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quarta-feira, 26 de junho de 2024

O que muda a partir da decisão do STF que descriminaliza porte de maconha para uso pessoal


Supremo Tribunal Federal reconheceu na tarde desta terça-feira que consumo da droga é um ilícito administrativo, e não penal. Ou seja, está sujeito a sanções socioeducativas. Ministros não definiram a quantidade que diferencia usuário de traficante, o que deve acontecer nesta quarta-feira


Forma oito votos favoráveis a descriminalização e três contrários. Antonio Augusto / SCO/STF

Por oito votos a três, o Supremo Tribunal Federal (STF) definiu, em sessão na tarde desta terça-feira (25), que porte de maconha para consumo pessoal não é crime. O julgamento sobre o assunto teve início em 2015 e estendeu-se por quase uma década.

A Lei de Drogas, aprovada em 2006, não pune o porte com pena de prisão. Com isso, os ministros declararam que esse não é um delito criminal, mas um ilícito administrativo. Prevaleceu a posição de que a dependência é um problema de saúde pública.

detalhamento da conclusão do plenário deve ser anunciado nesta quarta-feira (26). Os ministros vão fixar uma tese com repercussão geral, ou seja, que será usada para julgar casos semelhantes em instâncias inferiores.

O que isso significa?

Com a decisão, a posse ou o porte de maconha não deixam de ser um ato ilícito, ou seja, contrário à lei. Contudo, a conduta não representa um crime, desde que seja para uso pessoal. A partir desta quarta-feira, os ministros começam a definir a quantidade que diferencia consumidores de traficantes.

consumo de maconha não foi legalizado, ou seja, continua proibido na legislação. Com isso, quem porta a substância, mesmo que na condição de usuário, está sujeito a sanções administrativas e socioeducativas, como advertência sobre os efeitos das drogas e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.


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Uma das consequências práticas da decisão é que quem for enquadrado como usuário não terá antecedentes criminais.

— O que acho mais nefasto é a pecha de criminoso que se coloca no usuário e que o inibe de buscar ajuda nos casos de dependência — defendeu o ministro Dias Toffoli.

De acordo com a decisão dos ministros, a tese de consumo pessoal somente será válida em ambiente privativo. O uso em locais públicos prossegue proibido e está sujeito a sanções penais. Produção, compra, venda e tráfico continuam sendo crimes.

Quais os próximos passos?

segunda etapa do julgamento gira em torno da quantidade de droga que deve ser usada como parâmetro para distinguir o consumidor do traficante. As propostas apresentadas até o momento vão de 25 a 60 gramas. Os ministros vêm conversando para aprovar uma quantidade intermediária, de 40 gramas.

Esse é um ponto central porque, na avaliação dos ministros, vai ajudar a uniformizar sentenças e evitar abordagens preconceituosas. Estudos citados no plenário mostram que negros são condenados como traficantes com quantidades menores do que brancos. O grau de escolaridade também gera distorções nas condenações — a tolerância é maior com os mais escolarizados.

— A quantidade vem sendo utilizada, lamentavelmente, como uma forma de discriminação social — criticou Alexandre de Moraes.

A quantidade, no entanto, não será um parâmetro soberano, mas circunstancial. Outros elementos podem ser usados para analisar cada caso. Se uma pessoa for flagrada com uma balança de precisão, por exemplo, ela pode ser denunciada como traficante, mesmo que tenha consigo uma quantidade de droga abaixo do limite.

A decisão já está valendo?

O julgamento deve ser concluído nesta quarta-feira (26). A decisão só passa a ter efeitos práticos quando o julgamento for encerrado e o acórdão, publicado.

O STF é a favor da maconha?

O relator Gilmar Mendes pediu a palavra antes de a sessão desta terça-feira terminar para destacar que a descriminalização da maconha não se trata de "liberou geral", segundo ele. É sim, conforme destacou, um problema de saúde pública:

— A premissa é de que a droga causa danos e que as pessoas precisam ser tratadas quando são viciadas.

O presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, se manifestou no mesmo sentido:

— É preciso deixar claro: o entendimento desta Corte é que o consumo de drogas é algo ruim e que o papel do Estado é evitar o consumo, combater o tráfico e tratar os dependentes. Estamos apenas debatendo a melhor forma de combater essa epidemia. Droga é ruim, nós a condenamos — declarou Barroso, ao final da sessão.

O presidente do STF pontuou que a decisão deverá indicar a necessidade da destinação de recursos do Fundo Nacional Antidrogas para campanhas informativas esclarecedoras sobre malefícios, a exemplo do que ocorre com o tabaco.

Em sua fala antes de encerrar os debates, Barroso sustentou que a questão das drogas deve ser compreendida também como um problema da saúde pública e defendeu que a distinção de usuários e traficantes contribui para evitar o "hiperencarceramento de jovens pobres e primários".

Como votaram os ministros do Supremo?

Posicionaram-se pela descriminalização os ministros:

  • Gilmar Mendes
  • Luis Roberto Barroso
  • Alexandre de Moraes
  • Edson Fachin
  • Rosa Weber
  • Dias Toffoli
  • Luiz Fux
  • Cármen Lúcia

Votaram contra:

  • Cristiano Zanin
  • André Mendonça
  • Nunes Marques

Flávio Dino não votou, pois sucedeu a ministra Rosa Weber (aposentada), que já havia se posicionado sobre este assunto.

Dias Toffoli, que havia votado na sessão da última quinta-feira e tinha sido interpretado como divergente das teses dominantes — ser crime ou não ser —, complementou seu posicionamento no começo da sessão desta terça, consolidando a maioria pela descriminalização da maconha para uso pessoal.

— O meu voto se soma ao voto da descriminalização. Hoje (terça-feira) pela manhã Vossa Excelência (Barroso, presidente do STF) me perguntou como meu voto era para ser proclamado. Por isso, entendi por bem fazer essa complementação. Se eu não fui claro o suficiente, o erro é meu, de comunicador — explicou Toffoli.


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Votaram na sessão desta terça-feira Luiz Fux e Cármen Lúcia, os dois pela descriminalização.

Quais são os argumentos favoráveis à descriminalização?

Os ministros favoráveis à descriminalização argumentaram que o uso de pequena quantidade de maconha é um direito de cada pessoa, com consequências individuais à saúde dos usuários. Também consideraram que o fato de o porte ser crime aumenta o encarceramento de pessoas vulneráveis.

Quais são os argumentos contrários à descriminalização?

Os ministros contrários avaliaram que a descriminalização do porte de maconha para consumo próprio pode estimular o vício e agravar o combate às drogas no país. Além disso, alegaram que a decisão do Supremo de tornar o ilícito administrativo pode criar uma lacuna sobre o tipo de punição e o responsável por aplicá-la.

O que motivou o julgamento no STF?

O julgamento foi motivado por um caso ocorrido em São Paulo, em que a Defensoria Pública questionou a condenação de um homem a dois meses de serviços comunitários pelo porte de três gramas de maconha. A defesa argumentou que o fato não implicaria em danos a bens jurídicos alheios ou à saúde pública, e pediu que o porte de maconha para uso próprio fosse deixado de ser considerado crime.

A ação questiona a constitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas, de 2006, que estabelece ser crime "adquirir, guardar, ter em depósito, transportar ou trazer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar".

O Congresso está debatendo o mesmo assunto?

A decisão do STF não termina os debates sobre o assunto. No último dia 12, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou, por 47 a 17, a proposta de emenda à Constituição (PEC) que criminaliza a posse e o porte de entorpecentes.

O texto, que já foi aprovado no Senado, ainda precisa passar por uma comissão especial e, depois, pelo plenário, em dois turnos de votação, para tornar-se um dispositivo constitucional. Segundo a proposta, será crime a posse e o porte de qualquer quantidade de droga ilícita, como maconha, cocaína ou ecstasy.

