Direto dos Biomas do Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica confira três experiências da Rede de Viveiros Populares da Reforma Agrária, que integram o Plano Nacional "Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis"
Ainda entre as atividades da semana da árvore, realizada
pelo MST entre os dias 20 a 25 de setembro em todo país, com ações de
recuperação da biodiversidade, direto dos Biomas do Cerrado, da Caatinga e na
transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica apresentamos três experiências de
viveiros de mudas, desenvolvidas em territórios de Reforma Agrária nas regiões
Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, que se somam à construção de Rede de Viveiros
Populares da Reforma Agrária, vinculados ao Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis“.
De modo geral, nas regiões e estados as atividades do
plantio de árvores do MST seguem durante todo o ano, no enraizamento e na
massificação de ações voltadas à organização de viveiros, casas de sementes,
coleta e plantio de sementes, produção e doação de mudas, com plantios de
árvores para recuperação de áreas degradadas, em nascentes de águas, Sistemas
Agroflorestais, entre outras formas e sistema produtivos em equilíbrio com a
biodiversidade.
Como aponta Bárbara Loureiro, da coordenação nacional do MST e da coordenação do Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, o plantio de árvores pelos trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra tem se tornado um importante símbolo político na luta do Movimento, que aliado á produção de alimentos saudáveis é parte do cotidiano das famílias nos territórios de assentamentos e acampamentos, escolas, centros de formação, entre outros.
Viveiro contribui na transição agroecológica e diversificação dos cultivos
Em Minas Gerais no município de Campo do
Meio localiza-se o acampamento Quilombo Campo Grande, antiga fazenda que antes
possuía apenas uma usina de cana-de-açúcar, que faliu e deixou os/as
trabalhadores/as e a terra abandonados no final da década de 1990, que hoje
respira vida e resistência das famílias do MST, com a produção de alimentos e
recuperação ambiental, que abriga 465 famílias acampadas e 105 famílias
assentadas na comunidade Quilombo Campo Grande. As famílias Sem Terra resistem
no local há 22 anos, enfrentando vários despejos, o último foi no ano passado
durante a pandemia, e destruiu a Escola do Campo da comunidade, várias moradias
e plantações.
No território de 4 mil hectares, vivem mais de 2 mil
pessoas, que produzem mais de 2 milhões de pé de café, e trabalham com mais de
mil hectares de lavoura, produzindo cultivos diversos, que somam mais de 130
variedades de alimentos, entre grãos, cereais, frutas e verduras, conta Tuira
Tule, assentada no Quilombo Campo Grande, que integra o Coletivo de Mulheres
Raízes da Terra e a Cooperativa Camponesa.
No espaço da cooperativa, a partir de 2018 foi criado o
Viveiro Popular Terra de Quilombo, que segundo a assentada, faz parte da
estratégia de desenvolvimento das famílias do MST na região e tem contribuído
na organização da produção das famílias Sem Terra para transição agroecológica
e diversificação dos cultivos, com por exemplo, a produção agroflorestal,
juntamente com o café e outras culturas.
“Então, o viveiro é parte importante dessa composição da
diversificação da produção, do cuidado com a terra, com o meio ambiente, com a
natureza, mas também pra nós que produzimos o alimento saudável e pra quem
consome. Com a experiência do viveiro nosso objetivo maior é a questão da
diversificação da produção e cuidado dos nossos territórios, das nossas
nascentes”, explica Tuira.
A assentada explica que boa parte da produção das mudas
nativas do viveiro é destinada para a doação às próprias famílias do
assentamento e acampamento e as entidades vizinhas. E outra parte, como as
mudas de café, algumas de madeira e frutíferas são comercializadas, colaborando
com a geração de renda das famílias Sem Terra.
Porém, por ser um espaço de produção coletivo, a área do
viveiro também tem colaborado na produção do conhecimento, como conta Tuira. “O
nosso Viveiro Popular Terra de Quilombo, a gente acredita que é essa força
viva, esse polo aglutinador, que ajuda a gente na questão da formação, do
conhecimento, das trocas das mudas, sementes, de ser um local de referência.”
No tempo de funcionamento a assentada pontua que o viveiro
também tem sido fundamental para diversificar as mudas nativas e frutíferas,
que já chegam a mais de 150 mil árvores no território. Além do envolvimento da
Juventude Sem Terra. “No três anos iniciais a gente tinha um envolvimento
direto na produção das mudas com cinco jovens. Hoje a gente consegue envolver
os jovens em outras atividades: no plantio da árvores, na produção de
alimentos. E também nas ações de colheitas de sementes florestais”, afirma
Tuira.
Localizado em um território de transição do Bioma, entre o
Cerrado e a Mata Atlântica, o viveiro produz mudas das seguintes espécies:
Eucalipto, Pupunha, Ameixa, Açaí, Sanção do campo, Campi xingui, Tamboril,
Paineira, Ingá, Cedro australiano, Pinha, Acácia major, Palmeira leque,
Abacate, Fruta do Conde, Jabuticaba, Pitaya, Araçá, Mogno Africano, Pau Brasil,
Palmeira de jardim, Figo e Teca.
Juventude Sem Terra assume organização de viveiro no Rio Grande do Norte
A partir do Plano Nacional do MST “Plantar Árvores Produzir
Alimentos Saudáveis”, desde o final do ano passo o coletivo de juventude do MST
no Rio Grande do Norte definiu como atividade central o
plantio de árvores e a organização de viveiros para a produção de mudas. Um
viveiro foi implantado no assentamento Oziel Alves, no município de Mossoró,
Oeste do Estado, explica Aguailton Fernandes, do coletivo estadual de juventude
do MST no estado.
