Novas mensagens revelam que procuradores da autodenominada "força-tarefa da lava jato" ocultaram conversas interceptadas envolvendo uma testemunha de acusação do caso do tríplex do Guarujá. Os procuradores temiam que os diálogos pudessem "encaixar na tese do Lula de que não quis o apartamento".
A conversa ocorreu em 13 de setembro de 2016, na véspera do
Ministério Público Federal apresentar a denúncia contra o ex-presidente Lula
pelo caso do tríplex. O procurador Athayde Ribeiro Costa discutiu com os demais
membros da "força-tarefa", "especialmente Deltan"
(Dallagnol, então coordenador do grupo), se seria o caso de "utilizar
esse diálogo da Mariuza, objeto de interceptação".
Mariuza Aparecida Marques era funcionária da OAS e foi
convocada pelo MPF como testemunha de acusação no processo do tríplex. A
"força-tarefa" apontou Mariuza como responsável por acompanhar as
obras no apartamento. Ela apareceu em uma interceptação telefônica ao longo das
investigações, mas os procuradores decidiram não incluir a informação na
denúncia porque isso poderia beneficiar a defesa de Lula.
"Pessoal, especialmente Deltan, temos que pensar bem se
vamos utilizar esse diálogo da Mariuza, objeto de interceptação. O diálogo pode
encaixar na tese do Lula de que não quis o apartamento. Pode ser ruim para
nós", afirmou Athayde.
Em nova petição enviada pelos advogados do ex-presidente ao
Supremo Tribunal Federal, a defesa destaca a ocultação da interceptação
telefônica de Mariuza: "Note-se bem: havia uma interceptação telefônica
contra uma funcionária da OAS que foi ocultada porque poderia subsidiar a
defesa técnica do reclamante. Quantas provas de inocência do reclamante foram
ocultadas?".
Segundo a defesa de Lula, além da supressão de prova que
poderia beneficiar o réu, há outra ilegalidade flagrante revelada pelo diálogo:
a interceptação de uma pessoa investigada foi ocultada nos autos de origem (a
interceptação não consta no rol de terminais grampeados), para que ela fosse
tratada como testemunha de acusação.
Leia a conversa completa:
13 Sep 16
• 06:24:23 Devemos conversar com o russo. E fazer um pedido bastante
consistente. E esperar a decisão de descida. .........
• 10:48:20 Athayde Pessoal, especialmente Deltan, temos que pensar bem se vamos
utilizar esse dialogo da MARIUZA, objeto da interceptação. O dialogo pode
encaixar na tese do LULA de que não quis o apartamento. Pode ser ruim para nos.
• 10:48:20 Athayde Em 17/11/2015, MARIUZA APARECIDA MARQUES, funcionária da OAS
subordinada a ROBERTO MOREIRA e a FÁBIO YONAMINE, e que comparecia semanalmente
ao Condomínio Solaris para acompanhar as obras do triplex 164-A, em diálogo
telefônico interceptado com autorização judicial1, deixou claro que as reformas
feitas no imóvel foram feitas no interesse de MARISA LETÍCIA, e demonstrou a
necessidade de ocultar essa informação: SAMARA: Putz! E a dona Mariza devolveu
a cobertura, é isso? Tava no jornal outro dia? MARIUZA: É. Ela não quis pegar a
cota dela. É isso mesmo. SAMARA: É sério? Eles devolveram? MARIUZA: Devolveram.
Porque eles tinham cota né..da..cotas da BANCOOP. E aí ela por causa dessas...
SAMARA: Não, mas se ela reformou a cobertura dela toda lá no Guarujá? MARIUZA:
Pessoa, não pode falar, pessoa, aqui nesse telefone!
• 10:49:45 Jerusa Concordo com Athayde. eu não usaria esse dialogo. ao menos
nao na denuncia
Rcl 43.007
Fonte: Conjur
SBT Jornalismo
Lava Jato omitiu interceptação telefônica, diz defesa de
Lula | SBT Brasil (01/03/21)
Procuradores da Operação Lava Jato em Curitiba omitiram, em
denúncia contra Lula, uma interceptação telefônica que poderia corroborar um
argumento do ex-presidente sobre o triplex do Guarujá. Isso é o que afirma a
defesa do petista.
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