Albert Einstein, um dos maiores cientistas do mundo, nasceu neste dia em 1879. Comemoramos republicando seu clássico artigo em que defende o socialismo, escrito para o primeiro número da revista marxista Monthly Review.
Por que socialismo?
Vamos primeiro considerar a questão sob o ponto de vista do
conhecimento científico. Pode parecer que não há diferenças metodológicas
essenciais entre astronomia e economia: cientistas em ambos os campos tentam
descobrir leis gerais para aplicar a certo grupo de fenômenos e possibilitar
que a inter-relação desses fenômenos seja tão compreensível quanto possível.
Mas na realidade essas diferenças metodológicas existem. A descoberta de leis
gerais no campo da economia se torna difícil pelo fato que os fenômenos
econômicos analisados são frequentemente afetados por diversos fatores muito
difíceis de avaliar separadamente. Além disso, a experiência acumulada desde o
começo do chamado período civilizado da história humana tem, como bem sabemos,
sido largamente influenciada e limitada por causas que não são exclusivamente
econômicas por natureza. Por exemplo, a maioria dos países mais importantes
deve sua existência à conquista.
A conquista de outros povos os estabeleceu, legal e
economicamente, como a classe privilegiada do país conquistado. Eles
conquistaram para si mesmos o monopólio da propriedade de terra e escolheram
líderes eclesiásticos entre suas próprias fileiras. Os padres, no controle da
educação, transformaram a divisão de classes da sociedade em uma instituição
permanente e criaram um sistema de valores no qual as pessoas passaram a guiar
seu comportamento social, muitas vezes inconscientemente.
Mas a tradição histórica é, por assim dizer, de ontem; em
lugar algum realmente superamos o que Thorstein Veblen chamou de “fase
predatória” do desenvolvimento humano. Os fatos econômicos observáveis
pertencem àquela fase e até mesmo as leis que derivam deles não são aplicáveis
a outras fases. Como o real propósito do socialismo é precisamente superar e
avançar a fase predatória do desenvolvimento humano, a ciência econômica em seu
estado atual pode jogar pouca luz na sociedade socialista do futuro.
Em segundo lugar, o socialismo objetiva um fim ético-social.
A ciência, no entanto, não pode criar fins e muito menos inculcá-los em seres
humanos; a ciência pode fornecer, no máximo, os meios para atingir certos fins.
Mas os fins são concebidos por personalidades com elevados ideais éticos
–quando estes fins não são natimortos, mas vitais, vigorosos–, e são adotados e
levados adiante por aqueles muitos seres humanos que, parte deles de forma
inconsciente, determinam a lenta evolução da sociedade.
Por estas razões, temos de estar atentos para não
superestimar a ciência e os métodos científicos quando se trata de uma questão
de problemas humanos; nós não deveríamos presumir que os especialistas são os
únicos que têm o direito de se expressar em questões que afetam a organização
da sociedade.
Incontáveis vozes vêm assegurando há algum tempo que a
sociedade humana está passando por uma crise, que sua estabilidade foi
gravemente abalada. É característico desta situação que indivíduos se sintam
indiferentes e até hostis ao grupo, pequeno ou grande, ao qual pertencem. Para
ilustrar o que digo, deixe-me recordar uma experiência pessoal. Recentemente
discuti com um homem inteligente e bem disposto sobre a ameaça de outra guerra,
o que, em minha opinião, poderia seriamente pôr em risco a existência da
humanidade, e salientei que somente uma organização supra-nacional poderia oferecer
proteção contra este perigo. Em seguida, meu visitante, muito calma e
friamente, disse: “Por que você se opõe tão profundamente ao desaparecimento da
raça humana?”
Tenho certeza que até um século atrás ninguém faria uma
declaração destas com tamanha tranquilidade. É a declaração de um homem que que
se esforçou em vão para alcançar o equilíbrio consigo mesmo e que de certa
maneira perdeu a esperança de conseguir. É a expressão de uma dolorosa solidão
e isolamento que muitas pessoas estão sofrendo atualmente. Qual é a causa? Há
alguma saída?