De acordo com o texto de autoria do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), caberá ao juiz definir, de acordo com as provas, se a pessoa flagrada com droga responderá por tráfico ou será enquadrada como usuário. 

No caso de ser enquadrado como consumidor, o ato ilícito continuaria representando crime e seria punido com as penas alternativas à prisão já definidas na Lei Antidrogas.

O que pensa a Polícia Civil do RS?

Fixar quantidade como principal parâmetro de diferenciação entre consumidores e traficantes pode ser um grande erro na visão do diretor do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), delegado Carlos Wendt.

— A lei vigente é clara sobre o tema. O que define é a conduta da pessoa. Vejo esta mudança com grande preocupação, pois pode gerar injustiças. Um usuário pode estar com quantidade maior e ser considerado traficante. Um criminoso pode manter em sua posse quantidades menores para não ser enquadrado — explica Wendt.

O delegado argumenta que a descriminalização também pode ser negativa para a sociedade, pois, em seu entendimento, derruba uma barreira que impede pessoas de aventurarem-se com a ilicitude dos entorpecentes. Há, segundo ele, um "pudor" em usar drogas sendo este ato um crime.

— O tráfico, que nós combatemos com muito empenho no Denarc, é o crime-mãe. Dele, derivam diversas formas de violência, desde crimes patrimoniais até homicídios. Além disso, consideramos a maconha, que é a droga que está em discussão, como uma porta de entrada para vícios mais nocivos à saúde — sustenta.

Para Wendt, não corresponde a ideia de que o uso de drogas produz malefícios restritos ao usuário. Ele analisa que a cadeia de violência que cerca o comércio ilegal traz impactos negativos para a segurança de toda a sociedade.

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Fonte: GZH


NORMOSE

MACONHA: A história da proibição entre a SAÚDE e RACISMO!

Muito antes dos americanos, muito antes dos europeus: em 1830, o Brasil proibia o Pito do Pango ou Fumo de Negro. Desde então, qual a história da proibição da cannabis?

Ao contrário do mito que se construiu, o Brasil sempre foi pioneiro da proibição - seria o racismo o culpado disso tudo? Conheça a história dos cigarrinhos Grimault, do médico racista Rodrigues Doria e entenda o que está por trás da guerra as drogas.



segunda-feira, 24 de maio de 2021

Bia Kicis usou verba parlamentar para promover voto impresso


A parlamentar teria contratado em janeiro empresa para gerenciar conta do Telegram “VotoImpressoAuditável”



A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) gastou cerca de R$ 12,5 mil da verba parlamentar em campanhas virtuais pelo voto impresso. A parlamentar é autora da PEC 135 de 2019 e já foi até consagrada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como “mãe” da pauta.

De acordo com informações reveladas pelo jornal O Globo, Kicis teria contratado em janeiro, por R$ 2 mil mensais, a Inovatum Tecnologia da Informação para gerenciar a conta do Telegram “VotoImpressoAuditável”.

A partir de dezembro, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara também desembolsou cerca de R$ 4,5 mil para que a Gohawk Tecnologia da Informação criasse uma página para o cadastro de simpatizantes do voto impresso e acesso ao grupo “VotoImpressoAuditável”.

No grupo do Telegram, são veiculados ”memes” e piadas com o intuito de desacreditar o processo eleitoral legal e a eficácia da urna eletrônica. O grupo foi criado no dia 7 de abril e tem 125 mil pessoas, entre elas parlamentares que são simpatizantes da proposta.

Fonte: Metrópoles


Rádio BandNews FM

Reinaldo Azevedo: O inconstitucional voto impresso de Bia Kicis só serviria às milícias - 19 de abr. de 2021

A deputada Bia Kicis, presidente da CCJ, disse que vai criar uma comissão especial para discutir uma PEC dela mesma, sobre voto impresso nas eleições. Reinaldo Azevedo afirma que o voto impresso serve para a milícia controlar o pleito.

