junto
com outros mercenários do Cidadania, PSB e PV.
No final desta semana, o diretório municipal do partido de
FHC e Aécio Neves havia anunciado que participaria do ato na Avenida Paulista,
levando “2 mil pessoas” de verde e amarelo. Mas levou apenas meia dúzia de
fascistas, que apanharam dos trabalhadores. E apanharão muito mais caso voltem
a provocar e a atacar os trabalhadores nos atos dos trabalhadores.
A polícia quer saber quem foi o responsável pelo tiro que matou a modelo e designer de interiores Kathlen Romeu, que estava grávida de 14 semanas, no Rio
Modelo e designer de interiores Kathlen Romeu foi baleada
durante ação policial na zona norte do Rio de Janeiro - Foto: Reprodução/Instagram (5.jun.2021)
A Divisão de Homicídios da capital fluminense apreendeu,
nesta quarta-feira (9), 21 armas de policiais militares que participaram do
confronto com criminosos na comunidade do Lins Vasconcelos, na zona norte do
Rio de Janeiro. A polícia quer saber quem foi o responsável pelo tiro que matou
a modelo e designer de interiores Kathlen Romeu, que estava grávida de 14
semanas.
A jovem foi baleada no tórax. Ela chegou a ser socorrida
para o Hospital Municipal Salgado filho, na zona norte do Rio de Janeiro, mas
não resistiu. A modelo foi enterrada nesta quarta-feira em um cemitério no
Centro da cidade.
ACNNconfirmou que cinco dos 12 policiais
militares presentes no confronto já prestaram depoimento na Divisão de
Homicídios. Entre as armas apreendidas com eles, estão fuzis e pistolas.
Em nota, a Polícia Militar informou que os agentes foram
atacados a tiros por criminosos na localidade conhecida como “Beco da 14”,
dando início a um confronto.
"Caso Kathlen mostra fracasso da política de segurança
pública do Rio", diz diretora do Fogo Cruzado
Em entrevista ao UOL News, a diretora do Instituto Fogo
Cruzado, Cecília Olliveira, defende que não se trata de um caso isolado a morte
de Kathlen Romeu - jovem negra e grávida vítima de tiroteio de ação policial no
Rio de Janeiro. Ela cita dados que apontam 15 grávidas baleadas nos últimos
cinco anos na Região Metropolitana do Rio de Janeiro - sendo que oito,
incluindo Kathlen, morreram. "A pergunta que fica é: por que a gente
naturalizou isso?", questiona ela, que critica a política de segurança
pública: "Política pública de segurança em vigor no Rio é um fracasso. Não
nos protege. Não protegeu Kathlen e o filho dela. Não serve. Precisamos de
outra solução", destaca
Matam nossos filhos, matam nossas mães! Kathlen Romeu, moradora do complexo do Lins e grávida de 13 semanas, foi fuzilada durante uma operação policial hoje. O Estado retirou mais uma vida negra e favelada que estava gestando outra vida. Investigação urgente!#VidasNegrasImportampic.twitter.com/6R8LN3OPns
— Instituto Marielle Franco (@inst_marielle) June 8, 2021
Arquidones Bites, dirigente do PT, diz em vídeo ter sido
espancado por policiais. Agentes teriam alegado cumprir Lei de Segurança
Nacional
O professor do ensino médio e dirigente do PT em Goiás
Arquidones Bites foi preso por policiais militares na tarde desta segunda-feira
(31/5) em Trindade, na região metropolitana de Goiânia, por se negar a tirar do
capô de seu carro uma faixa onde estava escrito “Fora Bolsonaro genocida”.
Os militares prenderam o dirigente partidário alegando que
ele estava descumprindo a Lei de Segurança Nacional ao caluniar o presidente da
República. Ele foi levado primeiro para a delegacia da Polícia Civil em
Trindade, onde o delegado não quis registrar a prisão. Bites então foi levado
para a sede da Polícia Federal em Goiânia, onde foi ouvido e liberado por volta
das 21h desta segunda.
Segundo a também dirigente do PT em Goiás Kátia Maria, Bites
foi um dos organizadores do protesto contra o presidente Jair Bolsonaro em Goiânia
no último sábado (29/5), e manteve a faixa no veículo após o evento, mas foi
abordado pela PM nesta segunda, perto de casa, em Trindade.
O professor, que é secretário estadual de movimentos sociais
do PT e foi vereador em Trindade por dois mandatos, filmou a abordagem e seu
advogado registrou a chegada à delegacia, veja:
No vídeo, um policial militar não identificado diz que pode
resolver sem prisão se o professor tirar a faixa, mas ele se nega e reafirma
que Bolsonaro é genocida. Ele é preso após discussão, e
depois, na delegacia, alega ter sido espancado pelos policiais.
A PF e a PMGO ainda não se posicionaram sobre o caso.
Veja a movimentação na frente da sede da PF em Goiânia na
noite desta segunda:
No vídeo, policial chega a ler para o professor um trecho da
Lei de Segurança Nacional que proibiria calúnias ao presidente da República.
Criada pela ditadura militar, e modificada em 2016, novas mudanças na lei estão
em debate no Congresso e sob avaliação no Supremo Tribunal Federal (STF). Em
maio, a Câmara aprovou projeto que a revoga, mas ainda falta o Senado decidir
sobre o tema.
