Contratada na véspera da eleição, empresa não está no
endereço do contrato e sócia não sabia informar sobre serviços
Desde o dia 31
de julho, Bruno Covas (PSDB), prefeito de São Paulo e candidato à
reeleição, pagou R$ 1,7 milhão à YuYu Produções Ltda, para registros
audiovisuais da agenda do Executivo. Porém, por força da lei eleitoral, a
publicidade institucional dos agentes públicos foi suspensa no dia 15 de
agosto. Isso significa que o tucano não pode divulgar imagens de sua rotina
como mandatário do município até o fim do segundo turno da eleição, marcado
para 29 de novembro.
O contrato, que o Brasil de Fato teve
acesso, prevê o pagamento total de R$ 10,2 milhões em um ano, com parcelas de
R$ 850 mil mensais. Em troca, a YuYu deve manter uma equipe de 15
profissionais à disposição da Prefeitura por 5 mil horas mensais (cerca de 333
horas por trabalhador), de segunda-feira a sábado, das 6h às 22h. O município
também contratou um motolink, ilha de edição, equipamentos de som, câmera e
tripé, entre outros itens.
Porém, esse efetivo não se comprova no resultado da
produção. De acordo com o município, as produções feitas pela YuYu estão
no canal da Prefeitura no Youtube, onde há somente sete
vídeos publicados desde a data da contratação da produtora. Todos são
transmissões ao vivo de coletivas de Bruno Covas e sua equipe, sem edição.
Em nenhum dos vídeos, há indicação de que a YuYu tenha feito
a produção, gravação ou edição do material. Somadas, as publicações possuem 237
minutos, quase 4 horas, e alcançaram 45 mil pessoas.
As candidaturas de Joice Hasselmann (PSL) e Arthur do Val
(Patriota) foram à Justiça no dia 10 de agosto, exigindo que a Prefeitura
explique o empenho dos R$ 10,2 milhões em uma produtora de vídeos, às vésperas
da eleição.
Na
época, Hasselmann argumentava que a contratação da YuYu poderia
beneficiar a campanha de Bruno Covas, já que fotos e imagens feitas pela
produtora poderiam subsidiar a candidatura do tucano.
De acordo com a Lei 8.666, de 1993, conhecida como Lei Geral
de Licitações, o capital mínimo da empresa contratada deve ser de, pelo menos,
10% do valor estimado da contratação. A YuYu Produções possui um capital social
de R$ 10 mil, apenas 1% do valor total do contrato com a Prefeitura, R$ 10,2
milhões.
Produtora
O Brasil de Fato ligou no telefone de
contato da YuYu que está indicado no contrato. Quem atendeu, sem identificar a
produtora, apenas com “alô”, foi Edna Satiko Asahi Seki, que consta como sócia
da empresa. Em contato com a reportagem, a empresária afirmou que não se
recorda quando foi a última vez que sua produtora acompanhou e gravou uma
agenda da Prefeitura de São Paulo.
Edna atendeu ao Brasil de Fato às 12:57
dessa quinta-feira (22). No mesmo instante, ocorria, na sede da Prefeitura de
São Paulo, a 17ª coletiva de imprensa online sobre anúncio de medidas de
combate ao coronavírus, com a presença de Bruno Covas e dos secretários de
Saúde, Edson Aparecido, e Educação, Bruno Caetano.
A reportagem foi até o endereço da produtora – que
consta em seu registro na Junta Comercial de São Paulo (Jucesp) e no contrato
com a Prefeitura. Quem atendeu a porta da casa foi uma idosa, que
afirmou ser a proprietária do imóvel e afirmou que lá não funciona nenhuma
empresa. A mulher é sogra de Edna Satiko Asahi Seki, proprietária YuYu.
Seki foi encontrada na casa vizinha, onde mora. Porém,
quando perguntada sobre a sede da produtora, afirmou que seria no imóvel ao
lado, onde sua sogra negou que funcionasse a empresa. Mais uma vez, a
empresária não soube informar onde suas equipes de gravação estavam e nem se
estariam acompanhando o prefeito em alguma agenda.
Nas duas casas não há indicação visual de que ali funcione a
YuYu. No interior dos imóveis, não há equipamentos de gravação, áudio ou
iluminação, nem mesmo a ilha de edição. Segundo Seki, todo o material da
empresa fica com os funcionários, que são contratados por demanda.
A Yuyu não possui site próprio, perfil nas redes sociais e
nem um canal no Youtube onde divulgue suas produções.
Outro lado
O Brasil de Fato perguntou à Prefeitura de
São Paulo se a YuYu Produções tem acompanhado as agendas de campanha de Bruno
Covas. A Secretaria Especial de Comunicação do município afirmou que o contrato
“transcende o período eleitoral e não tem qualquer relação com o calendário
político-eleitoral".
"Além disso, os conteúdos e as imagens a serem
produzidos têm caráter informativo sobre ações e serviços da Prefeitura de
interesse público, inclusive os diretamente ligados à pandemia, e serão
disponibilizados para toda a imprensa”, informou.
Indagada sobre a Lei Geral de Licitações, a Prefeitura disse
ter seguido "rigorosamente todas as regras previstas na Lei 8.666/93,
que disciplina as licitações públicas, e o contrato assinado não gera direito
ao fornecedor”.
Fonte: Brasil de Fato