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sábado, 17 de dezembro de 2016

Reforma da Previdência é dívida com patrocinadores do golpe


Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara: relatório favorável à tramitação da reforma



Analistas políticos avaliam que brasileiros estarão mais atentos e governo não conseguirá, por mais pressão que faça, aprovar em pouco tempo alterações em regras que mexem com direitos dos cidadãos


Brasília – O governo Temer conseguiu aprovar a proposta que congela os gastos públicos em seis meses, período menor que o padrão regimental de tempo para tramitação desse tipo de matéria no Congresso. E quer pressionar a base parlamentar aliada para apreciar em 2017, com a mesma rapidez, a reforma da Previdência. O objetivo, segundo cientistas políticos, é claro: cumprir a agenda imposta pela iniciativa privada e o mercado financeiro pelo apoio no processo de impeachment de Dilma Rousseff, que o levou ao poder. Mas ninguém, nem da base aliada nem da oposição, esconde mais o desafio que o presidente tem pela frente. E as apostas são de que a expectativa lançada pelo Planalto, de a matéria ser aprovada até maio, dificilmente será cumprida.

Para o cientista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz, o Toninho, é possível identificar o sistema financeiro como um interessado na reforma, em especial, por conta dos fundos de previdência privada. “Na medida em que se restringe o acesso a benefícios de caráter oficial e se alonga o tempo para acesso, é natural que as pessoas com renda busquem aportar recursos na previdência complementar. Esse ajuste não tem só a perna fiscal, de cortar gastos do governo, tem também pressão do mercado, dos bancos e seguradoras da área de previdência”, afirmou, durante avaliação feita recentemente para o Portal Outras Palavras.

Segundo Toninho, “a questão da Previdência é diferente”. “O tema tem um grau de complexidade a ser discutido por técnicos e parlamentares, sem falar que mexe com os direitos objetivos das pessoas. Todos vão tentar conhecer o que está sendo tratado, opinar e participar de alguma forma da discussão”.

De acordo com ele, no caso da Previdência, “o sujeito vai fazer as contas e ver que precisará trabalhar mais 15 anos para se aposentar”. “Quem tem direito hoje a um benefício ou aposentadoria especial, por exemplo, vai ver que a proposta elimina praticamente todas estas aposentadorias especiais. É uma reforma muito dura e vai provocar resistência grande. As pessoas vão reagir”.

O analista político Alexandre Bandeira, diretor da Associação Brasileira de Consultores Políticos no Distrito Federal (Abcop), também lembra a questão do tempo para o governo. De acordo com ele, se o Executivo não se articular bem para votar a matéria até junho ou julho de 2017, “dificilmente conseguirá depois do segundo semestre”. “Porque as pessoas já começarão a pensar em discutir eleições e os parlamentares poderão não estar mais tão dispostos a apoiar a medida e pagar o desgaste com a população”, afirmou.

De uma maneira geral, conforme dados do Diap, a base do governo Temer na Câmara, hoje (por onde começa a tramitação da proposta), está montada da seguinte ordem: oposição de esquerda, com 98 parlamentares, e os outros 415 deputados de partidos da base. Destes 415, 240 dão apoio consistente ao governo e 175 dão apoio condicionado. “Isso quer dizer que, desses 175, aproximadamente um terço poderá discordar da reforma por razões ideológicas e dois terços podem criar dificuldades por razões fisiológicas, negociar alguma compensação pelo desgaste de votar com o governo”, avalia Toninho.

Para o cientista político do Diap, em relação ao tema em si, o apoio condicionado tende a divergir mais, mesmo com incentivos, do que em outras matérias, uma vez que todo mundo tem na família, quando não ele próprio, algum interesse que poderá ser prejudicado com a nova regra previdenciária.