“Estamos nos desafiando desde o finalzinho de 2020 a
contribuir com a tarefa de produção de mudas, que faz parte da nossa campanha
nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”. Primeiro dizer a
importância da nossa contribuição com o nosso plano, que vai além da
produção das mudas, mas também é uma contribuição pro meio ambiente, que
estamos nos propondo com essa iniciativa de produção de mudas”, relata.
Após algumas reuniões entre o coletivo de jovens do MST no
estado e definições de linhas de ações, a juventude está organizando viveiros
com a produção de mudas nativas e frutíferas, que tem contribuído para a
organização da própria juventude Sem Terra, como relata Aguailton.
“Adotamos formas organizativas a partir de cada região. Aqui
da região Oeste a gente fez uma primeira parte de formação com os jovens e nos
dividimos pra ficar no acompanhamento, a manutenção de todo processo, de
irrigação, de limpeza, os mutirões. Desde a construção, até o produto final,
que a gente já está hoje, doando mudas. Além da doação de mudas também
precisamos em uma pequena parte, comercializar pra poder dar condições de
manter o viveiro. Então, a gente está muito animado pra contribuir com a nossa
meta de 100 milhões de árvores”, conclui ele.
Viveiro tem papel central na organização da juventude e recuperação de biomas
No Mato Grosso do Sul, o viveiro do Centro de
Formação e Pesquisa Geraldo Garcia (CEPEGE), localizado no assentamento Ernesto
Che Guevara, em Sidrolândia teve início em junho do ano passado com massiva
participação da juventude Sem Terra.
“Iniciamos a construção do viveiro no Centro de Formação com
a proposta de ser um espaço de trabalho e de formação, realizando um trabalho
de base com as juventudes do campo e da cidade que contribuem no viveiro.
Entendemos que a partir da construção do viveiro conseguimos ampliar não só a
materialidade do Plano Nacional “Plantar Árvores Produzir Alimentos Saudáveis”,
mas também a organicidade da juventude nas áreas, assumindo a tarefa do
plantio, da produção de alimentos saudáveis, da solidariedade e da importância
da formação”, relata Thainá Regina Caetano, assentada no Ernesto Che Guevara e
integrante do setor de comunicação do MST no estado.
Segundo a assentada, o local no CEPEGE já contava com um
espaço de produção agroecológica com produção de alimentos saudáveis, e passou
também a produzir grande parte das mudas, do Plano Nacional de plantio de
árvores do MST no estado, que são distribuídas às áreas de assentamentos e
acampamentos de Reforma Agrária no Mato Grosso do Sul, além de aldeias
indígenas e ações de plantio nas cidades. Contribuindo assim, com a denúncia da
destruição do agronegócio na região, e a consequente, recuperação da natureza e
do bioma.
“Na [região] Centro-oeste, o coração do agronegócio, se
torna ainda mais necessário ações de cuidado do meio ambiente, e o viveiro foi
pensando nesse sentido, de produzir árvores do bioma Cerrado, Mata Atlântica e
Pantanal, predominantes em nossas regiões, realizando a preservação e o cuidado
com os bens comuns“, explica Thainá.
Considerando a importância do plantio de árvores para a
produção de alimentos saudáveis e a viabilidade dos sistemas agroecológicos, a
assentada e comunicadora conta que os jovens Sem Terra do MST assumiram como
tarefa central o desenvolvimento do viveiro no CEPEGE.
Nesse sentido, o trabalho da juventude no viveiro funciona
da seguinte forma: “nos dividimos em brigadas dos assentamentos e de parceiros
organizados na cidade, contribuindo não só na construção do viveiro, mas também
na produção agroecológica do Centro e na doação dos alimentos realizada pelo
CEPEGE. Estamos produzindo no viveiro há cerca de um ano, organizando as
brigadas, compostas por 3 a 7 jovens, articulados para irem uma vez a cada mês
para realizar o manejo e o plantio de novas mudas, e também se organizando em
suas localidades para a coleta das sementes nas áreas”, detalha ela.
Até o momento o viveiro já conta com o plantio de sementes
de árvores nativas como Aroeira, Ipê, Moringa, Cedro rosa, e mudas de
frutíferas como Graviola, Abacate, Barú, Jatobá, entre outras dezenas de
espécies.
Essa é mais uma reportagem de uma série que mostra
experiências sobre a Rede de Viveiros Populares da Reforma Agrária,
desenvolvidas pelas famílias do MST nas cinco regiões do país. Acompanhe!
*Editado por Fernanda Alcântara
Por Solange Engelmann
Pesquisa Fapesp
Modos de restaurar as florestas -
Com o início do Programa de Regularização Ambiental, os
proprietários rurais serão obrigados a restaurar áreas desmatadas ilegalmente
no passado. O professor da Esalq-USP Ricardo Rodrigues e o diretor do Instituto
de Botânica de São Paulo Luiz Mauro Barbosa apresentam uma nova metodologia de
recobrimento de floresta, mais eficiente e com menor custos.
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🗣 ATENÇÃO! Está NO AR o financiamento coletivo da Campanha #SalveUmaNascente na @benfeitoria. Nossa meta é ambiciosa: queremos salvar até cinco nascentes do Cerrado 💦🌿 👉🏿 https://t.co/yCM2I5ps8K (+) pic.twitter.com/SF3qxLcnmV
— CPT Nacional (@cptnacional) September 20, 2021