Steave Bannon, Donald Trump e Jair Bolsonaro (Foto: Reuters
| PR)
Ideólogo da extrema-direita, Steve Bannon foi preso sob a
acusação de fraudes eleitorais. Bannon se tornou um dos personagens de maior
influência sobre o governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro no Brasil
247 - Steve Bannon, o principal guru da extrema-direita no
mundo e também do clã Bolsonaro, foi preso na manhã desta sexta-feira, após uma
investigação sobre fraudes em arrecadação de recursos eleitorais, segundo
anunciou o Departamento de Justiça.
A campanha, "Nós Construímos o Muro", teria
arrecadado mais de US$ 25 milhões ao todo e depois desviado recursos.
"Como alegado, os réus fraudaram centenas de milhares de doadores",
disse a procuradora dos Estados Unidos Audrey Strauss.
Bannon se tornou um dos personagens de maior influência
sobre o governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro no Brasil.
Procuradores teriam demonstrado preocupação com o fato de
Moro marcar encontros com Bolsonaro após o resultado das eleições
Em nota divulgada no final da tarde deste sábado (29/6), a
Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) "alerta a
sociedade sobre a impossibilidade de considerar como verdadeiras"
mensagens divulgadas pelo site The Intercept em que procuradores da República
fazem críticas ao ministro Sérgio Moro. Ouvido pelo Correio Braziliense, um procurador,
porém, confirma, que as mensagens sobre Moro são verdadeiras.
Integrantes da força-tarefa da Lava-Jato revelam
preocupações com a possibilidade de que o então juiz Sérgio Moro aceitasse
convite para compor a equipe de ministros do presidente Jair Bolsonaro.
Nas mensagens publicadas, a procuradora Monique Cheker
critica a condução dos processos da Lava-Jato pelo ministro na época em que ele
era juiz no Paraná. "Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado
por seus resultados", teria dito Monique. Em um grupo no aplicativo
Telegram, os procuradores teriam demonstrado preocupação com o fato de Moro
marcar encontros com o presidente Jair Bolsonaro após o resultado das eleições
do ano passado.
Um dos que participam do diálogo é o procurador Alan Mansur,
coordenador da Lava-Jato no Pará. Ele revela temor com a ida de Moro para o
Ministério da Justiça. "Tem toda a técnica e conhecimento para ser um
excelente ministro da Justiça. E tentar colocar em prática tudo que ele
acredita. Porém, o fato de ter aceitado, neste momento, entrar na política e
desta forma, é muito ruim pra imagem de imparcialidade do sistema de justiça e
MP em geral”, disse.
Minutos antes da reportagem entrar no ar, o jornalista Glenn
Greenwald, do The Intercept, apresentou a reprodução de uma conversa, citando o
procurador Ângelo Goulart Villela. A matéria publicada, porém, citou na verdade
Ângelo Augusto Costa, um homônimo. Pelo Twitter, Sérgio Moro afirmou que as
controvérsias da publicação revelam que as mensagens não ocorreram. "Isso
só reforça que as mensagens não são autênticas e que são passíveis de
adulteração. O que se tem é um balão vazio, cheio de nada. Até quando a honra e
a privacidade de agentes da lei vão ser violadas com o propósito de anular
condenações e impedir investigações contra corrupção?", disse.
No posicionamento divulgado, a ANPR ressaltou a "preocupação
quanto à divulgação de mensagens atribuídas a integrantes do Ministério Publico
Federal com indícios de terem sido adulteradas e de serem oriundas de crime
cibernético". A entidade destacou ainda que se "manterá implacável na
defesa das prerrogativas funcionais dos procuradores da República, garantidas
pela Constituição para que eles possam defender, com independência e autonomia,
a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e individuais
indisponíveis".
Veracidade
Ao Correio, um dos procuradores que estava no grupo em que
ocorreram as conversas, disse, sob a condição de anonimato, que os trechos
divulgados são verdadeiros. “Me recordo dos diálogos com os procuradores
apontados pelo site. O grupo não existe mais. No entanto, me lembro do debate
em torno do resultado das eleições e da expectativa sobre a ida de Moro para o
Ministério da Justiça", disse.
O integrante do Ministério Público Federal (MPF) também
declarou que conseguiu recuperar parte do conteúdo. "Consegui recuperar
alguns arquivos no celular. Percebi que os trechos divulgados não são de
diálogos completos. Tem mensagens anteriores e posteriores às que foram
publicadas. No entanto, realmente ocorreram. Não posso atestar que tudo que foi
publicado até agora é real e não sofreu alterações. No entanto, aquelas
mensagens que foram publicadas ontem (sexta) são autênticas”, completou.
Este texto foi publicado originalmente na newsletter do Intercept Brasil. Assine. É de graça, todos os sábados, na sua caixa de
e-mails.
NO ÚLTIMO DOMINGO, o Brasil foi surpreendido por três
reportagens explosivas publicadas pelo TIB. Nelas, nós mostramos as entranhas
da Lava Jato e mergulhamos fundo em poderes quase nunca cobertos pela imprensa.
Quase todos os jornalistas que eu conheço preferem se manter afastados disso:
apontar o dedo para procuradores e juízes é, antes de tudo, perigoso em muitos
níveis – eles têm razão.
As primeiras reações dos envolvidos no escândalo foram
essas: O MPF preferiu focar em hackers, e não negou a autenticidade das
mensagens. Sergio Moro disse que não viu nada de mais, ou seja: não negou a
autenticidade das mensagens.
Moro, na verdade, se emparedou: em entrevista ao Estadão,
ele inicialmente não reconhece como autêntica uma frase que ele mesmo disse.
Mas depois diz que pode ter dito. E depois ainda diz que não lembra se disse.
Moro está em estado confusional.
É evidente que nem Moro, nem Deltan e nem ninguém podem
negar o que disseram e fizeram. O Graciliano Rocha, do BuzzFeed news, mostrouque atos da Lava Jato coincidiram com orientações de Moro a Deltan no Telegram.