É fácil levantar tais questões, mas é difícil respondê-las
com algum grau de certeza. Eu devo tentar, entretanto, da melhor maneira que
posso, apesar de estar muito consciente do fato de que nossos sentimentos e
impulsos são frequentemente contraditórios e obscuros e não podem ser
expressados em fórmulas simples e fáceis.
O homem é, ao mesmo tempo, um ser solitário e um ser social.
Como um ser solitário, ele tenta proteger sua própria existência e a daqueles
que lhe são mais próximos, para satisfazer seus desejos pessoais e desenvolver
suas habilidades natas. Como um ser social, ele procura ganhar o reconhecimento
e a afeição dos seus semelhantes, compartilhar prazeres com eles, confortá-los
em suas dores, e melhorar suas condições de vida. Somente a existência dessas
variadas aspirações, frequentemente conflitantes, contribui para o caráter de
um homem, e a específica combinação delas determina quanto um indivíduo pode
conquistar em equilíbrio interno e ao mesmo tempo contribuir para o bem estar
da sociedade. É possível que a relativa força destes dois impulsos seja, na
maioria, herdada. Mas a personalidade que finalmente emerge é formada pelo
ambiente em que o homem se acha durante seu desenvolvimento, pela estrutura da
sociedade onde ele cresce, pela tradição daquela sociedade e pelo apreço dela
por tipos particulares de comportamento. O conceito abstrato de “sociedade”
significa o indivíduo humano sendo a soma total das suas relações diretas ou
indiretas com seus contemporâneos e com todas as pessoas das gerações
anteriores. O indivíduo pode falar, sentir, ambicionar e trabalhar por si
mesmo; mas ele depende tanto da sociedade –em sua existência física,
intelectual e emocional– que é impossível pensar nele, ou entendê-lo, fora da
moldura da sociedade. É a sociedade que lhe dá comida, roupas, um lar, as
ferramentas de trabalho, o idioma, as formas de pensamento e a maioria dos
conteúdos de pensamento; sua vida se torna possível através do trabalho e das
habilidades de muitos milhões no passado e no presente que estão ocultos detrás
da pequena palavra “sociedade”.
É evidente, portanto, que a dependência de um indivíduo em relação à sociedade é algo natural, que não pode ser abolido –assim como ocorre com as formigas e as abelhas. No entanto, enquanto todo o processo de vida das formigas e das abelhas é fixado até os mínimos detalhes por rígidos instintos hereditários, o padrão social e os inter-relacionamentos dos seres humanos são muito variáveis e sujeitos a mudanças. Memória, a capacidade de fazer novas combinações e o talento da comunicação oral tornaram possíveis acontecimentos entre os seres humanos que não são ditados por necessidades biológicas. Tais acontecimentos se manifestam em tradições, instituições e organizações; em literatura; em conquistas científicas e de engenharia; em trabalhos artísticos. Isto explica como, de certa forma, o homem pode influenciar sua vida através da conduta, e que neste processo o pensamento e a vontade consciente podem desempenhar um papel.
O homem adquire no nascimento, por hereditariedade, uma constituição biológica
que podemos considerar fixa e inalterável, incluindo as necessidades
características da espécie humana. Mas, durante sua vida, ele adquire da
sociedade também uma natureza cultural, através da comunicação e muitos outros
tipos de influências. É esta natureza cultural que, com a passagem do tempo, é
objeto de mudança e determina a maior parte das relações entre indivíduo e
sociedade. A antropologia moderna nos ensinou, ao fazer comparações com as
chamadas culturas primitivas, que o comportamento social dos seres humanos pode
ser enormemente variado, a depender dos padrões culturais e do tipo de organização
que predomina na sociedade. É nisto que aqueles que se empenham em melhorar a
condição humana devem fundamentar suas esperanças: os seres humanos não estão
condenados, por sua natureza biológica, a aniquilar uns aos outros ou estar à
mercê de um destino cruel auto-infligido.
Se nos perguntarmos como a estrutura da sociedade e a
natureza cultural do homem pode ser mudada para tornar a vida humana o mais
satisfatória possível, devemos estar constantemente conscientes de que há
certas condições que não somos capazes de modificar. Como mencionei, a natureza
biológica do homem não é, para qualquer propósito prático, sujeita à mudança.