O perfil do PT no Twitter se manifestou protestando contra a
prisão:
🚨 URGENTE: Arquidones Bites, dirigente estadual do PT em Goiás foi preso e enquadrado na Lei de Segurança Nacional por ter no carro uma faixa com a frase "Fora Bolsonaro Genocida". Chega de censura! Bolsonaro genocida, sim! #ForaBolsonaro
O advogado de Bites postou foto com ele após a liberação da
PF:
O delegado da Polícia Federal Franklin Roosevelt não vai enquadrar o professor de história Arquidones Bites na Lei de Segurança Nacional. Não vislumbrou base legal. pic.twitter.com/cSbVdbBnfw
"Sou trabalhador", protestou o homem. Caso aconteceu na Cidade Ocidental, em Goiás
Circula nas redes sociais um vídeo que mostra uma abordagem
policial truculenta contra um homem negro que fazia manobras de bicicleta em um
parque da Cidade Ocidental, em Goiás. O jovem youtuber Filipe Ferreira gravava
um vídeo para o seu canal quando foi surpreendido pela Polícia Militar. A
abordagem provocou protestos nas redes.
Enquanto realizava uma manobra de bicicleta, dois policiais
se aproximaram de Filipe já com gritos de ordem e pediram para o jovem se
afastar. “Deixa a bike ai. Estou mandando”, disse o policial. O jovem então
questiona: “Mandando? Não é assim não”.
Irritado, o policial sobe o tom contra o youtuber. “Coloca a
mão na cabeça”, diz o policial. “Não é assim que se trata uma pessoa”,
respondeu Ferreira, indignado. “É o procedimento”, continuou o agente.
Em seguida, o rapaz tira a camisa para mostrar “que não tem
arma”. Logo depois, é algemado. “Resiste aí para ver o que vai acontecer
contigo”, ameaçou o policial. “Eu sou trabalhador, tenho um canal no YouTube”,
tentava argumentar o jovem.
No Instagram, Ferreira postou o momento da abordagem, mas
não comentou sobre a ação. Algemar alguém desarmado, segundo a lei, “só é
lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou
de perigo à integridade física própria ou alheia”.
Nas redes sociais, jornalistas, artistas e parlamentares
chamaram atenção para o racismo estrutural por trás da abordagem. “Podre.
Nojento. Repulsivo. Patético. Abusivo. Revoltante”, escreveu Felipe Neto no
Twitter.
“Enquanto houver racismo, não haverá nação. Revoltante”, protestou
o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). “Isso é revoltante demais.
Chega a doer… o tratamento, a agressividade e o fechamento. Tá tudo errado”,
lamentou o rapper Rashid.
Confira o vídeo abaixo:
O que acontece se você for negro e estiver treinando manobras no parque com sua bike? Não sabe? Veja o que aconteceu hoje na Cidade Ocidental. pic.twitter.com/1fbu4LYL5O
Boneco inflável usado para criticar Bolsonaro foi produzido
pelo Movimento Acredito, que teve que realizar o ato em outro local após
negativa da PM, mesmo com autorização de órgãos competentes
Fotos:
Divulgação/Movimento Acredito
A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), que quase
semanalmente permite manifestações em apoio a Jair Bolsonaro em Brasília,
tentou impedir nesta terça-feira (25) um ato contra o presidente na Esplanada
dos Ministérios.
O
ato, organizado pelo Movimento Acredito, contava com um boneco inflável
representando Bolsonaro, batizado de “Capitão Cloroquino”. A PM, no entanto,
não deixou os manifestantes encherem o boneco sob a alegação de que eles não
teriam autorização para fazê-lo.
O Movimento Acredito, no entanto, ressalta que obteve, nos
dias anteriores, autorizações do governo do Distrito Federal e da Secretaria de
Segurança Pública para realizar a manifestação. “Apesar disso, quando o grupo
chegou à região da Esplanada dos Ministérios na frente do Congresso Nacional, a
Polícia Militar do Distrito Federal barrou a manifestação, argumentando que o
boneco inflável, Capitão Cloroquino, seria um balão e que balões não poderiam
ser soltos naquele local por conta da segurança nacional. O grupo então
realizou o ato em outro ponto da cidade”, dizem os organizadores do ato.
Grupo de manifestantes é impedido de erguer boneco inflável
em protesto contra Bolsonaro
Membros do Movimento Acredito foram a Esplanada dos
Ministérios, em Brasília, hoje, para protestar contra o presidente Bolsonaro,
mas acabaram impedidos pela Polícia Militar do Distrito Federal. Eles traziam
consigo um boneco inflável do presidente de cerca de 10 metros que seria
enchido de ar no local.
Grampos sugerem que comparsas do miliciano Adriano da
Nóbrega recorreram a Bolsonaro
Diálogos transcritos de grampos telefônicos sugerem que o
presidente Jair Bolsonaro foi contactado por integrantes da rede de proteção do
ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, chefe da milícia Escritório do Crime. As
conversas fazem parte de um relatório da Subsecretaria de Inteligência da
Secretaria de Polícia Civil do Rio elaborado a partir das quebras de sigilo
telefônico e telemático de suspeitos de ajudar o miliciano nos 383 dias em que
circulou foragido pelo país.
Logo após a morte do miliciano, cúmplices de Adriano da
Nóbrega fizeram contato com “Jair”, “HNI (PRESIDENTE)” e “cara da casa de
vidro”. Para fontes do Ministério Público do Rio de Janeiro ouvidos na condição
de anonimato, o conjunto de circunstâncias permite concluir que os nomes são
referências ao presidente Jair Bolsonaro. “O cara da casa de vidro” seria uma
referência aos palácios do Planalto, sede do Executivo federal, e da Alvorada,
a residência oficial do presidente, ambos com fachada inteiramente de vidro.