Moro mandou, o MPF obedeceu. Isso não é Justiça, é parceria. Ontem nós
mostramos a mesma coisa: Moro sugeriu que o MPF atacasse a defesa de Lula
usando a imprensa, e o MPF obedeceu. Quem chefiava os procuradores? Só não vê
quem não quer.
A imprensa séria virou contra Sergio Moro e Deltan Dallagnol
em uma semana graças às revelações do TIB. O Estadão, mesmo que ainda
fortemente aliado de Curitiba, pediu a renúncia de Moro e o afastamento dosprocuradores. A Veja escreveu um editorial contundente (“Moro ultrapassou de
forma inequívoca a linha da decência e da legalidade no papel de magistrado.”)
e publicou uma capa demolidora. A Folha está fazendo um trabalho importante com
os diálogos, publicando reportagens de contexto absolutamente necessárias.
Foto: Leandro Demori/The Intercept Brasil
Durante cinco anos, a Lava Jato usou vazamentos e relacionamentos
com jornalistas como uma estratégia de pressão na opinião pública. Funcionou, e
a operação passou incólume, sofrendo poucas críticas enquanto abastecia a mídia
com manchetes diárias. Teve pista livre para cometer ilegalidades em nome do
combate a ilegalidades. Agora, a maior parte da imprensa está pondo em dúvida
os procuradores e o superministro.
Mas existe uma força disposta a mudar essa narrativa. A
grande preocupação dos envolvidos agora, com ajuda da Rede Globo – já que não
podem negar seus malfeitos – é com o “hacker”. E também nunca vimos tantos
jornalistas interessados mais em descobrir a fonte de uma informação do que com
a informação em si. Nós jamais falamos em hacker. Nós não falamos sobre nossa
fonte. Nunca.
Já imaginou se toda a imprensa entrasse numa cruzada para
tentar descobrir as fontes das reportagens de todo mundo? A quem serve esse
desvio de rota? Por enquanto nós vamos chamar só de mau jornalismo, mas talvez
muito em breve tudo seja esclarecido. Nós já vimos o futuro, e as respostas
estão lá.
A ideia é tentar nos colar a algum tipo de crime – que não
cometemos e que a Constituição do país nos protege. Moro disse que somos“aliados de criminosos”, em um ato de desespero. Isso não tem qualquer
potencial para nos intimidar. Estamos apenas no começo.
Esse trabalho todo que estamos fazendo só acontece graças ao
esforço de uma equipe incrível aqui no TIB. De administrativo a redes sociais,
de editorial a comunicações, todos estão sendo absolutamente fantásticos. Nós
queremos agradecer imensamente por tudo, e pedir para que vocês nos ajudem a
continuar reportando esse arquivo.
The Intercept_Brasil - Lava Jato fingiu investigar FHC apenas para criar percepção
pública de ‘imparcialidade’, mas Moro repreendeu: ‘Melindra alguém cujo apoio é
importante’
Parte 7
Sergio Moro não gostou do alvo tucano: 'melindra alguém cujo apoio é importante'.
Um trecho do chat privado entre Sergio Moro e o procurador
Deltan Dallagnol revela que o ex-juiz discordou de investigações sobre o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na Lava Jato porque, nas palavras dele,
não queria “melindrar alguém cujo apoio é importante”. O diálogo ocorreu em 13
de abril de 2017, um dia depois do Jornal Nacional ter veiculado uma reportagem
a respeito de suspeitas contra o tucano.
Naquele dia, Moro chamou Deltan Dallagnol em um chat privado
no Telegram para falar sobre o assunto. O juiz dos processos da Lava Jato em
Curitiba queria saber se as suspeitas contra o ex-presidente eram “sérias”. O
procurador respondeu acreditar que a força-tarefa – por meio de seu braço em
Brasília – propositalmente não considerou a prescrição do caso de FHC e o
enviou ao Ministério Público Federal de São Paulo, segundo ele, “talvez para [o
MPF] passar recado de imparcialidade”.
À época, a Lava Jato vinha sofrendo uma série de ataques,
sobretudo de petistas e outros grupos de esquerda, que a acusavam de ser
seletiva e de poupar políticos do PSDB. As discussões haviam sido inflamadas
meses antes, quando o então juiz Moro aparecera sorrindo em um evento público
ao lado de Aécio Neves e Michel Temer, apesar das acusações pendentes de
corrupção contra ambos.
Sérgio Moro, Aécio Neves, Geraldo Alckmin e Michel Temer na
cerimônia de premiação “Brasileiros do Ano”, da Revista ISTOÉ, em 2016. Foto:
Diego Padgurschi/Folhapress
FHC foi citado na Lava Jato pelo menos nove vezes (1, 2, 3,
4 e 5, 6, 7, 8 e 9). Caso fossem investigados e comprovados, nem todos os
possíveis crimes cometidos pelo ex-presidente estariam prescritos.
Naquele dia, antes de responder a Moro, Dallagnol encaminhou
a dúvida do juiz para um chat em grupo chamado Conexão Bsb-CWB, no qual estavam
procuradores das duas cidades. Foi de Brasília, onde o caso tramitava, que ele
recebeu a resposta de que a documentação foi encaminhada a São Paulo sem a
análise sobre a prescrição.
A acusação que Dallagnol classificou como “recado de
imparcialidade” já era de conhecimento interno do Ministério Público desde o
final de 2016, graças à delação de Emílio Odebrecht, que afirmou que deu “ajudade campanha” a FHC para as eleições vitoriosas de 1994 e 1998. “Ajuda de
campanha eu sempre dei a todos eles. E a ele também dei. E com certeza teve a
ajuda de caixa oficial e não oficial”, afirmou o empresário, falando sobre
caixa dois. “[E]u dava e dizia que era para atender mesmo. Então vai fulano de
tal lhe procurar, como eu dizia também para Marcelo, e eles então
operacionalizavam. Ele me pediu. Todos eles.” O valor dos pagamentos não foi
divulgado.