Além do mais, os avanços tecnológicos e demográficos dos últimos séculos
criaram condições que vieram para ficar. Em populações relativamente densas,
com os bens que são indispensáveis à continuidade de sua existência, uma
divisão extrema do trabalho e um aparato produtivo altamente centralizado são
absolutamente necessários. Foi-se o tempo –que, olhando para trás, parece tão
idílico– em que indivíduos ou pequenos grupos podiam ser completamente
auto-suficientes. Há pouco exagero em dizer que a humanidade se constitui em
uma comunidade planetária de produção e consumo.
Cheguei no ponto onde posso indicar brevemente o que para
mim constitui a essência da crise de nosso tempo. Tem a ver com a relação entre
o indivíduo e a sociedade. O indivíduo se tornou mais consciente do que nunca
de sua dependência em relação á sociedade, mas ele não vê esta dependência como
algo positivo, como um laço orgânico, uma força protetora, e sim como uma
ameaça a seus direitos naturais ou até mesmo à sua existência econômica. Mais
ainda, sua posição na sociedade reforça que os impulsos egoístas de sua
natureza sejam constantemente acentuados, enquanto seus impulsos sociais,
naturalmente mais fracos, se deterioram progressivamente. Todos os seres
humanos, não importa que posição tenha na sociedade, estão sofrendo este
processo de deterioração. Prisioneiros, sem se dar conta, de seu próprio
egoísmo, se sentem inseguros, sozinhos e privados do simples, primitivo e sem
sofisticação desfrute da vida. O homem pode encontrar sentido na vida, curta e
perigosa como é, somente se devotando à sociedade.
A desordem econômica da sociedade capitalista que existe
hoje é, em minha opinião, a real fonte do mal. Vemos diante de nós uma enorme
comunidade de produtores cujos membros estão se esforçando em privar uns aos
outros dos frutos do trabalho coletivo –não pela força, mas em total
cumplicidade com regras legalmente estabelecidas. A este respeito, é importante
perceber que os meios de produção –quer dizer, a total capacidade produtiva que
é necessária para produzir bens de consumo assim como os bens de capital– podem
ser legalmente, e a maioria é, propriedade privada de indivíduos.
Para simplificar, a seguir chamo de “trabalhadores” todos
aqueles que não compartilham a propriedade dos meios de produção –apesar de não
corresponder exatamente ao costumeiro uso do termo. O dono dos meios de
produção está em posição de usar a força de trabalho do empregado. Usando os
meios de produção, o trabalhador produz novos bens que se tornam propriedade do
capitalista. O ponto essencial deste processo é a relação entre o que o
trabalhador produz e como ele é pago, ambos medidos em termos de valor real. Como
o contrato de trabalho é “livre”, o que o trabalhador recebe é determinado não
pelo valor real dos bens que produz, mas por suas mínimas necessidades e pela
demanda capitalista por força de trabalho em relação ao número de trabalhadores
competindo pelas vagas. É importante entender que até mesmo em teoria o
pagamento do trabalhador não é determinado pelo valor do seu produto.
O capital privado tende a ficar concentrado em poucas mãos,
parte por causa da competição entre os capitalistas, e parte porque o avanço
tecnológico e a crescente divisão do trabalho encorajam a formação de unidades
de produção maiores em detrimento das menores. O resultado disso é uma
oligarquia do capital privado cujo enorme poder não pode ser efetivamente
questionado nem mesmo por uma sociedade democraticamente organizada
politicamente. Isto se comprova quando sabemos que os membros das casas
legislativas são selecionados pelos partidos políticos, largamente financiados
ou pelo menos influenciados por capitalistas privados que apartam o eleitorado
da legislatura para todas as finalidades práticas. A consequência é que, na
realidade, os representantes do povo não protegem suficientemente os interesses
dos setores menos privilegiados da população. Pior: normalmente, os
capitalistas inevitavelmente controlam, direta ou indiretamente, as principais
fontes de informação (imprensa, rádio, educação). É então extremamente difícil,
e em alguns casos impossível, para o cidadão, chegar a conclusões objetivas e
fazer uso inteligente de seus direitos políticos.