Após as citações, o Ministério Público Estadual pediu que a
justiça encerrasse as escutas dos envolvidos nas conversas, apesar de eles
seguirem trocando informações sobre as atividades ilegais de Adriano da
Nóbrega. A interrupção reforça a ideia de que trata-se do mesmo Jair que
hoje ocupa o Planalto. O MP estadual não pode investigar o presidente da
República. Em casos deste tipo, tem a obrigação constitucional de encerrar a
investigação e encaminhar o processo à Procuradoria Geral da República, que tem
esse poder. Questionada, a PGR informou que buscas nos sistemas da Procuradoria
por meio do número de processo indicado não retornaram resultados. Uma fonte
ouvida pela reportagem que conhece o sistema da PGR, no entanto, entende que
isso pode significar tanto que o processo foi encaminhado com outro número
quanto que ainda não foi encaminhado ou mesmo que a procuradoria apenas não o
encontrou em seus arquivos.
O Intercept já havia reportado sobre as
escutas em fevereiro,
quando mostramos como Adriano dizia que “se fodia” por ser amigo do presidente
da República, e em março, quando detalhamos a briga pelo espólio
deixado pelo ex-caveira. As referências a “Jair” e “cara da casa de vidro”
constam em novos documentos recebidos pela reportagem, que, em conjunto com as
escutas anteriores, permitem entender a amplitude das relações do miliciano e
da rede que lhe deu apoio no período em que passou foragido.
Adriano da Nóbrega fugia da justiça desde janeiro de 2019,
quando o Ministério Público do Rio pediu a sua prisão, acusando-o de chefiar a
milícia Escritório do Crime, especializada em assassinatos por encomenda.
Ex-integrante da elite do batalhão de elite da Polícia Militar do Rio, ele foi
expulso da corporação em 2014 por relações com a máfia do jogo do bicho.
As conversas de apoiadores do miliciano com supostas
referências ao presidente começaram a aparecer nos grampos a partir do dia
da morte de Adriano, em 9 de fevereiro de 2020, e continuaram por mais 11
dias. No dia 9 pela manhã, o miliciano foi cercado por policiais do Rio e
da Bahia, quando se escondia no sítio do vereador Gilson Batista Lima Neto, o
Gilsinho de Dedé, do PSL, em Esplanada, cidade a 170 quilômetros de Salvador.
Segundo os agentes, o miliciano reagiu a tiros à ordem de se render. Os
policiais reagiram e mataram Adriano com dois tiros.
‘Cara da casa de vidro’
De acordo com as transcrições, a primeira ligação
supostamente feita ao presidente aparece no dia 9 de fevereiro de 2020 à noite,
horas depois que Adriano foi morto. Ronaldo Cesar, o Grande, identificado pela
investigação como um dos elos entre os negócios legais e ilegais do miliciano,
diz a uma mulher não identificada (MNI, no jargão policial) que ligaria para o
“cara da casa de vidro”. No telefonema, demonstra preocupação com pendências
financeiras e diz que alertou Adriano que “iria acontecer algo ruim”. Ele fala
ainda que quer saber “como vai ser o mês que vem” e que a “parte do cara tem
que ir”.
Identificado pela polícia como ele entre os negócios legais
e ilegais do miliciano, Grande diz que vai “ligar para o cara da Casa de
Vidro”. Imagem: Reprodução/MPRJ
Quatro dias após a morte de Adriano, em 13 de fevereiro de
2020, Grande fala com um homem supostamente não identificado (HNI), que tem ao
lado, entre parênteses, a descrição “PRESIDENTE” em letras maiúsculas, e relata
problemas com a família de Adriano devido à divisão de bens. O interlocutor se
coloca à disposição caso ele venha a ter algum problema futuro. Apenas duas
frases do diálogo de 5 minutos e 25 segundos foram transcritas.
Polícia identifica interlocutor que conversa com comparsa de
Adriano como “PRESIDENTE”. Imagem: Reprodução/MPRJ
No mesmo dia 13, o nome “Jair” aparece em conversas de
outros comparsas de Adriano – o pecuarista Leandro Abreu Guimarães e sua
mulher, Ana Gabriela Nunes. O casal, segundo as investigações, escondeu Adriano
da Nóbrega numa fazenda da família nos arredores de Esplanada após ele ter
conseguido escapar ao cerco policial a uma luxuosa casa de praia na Costa do
Sauípe, no litoral baiano, em 31 de janeiro de 2020.
Num dos diálogos, de pouco mais de cinco minutos, Ana
Gabriela relata a uma interlocutora identificada apenas como “Nina” que “a
polícia retornou com o promotor” a sua casa e que não pretende voltar para lá
por causa dos jornalistas. Na sequência, diz: “Leandro está querendo falar com
Jair”.
Após a morte do miliciano, Ana Gabriela diz a uma
interlocutora identificada apenas como Nina que o esposo, Leandro Guimarães,
quer falar com Jair, numa possível referência ao presidente.
Imagem: Reprodução/MPRJ
Leandro Guimarães é descrito pelos policiais como um
vaqueiro premiado, que ganha a vida organizando e participando de rodeios. Foi
num desses eventos que o ex-capitão comprou 22
cavalos de raça mesmo estando foragido da justiça.