Essas revelações sugerem mais uma vez a parcialidade na Lava
Jato, que tanto Moro quanto a força-tarefa negam veementemente. Na nota oficial
divulgada pela força-tarefa em resposta à primeira série de reportagens do
Intercept no último domingo, por exemplo, eles insistiram que seu trabalho
sempre foi movido pela “imparcialidade da atuação da Justiça”. Em entrevista aoEstadão na semana passada, o ministro Moro disse que não via “[n]enhum viés
político nas mensagens que me foram atribuídas.”
Mas, aqui, Moro estava explicitamente preocupado com
investigações da Lava Jato contra um apoiador político de seu trabalho. E
Dallagnol admitiu acreditar que outros procuradores da força-tarefa passaram
adiante uma investigação que sabidamente não resultaria em processo, a fim de
fabricar uma falsa percepção pública de “imparcialidade”, sem, no entanto,
colocar FHC em risco.
As conversas agora reveladas fazem parte de um lote dearquivos secretos enviados ao Intercept por uma fonte anônima (leia nossoeditorial e entenda). Os arquivos publicados até agora mostram, entre outras
coisas, que a Lava Jato sempre teve muita preocupação com sua imagem pública, e
seguia conselhos informais do então juiz Moro, o que é ilegal.
‘PORRA BOMBA ISSO’
Em 2016, FHC ainda apareceria em outras três delações. Em
uma delas, ele apareceu na boca do operador ligado ao MDB Fernando Baiano, por
causa do suposto beneficiamento da empresa de um filho do ex-presidente, Paulo
Henrique Cardoso, em contratos com a petroleira. Foto: Antonio Scorza/AFP/Getty
Images
Para os procuradores, era importante incluir o PSDB no rol
de investigados para acalmar o ânimo dos críticos. Eles já falavam sobre isso
muito antes de Moro alertar Dallagnol sobre evitar “melindrar” FHC.
Em uma conversa no dia 17 de novembro de 2015, o procurador
Roberson Pozzobon mandou uma sugestão em um grupo do Telegram chamado FT MPF
Curitiba 2: investigar, num mesmo procedimento, pagamentos da Odebrecht aos
institutos de Lula e FHC. “Assim ninguém poderia indevidamente criticar nossa
atuação como se tivesse vies partidário”, justificou Pozzobon. “A da LILS vocês
já sabem os indícios para a investigação, mas vejam essa fratura expostas da
Fundação iFHC”, disse ao grupo. Nesse caso – diferentemente daquele que virou
notícia na imprensa sobre caixa 2 nos anos 1990 –, os pagamentos ao iFHC aos
quais Pozzobon se referia não estariam prescritos, caso fossem propina.
Depois de comentar sobre o instituto de FHC, Pozzobon postou
duas imagens no grupo.
A primeira é uma troca de e-mails de 2014 entre a secretária
de FHC e dois interlocutores: um representante da Associação Petroquímica e
Química da Argentina, a Apla, identificado como Manuel Diaz, e um empresário do
ramo cultural, Pedro Longhi. A secretária fala para verificarem com a Braskem –
empresa do ramo petroquímico controlada pela Odebrecht – qual a “melhor maneira
para [a empresa] fazer a doação [para o iFHC]”.
A secretária dá duas opções para o que ela chama de “doação”. Uma delas seria fazer uma doação direta, ou seja, depositar dinheiro na conta bancária do instituto. A outra seria a contratação de um serviço não especificado. “Não podemos citar que a prestação de serviço será uma palestra do presidente”, afirmou. Manuel respondeu que poderia fazer doação direta. Poucos dias depois, Helena Gasparian, então assessora de FHC, enviou outro e-mail à Braskem dizendo que o ex-presidente não iria comparecer ao evento.
A segunda imagem encaminhada por Pozzobon era de um laudo daPolícia Federal daquele mesmo ano, que mostrava que a Odebrecht havia feito
pagamentos mensais que somaram R$ 975 mil ao iFHC entre dezembro de 2011 e de
2012.
Os policiais federais que fizeram o relatório explicaram que
não foram atrás desses pagamentos ao iFHC porque os dados da Braskem não foram
colocados à disposição deles. Mas ressaltaram: “É possível que outros
pagamentos tenham sido feitos e não tenham sido encontrados” por causa das
limitações dos dados ou caso tenham sido feitos por “meio de triangulação entre
Grupo Odebrecht, o contratante do serviço (exemplo do evento APLA) e o
Instituto Fernando Henrique Cardoso”.
Após enviar as imagens, Pozzobon sugeriu ao grupo aprofundar
a investigação sobre as doações. Ao contrário da investigação referente aos
recursos recebidos nos anos 90, esses fatos, se investigados, não estariam
prescritos e poderiam apontar caixa 2 em campanhas do PSDB. Os procuradores
reagiram com empolgação:
A euforia durou pouco, e os procuradores começaram a
ponderar que o caso teria chance de ser enquadrado apenas como crime tributário
– e que os argumentos de defesa de FHC poderiam também ser usados por Lula. O
argumento: Lula também poderia alegar que os pagamentos feitos ao Instituto
Lula e à LILS, sua empresa de palestras, não escondiam propinas ou caixa dois.
Quase um ano e meio depois dessa conversa, o fim do sigilo
da delação de Marcelo Odebrecht, filho de Emílio, mostraria que o esquema de
remessa de dinheiro aos institutos de FHC e de Lula tinha um modus operandi
semelhante. A Fundação FHC – ex iFHC – disse ao Intercept que os valores
recebidos foram regularmente contabilizados e que “não tem conhecimento de qualquer
investigação ou denúncia do MPF tendo por base as doações feitas pela
Odebrecht”.
