Consegui abrir a caixa-preta dos patrocínios que a Embrapa, principal referência em pesquisa agropecuária no país, recebeu de empresas na COP30
Descobri que somente a CNA, entidade vinculada à bancada ruralista no Congresso, pagou quatro vezes mais do que os dados públicos apontavam.
Você deve estar se perguntando como cheguei a esse número. Bem, não foi fácil. Foi uma peleja de cinco meses — e eu te conto agora como fiz.
Fiquei encucada ao ver nomes como a da fabricante de pesticidas Bayer, da multinacional suíça de alimentos Nestlé e da gigante automotiva Toyota na lista de patrocinadores e resolvi tentar descobrir o quanto elas tinham desembolsado.
E por que isso importa?
A Embrapa foi questionada por ONGs, ambientalistas e integrantes dos movimentos de agricultura familiar por emprestar sua credibilidade para empresas e instituições ligadas a desmatamento, suspensão da demarcação de terras indígenas e produção de agrotóxicos — em um exemplo perfeito do greenwashing, a propaganda verde enganosa, dentro da COP30.
Só para dar uma ideia, a CNA — que deu R$ 10 milhões à Embrapa — se autodenomina a voz do agro do Brasil, ajuda a financiar a bancada ruralista e, portanto, a passar a boiada de destruição no Congresso.
Sabe o PL da Devastação?
A CNA aprova e defende. E as novas homologações e demarcações de terras indígenas, anunciadas depois de muito protesto durante a COP30? Pronto, dois dias depois do fim da cúpula, a CNA foi lá e pediu ao STF a suspensão de tudo.
Não dá pra dizer que a entidade é uma grande amiga da
natureza, né?
A saga pela informação pública e por mais transparência
- 2 de julho: Enviei um pedido via Lei de Acesso à Informação, a LAI – a lei que permite solicitar informações ao poder público – requisitando à Embrapa as respostas de um formulário de manifestação de interesse em patrocinar a “Jornada pelo Clima”.
- 1º de agosto: A Embrapa alegou que "não era possível abrir o link" do próprio formulário que ela havia criado.
- 3 de agosto: Recorri em primeira instância, provando que o link estava disponível.
- 12 de agosto: A Embrapa voltou a responder, alegando que a divulgação dos valores era “informação restrita” e poderia “prejudicar os interesses” em novas captações. Ignoraram que eu havia pedido para tarjar dados pessoais!
- 21 de agosto: Voltei a recorrer!
- 28 de agosto: A Embrapa disponibilizou a minuta contratual base, mas não as cotas aderidas nem as respostas ao formulário.
- 28 de agosto (ainda): Escalamos para a última instância, a Controladoria-Geral da União, a CGU.
- 29 de outubro: Deu certo! A CGU me deu ganho de causa.
- 24
de novembro: As respostas da Embrapa finalmente chegaram!
Outra vitória
Depois da publicação da nossa reportagem, a Embrapa adicionou no site da “Jornada pelo Clima” uma aba de transparência sobre os patrocínios. Lá estão toda a movimentação financeira, contratos, notas fiscais e prestações de contas – exatamente como deve ser.
Também conseguimos acesso às respostas que as empresas deram, no formulário de
interesse, para se justificar alinhadas aos objetivos da COP30 e comprometidas
com um futuro mais sustentável.
E se tiver perguntas que gostaria que fizéssemos aos órgãos
públicos usando a LAI, me manda uma mensagem no alice.souza@intercept.com.br.
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Via: Alice de Souza
Biodiversidade - em defesa do clima! - 01
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