Minutos depois, Ana Gabriela faz outra ligação. O telefonema
iniciou às 8h50 e terminou às 8h51. No campo de comentários, o documento sugere
que o diálogo aconteceu entre Gabriela e Jair. A conversa, contudo, não é
transcrita na íntegra. Os analistas apenas reproduzem a mesma frase destacada
anteriormente: “Gabriela diz que Leandro quer falar com Jair”.
No campo de comentários, o documento sugere que o diálogo
aconteceu entre Ana Gabriela e Jair. Imagem: Reprodução/MPRJ
Logo após os episódios, o analista da Polícia Civil sugere
que não sejam renovados os grampos do casal. O mesmo acontece com Grande, que,
pelo teor dos telefonemas, segue tratando dos negócios de Adriano da Nóbrega e
chega a ser chamado de “chefe” em uma das interceptações. O Ministério Público
Estadual do Rio, que não tem atribuição para investigar suspeitas sobre o
presidente da República, aceitou a recomendação. O mesmo procedimento já havia
sido adotado depois que Orelha e a irmã de Adriano citaram
Bolsonaro em seus telefonemas, como mostramos em fevereiro no Intercept.
Questionamos o Ministério Público Estadual sobre o porquê
das escutas dos suspeitas terem sido encerradas após as menções ao “homem da
casa de vidro”, a “Jair” e “HNI (PRESIDENTE)” e, sobretudo, se a instituição
remeteu à Procuradoria-Geral da República as suspeitas da ligação dos suspeitos
com o presidente Jair Bolsonaro. Não recebemos nenhum retorno até a publicação
desta reportagem.
Por favor, preste atenção: esta reportagem faz parte de uma
série de matérias baseadas nas escutas que o MP realizou enquanto investigava o
miliciano Adriano da Nóbrega. Apesar das escutas, o processo foi paralisado.
Ele voltou a andar depois que começamos a investigar. O Intercept quer
continuar contando essa história porque ela pode mudar os rumos do país.
Precisamos da ajuda dos nossos leitores para isso. → Clique e contribua com qualquer valor.
‘Muito fiscalizado’
O nome do presidente já havia sido citado anteriormente em
diálogos da irmã de Adriano, Tatiana da Nóbrega, e do sargento da PM Luiz
Carlos Felipe Martins, o Orelha, um dos homens de confiança do miliciano, como
revelou o Intercept
em março. Ao dizer a um interlocutor não identificado que “Adriano falava
que se fodia por ser amigo do presidente da República”, Orelha acendeu a luz
amarela entre policiais e promotores envolvidos na perseguição ao ex-capitão.
“Essa luz passou a piscar vermelha no decorrer da análise das escutas e
transcrição das conversas dos suspeitos de proteger o miliciano foragido
enquanto o cerco se fechava”, me disse um dos envolvidos na investigação sob a
condição de anonimato.
Para os investigadores, o conteúdo das novas transcrições
sugere que a amizade entre o miliciano e o presidente não seria mera bravata
entre os seus comparsas. Os Bolsonaro têm uma relação antiga com o ex-caveira.
Em 2005, enquanto estava preso preventivamente pelo assassinato de um guardador
de carros, Adriano foi condecorado pelo então deputado estadual Flávio
Bolsonaro com a medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia
Legislativa do Rio, a Alerj. Uma semana após a morte do miliciano, em 15 de
fevereiro de 2020, o presidente Bolsonaro o chamou de “herói”
e afirmou que recomendou pessoalmente que o filho desse a medalha ao
então policial. Flávio ainda empregou
a mãe e a ex-mulher de Adriano em seu gabinete na Alerj, situação hoje
investigada no inquérito
das Rachadinhas.
Embora o ex-capitão usasse uma identidade falsa em nome de
Marco Antônio Cano Negreiros, trechos das transcrições das quebras de sigilo
mostram que todos os suspeitos ligados à rede de proteção de Adriano da Nóbrega
sabiam que ele era foragido.
Em um diálogo captado em 7 de fevereiro, dois dias antes da
operação que resultou na morte do ex-capitão, Ana Gabriela diz à mãe que não
pode dar maiores explicações por telefone. A mãe então pergunta: “o rapaz está
aí com você?” Ela reage com nervosismo e desconversa: “Não adianta que não vou
dizer onde o rapaz está. Ele está em Esplanada com o Leandro”. A mãe insiste e
acrescenta: “Graças a Deus que vocês não estavam na Costa do Sauípe. Esse rapaz
não poderia estar por aqui. Ele está sendo muito fiscalizado”, concluiu.
Trecho de uma conversa entre Ana Gabriela e a mãe em que ela
diz que o “rapaz”, que a polícia entende ser Adriano, está em Esplanada (BA)
com o marido. Imagem: Reprodução/MPRJ
Antes de se refugiar no sítio do vereador Gilsinho de Dedé,
em que acabou sendo morto, e na fazenda do casal Leandro e Gabriela, o
ex-oficial do Bope contou ainda com a ajuda de uma prima e de outro fazendeiro
da região. As escutas dão a entender que a veterinária Juliana Magalhães da
Rocha, que trabalhava como tratadora dos cavalos e das cabeças de gado do
miliciano, chegou a alugar um carro que foi usado na fuga do ex-capitão do
litoral baiano para o interior do estado. Já o fazendeiro Eduardo Serafim, proprietário
de um rancho em Itabaianinha, na divisa de Sergipe com a Bahia, abrigou parte
dos animais do chefe do Escritório do Crime.