‘DARÁ MAIS ARGUMENTOS PELA IMPARCIALIDADE’
Na época em que foi citado na delação de Emílio Odebrecht,
Fernando Henrique Cardoso disse que não tinha “nada a temer” e defendeu a
operação Lava Jato. Foto: Mauricio Lima/AFP/Getty Images
No ano seguinte às conversas dos procuradores, em 2016, FHC ainda apareceria em outras três delações (1, 2, 3). Em uma delas, ele apareceu na boca do operador ligado ao MDB Fernando Baiano, por causa do suposto beneficiamento da empresa de um filho do ex-presidente, Paulo Henrique Cardoso, em contratos com a petroleira. Em junho, o caso do filho de FHC foi mencionado no chat FT MPF Curitiba 3. A preocupação dos procuradores era, novamente, criar a percepção pública de imparcialidade da Lava Jato:
Três dias depois, no mesmo grupo, o assunto voltou a ser
discutido.
Nós perguntamos ao Ministério Público Federal do Paraná,
sede da força-tarefa da Lava Jato, quais são os ex-presidentes investigados e em
que fase está cada um dos procedimentos. Também questionamos quais fatos
envolvendo os ex-presidentes foram mandados para outros órgãos. Eles não
responderam aos questionamentos e se limitaram a enviar as notas já divulgadaspela instituição, que dizem que não há ilegalidade nas trocas de mensagens
reveladas pelo Intercept.
Em uma conversa com os procuradores Paulo Galvão e Carlos
Fernando Santos Lima, em 20 de maio do ano passado, no entanto, Deltan
Dallagnol relembrou quais foram os ex-presidentes investigados pela operação.
Dilma Rousseff e FHC são os únicos que ficam de fora:
Antes da publicação desta reportagem, o Intercept procurou
as assessorias do ministro Sergio Moro, do MPF no Paraná e em São Paulo, da
Procuradoria Geral da República e da Fundação Fernando Henrique Cardoso, antigo
iFHC.
A PGR disse que não vai se manifestar.
A Força Tarefa da Lava Jato em São Paulo informou que “não
cuidou de caso relativo a Fernando Henrique Cardoso. Desdobramento oriundo da
Operação Lava Jato, relativo ao ex-presidente, veio para São Paulo junto com
outros casos da ‘lista do Facchin’ e foi distribuído para uma procuradora que
não integra o grupo”. O órgão afirmou que está esperando resposta da
procuradora responsável pelo caso, mas confirma que a única investigação
envolvendo FHC é a que foi arquivada.
A assessoria de Moro respondeu que ele “não comenta supostas
mensagens de autoridades públicas colhidas por meio de invasão criminosa, que
podem ter sido adulteradas e editadas e que sequer foram encaminhadas
previamente para análise. Cabe esclarecer que o caso supostamente envolvendo o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nunca passou pelas mãos do Ministro,
então juiz da 13 Vara Federal de Curitiba, sendo encaminhado diretamente pelo
Supremo Tribunal Federal a outros fóruns de justiça. Então, nenhuma
interferência do então juiz seria sequer possível e nenhuma foi de fato feita”.
Já o MPF do Paraná, em um segundo contato, afirmou que “a
divulgação de supostos diálogos obtidos por meio absolutamente ilícito,
agravada por um contexto de sequestro de contas virtuais, torna impossível aferir
se houve edições, alterações, acréscimos ou supressões no material alegadamente
obtido.” Para o MPF, os diálogos inteiros podem ter sido “forjados pelo
hacker”. Eles disseram também que “um hackeamento ilegal traz consigo dúvidas
inafastáveis quanto à sua autenticidade, o que inevitavelmente também dará azo
à divulgação de fake news”, dizendo que há uma “uma agenda político-partidária”
nas reportagens.
O Intercept reafirma que as reportagens da série são
publicadas assim que produzidas, editadas e checadas dentro de princípios
editoriais rigorosos, e que o material é autêntico.
Na época em que foi citado na delação de Emílio Odebrecht,
Fernando Henrique Cardoso disse que não tinha “nada a temer” e defendeu a
operação Lava Jato. “O Brasil precisa de transparência. A Lava Jato está
colaborando no sentido de colocar as cartas na mesa”, afirmou. Ao Intercept, o
ex-presidente disse, por meio de sua assessoria, que não teve conhecimento de
nenhum inquérito ou denúncia relacionados à delação de Cerveró. Também afirmou
desconhecer as menções sobre seu filho e a compra de votos nas eleições – por
isso, “não sabe se teriam resultado em investigação ou denúncia”. A única
confirmada pelo ex-presidente foi a investigação que terminou arquivada.
Após a divulgação da primeira leva de reportagens sobre as
mensagens secretas da Lava Jato, FHC fez uma defesa pública de Moro: “O
vazamento de mensagens entre juiz e promotor da Lava-Jato mais parece
tempestade em copo d’água. A menos que haja novos vazamentos mais comprometedores…”,
disse.
17 de novembro de 2015
Roberson – 20:29:48 – Meus caros, o que acham de
instaurarmos um PIC para investigar, no mesmo procedimento, pagamentos
efetuados pelo Grupo Odebrecht (e outras cartelizadas) ao LULA (via LILS e
INSTITUTO) e ao FHC (via Fundação iFHC)? Assim ninguém poderia indevidamente
criticar nossa atuação como se tivesse vies partidário, poderíamos oficiar
todas as empreiteiras contratantes, verificar padrões indevidos, etc.
Roberson – 20:30:32 – A da LILS vocês já sabem os indícios
para a investigação, mas vejam essa fratura expostas da Fundação iFHC:
Roberson – 20:30:52 –
Roberson – 20:31:16 –
Roberson – 20:32:12 – Email da iFHC “GOSTARIA QUE VOCES
VERIFICASSEM COM A BRASKEM QUAL A MELHOR MANEIRA PARA FAZER A DOAÇÃO. TEMOS AS
SEGUINTES OPÇOES:
Roberson – 20:32:20 – DOAÇÃO DIRETA
Roberson – 20:32:51 – A ELABORAÇÃO DE UM CONTRATO, POREM NÃO
PODEMOS DIZER QUE A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS SERÁ UMA PALESTRA DO PRESIDENTE
Roberson – 20:33:43 – E ai???? Querem mais baton na cueca?
