Análises com o sangue de 250 voluntários que receberam a vacina da Pfizer/BioNTech mostraram resposta de defesa mais baixa para a variante Delta do Sars-CoV-2. Cientistas defendem administração rápida da segunda dose e reforço a pacientes vulneráveis, como idosos
Testes feitos com o sangue de pessoas imunizadas com a vacina da empresa norte-americana Pfizer demonstraram
uma resposta de defesa mais baixa para a variante Delta do vírus Sars-CoV-2,
descoberta pela primeira vez na Índia. As análises laboratoriais foram
realizadas por um grupo de cientistas britânicos e envolveram amostras do
sangue de mais de 200 pessoas que receberam o fármaco. Os voluntários foram
expostos, ainda, a outras quatro cepas do novo coronavírus. O estudo, publicado
pela última edição da revista especializada The Lancet, também
demonstrou que os níveis de anticorpos neutralizantes — células de defesa do
corpo que combatem o patógeno — diminuem com o aumento da idade e com o passar
do tempo. Os especialistas defendem mais pesquisas para corroborar os resultados,
mas sugerem a aplicação futura de uma dose de reforço do imunizante em pessoas
mais vulneráveis, como os idosos.
As variantes testadas pelos cientistas foram fornecidas
pelos laboratórios do Sistema Nacional de Saúde (NHS, em inglês), no Reino
Unido. Outra empresa britânica que busca avaliar respostas vacinais às
variações genéticas sofridas pelo Sars-CoV-2 coletou as amostras sanguíneas dos
imunizados. “Utilizamos material colhido em um grupo de 250 pessoas saudáveis
que receberam uma ou duas doses da vacina Pfizer-BioNTech contra a covid-19.
Todos esses indivíduos são profissionais de saúde e membros de equipes de
instituições médicas que têm doado regularmente para os pesquisadores, com o
objetivo de rastrear mudanças no risco de infecção e na resposta à imunização”,
explicaram os autores da pesquisa.
Ao utilizarem uma técnica de avaliação apurada — chamada de
neutralização viral de alto rendimento — desenvolvida pelo próprio grupo de
pesquisa, os investigadores testaram a capacidade dos anticorpos de bloquear a
entrada do vírus nas células contra cinco variantes diferentes de Sars-CoV-2: a
cepa original, descoberta pela primeira vez na cidade de Wuhan, na China; a
variante dominante na Europa durante a primeira onda, em abril de 2020, chamada
de D614G; a variante descoberta pela primeira vez em Kent, no Reino Unido
(Alpha); a cepa que surgiu inicialmente na África do Sul (Beta); e a mais nova
variante de “preocupação”, descoberta pela primeira vez na Índia (Delta).
Resultados
Os pesquisadores descobriram que nas pessoas totalmente
vacinadas com duas doses da vacina Pfizer-BioNTech, os níveis de anticorpos
neutralizantes eram mais de cinco vezes menores contra a variante Delta em
comparação com a cepa original do vírus. Eles também viram que em pessoas que
receberam apenas uma dose do imunizante a resposta de anticorpos neutralizantes
foi ainda mais baixa para três das cepas testadas, em comparação com a variante
original do vírus. “Após uma única dose desse imunizante, 79% dos vacinados
tiveram uma resposta expressiva de anticorpos neutralizantes contra a cepa
original, mas esse número caiu para 50% para a variante Alpha, 32% para a Delta
e 25% para a Beta”, ressaltaram. Os especialistas destacam que os níveis de
anticorpos diminuíram com a idade contra todas as variantes, porém, nenhuma
correlação foi observada com o sexo ou o índice de massa corporal (peso) dos
vacinados.
Segundo os cientistas, apenas os níveis de anticorpos não
predizem a eficácia da vacina contra o vírus, pois outras células do sistema
imunológico agem nessa defesa. Eles creem que diminuir o intervalo entre a
administração das duas doses do imunizante americano possa ser uma estratégia
positiva para evitar um aumento do contágio da população, além do uso de dose
de reforço para pessoas mais vulneráveis que foram imunizadas. “O mais
importante é garantir que a proteção da vacina permaneça alta o bastante para
manter o maior número possível de pessoas fora do hospital. Nossos resultados
sugerem que a melhor maneira de fazer isso é administrar rapidamente uma
segunda dose e fornecer um reforço para aqueles cuja imunidade pode não ser
alta o suficiente contra essas novas variantes”, explicou Emma Wall, consultora
de Doenças Infecciosas do Instituto de Pesquisa Francis Crick, no Reino Unido,
e autora do estudo. “Esse vírus provavelmente ainda existirá por algum tempo,
então precisamos permanecer ágeis e vigilantes.”
AstraZeneca para maiores de 45 anos
Ontem, o Ministério da Saúde do Chile informou que, depois
de um caso de trombose de um homem de 31 anos, decidiu aplicar a vacina contra
covid-19 da empresa AstraZeneca apenas em pessoas com mais de 45 anos. De
acordo com o órgão, o homem apresentou o problema de saúde após receber a
primeira dose do imunizante. No entanto, não há comprovação de que a vacina
seja a responsável pela enfermidade. “Como medida preventiva, decidiu-se alterar
a idade de administração da vacina até a obtenção dos resultados da
investigação”, informou o ministério.
Confiança em alta
Uma pesquisa britânica com voluntários de mais de 15 países
revelou alta confiança da população nas vacinas contra covid-19. A investigação
também mostrou níveis consideráveis de preocupação quanto aos possíveis efeitos
colaterais dos imunizantes. Os especialistas chegaram aos resultados depois de
entrevistarem mais de 60 mil pessoas entre os meses de março e maio deste ano,
por meio de plataformas virtuais.
No trabalho, os especialistas pediram que os mais de 68 mil
avaliados respondessem a uma série de perguntas relacionadas à vacinação contra
o novo coronavírus. Os resultados mostraram uma variação entre as nações
avaliadas, mas, no geral, a confiança é alta, com mais de 50% dos entrevistados
dizendo que confiam nas vacinas contra o coronavírus, exceto na Coreia do Sul e
no Japão (47%). Os cidadãos do Reino Unido lideraram o ranking, com quase 9 em
cada 10 afirmando que acreditam nas vacinas (87%), seguidos pelos israelenses
(83%).
Ao serem perguntados sobre as marcas de imunizantes que
“preferem”, os avaliados que ainda não tinham sido vacinados responderam, em
sua maioria, que a vacina da empresa Pfizer era a que eles mais confiavam (em 9
dos 15 países participantes). Em relação às respostas de desconfiança dos
imunizantes, os especialistas observaram que os motivos mais comuns citados
pelos entrevistados foram a falta de confiança nos testes e os riscos de
efeitos colaterais.
Os especialistas acreditam que os dados possam ser usados em
campanhas de incentivo à imunização. “É vital que os líderes ouçam essas
preocupações e tratem delas com urgência, para que mais pessoas estejam
dispostas a aceitar essas vacinas que salvam vidas”, declarou Ara Darzi,
codiretor do Instituto de Inovação em Saúde Global, no Reino Unido, e um dos
autores do estudo, feito em parceria com Imperial College London.
Fonte: Correio Braziliense
RIT Notícias
Vacina da Pfizer tem eficácia "levemente menor"
contra variante indiana