É na fazenda de Serafim que ficavam os 22 cavalos de raça
comprados por Adriano. Nas transcrições, a polícia sugere que Adriano ou a
atual esposa Julia Lotufo visitaram o local. Imagem: Reprodução/MPRJ
Mesmo com provas robustas de que ajudaram Adriano na fuga,
nem o casal Leandro e Gabriela, nem o vereador Gilsinho, a veterinária Juliana
ou o fazendeiro Serafim foram denunciados à justiça pelo MP do Rio. Procurada
pela reportagem, a instituição não explicou porque preferiu deixá-los de fora
da denúncia.
Uma investigação pegando poeira
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado,
o Gaeco, do MP do Rio, levou 406 dias para denunciar parte da rede de apoio ao
miliciano. A operação Gárgula foi posta em prática após o Intercept ter
revelado a disputa em torno dos bens do miliciano, em 19 de fevereiro deste
ano. No mesmo dia da publicação da reportagem, o MP denunciou à 1ª Vara
Criminal Especializada do Tribunal de Justiça nove dos 32 suspeitos.
Apesar das evidências de que a mãe de Adriano, suas irmãs
Tatiana e a sua ex-mulher também se beneficiaram do dinheiro ilegal acumulado
pelo miliciano, o MP optou por levar à justiça apenas a então companheira do
miliciano, Júlia Lotufo, e os policiais militares Rodrigo Bittencourt Rego e
Orelha. Os três tiveram as prisões decretadas a pedido dos promotores.
No dia seguinte ao pedido de prisão, Orelha sofreu uma
emboscada em frente de sua casa, em Realengo, na zona oeste do Rio e foi
morto a tiros de fuzil. Dois dias depois, o coordenador do Gaeco,
promotor Bruno Gangoni, aventou a possibilidade de o crime ter sido queima de
arquivo, mas sem dar maiores esclarecimentos. Um dos principais aliados de
Adriano, o PM poderia ter informações fundamentais para o desenrolar de
investigações relacionadas às Rachadinhas no gabinete de Flávio Bolsonaro e à
morte de Marielle, em que há fortes suspeitas do envolvimento do Escritório do Crime.
O Intercept questionou o MP sobre quem seriam os
beneficiados com a morte do policial-miliciano e o motivo da denúncia não ter
incluído os nomes dos integrantes da família de Adriano e seus aliados na
Bahia. Mais uma vez, não obteve resposta até a publicação desta reportagem. A
Presidência da República também não nos respondeu se o presidente entrou ou não
em contato com comparsas do miliciano logo após a sua morte.
Atualização – 24 de abril de 2021, 12h40
O texto foi atualizado para acrescentar mais detalhes do
posicionamento da PGR.
Na madrugada desta quarta-feira (2), uma quadrilha atacou
bancos e também a polícia nas ruas da cidade de Cametá, no interior do Pará.
Conforme publicou o portal G1, o grupo de criminosos usou
reféns para se locomover, tendo capturado pessoas em bares da cidade. Não
há informações sobre feridos.
O bando teria armas de grosso calibre e disparos foram
ouvidos por mais de uma hora na cidade. O incidente ocorreu na noite seguinte
de uma ação semelhante ocorrida em Criciúma, Santa Catarina.
A cidade de Cametá fica a 235 km da capital do estado,
Belém. Ao menos uma
agência bancária foi alvo do grupo. Além disso, um quartel da Polícia
Militar local teria sido atacado, impedindo a saída dos agentes de segurança.
Ainda segundo as informações do portal, o grupo teria fugido em carros e depois
barcos pelo Rio Tocantins.
Nas redes sociais, o governador do Pará, Hélder Barbalho
(MDB), comentou o incidente e afirmou que está em contato com a cúpula de
segurança pública estadual para tomar providências.
Não mediremos esforços para que o quanto antes seja retomada a tranquilidade e os criminosos sejam presos. Minha total solidariedade ao povo cametaense.
Nas redes sociais, vídeos foram postados mostrando a ação do
grupo em Cametá.
URGENTE - mais um assalto a banco aterroriza uma cidade brasileira, agora no Pará, em Cametá. O Brasil hoje virou paraíso do crime organizado? pic.twitter.com/u1dZOcCfaI
Também foram postadas gravações que mostram moradores sendo usados como reféns pelos criminosos.
Mais um vídeo direto de Cametá, no interior do Pará: os assaltantes usam moradores como escudos humanos enquanto assaltam uma agência bancária, exatamente como foi feito ontem, em Criciúma. A cidade toda registra disparos de armas de grosso calibre. pic.twitter.com/9ZJy5Wrm5s
Mãe de menina autista de 3 anos se revoltou com dona de restaurante que destratou sua filha e acabou presa por desacato. Na delegacia, mesmo algemada, foi agredida por um Tenente da Polícia Militar. A covardia se passou no Batalhão de Bonito (MS) em 26 de setembro mas só vazou hj pic.twitter.com/aF0HQYi1NE
O governador Romeu Zema (Novo) não impediu que a Polícia
Militar de Minas Gerais aterrorizasse por mais de três dias as cerca de 450
famílias de agricultores assentadas no Quilombo Campo Grande
Os apelos vieram de todos os lados, de pessoas e autoridades
das mais diversas tendências políticas, mas contrariando suas promessas feitas
no início da semana, o governador Romeu Zema (Novo) não impediu que a Polícia
Militar de Minas Gerais aterrorizasse por mais de três dias as cerca de 450
famílias de agricultores assentadas no Quilombo Campo Grande, no município de
Campo do Meio, no sul de Minas Gerais. São famílias ali instaladas há 22 anos
que transformaram a área de uma usina de açúcar falida em campo de produção de
alimentos orgânicos. A violência contra
elas aumentou na tarde de sexta-feira (14/08). A repercussão negativa foi
tamanha que no final do dia o Batalhão de Choque se retirou do local dando por
encerrada a operação. Os ânimos serenaram.