Paulo Galvão – 20:35:08 – porra bomba isso
Roberson – 20:35:20 – Pois é!!!
Roberson – 20:35:39 – O que acha da ideia do PIC?
Roberson – 20:35:47 – Vai ser massa!
Paulo Galvão – 20:35:51 – Acho excelente sim Robinho
Roberson – 20:36:47 – Legal! Se os demais tb estiverem de
acordo, faço a portaria amanha cedo
Roberson – 20:38:08 – Acho que vale até uma BA na Secretaria
da iFHC que mandou o email. Ela é secretária da Presidencia!
Laura Tessler – 20:38:36 – Sensacional esse email!!!!
Roberson – 20:38:48 – Mais, talvez pudessemos cumprir BA nos
três concomitantemente: LILS, Instituto Lula e iFHC
Paulo Galvão – 20:39:04 – De quando é esse email?
Roberson – 20:39:12 – Uma prova reforça a outra
Paulo Galvão – 20:39:24 – Questão é, FHC estamos
investigando crime tributário apenas?
Roberson – 20:39:28 – Outubro de 2014!!!!!!!!!!!!!
Roberson – 20:39:52 – Provavelmente por isso a mençao de que
não poderia ser palestra do FHC
Paulo Galvão – 20:39:52 – Vamos pedir a fiscal, ver se o
dinheiro saiu para alguma campanha
Paulo Galvão – 20:40:16 – Pq se ficou lá e só crime
tributário? Ou teria que achar uma obra do psdb para dizer que é propina
Roberson – 20:41:52 – Sim, esse aprofundamento é essencial
Paulo Galvão – 20:42:28 – Mas a ideia é excelente.
Despolitizar
Paulo Galvão – 20:42:40 – Se bem q vc votou na Dilma hahaha
Roberson – 20:43:48 – MPF hahaha
Diogo – 21:44:28 – Mas será q não será argumento pra defesa
da lils dizendo q eh a prova q não era corrupção?
Roberson – 22:07:24 – Pensei nisso tb. Temos que ter um bom
indício de corrupção do fhc/psdb antes
Dallagnol – 22:14:24 – Claro
Dallagnol – 22:18:00 – Será pior fazer PIC, BA e depois
denunciar só PT por não haver prova. Doação sem vinculação a contrato, para
influência futura, é aquilo em Que consiste TODA doação eleitoral
Dallagnol – 09:56:20 – Creio que vale apurar com o argumento
de que pode ter recebido benefícios mais recentemente, inclusive com outros
contratos … Dará mais argumentos pela imparcialidade… Esses termos já chegaram,
Paulo? Esse já tem grupo?
Paulo Galvão – 10:00:38 – Chegaram vários do Cervero, mas
não sei se esse especificamente desceu
Paulo Galvão – 10:00:59 – Nos temos de qq forma todos os
depoimentos na pasta
Dallagnol – 10:24:20 – Algum grupo se voluntaria? Eu acho o
caso bacanissimo, pelo valor histórico. E recebendo naquela época pode ter
lavagem mais recente pela conversão de ativos ou outro método como compra
subfaturada de imóvel o que é mto comum…. Seria algo para analisar
Paulo Galvão – 10:26:33 – Deixa ver antes se desceu. Pode
ter sido mandado p outro lugar, como os que foram p o rio (e isso é um dos
temas q eu quero tratar na reunião)
Dallagnol – 21:42:18 – Caros, há uma programação de que sub
vai represetnar a lava jato no STJ até dezembro. O problema está em dezembro…
será a SUPRIMIDO
Dallagnol – 21:42:28 – ANEXO SUPRIMIDO
Dallagnol – 21:42:35 – bom termos essa pauta do subs do stj
P.N.I.. – 21:59:01 – Mestre, tudo bem? Vc acha que consegue
me ajudar com isso? Abração! http://istoe.com.br/o-acerto-de-r-12-milhoes/ O
acerto de R$ 12 milhões Em acordo de delação, Marcelo Odebrecht revela que a
presidente Dilma cobrou pessoalmente doação de campanha para pagar via caixa
dois o marqueteiro João Santana e o PMDB em 2014
P.N.I.. – 22:05:34 – SUPRIMIDO
P.N.I.. – 22:05:48 – Disse que não há nada disso.
P.N.I.. – 22:06:33 – Mas aqui sinto cheiro do Mauat, que se
tornou amiguinho do MO.
Dallagnol – 23:00:04 – [imagem não encontrada]
4 de junho de 2016
Isabel Groba – 07:39:57 – Alguém vai hoje ou amanhã na FT?
Eu precisava que fosse ligado o computador que eu uso para fazer acesso remoto.
P.N.I.. – 08:29:53 – “Queda a jato Há ministros caindo por
causa da Lava-Jato. Mas tem um que deverá cair nas próximas horas por causa de
um jato. Isto mesmo: um jato. Trata-se de Fábio Osório, advogado-geral da
União, que provocou um fuzuê ao tentar embarcar esta semana para Curitiba, na
Base Aérea. Negado o pedido, Osório deu uma carteirada nos oficiais da Aeronáutica,
dizendo ter status de ministro de Estado. A confusão chegou ao gabinete do
presidente. Para complicar ainda mais a situação de Osório, Temer descobriu que
Toffoli só revogou a sua decisão de demitir o presidente da EBC nomeado por
Dilma porque o advogado-geral da União, que deveria fazer a defesa do governo,
estava nessa fatídica viagem a Curitiba. Agora, até o padrinho do advogado, o
ministro Eliseu Padilha, está pedindo sua cabeça ao presidente.”
