Governo autorizou a desnacionalização da empresa. A Austrália se apodera da expertise na área de veículos lançadores, como é o caso do S-50, “joia da coroa” do programa espacial. Além disso, o Brasil perde a tecnologia do sistema Astros, sistema de artilharia que é um enorme sucesso de exportação desde os anos 80
A venda da empresa brasileira Avibras, fabricante de
equipamentos de defesa, de mísseis e com uma grande expertise na área de
veículos lançadores, para um grupo australiano concorrente, anunciada esta
semana, está sendo considerado um acontecimento trágico para a Defesa Nacional
e para o projeto nacional mais amplamente.
Os compradores são integrantes de um fundo de investimentos
australiano que por meio de uma concorrente de porte muito inferior a Avibras,
a Defendtex, comprou 100% da empresa nacional. Ainda não há informações sobre
os valores envolvidos na transação. O governo brasileiro autorizou a venda.
AUTOSSABOTAGEM
A perda da Avibras, uma empresa de alta tecnologia, não
disponível comercialmente, de acesso restrito e objeto de denegação e
cerceamento, como são aquelas na área de mísseis, incluindo propelentes e
inerciais, para uma concorrente estrangeira, está sendo apontada como um episódio
de autossabotagem contra o próprio Brasil.
Chegou-se, segundo especialistas da área, a ensaiar uma
solução nacional de investidor para enfrentar as dificuldades vividas pela
Avibras, mas que dependia de um impulso mais decidido por parte do governo
brasileiro. Contudo, ocorreu, segundo esses mesmos especialistas, o pior
cenário, a aquisição por um concorrente.
Do ponto de vista geopolítico, a compra é considerada também
uma grande jogada australiana. O país, influenciado pelos EUA, se defronta com
um “entorno estratégico” conturbado, como é a região da Ásia-Pacífico.
Com a aquisição, a empresa australiana acessa um míssil
pronto (o mais relevante já desenvolvido pelo Brasil), inclusive com sistema
inercial (o MTC, desenvolvido com recursos públicos brasileiros), que pode ser
convertido numa versão para equipar seu submarino em desenvolvimento no âmbito
do AUKUS (aliança militar formada por Austrália, EUA e Inglaterra).
ASTROS AGORA É AUSTRALIANO
O grupo da Austrália passa a deter também a citada expertise
na área de veículos lançadores, como é o caso do S-50, com motor-foguete base
do VLM, “joia da coroa” de nosso programa espacial.
Além disso, há também a tecnologia do sistema ASTROS,
sistema de artilharia que é um enorme sucesso de exportação desde os anos 80 e
que, recentemente, tem uma versão modernizada, objeto de cobiça, inclusive
recentemente para a guerra na Ucrânia. O Brasil se desfez de tudo isso depois
de anos de investimento.
A direção da empresa, em dificuldades, já vem há mais de um
ano negociando a venda para estrangeiros. Pelo menos sete casos conhecidos eram
de empresas estrangeiras que estavam em negociação.
A venda ocorre pouco depois de outro episódio também de
enorme gravidade, que foi a compra da SIATT (fabricante de mísseis) pela
estatal dos Emirados, o EDGE Group, que imediatamente incorporou ao seu
portfólio o MANSUP, míssil naval de 5ª geração, dominado por poucos países e
igualmente desenvolvido com recursos públicos brasileiros.
A venda da Avibras está na contramão do que ocorre em todo o
planeta. O mundo inteiro reforma ou instituiu instrumentos de proteção de suas
empresas de base tecnológica, ainda mais na área de Defesa. Aqui as portas
estão abertas, trata-se um assunto dessa importância estratégica como se isso
fosse uma questão de mercado. Ingenuamente o país vê a desnacionalização de empresas
que levaram décadas se estruturando com base em dinheiro público, como é caso
da Avibras e da Mectron-Siatt.
MAIS GRAVE DO QUE A QUEBRA DA ENGESA
A perda da Avibras para uma concorrente estrangeira está
sendo vista, do ponto de vista geopolítico e da “estratégia nacional”, como
mais grave até do que a quebra da Engesa, nossa fabricante da carros de combate
sobre lagarta, como o tanque Osório, no início dos anos 90.
Afinal, hoje, num cenário geopolítico muito mais desafiador
ao Brasil, estamos desnacionalizando tecnologias que estão no coração da
capacidade dissuasória convencional, o núcleo da estratégia brasileira de
Defesa, como é o caso da capacidade missilística, de artilharia e espacial.
Em recente reportagem,
publicada pelo HP já se revelavam os problemas vividos pela Avibras e por
outras empresas da área de Defesa. Nela, o professor Eduardo Siqueira Brick, de
Estudos Estratégicos da Defesa e da Segurança na Universidade Federal
Fluminense (UFF), alertava para a necessidade de maior envolvimento do Estado
nacional neste assunto.
Citando algumas empresas que passaram por graves crises nos
últimos anos, como os casos emblemáticos da MECTRON e da própria Avibras,
Eduardo Siqueira Brick reconhece que retomar o desenvolvimento de uma indústria
que parou no tempo “é um processo de décadas”, que passa também pela
modernização da infraestrutura que já existe.
ESTADO NACIONAL TEM QUE INTERVIR
“É necessário tomar uma decisão política, que virá
necessariamente de Brasília”, argumentou. “Politica de defesa não é atribuição
das Forças Armadas, mas, sim, do Estado do Brasil. As Forças Armadas são
instrumentos de defesa”.
O professor defendeu a criação de um orçamento de gestão de
defesa, com soluções e compromissos para sustentar a capacidade operacional de
combate das tropas e a capacidade de assegurar a elas o arsenal de guerra do
Brasil.
“Os meios atuais ficam obsoletos muito rapidamente, e quando
chega a hora de usar, eles não são mais necessários”, disse Siqueira Brick,
acrescentando que, em tempo de paz, “você deve aproveitar a janela de
oportunidade para priorizar essa força de defesa”.
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Fonte: Hora do Povo
🚨 URGENTE 🚨
— Brasil Grande 🇧🇷 (@bragransilde) March 31, 2024
🇧🇷 — A venda da Avibras, uma empresa brasileira especializada em equipamentos de defesa, para um grupo australiano concorrente, foi recebida com preocupação na comunidade de defesa.
Os compradores, ligados a um fundo de investimentos australiano, adquiriram a… pic.twitter.com/ujrRubrIWm
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