Ao final da operação policial seis famílias foram
desalojadas, a Escola Popular Eduardo Galeano, que oferecia educação popular
aos jovens, crianças e adultos, foi totalmente destruída e um galpão que
atendia aos agricultores foi esvaziado. A mobilização dos agricultores e o
apoio que receberam de diversos setores da sociedade, porém, impediram que a
ameaça maior – o desalojamento de todos – fosse concretizada. Apenas um pedaço
da área – ainda que superior ao previsto – foi oficialmente reintegrada.
Em uma atitude inédita de espetacularização da operação, a
ação da polícia militar mineira contou até com transmissão on line (veja
aqui). Nela, os oficiais alegavam que apenas cumpriam uma ordem judicial.
Ordem que não se preocupou com a pandemia. Por isso, o despejo foi considerado
“como um grave desrespeito e uma ameaça à vida em meio ao caos estabelecido
pela pandemia, e torna-se um verdadeiro crime contra estas famílias” pelos
bispos da Regional Leste 2 da CNBB. Como afirmaram em nota assinada por dom
José Carlos de Souza Campos (da diocese de Divinópolis/MG) e dom Otacílio
Ferreira Lacerda (da diocese de Guanhães/MG), respectivamente, presidente e bispo
referencial da Comissão para Ação Social Transformadora da Regional Leste 2 da
CNBB.
O tamanho da operação montada – mais de 250 policiais,
incluindo o batalhão de choque com caminhão blindado (tipo brucutu), caminhões
do corpo de bombeiro e até helicóptero, cujos voos visavam atemorizar as
pessoas – transformou-se também em um sinal claro que o objetivo não era
cumprir apenas a ordem judicial.
A determinação, inicialmente, falava em reintegração de 26
hectares. Depois, o próprio juízo aumentou para 52 hectares. Segundo nota do
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), a operação policial foi além do
que ordenava a liminar. Ainda destruíram casas e lavouras. Mas, na realidade, o
aparato policial faz supor que a pretensão do governo Zema seria de exterminar
o quilombo. Foi impedido pela resistência dos agricultores.
Isto explica, inclusive, o fato de terem isolado a área de
tal forma que até deputados tiveram o acesso impedido, como denunciou a
deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT): “fomos impedidos pelo Comando Militar
da operação na área de entrar pela via pública de acesso para nos encontrarmos
com as pessoas. Questionado, afirmou que a operação de reintegração de posse
não tinha terminado e que ele tinha protocolos a seguir. Informei que, como
deputada estadual, tinha a prerrogativa de entrar, que os protocolos da Polícia
Militar não são superiores a Constituição do Estado. Obtive como resposta de um
Major voz de prisão se insistisse. Depois da ameaça do Comandante, dois
sargentos começaram a filmar”.
A avaliação da deputada, que esteve no quilombo na
sexta-feira em companhia dos deputados federais Rogério Correia e Odair Cunha e
seus colegas na assembléia de Minas André Quintão e Ulysses Gomes, é de que o
governo pretendia ir além do que mandou o juízo:
“Após analisar toda a operação montada, não resta dúvidas:
Zema aparelhou o governo, gastou dinheiro público para fazer uma disputa
ideológica e política, além de autorizar a prática de violência contra a
população. Nada teve a ver com cumprimento de decisão judicial (…) três dias de
operações, fora o tempo de deslocamento, diárias, hospedagens, alimentação.
Tudo pago com dinheiro público para retirarem e destruírem a casa de 6
famílias, além da escola. O plano do governo era maior”.
Os policiais militares – “agindo dentro da lei e em
cumprimento às ordens”, como definiu o oficial no vídeo – na quarta-feira, 12
de agosto, não impediram a destruição da escola feita, segundo dizem os
policiais, por familiares do dono do terreno. O ato foi recriminado pelo
bispo-auxiliar de Belo Horizonte, dom Vicente Ferreira: “De lamentar que a
escola já está destruída. Infelizmente, em um tempo em que a gente precisa de
mais educação”, protestou, na quinta-feira.
Nota do Tribunal de Justiça abria espaço para
um adiamento
da reintegração a partir da
avaliação da Polícia Militar.
Desde o início da semana o governador Zema prometia
suspender o despejo. Também o prefeito de Campo do Meio, Robson Machado de Sá
(PSDB), dizia que apenas uma pequena área seria reintegrada. As promessas do
governador, feitas pela rede social, falavam em deixar tudo para o
pós-pandemia. Isso não parecia impossível. Afinal, o próprio Tribunal de
Justiça, em nota (leia na ilustração ao lado), esclareceu que a ordem de
despejo, datada do ano passado, teria que ser cumprida,“entretanto, a avaliação a respeito da
segurança do despejo está sendo feita pela Polícia Militar.”
Ou seja, havia margem para o governo do estado adiar o
despejo. Inclusive atenderia às recomendações de infectologistas que se
posicionaram contrários ao desabrigo de pessoas em plena pandemia. Mas Zema não
apenas desrespeitou o prometido como deixou a polícia militar fazer uma
verdadeira guerra psicológica contra os moradores por três dias seguidos – de
quarta-feira (12/08) até sexta-feira no final da tarde.