Dallagnol – 14:27:12 – Curitiba promete dias curitibanos
Dallagnol – 14:27:17 – [imagem não encontrada]
Dallagnol – 14:28:02 – Aeroporto fechado agora
Dallagnol – 14:28:18 – Quem aposta que amanhã vamos e não
vamos a BSB? rs
Dallagnol – 14:47:02 – Pessoal da Brigada está preocupado
com a notícia de que a série da PF dirá que “a PF que investiga”. A nota fala
do juiz é da PF, ignorando MP:
Dallagnol – 14:47:12 – [imagem não encontrada]
Dallagnol – 15:08:34 – SUPRIMIDO
Orlando SP – 15:33:36 – SUPRIMIDO
Orlando SP – 15:34:07 – SUPRIMIDO
Orlando SP – 15:34:49 – SUPRIMIDO
Paulo Galvão – 16:03:45 – [imagem não encontrada]
Paulo Galvão – 16:04:00 – SUPRIMIDO
Julio Noronha – 20:28:07 – Falando de “mídia independente”:
Julio Noronha – 20:28:16 – [imagem não encontrada]
Julio Noronha – 20:28:17 – [imagem não encontrada]
Julio Noronha – 20:28:18 – [imagem não encontrada]
Julio Noronha –20:28:18 – [imagem não encontrada]
Laura Tessler – 20:30:29 – aposto que é só
coincidência!!!😂😂😂
Dallagnol – 21:11:07 – Que absurdo!! Isso valeria ACPs em
outros locais…
6 de junho de 2016
Diogo – 00:49:28 – SUPRIMIDO🙊🙊🙊
Diogo – 00:50:13 – Ia ser engraçado pq este cara batia na
lava jato.. Mas como a lava jato começou a pegar o pmdb ele ia ter Q apoia lá
Dallagnol – 07:07:00 – Que tal a FTLJ fazer uma moção de
apoio a ela como capacitada etc para ser DG, sem mencionar lista triplice?
Orlando SP – 07:20:31 – Aí dá para fazer, inclusive podendo
expressamente falar q independentemente de lista, a SUPRIMIDO é um nome
excelente pará tal cargo.
Orlando SP – 08:17:31 – De outro lado, deve haver uma dúzia
aguardando para ser o escolhido, q ficarão bem contrariados. Temer não cometerá
este erro primário de colocar alguém desvinculado do MJ e dele próprio na PF.
Ele não é amador
P.N.I.. – 10:52:46 – Creio que cada um no seu quadrado.
Gosto da SUPRIMIDO, mas me sinto entrando em discussão de uma questão que vai
além da simples simpatia. Pode ser um passo maior que a perna por parte dela.
Além disso é um assunto de outra corporação.
Paulo Galvão – 11:41:46 – Segue petição de desmembramento do
acordo do Cerveró – deixo p o grupo responsável analisar
Paulo Galvão – 11:42:39 – Mas vejo que, sobre o filho do
FHC, é um termo que ficou no STF por conta do Delcídio e teria vindo para cá
por cópia. É o mesmo termo que trata da GE, lembrando que a GE protocolou
petição querendo colaborar e está fazendo investigação interna
Dallagnol – 12:04:38 – se veio pra cá, é nosso
Dallagnol – 12:04:40 – se veio pra cá com cópia, é nosso
Dallagnol – 12:04:46 – se pensaram em mandar pra cá, é nosso
tb
DELTAN DALLAGNOL E SERGIO MORO
13 de abril de 2017
Moro – 09:07:39 – Tem alguma coisa mesmo seria do FHC? O que
vi na TV pareceu muito fraco?
Moro – 09:08:18 – Caixa 2 de 96?
Dallagnol – 10:50:42 – Em pp sim, o que tem é mto fraco
Moro – 11:35:19 – Não estaria mais do que prescrito?
Dallagnol – 13:26:42 – Foi enviado pra SP sem se analisar
prescrição
Dallagnol – 13:27:27 – Suponho que de propósito. Talvez para
passar recado de imparcialidade
Moro – 13:52:51 – Ah, não sei. Acho questionável pois
melindra alguém cujo apoio é importante
CHAT CONEXÃO BSB-CWB
13 de abril de 2017
Dallagnol – 11:42:54 – Caros o fato do FHC é só caixa 2 de
96? Não tá prescrito? Teve inquérito?
Sergio Bruno Mpdft – 11:51:25 – Mandado pra SP
Sergio Bruno Mpdft – 11:51:44 – Não analisamos prescrição
Dallagnol – 13:26:11 –👍👍😉
DELTAN DALLAGNOL, PAULO GALVÃO E CARLOS FERNANDO SANTOS LIMA
20 de maio de 2018
Dallagnol – 01:46:42 – CF, só tem 2 (ex) presidentes presos:
Lula e Humala no peru
Dallagnol – 01:48:12 – Opa o Jorge Glas no equador tb
Dallagnol – 01:48:38 – No BR, vou considerar como
investigados Temer, Collor, Sarey e Lula
Dallagnol – 01:49:07 – (excluindo Dilma e FHC – não lembro
de investigações sobre eles fora o que tá bem sigiloso da dilma, sem conclusão)
Dallagnol – 01:49:55 – Tem um quarto com prisão decretada,
mas foragido, o Maurício Funes, de El Salvador
Dallagnol – 01:53:59 – segue artigo com atualiação dos
números de presientes investigados e presos. Faltam estados do BR, que terei na
segunda
Dallagnol – 01:54:08 – Quem pode olhar o artigo agora?
Dallagnol – 01:54:21 – ANEXO SUPRIMIDO
Dallagnol – 01:54:49 – CF, como PG viu depois de Vc, olha Vc
o artigo agora e veja se está OK. Se não, faça alterações e passa pro Paulo.
Seria bom se pudermos fechar na segunda.
21 de maio de 2018
Santos Lima – 12:58:22 – Fiz algumas substituições.
Secretary of state é um dos ministérios. A palavra para ministério é cabinet. A
FGV é uma think tank (ela mesma assim se coloca). “other ilicits é fraco,
coloquei white collar and electoral crimes,
Santos Lima – 12:59:03 – Algumas frases soltas eu coloquei
entre vírgulas. Ficou grande, mas creio que ficou mais readable.
