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sábado, 15 de agosto de 2020

Marcelo Auler: Zema pretendia exterminar quilombo. Perdeu



O governador Romeu Zema (Novo) não impediu que a Polícia Militar de Minas Gerais aterrorizasse por mais de três dias as cerca de 450 famílias de agricultores assentadas no Quilombo Campo Grande


Por Marcelo Auler

Os apelos vieram de todos os lados, de pessoas e autoridades das mais diversas tendências políticas, mas contrariando suas promessas feitas no início da semana, o governador Romeu Zema (Novo) não impediu que a Polícia Militar de Minas Gerais aterrorizasse por mais de três dias as cerca de 450 famílias de agricultores assentadas no Quilombo Campo Grande, no município de Campo do Meio, no sul de Minas Gerais. São famílias ali instaladas há 22 anos que transformaram a área de uma usina de açúcar falida em campo de produção de alimentos orgânicos.  A violência contra elas aumentou na tarde de sexta-feira (14/08). A repercussão negativa foi tamanha que no final do dia o Batalhão de Choque se retirou do local dando por encerrada a operação. Os ânimos serenaram.

Ao final da operação policial seis famílias foram desalojadas, a Escola Popular Eduardo Galeano, que oferecia educação popular aos jovens, crianças e adultos, foi totalmente destruída e um galpão que atendia aos agricultores foi esvaziado. A mobilização dos agricultores e o apoio que receberam de diversos setores da sociedade, porém, impediram que a ameaça maior – o desalojamento de todos – fosse concretizada. Apenas um pedaço da área – ainda que superior ao previsto – foi oficialmente reintegrada.

Em uma atitude inédita de espetacularização da operação, a ação da polícia militar mineira contou até com transmissão on line  (veja aqui). Nela, os oficiais alegavam que apenas cumpriam uma ordem judicial. Ordem que não se preocupou com a pandemia. Por isso, o despejo foi considerado “como um grave desrespeito e uma ameaça à vida em meio ao caos estabelecido pela pandemia, e torna-se um verdadeiro crime contra estas famílias” pelos bispos da Regional Leste 2 da CNBB. Como afirmaram em nota assinada por dom José Carlos de Souza Campos (da diocese de Divinópolis/MG) e dom Otacílio Ferreira Lacerda (da diocese de Guanhães/MG), respectivamente, presidente e bispo referencial da Comissão para Ação Social Transformadora da Regional Leste 2 da CNBB.

O tamanho da operação montada – mais de 250 policiais, incluindo o batalhão de choque com caminhão blindado (tipo brucutu), caminhões do corpo de bombeiro e até helicóptero, cujos voos visavam atemorizar as pessoas – transformou-se também em um sinal claro que o objetivo não era cumprir apenas a ordem judicial.

Leia também: GGN Covid: 100.000 mortos pelo Coronavirus, no mais completolevantamento


O plano do governo era maior”

A determinação, inicialmente, falava em reintegração de 26 hectares. Depois, o próprio juízo aumentou para 52 hectares. Segundo nota do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), a operação policial foi além do que ordenava a liminar. Ainda destruíram casas e lavouras. Mas, na realidade, o aparato policial faz supor que a pretensão do governo Zema seria de exterminar o quilombo. Foi impedido pela resistência dos agricultores.



Isto explica, inclusive, o fato de terem isolado a área de tal forma que até deputados tiveram o acesso impedido, como denunciou a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT): “fomos impedidos pelo Comando Militar da operação na área de entrar pela via pública de acesso para nos encontrarmos com as pessoas. Questionado, afirmou que a operação de reintegração de posse não tinha terminado e que ele tinha protocolos a seguir. Informei que, como deputada estadual, tinha a prerrogativa de entrar, que os protocolos da Polícia Militar não são superiores a Constituição do Estado. Obtive como resposta de um Major voz de prisão se insistisse. Depois da ameaça do Comandante, dois sargentos começaram a filmar”.