“Despejar não é atividade essencial”, diz o bispo.
A promessa do prefeito foi feita ao bispo da diocese de
Campanha (que engloba a região do acampamento), dom Pedro Cunha Cruz. Em
pronunciamento por áudio aos demais bispos do país, dom Pedro, da ala
conservadora da igreja, relatou sua conversa com o prefeito, na manhã de
quinta-feira, quando ouviu que a operação já tinha ocorrido. O que não
correspondeu à verdade:
“Em conversa com o prefeito Robson, de Campo do Meio, o
mesmo assegurou que o despejo foi realizado ontem (12/08) somente nas
residências de seis famílias que ocupavam uma área de propriedade privada, mas
que não têm nenhuma relação com as 450 famílias que ocupam a área da antiga
usina. A prefeitura de Campo do Meio já acolheu as três famílias despejadas
deste terreno. Portanto, as 450 famílias da área da usina ainda permanecem no
local e provavelmente sofrerão alguma ação judicial no pós pandemia”.
Dom Pedro terminou sua mensagem aos irmãos do episcopado
prometendo genericamente seguir “rezando por estas famílias dentro do espírito
do Pacto pela Vida e da ética do cuidado, como pede o nosso querido Papa
Francisco”.
A reintegração aconteceu. Famílias perderam suas casas,
lavouras e a escola Eduardo Galeano foi destruída. No entanto, foram três dias
de resistência. Da força do povo, da produção, da solidariedade contra as
armas. Isso não é pouca coisa. Isso é dignidade. O que ninguém tira da gente, como
disse nosso camarada Enio lembrando a fala de outro dirigente, o MST não formou
uma geração de covardes.
As famílias e militância que estiveram entrincheirados
nesses três dias nos ensinaram que só a luta faz valer. Que a luta é o caminho.
E cada companheiro e companheira que esteve junto com a gente nesses dias,
compartilhando as informações, contribuindo desde suas casas e suas vozes, nos
deram força e reforçaram a certeza que a resistência além de ativa deve ser
popular. Deve ser com o povo. A solidariedade foi essencial pra sairmos desse
despejo de cabeça erguida e impondo derrotas a força policial e ao governo.
Nesse momento em que a dor e a indignação sufoca queria
encontrar formas de reconhecer quem esteve ao nosso lado nesses dias.
A sociedade exige que Romeu Zema suspenda imediatamente este despejo desumano e criminoso! Neste momento a Polícia Militar ataca com extrema violência os moradores de Quilombo Campo Grande. #ZemaCriminoso#SalveQuilombopic.twitter.com/Jos75d3A82
A história da fazenda falida recriada como Quilombo Campo Grande pelosfuncionários que sofreram calote. Uma metáfora do Brasil. pic.twitter.com/MIXaC9EcPS
O objetivo, de acordo com MST, é tentar retirar as famílias.
Veja o vídeo aqui
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra)
denunciou no início da tarde desta quinta-feira (13) que a Polícia Militar, sob
o comando do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, ateou fogo no Acampamento
Quilombo Campo Grande para tentar retirar as famílias.
🚨URGENTE | Sob comando do covarde governador de Minas Gerais, @RomeuZema, a Polícia Militar ateia fogo no Acampamento Quilombo Campo Grande para tentar retirar as famílias. A vida das famílias Sem Terra estão em suas mãos governador! Retire a polícia do acampamento!#ZemaCovardepic.twitter.com/g9U0k96bnr
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) entrou
nesta quinta-feira (13) com um pedido
no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para reverter a ordem de despejo
de um acampamento do movimento em Campo do Meio, município do Sul de Minas
Gerais.
A ordem foi dada em meio à pandemia do novo coronavírus, o
que deixaria desabrigadas as cerca de 450 famílias que vivem no Quilombo Campo
Grande.
O governador de Minas, Romeu Zema (Novo), havia usado a PM
para retirar os acampados em uma ação que começou na madrugada da quarta-feira
(12). A truculência chamou a atenção de vários deputados estaduais e movimentos
sociais e pegou mal para o governador.
Quilombo Campo Grande
O acampamento Quilombo Campo Grande foi erguido há mais de
20 anos nas terras da antiga Usina Ariadnópolis, que pertencia à Companhia
Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia) e faliu no final da década de 1990. Parte
dos antigos trabalhadores da usina, que ficaram sem indenização após a falência
da empresa, hoje integram o acampamento. A área de aproximadamente 4 mil
hectares ficou degradada depois da falência da usina, por causa do monocultivo
de cana-de-açúcar. Com a ocupação do MST, o local ganhou plantações de café,
milho e hortaliças, além da criação de galinhas.