Desgaste da Lava Jato


Alexandre Bandeira, por sua vez, lembrou que há várias questões a serem observadas no próximo ano, durante o trabalho do Legislativo de apreciação da matéria. Uma delas é a questão da Lava Jato em si, cujas denúncias contra políticos têm chegado mais perto do governo e de vários parlamentares. Em segundo lugar está a proximidade de 2018, quando serão realizadas novas eleições presidenciais (dentro das regras atuais) e, por fim, o desgaste de deputados e senadores com a população por conta da votação favorável à medida. “Os três fatores podem interferir e dividir ainda mais o apoio da base aliada ao governo”, disse.

Outra avaliação feita por Bandeira é de que Temer procurará passar uma ideia de que o seu governo é de “transição”, como forma de tirar o país de um modelo anterior que, na visão dos peemedebistas, tinha um caráter mais populista (os governos do PT) e passar para um modelo que ainda não está bem delineado.

“Ninguém sabe ainda como será esse novo modelo de governo, caso o mesmo grupo que apoiou o impeachment continue unido e ganhe as eleições em 2018, porque até os apoios e possibilidades de candidaturas estão incertos. Então, ou ele (Temer) demonstra esse caráter de transição de sua gestão e se apressa para aprovar o que quer e mostrar uma espécie de 'dever de casa' para o empresariado que o apoia até julho, ou perde essa janela de tempo e corre o risco de terminar o governo sem mostrar a que veio”.

O analista político lembrou o que considera um “calcanhar de Aquiles” importante para o presidente, que é a questão da ética na sua gestão, com reflexos no Congresso Nacional. “Temer precisará criar no empresariado uma sensação de que pode investir no país. Caso contrário, não conseguirá implantar as medidas que deseja”, afirmou.


Apelos e descrença


Entre os parlamentares, a situação parece ser definida no mesmo tom. Prova disso é que o líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), encerrou os trabalhos, na última quinta-feira (15), reconhecendo que o ano foi difícil. Jucá agradeceu o acordo feito entre as lideranças para conseguir aprovar o orçamento da União e pediu a ajuda de todos para “ajudar o país a enfrentar a crise, em 2017”. Enquanto o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disse acreditar no agravamento da situação, de janeiro em diante.

Segundo Costa “a saída para que o país volte à normalidade é a renúncia do presidente e a convocação de eleições diretas para presidente da República”. O senador sugeriu, ainda, a eleição de uma assembleia constituinte exclusiva para votar uma reforma política necessária ao país.

A tramitação de Propostas de Emenda à Constituição (PECs) costuma demorar até perto de um ano para chegar ao final. No caso de uma aprovação mínima, com a obediência a todos os ritos regimentais e aprovações de relatórios no mesmo dia de apresentação, sem pedidos de vista, espera-se um período de aprovação de, em média, 231 dias. O que dá, aproximadamente sete meses de tramitação. No caso da PEC dos gastos públicos, a votação durou seis meses.

“Considerando-se que tivemos um ano de votação de impeachment pelo Congresso, realização de olimpíadas e eleições municipais no país, esse prazo foi recorde”, afirmou Toninho. Em outras ocasiões, o prazo até pode ter sido antecipado, mas em relação a matérias tidas como populares e que trataram de agendas aprovadas pelos eleitores com a votação dos presidentes que já as tinham incluído em seus programas de governo – o que não acontece em relação a Michel Temer.

Agora, o Palácio do Planalto anuncia a expectativa de ter a reforma da Previdência pronta para ser implantada até maio (alguns falam em abril). Levando-se em conta que o texto chegou à Casa no final de novembro, tudo indica que 2017 não será um ano fácil nem para a Câmara dos Deputados nem para o Senado – sejam os parlamentares da base aliada ou da oposição.

