O Dia da Terra Palestina, lembrado todo dia 30 de março desde 1976, não foi ato isolado, mas o seguimento do projeto segregacionista e genocida iniciado pelos britânicos, em associação com os sionistas, e agora apenas em seu curso, para construir uma Palestina sem palestinos, tal qual planejado desde o início, com o genocídio televisionado na Faixa de Gaza.
Em 1976 houve uma reação massiva contra confisco e
expropriação de 2,5 mil hectares de terras agricultáveis na região de Nazaré,
uma reação ao continuado processo de limpeza étnica, inaugurado pelos sionistas
em sua forma mais brutal ainda em dezembro de 1947. Sua forma foi uma greve
geral destes camponeses, na cidade palestina de maior população cristã e da
família de Jesus Cristo, situada ao norte, na Galileia.
A ideia sionista, metodicamente descrita em O Estado Judeu,
obra de Theodor Herzl, o pai do sionismo político, uma espécie de Mein Kampf
euro-judeu, que circulou em 1896, defendia um estado puramente judeu, fora da
Europa, e sem qualquer outra população. Logo, eventual população originária no
território escolhido deveria ser expropriada e expulsa. Em 30 de março de 1976
foi processo de expropriação e expulsão, logo, de limpeza étnica, em ato
realizado 80 após a obra seminal de Herzil e 79 anos após a Palestina ter sido
a terra escolhida para este processo genocida, no 1º Congresso Sionista de
Basileia, Suíça.
Mas isso só foi possível na Palestina a partir do momento em
que os britânicos assumem a tarefa de realizar para os sionistas seu sonho. Na
Declaração Balfour, de dezembro de 1917, os britânicos já assumem que fariam da
Palestina um “lar nacional judeu”, negado à população não judaica os direitos
nacionais, dizendo que protegeria apenas seus “direitos” civis e religiosos,
logo, inaugurando o um regime de Apartheid por negar-lhes os direitos
nacionais, reservados exclusivamente aos judeus.
Já sob o Mandato Britânico para a Palestina (da Liga das
Nações, em vigor a partir 29 de setembro de 1922), os ingleses colocaram em
prática, basicamente, o que “israel” aplica até hoje, isto é, um processo
metódico de extermínio do povo palestino para a integral limpeza étnica desta
terra, vale dizer, judaização das suas geografia e demografia.
Neste documento colonial obsceno consta que o império
britânico “será responsável por colocar o país sob tais condições políticas,
administrativas e econômicas que assegurem o estabelecimento do lar nacional
judaico” (Art. 2º). Sob a ideia geral de que a autodeterminação se dá em favor
de povos majoritários em uma dada geografia, está claro o desenho de um
processo de mão dupla, ou seja, de expropriação da terra de seus originários,
os palestinos, destinando-a os novos habitantes da Palestina, os euro-judeus,
importados em números tais que os fariam demograficamente majoritários,
objetivo alcançado quando combinado com a expulsão dos palestinos.
O documento colonial não tem meias palavras. Por isso
determina que uma “agência judaica apropriada será reconhecida como um órgão
público com o propósito de aconselhar e cooperar com a Administração da
Palestina” (Art. 4º). Detalhe: os palestinos foram impedidos de integrar a
administração. Logo, deram os sionistas que geriam os assuntos públicos na
Palestina, com o norte claro de eliminar os palestinos da Palestina.
Como o processo precisa de importação de estrangeiros de fé
judaica, diz o texto do Mandato que o regime colonial britânico “facilitará a
imigração judaica em condições adequadas e encorajará, em cooperação com a
agência judaica referida no Artigo 4, assentamento por judeus na terra” (Art.
6º). Nada mais claro!
E para não deixar dúvidas, o texto evidencia que tal agência
judaica “terá plenos poderes para prover a propriedade ou controle público de
qualquer dos recursos naturais do país ou das obras, serviços e utilidades
públicas estabelecidas ou a serem nele estabelecidas. Deve introduzir um
sistema fundiário adequado às necessidades do país, tendo em conta, entre
outras coisas, a conveniência de promover o povoamento próximo
e o cultivo intensivo da terra” (Art. 11). Nesta parte, para além do que leigos
compreendem, chegando a 30 de março de 1976, o que temos é a aplicação da regra
de “introduzir um sistema fundiário adequado às necessidades do ‘país’”, quer
dizer, judaizar a geografia, com vistas a “promover o povoamento próximo e o
cultivo intensivo da terra”, isto é, o atual processo de colonização, vale
dizer, substituição da demografia originária pela judaica forânea, importada.
E isto é genocídio, em primeiro lugar, porque segundo a
Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, é ação genocida
“submeter intencionalmente o grupo a condição de existência capazes de
ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial (Artigo 2º, C).
E é também crime de Apartheid, porque a Convenção
Internacional sobre a Supressão e Punição do Crime de Apartheid, em
seu Artigo 2º, D, diz que é crime de apartheid a “expropriação de propriedades
territoriais pertencentes a um grupo ou grupos raciais ou de membros”.
Como se vê, os britânicos, em associação aos sionistas,
desenharam e codificaram um processo de limpeza étnica claro, expresso, no qual
o Apartheid e o genocídio são não meros desejos, mas a necessidade que levaria
à consecução do projeto euro-judeu, ou de sua liderança sionista, de um estado
de supremacia judaica, sem sequer uma minoria, posto que a eliminação total de
eventual população autóctone sempre figurou como seu pressuposto máximo.
Assim, 30 de março de 1976, tal qual o genocídio em larga
escala em curso na Palestina hoje, nada mais é do que o DNA de “israel”, de sua
ideologia colonial e fascista, o sionismo, e, claro, obra britânica continuada.
Até mesmo parte da legislação – toques de recolher, demolições de casas de
membros da resistência palestina, prisões administrativas – “israelense” em
vigor é exatamente a legislação colonial britânica que vigorou de 1922/23 a 14
de maio de 1948, quando o sionismo se autoproclama estado e se autodenomina
“israel”, passando a ser um regime estatal de Apartheid e genocidário.
Ualid Rabah é presidente da FEPAL- Federação
Árabe Palestina do Brasil.
Por: Ualid Rabah
Dia da Terra Palestina: do arranjo genocida de britânicos e sionistas ao atual genocídio televisionado em Gaza
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O Dia da Terra Palestina, lembrado todo dia 30 de março desde 1976, não foi ato isolado, mas o seguimento do projeto segregacionista e genocida iniciado pelos… pic.twitter.com/OQIwXMM6Ny
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