‼ ALERTA! Incêndio criminoso no Acampamento Quilombo Campo Grande! As famílias estão sendo cercadas pelas chamas! A polícia do governador de Minas Gerais, @RomeuZema, segue na ofensiva para avançar com o despejo criminoso!#ZemaCovardepic.twitter.com/D0wSB5h0ki
A tentativa de despejo de 450 famílias de um acampamento do MST em Minas é mais um retrato do desprezo dos neoliberais pela vida. A ordem de despejo ignorou acordo pra aguardar o fim do isolamento, e, assim, preservar a vida de quem mora e trabalha naquela terra há + de 20 anos pic.twitter.com/lfLr1Z7Zro
Em 18 de jun. de 2016 na cidade de Campo Grande o corrupto Bolsonaro disse que caso fosse eleito em 2018 iria apoiar o extermínio dos sem terra pelos fazendeiros
Rogério Ferreira da Silva morreu neste último domingo, 09,
após abordagem policial (Foto: Reprodução)
Policiais alegam que atiraram em Rogério Ferreira da Silva
Júnior porque tiveram a impressão de que ele iria “sacar arma”; vítima fez 19
anos no dia de sua morte
Segundo os PMs Guilherme Tadeu Figueiredo Giacomelli e Renan
Conceição Fernandes Branco, eles patrulhavam a região quando viram Rogério de
moto. Eles afirmam que deram sinal de parada, mas o jovem negro, que fazia 19
anos naquele dia, teria fugido.
Ainda de acordo com a versão dada pelos policiais ao DHPP
(Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, responsável
por investigar o caso, Rogério fez menção de sacar uma arma durante a
perseguição.
Giacomelli e Branco identificaram o ato de colocar a mão na
cintura como um risco “iminente de agressão”. O PM Giacomelli, então, decidiu
atirar. Deu um único tiro, que atingiu Rogério no lado direito das costas e
saiu abaixo da axila esquerda.
Segundo osPMs, o jovem dirigiu por mais 50 metros e, quando
parou a moto, caiu no chão e tentou se proteger no muro. Estas imagens foram
captadas por câmeras de segurança e têm “indício de execução”, segundo o
advogado Ariel de Castro, conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa
dos Direitos da Pessoa Humana).
Os PMs dizem não ter atirado em Rogério no momento em que
ele para a moto, como registrado em vídeo. Quando o revistaram, identificaram
que não havia nenhuma arma.
Ontem, o Rogério fez 19 anos e pegou a motocicleta de um amigo emprestado para comemorar o aniversário com o seu pessoal, em São Paulo.
Não deu tempo.
Rogério foi executado por dois policiais militares. Ele não estava armado, andando de boa em uma moto emprestada.
A versão oficial é de que pediram imediatamente socorro, mas
moradores da região viram a cena e um deles colocou o jovem negro no carro e o
levou ao Hospital Sesi, também no Parque Bristol. Rogério não resistiu aos
ferimentos.
A versão é considerada verídica para o delegado Ricardo
Travassos da Silva, do DHPP, responsável pela apuração do crime. Segundo ele, a
explicação de Giacomelli e Branco para a morte condiz com legítima defesa.
Travassos argumenta no Boletim de Ocorrência que o disparo
que matou Rogério é correto “diante de uma possível agressão por arma de fogo”.
Ainda destaca o fato de o motociclista ter incorrido “em várias infrações
criminais” ao fugir da PM como forma de sustentar seu argumento.
O documento da Polícia Civil tem sete enquadramentos para o
caso: homicídio simples, resistência, desobediência, dano qualificado, dirigir
sem permissão ou habilitação, trafegar em velocidade incompatível, permitir
direção do veículo automotor a pessoa não habilitada.
O delegado ainda cita o coronel Vinícius, identificado no
documento como comandante do 46º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano como
outra autoridade a considerar a legítima defesa neste caso. O coronel comanda o
batalhão onde os PMs Giacomelli e Branco trabalham, sendo responsável pelo
inquérito policial militar do crime.
Depois do socorro, os PMs alegam terem sido alvo de
protesto. As pessoas, revoltadas com a morte de Rogério, teriam jogado pedra na
direção das motos policiais, danificando o vidro de uma delas.
Tentativa de livrar a polícia
O advogado criminalista Flavio Roberto Campos, integrante da
EduCafro, considera errado o enquadramento em legítima defesa. Para ele, a
competência de fazer tal definição é do juiz ou do júri e não do delegado.
“O delegado não está fazendo um juízo de Polícia Judiciária,
está fazendo um de juiz. Está avaliando até o dolo do cara em uma situação
subjetiva”, avalia. “É um exagero de interpretação. Fica nítido o viés da
condução dessa investigação para isentar a SSP de responsabilidade”, argumenta.
Campos explica que a legítima defesa pode ser enquadrada,
mas em casos específicos. Exemplifica quando o policial está diante de uma
pessoa com uma arma de brinquedo e a mata. Neste caso, seria legítima defesa
por não saber se tratar de uma simulação de arma de fogo.
“Como o delegado coloca em inquérito? Você tem uma pessoa
baleada pelas costas, desarmada, ponto. Se o réu vai usar uma defesa dessas,
que use no júri. Vai absolver o cara no começo?”, questiona.
A advogada Débora Roque, integrante da Rede de Proteção e
Resistência ao Genocídio, que acompanha o caso, considera que a versão da PM é
uma justificativa para “atuação violenta da polícia”.
“O que as imagens mostram é mais uma das várias comprovações
do despreparo de uma polícia militar que atua como se estivesse em uma zona de
guerra, e a população, em sua grande maioria jovens, negros e moradores de
bairros periféricos, acabam por ser vítimas dessas atuações”, sustenta a
defensora.
Ela cobra que a investigação não acabe em impunidade, o que,
para Roque, seria matar Rogério duas vezes. “Independente da versão policial
contada no boletim, há uma certeza, Rogério não estava armado e o policial não
precisava ter atirado”.
Uma nova manifestação está agendada por moradores para às
18h desta segunda-feira (10/8), em frente ao CEU Bristol, unidade escolar
vizinha ao local em que Rogério foi atingido e caiu antes de morrer.