A avaliação da deputada, que esteve no quilombo na sexta-feira em companhia dos deputados federais Rogério Correia e Odair Cunha e seus colegas na assembléia de Minas André Quintão e Ulysses Gomes, é de que o governo pretendia ir além do que mandou o juízo:

“Após analisar toda a operação montada, não resta dúvidas: Zema aparelhou o governo, gastou dinheiro público para fazer uma disputa ideológica e política, além de autorizar a prática de violência contra a população. Nada teve a ver com cumprimento de decisão judicial (…) três dias de operações, fora o tempo de deslocamento, diárias, hospedagens, alimentação. Tudo pago com dinheiro público para retirarem e destruírem a casa de 6 famílias, além da escola. O plano do governo era maior”.

Os policiais militares – “agindo dentro da lei e em cumprimento às ordens”, como definiu o oficial no vídeo – na quarta-feira, 12 de agosto, não impediram a destruição da escola feita, segundo dizem os policiais, por familiares do dono do terreno. O ato foi recriminado pelo bispo-auxiliar de Belo Horizonte, dom Vicente Ferreira: “De lamentar que a escola já está destruída. Infelizmente, em um tempo em que a gente precisa de mais educação”, protestou, na quinta-feira.

Nota do Tribunal de Justiça abria espaço para 
um adiamento da reintegração a partir da
 avaliação da Polícia Militar.
Desde o início da semana o governador Zema prometia suspender o despejo. Também o prefeito de Campo do Meio, Robson Machado de Sá (PSDB), dizia que apenas uma pequena área seria reintegrada. As promessas do governador, feitas pela rede social, falavam em deixar tudo para o pós-pandemia. Isso não parecia impossível. Afinal, o próprio Tribunal de Justiça, em nota (leia na ilustração ao lado), esclareceu que a ordem de despejo, datada do ano passado, teria que ser cumprida,  “entretanto, a avaliação a respeito da segurança do despejo está sendo feita pela Polícia Militar.”


Ou seja, havia margem para o governo do estado adiar o despejo. Inclusive atenderia às recomendações de infectologistas que se posicionaram contrários ao desabrigo de pessoas em plena pandemia. Mas Zema não apenas desrespeitou o prometido como deixou a polícia militar fazer uma verdadeira guerra psicológica contra os moradores por três dias seguidos – de quarta-feira (12/08) até sexta-feira no final da tarde.
“Despejar não é atividade essencial”, diz o bispo.
A promessa do prefeito foi feita ao bispo da diocese de Campanha (que engloba a região do acampamento), dom Pedro Cunha Cruz. Em pronunciamento por áudio aos demais bispos do país, dom Pedro, da ala conservadora da igreja, relatou sua conversa com o prefeito, na manhã de quinta-feira, quando ouviu que a operação já tinha ocorrido. O que não correspondeu à verdade:

“Em conversa com o prefeito Robson, de Campo do Meio, o mesmo assegurou que o despejo foi realizado ontem (12/08) somente nas residências de seis famílias que ocupavam uma área de propriedade privada, mas que não têm nenhuma relação com as 450 famílias que ocupam a área da antiga usina. A prefeitura de Campo do Meio já acolheu as três famílias despejadas deste terreno. Portanto, as 450 famílias da área da usina ainda permanecem no local e provavelmente sofrerão alguma ação judicial no pós pandemia”.

Dom Pedro terminou sua mensagem aos irmãos do episcopado prometendo genericamente seguir “rezando por estas famílias dentro do espírito do Pacto pela Vida e da ética do cuidado, como pede o nosso querido Papa Francisco”.

Fonte: GGN


O Que Está acontecendo no Quilombo Campo Grande?
A reintegração aconteceu. Famílias perderam suas casas, lavouras e a escola Eduardo Galeano foi destruída. No entanto, foram três dias de resistência. Da força do povo, da produção, da solidariedade contra as armas. Isso não é pouca coisa. Isso é dignidade. O que ninguém tira da gente, como disse nosso camarada Enio lembrando a fala de outro dirigente, o MST não formou uma geração de covardes.

As famílias e militância que estiveram entrincheirados nesses três dias nos ensinaram que só a luta faz valer. Que a luta é o caminho. E cada companheiro e companheira que esteve junto com a gente nesses dias, compartilhando as informações, contribuindo desde suas casas e suas vozes, nos deram força e reforçaram a certeza que a resistência além de ativa deve ser popular. Deve ser com o povo. A solidariedade foi essencial pra sairmos desse despejo de cabeça erguida e impondo derrotas a força policial e ao governo.