Santos Lima – 12:59:25 – ANEXO SUPRIMIDO
Santos Lima – 13:01:48 – Tirei future na última frase e
coloquei a brazilian progressive era para fechar com o começo.
SUSPEITAVA-SE que a Lava Jato era um grupo político
articulado entre membros do Ministério Público e o judiciário. Os indícios
apontavam um conluio entre procuradores e um juiz que atuava para influenciar o
jogo político-partidário e manipular a opinião pública. Faltava o batom na
cueca. Não falta mais.
Os diálogos revelados pelo Intercept mostram que a Lava Jato
desfilava como uma deusa grega da ética na sociedade, mas atuava à margem da
lei na alcova. Em nome do combate à corrupção, o conluio atropelou princípios
jurídicos básicos e arrombou o estado de direito. As provas são tão explícitas
que não há mais espaço para divergências.
A Lava Jato usou indevidamente o aparato jurídico para
atender interesses políticos. O Código de Ética do Ministério Público, o
estatuto da magistratura e a Constituição foram todos burlados. É um caso claro
de corrupção.
Durante o processo que levou um ex-presidente para a cadeia,
o juiz orientou, recomendou alterações de estratégias, antecipou uma decisão e
até indicou uma testemunha para acusação. A defesa, que reiteradamente pediu a
suspeição do juiz, fazia papel de trouxa enquanto ele e o procurador combinavam
estratégias de acusação pelos seus celulares.
No grupo do Telegram batizado de “Incendiários ROJ”,
integrado por procuradores da Lava Jato, Dallagnol demonstrava preocupação com
a principal prova da acusação. A convicção demonstrada em público contrastava
com a insegurança no escurinho do Telegram. As conversas mostram a obsessão de
Dallagnol em manter o caso de Lula nas mãos de Moro a qualquer custo. Os
“incendiários” tinham plena consciência de que estavam ultrapassando os limites
da irresponsabilidade.
Moro e Dallagnol enganavam a opinião pública quando em
diversas oportunidades garantiram a lisura do processo. O réu não teve direito
a um julgamento justo e imparcial. Os diálogos revelam uma articulação de
estratégias para condená-lo mesmo antes da apresentação da denúncia. O processo
foi corrompido, comprometendo o julgamento das instâncias superiores. Qualquer
interpretação diferente dessa está fadada ao ridículo e cairá na lata do lixo
da história.
O juiz e os procuradores se viam como heróis com uma missão:
“limpar o congresso”. Mas essa limpeza era seletiva. A Lava Jato criaria
aliados na política. O então deputado Onyx Lorenzoni dos Democratas se tornou
um deles. Ele foi o principal apoiador das “Dez medidas contra a corrupção” — o
projeto de lei criado pelos procuradores lavajatistas disfarçado de iniciativa
popular.
Quando perguntado pelo Estadão sobre a intenção de “limpar o
congresso”, Sergio Moro se mostrou inseguro. Primeiro não reconheceu a
autenticidade da frase. Depois a justificou. E, por fim, afirmou não lembrar se
é o autor.
Estadão: Em um diálogo que lhe é atribuído, o sr. fala em
limpar o Congresso. O sr. reconhece essa fala como sua?
Moro: Não, não reconheço a autenticidade desse tipo de
afirmação. Vamos dizer assim, em uma conversa coloquial, pode ser até algo que
se diga “olha, tem um problema”. Vamos dizer que estamos falando de um
Congresso que na época tinha o Eduardo Cunha como presidente (da Câmara), uma
pessoa que comprovadamente cometeu crimes, tinha contas milionárias na Suíça,
então era uma situação bastante diferente. Mas eu não tenho como recordar se há
dois, três anos atrás eu tenha efetuado uma afirmação dessa espécie
O uso do poder do Estado para interferir nas eleições também
está explícito nas conversas entre procuradores. Faltando 12 dias para a
eleição, os lavajatistas traçaram estratégias para impedir a entrevista de Lula
e dificultar a vitória de Haddad.
Moro chega a chamar réus de “inimigos” em uma conversa com
Dallagnol. Está tudo ali, textualmente. Meses depois, a Lava Jato emplacou um
ministro da Justiça no governo Bolsonaro. Onyx acabou virando colega de
trabalho de Sergio Moro, que o perdoou publicamente pelos casos de caixa 2
(inclusive o da JBS, uma das empresas investigadas pela Lava Jato).
Haverá alguém capaz de continuar negando as intenções
políticas da operação?
Acreditava-se que Moro trabalhava como linha auxiliar da
acusação, mas ficou claro que ele era o chefe da Lava Jato. Ele dava broncas,
cobrava ações e recomendou a Dallagnol que enquadrasse uma procuradora que
apresentou mau desempenho nas audiências. Dallagnol prestava reverências a
Moro, muitas vezes usando um tom messiânico: “A sociedade quer mudanças, quer
um novo caminho, e espera líderes sérios e reconhecidos que apontem o caminho.
Você é o cara”.
Em um dos trechos do vazamento, Dallagnol revela que teve
uma conversa — “reservada, é claro” — com o ministro do STF Luiz Fux. Nessa
época, Moro tinha sido duramente criticado pelo ministro Teori Zavascki, morto
num acidente aéreo em 2017, que questionou sua imparcialidade após a divulgação
ilegal do áudio da conversa entre Dilma e Lula.
Dallagnol conta para os procuradores que “Fux disse quase
espontaneamente que Teori fez queda de braço com Moro e viu que se queimou”. Ou
seja, segundo Fux, na queda de braço entre um juiz de primeira instância que
cometeu ilegalidade e um juiz da suprema corte, venceu o primeiro. Esse é o
tamanho do poder que Sergio Moro tem sobre o judiciário brasileiro.