A situação dominante em uma economia baseada na propriedade
privada do capital é, assim, caracterizada por dois fatores principais:
primeiro, os meios de produção (capital) pertencem a proprietários que os
utilizam como querem; segundo, o contrato de trabalho é livre. Claro, não
existe uma sociedade capitalista pura neste sentido. De fato,
é preciso notar que os trabalhadores, através de longas e amargas lutas
políticas, tiveram sucesso em assegurar uma forma melhorada do “contrato de
trabalho livre” para certas categorias. Mas, tomando-se como um todo, a
economia de hoje não se difere muito do capitalismo “puro”.
A produção é guiada pelo lucro, não pelo uso. Não existe
garantia de que todas as pessoas hábeis para o trabalho estarão sempre em condições
de achar emprego; um “exército de desempregados” quase sempre existe. O
trabalhador vive em constante medo de perder seu emprego. Já que os
desempregados e os trabalhadores mal pagos não constituem um mercado rentável,
a produção de bens de consumo é restrita, e a consequência é um grande
sofriment . O progresso tecnológico frequentemente resulta em mais desemprego,
em vez de reduzir o fardo de trabalho para todos. O desejo de lucro, em
conjunção com a competição entre os capitalistas, é responsável pela
instabilidade na acumulação e utilização do capital, que leva a depressões cada
vez mais severas. Competição sem limite leva a um enorme desperdício do
trabalho e à deterioração da consciência social dos indivíduos que mencionei
antes.
Eu considero esta deterioração dos indivíduos o pior mal do
capitalismo. Todo o nosso sistema educacional sofre deste mal. Uma atitude
competitiva exagerada é inculcada no estudante, que é treinado para idolatrar o
sucesso adquirido como uma preparação para sua futura carreira.
Estou convencido de que só há um modo de eliminar estes
males, o estabelecimento de uma economia socialista, acompanhada de um sistema
educacional orientado por objetivos sociais. Numa economia assim, os meios de
produção são de propriedade da sociedade e são utilizados de uma forma
planejada. Uma economia planejada que ajusta a produção às necessidades da
comunidade distribuiria o trabalho a ser feito entre os que são hábeis para
trabalhar e garantiria o sustento a todo homem, mulher e criança. A educação do
indivíduo, além de promover suas próprias habilidades natas, faria com que se
desenvolvesse nele um senso de responsabilidade por seus semelhantes em vez da
glorificação do poder e do sucesso da sociedade atual.
É necessário lembrar que uma economia planejada ainda não é
socialismo. Uma economia planejada pode vir acompanhada pela completa
escravização do indivíduo. A conquista do socialismo requer a solução de alguns
problemas sócio-políticos extremamente difíceis: como é possível, tendo em vista
a abrangente centralização do poder político e econômico, impedir que a
burocracia se torne todo-poderosa e onipotente? Como os direitos do indivíduo
podem ser protegidos para garantir um contrapeso democrático ao poder da
burocracia?
Ter clareza sobre estas questões e problemas do socialismo
são de grande significado nesta época de transição. Como, sob as circunstâncias
atuais, a discussão destes problemas de forma livre e sem obstáculos se tornou
um tabu poderoso, considero que a fundação desta revista representa um
importante serviço público.
Fonte: Jacobin Brasil
Cezar de melo
Albert Einstein DUBLADO DOCUMENTÁRIO COMPLETO S/ CORTES
Albert Einstein foi um físico e humanista alemão (14 de
março 1879 -- 18 de abril 1955), autor da teoria da relatividade e de
importantes estudos em ondulatória.
No Twitter
#ThrowbackThursday: Albert Einstein (front row, center) and others receive honorary degrees from Harvard University. pic.twitter.com/47UwdMWBPb
— Albert Einstein (@AlbertEinstein) March 11, 2021
#AlbertEinstein - Há 142 anos, em 14 de março de 1879, nascia o cientista alemão Albert Einstein, considerado um dos pilares da física moderna e da mecânica quântica e um dos maiores gênios da história.
— Pensar a História (@historia_pensar) March 14, 2021
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