Nesse momento em que a dor e a indignação sufoca queria encontrar formas de reconhecer quem esteve ao nosso lado nesses dias.

A Luta do Quilombo Campo Grande NÃO TERMINA ! #ZemaCriminoso #ZemaCovarde  #SalveQuilombo



No Twitter




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sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Quilombo do MST resiste à PM de Zema sem acesso à água, comida e sob risco de contaminação



O MST alerta ainda para o risco de contágio por Coronavírus pois, “não há como evitar aglomeração. Policiais também podem estar se contaminando”


De acordo com as primeiras informações desta sexta-feira (14), que chegam do acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Quilombo do Campo Grande, Sul de Minas Gerais, a tentativa de despejo por parte da Polícia Militar de Minas Gerais continua, mas as famílias resistem.

Foto: MST


De acordo com nota do MST, “as famílias estão há mais de 48 horas em resistência, sem dormir ou se alimentar direito”. O movimento alerta ainda para o risco de contágio por Coronavírus pois, “não há como evitar aglomeração. Policiais também podem estar se contaminando. Há grávidas, idosos e outras pessoas do grupo de risco, completamente expostas ao vírus e à iminência de uma violência policial”.



O MST diz ainda que o pequeno município de Campo do Meio, local onde está situado o Quilombo Campo Grande, não possui recursos para prestar atendimento médico ao número pessoas que podem estar infectadas neste momento.


Terrorismo de Zema

De acordo com informações dos assentados, helicópteros e drones têm circulado o local na tentativa de atemorizar os moradores.

Foto: MST


Após atear fogo no Acampamento Quilombo Campo Grande para tentar retirar as famílias que resistem no local, a Polícia Militar de Minas Gerais, sob o comando do governador Romeu Zema (Novo), cercou o local na tarde desta quinta-feira.

Segundo informações divulgadas pelo MST, a situação está se agravando. “A polícia sitiou as famílias durante todo o dia. Elas ficaram sem acesso à alimentação. As passagens foram bloqueadas para que nem imprensa, nem apoiadores do movimento pudessem chegar. Helicópteros sobrevoam a área com policiais apontando armas. E estão anunciando a chegada da tropa de choque”, relatou.

Foto: MST


O MST informa ainda que “já desocupou a área referente à sede da usina e luta para que casas e lavouras não sejam destruídas”.


Quilombo Campo Grande

Foto: MST


O acampamento Quilombo Campo Grande foi erguido há mais de 20 anos nas terras da antiga Usina Ariadnópolis, que pertencia à Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia) e faliu no final da década de 1990. Parte dos antigos trabalhadores da usina, que ficaram sem indenização após a falência da empresa, hoje integram o acampamento. A área de aproximadamente 4 mil hectares ficou degradada depois da falência da usina, por causa do monocultivo de cana-de-açúcar. Com a ocupação do MST, o local ganhou plantações de café, milho e hortaliças, além da criação de galinhas.

Foto: MST


Fonte: Revista Fórum


Frei Gilvander Luta pela terra e por Direitos

14/8/2020, às 9h: Quilombo Campo Grande, do MST, resiste há 48 horas ao despejo, em Campo do Meio/MG. Caveirão já está na área. Tropa de choque se prepara para atacar. Dep. Andreia de Jesus: “A PM está fazendo tortura psicológica.” Médico infectologista da Faculdade de Medicina da UFMG exige suspensão imediata do despejo. E muito mais, veja nesta 6ª videorreportagem aqui.

6ª Videorreportagem no calor da tensão do despejo, de Frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs, do CEBI, do SAB e da assessoria de Movimentos Populares, em Minas Gerais. Acompanhe a luta pela terra e por Direitos também via http://gilvander.org.br/site/ – http://freigilvander.blogspot.com/



PM fica no Quilombo Campo Grande, do MST, para 3o dia de despejo, em Campo do Meio, MG - 13/8/2020. Dia 14/8 continuará o despejo e também a resistência para impedir despejo.

5º Videorreportagem no calor da tensão do despejo, de Frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs, do CEBI, do SAB e da assessoria de Movimentos Populares, em Minas Gerais.




Cynara Menezes, Richard Santos, Bruno Torturra e Laryssa Sampaio falam da violência do Partido Novo contra os Sem-Terra, racismo institucional e outros assuntos do dia








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