Dallagnol revelou ainda que, segundo Fux, os procuradores da
Lava Jato podiam contar com ele o que fosse preciso. A força-tarefa contava com
um homem de confiança no STF. As palavras de Dallagnol deixam claro que Fux não
se debruçaria sobre o mérito no caso, mas atuaria de acordo com o que foi
combinado com o conluio lavajatista. Ao saber da conversa, Moro comemorou “In
Fux we trust” (No Fux, a gente confia).
As primeiras reações de Moro e Dallagnol com a Vaza Jato
foram reveladoras. Nenhum deles negou as conversas, o que sugere uma confissão
indireta da autenticidade. Preferiram minimizar o conteúdo dos diálogos e
investir na imagem de vítimas de violação de privacidade.
Sergio Moro, chamado de “russo” pelos procuradores, não viu“nada demais” na reportagem, mas considerou “bastante grave” a “invasão e a
divulgação”. Em entrevista a Pedro Bial em abril, o ministro da Justiça deu uma
opinião diametralmente oposta sobre o vazamento ilegal da conversa entre Lula e
Dilma: “o problema ali não era a captação ilegal do diálogo e sua divulgação. O
problema era o conteúdo do diálogo.”
O desespero tomou conta da força-tarefa. Três notas foram
emitidas após a publicação da reportagem, enfatizando a “ação criminosa de um
hacker” — o que era apenas uma suposição. Sem ter como negar os fatos, a Lava
Jato iniciou uma guerra de narrativas. Manchetes sobre hackers invadindo
celulares de procuradores passaram a pipocar no noticiário, numa tentativa de
jogar areia nos olhos da opinião pública. Relacionar essas invasões com o que
foi publicado pelo Intercept não serve a outro objetivo senão embaçar a
realidade.
Moro e Lava Jato mudaram a versão inicial. Passaram a dizer
que os hackers poderiam ter adulterado os conteúdos, mesmo após não terem
negado nem uma vírgula. Essa não vai colar. A força-tarefa teria totais
condições de comprovar a adulteração. Bastaria resgatar os arquivos das
conversas no Telegram e comparar com o que foi publicado. Curiosamente, a
maioria dos procuradores que foram alvos de ataque cibernético, incluído Dallagnol, tem relutado em entregar seus celulares para a perícia da Polícia
Federal.
A Globo, como tem sido costume da imprensa nos últimos anos,
abraçou integralmente a versão lavajatista e atuou como gestora de redução de
danos. Uma suposta invasão de hackers ganhou mais relevância no noticiário
global que o hackeamento da ordem jurídica comandado pela Lava Jato.
Minimizaram um fato e maximizaram uma suposição.
No dia seguinte à publicação da Vaza Jato, O Globo deu o
mesmo peso de importância para as “conversas de Moro com procuradores” e para a
“ação de hackers”. Diferentemente do que aconteceu em 2016, quando o jornal
publicou a conversa entre Lula e Dilma na capa do jornal sem sequer citar a
ilegalidade do vazamento. Sergio Moro e Globo estão sintonizados na mesma
incoerência.
Capas do jornal O Globo em 17 de março de
2016 e 11 de junho
de 2019.
Carlos Sardenberg, um dos principais colunistas do jornal,
não viu nada demais nos diálogos. Em sua última coluna, chamou o conluio entre
juiz e acusador de “coordenação formal de trabalho” e os métodos da Lava Jato
de “inovação na investigação”. Parece que Sardenberg combinou só com o “russo”.
Faltou combinar com a Constituição. Ele termina a coluna dizendo que o “pessoal
do Intercept Brasil não faz jornalismo. É pura militância”. Isso me leva a crer
que o jornalista não publicaria os diálogos se os tivesse recebido. Se
dependesse desse tipo de jornalismo, a população não saberia que funcionários
públicos atuaram à margem da lei.
Criou-se agora um falso debate sobre a publicação dos
vazamentos. Mas não existe dilema ético quando se publica fatos de interesse
público que os poderosos queriam esconder. Essa é a função principal e mais
nobre do jornalismo.
É importante esclarecer que as revelações da Vaza Jato não
provam a inocência de todos os acusados pela operação. Prova apenas que a Lava
Jato não é inocente e que os processos comandados por ela estão contaminados
por interesses políticos. Essa não é uma história de mocinhos contra bandidos.
A Lava Jato ganhou poderes imensos. Com apoio da imprensa e
da população, conseguiu colocar um ex-presidente na cadeia com provas frágeis,
peitou o STF e emplacou um ministro da Justiça. A força-tarefa chegou até a
pleitear a administração de um fundo bilionário privado, que seria financiado
pelas multas pagas pela Petrobrás.
Em nome de um bem maior, boa parte do jornalismo brasileiro
abdicou de fiscalizar esse que hoje é o núcleo político mais poderoso do país.
Preferiu atuar como porta-voz da República de Curitiba. A história se
encarregará de separar os jornalistas que cumpriram o seu papel fiscalizador do
poder dos que preferiram ignorar os fatos e surfar a onda fácil do lavajatismo.
O apoio popular estava ancorado na crença de que esses heróis
trabalhavam com máxima transparência e rigor ético. O povo foi enganado. Não
foi à toa que Sergio Moro perdeu 10 pontos de popularidade logo após à Vaza
Jato.
Mas o ministro da Justiça de Bolsonaro ainda é a figura
política mais popular do país. Mesmo com os fatos escancarados, ainda vai
demorar para o mito se desfazer. Divindades não são desconstruídas do dia pra
noite.
Sergio Moro sonhou entrar para a história como Giovanni
Falcone, o juiz que enfrentou a máfia italiana. Mas pode acabar como o justiceiro
“russo”, um miliciano jurídico que hackeou a ordem constitucional para combater
seus “inimigos”.
Antes de deixar o ministério e provavelmente ser preso, Sergio Moro poderia ao menos fazer um ato digno de despedida e enfim responder à nação onde está o Queiroz! Não perdoaria os crimes passados, mas seria razoável...