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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

PL que muda aposentadoria por invalidez e auxílio-doença recebe crítica de deputados


PREVIDÊNCIA


Enquanto CCJ se prepara para analisar mérito da proposta de reforma previdenciária enviada pelo governo ao Congresso, plenário da Câmara dedicou manhã à discussão de texto que repõe regras de antiga MP



Bohn Gass chamou PL de
“perverso,cruel e desumano”:
governo Temer empenhado em atacar direitos
Brasília – As mudanças nas regras previdenciárias são o principal destaque das discussões da Câmara dos Deputados hoje (14). Enquanto os parlamentares que integram a Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania (CCJ) da casa aguardam reunião que vai votar nesta tarde o mérito da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, referente à reforma da Previdência, no plenário, durante a manhã, vários deputados discutiram o Projeto de Lei (PL) 6.427/16, que muda regras para concessão de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez. O deputado Bohn Gass (PT-RS) chamou o texto de “perverso, cruel e desumano”.

O parlamentar afirmou que, em sua avaliação, o governo Temer “usou situações localizadas, como fraudes e outros casos que poderiam ser resolvidos administrativamente, para retirar direitos previdenciários dos trabalhadores”.

O mesmo tom de crítica foi feito pelo deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que lembrou o fato de o PL, em sua avaliação, está sendo utilizado como pretexto para que o governo, com o argumento de combater fraudes, tente cortar benefícios, “numa forma de promover medidas de economia apenas punindo os trabalhadores”.

Segundo Faria de Sá, durante a vigência de medida provisória sobre o tema, a MP 739/16, “mais de 80% das perícias levaram a corte dos benefícios”.

Os deputados que são contrários à proposta contestaram representantes de peritos que afirmaram, durante a comissão geral realizada na casa, que a grande maioria dos brasileiros aposentados por invalidez foi flagrada realizando outros trabalhos, enquanto recebiam o benefício.

“São benefícios de um salário mínimo ou um pouco mais do que isso que essas pessoas recebem. O projeto trata de questões que poderiam ser resolvidas pelo próprio Executivo, com punições aos trabalhadores que burlem a lei, sem que sejam criadas regras mais rígidas para coibir quem de fato precisa do auxílo-doença e da aposentadoria por invalidez”, destacou Faria de Sá.

O Projeto de Lei foi encaminhado à Câmara depois que a MP 739 sobre o tema teve o seu prazo de vigência encerrado em julho passado, sem que tivesse sido aprovado pelo Congresso.

O texto – que tramita em paralelo ao da reforma previdenciária e ainda não se sabe se será a ela apensado – prevê a realização de perícias nos trabalhadores que recebem os benefícios há mais de dois anos sem um novo exame. E cria um bônus salarial de R$ 60 para peritos médicos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por cada perícia realizada a mais do que sua capacidade operacional.

‘Mutirão de peritos’


Para muitos deputados, a medida vai levar a um estímulo por novos pedidos de avaliação e perícia que podem até liberar servidores que não tenham condições de ser liberados para o trabalho e congestionar ainda mais a agenda do INSS.

“O Brasil não precisa de mutirão de peritos para a revisão de benefícios, só precisa que haja regularidade e mais celeridade, uma vez que estas perícias demoram entre 60 e 90 dias para serem feitas, depois de agendadas. Os aposentados por invalidez e os beneficiários de auxílio-doença precisam de mais respeito, com uma correta prestação de serviços assistenciais”, disseram Faria de Sá e Bohn Gass.

Os dois parlamentares foram rebatidos pelo deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), que é da base do governo e defende as modificações propostas. Perondi afirmou que estes itens devem constar na PEC da reforma da Previdência e defendeu que se tais mudanças não forem feitas, o país não terá condições de pagar os benefícios previdenciários dentro de quatro anos.

Apesar da defesa do aliado do governo, nem todos os integrantes da base de sustentação de Temer estão uníssonos em relação à matéria. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirmou ontem que o partido continua apoiando o governo, mas se posicionará de forma contrária à reforma.

Já o Centrão, bloco formado por 14 siglas, divulgou nota destacando que dependendo do desenrolar das articulações a serem feitas entre governo e partidos menores, não se desgastará ainda mais perante a população, trabalhando para aprovar uma medida tão impopular para o país.

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