Após manifestações golpistas, o Jornal Nacional, da Globo,
detonou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) após discurso e ataques à
democracia.
Foto: Reprodução
Durante pronunciamento na Avenida Paulista (SP), o presidente
voltou a atacar STF. Ele declarou que não respeitará “qualquer decisão” do
ministro Alexandre de Moraes. Bolsonaro também xingou o magistrado de “canalha”
e pediu sua saída diante de milhares de apoiadores.
O “Jornal Nacional” foi direto ao ponto. “O desrespeito à
democracia com as cores da nossa bandeira. Em diversas brasileiras,
bolsonaristas insuflados pelo presidente da República usam o verde e amarelo,
mas atacam pilares da Constituição. Em tom golpista o presidente discursa em
Brasília e em São Paulo. Diz que respeita a Constituição, mas na mesma frase
volta a ameaçar o STF.”
Telejornal da Globo desmentiu Bolsonaro, dizendo que as
manifestações “não foram pequenas e reuniram milhares de pessoas em todos os 26
estados e no Distrito Federal”
A matéria começou dizendo que Bolsonaro se pronunciou
publicamente, nesta segunda, pela primeira vez, sobre as manifestações contra
ele, que tomaram as ruas brasileiras no sábado.
“Vocês sabem por que teve pouca gente nessa manifestação da
esquerda no fim de semana? Porque a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária
Federal estão apreendendo muita maconha pelo Brasil. Faltou erva e dinheiro
para o movimento aí”, disse o presidente.
O JN desmentiu Bolsonaro, dizendo que as manifestações “não
foram pequenas e reuniram milhares de pessoa em todos os 26 estados e no
Distrito Federal”. Mostrou imagens aéreas dos atos pelo impeachment e por
vacina para todos em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.
Violência
Em seguida, o telejornal mostrou a violência policial
praticada durante a manifestação em Recife e destacou: “O governo de Pernambuco
ainda não sabe de quem partiu a ordem para a PM usar balas de borracha contra manifestantes.
Dois homens que passavam pelo local foram atingidos nos olhos”.
Na sequência, relatou o caso de Jonas Correia de França, de
29 anos, que tinha ido comprar carne e acabou como vítima da ação policial. O
JN entrevistou o rapaz e, também, sua esposa, Daniella Barreto.
A reportagem contou que ele foi atingido no olho direito e
será submetido a uma cirurgia nesta quarta (2). Mas, segundo a família, perdeu
a visão. “Eles não são dignos de usar uma farda dessa, porque policial é para
proteger cidadão, não para espancar”, declarou Jonas.
O JN apresentou, ainda, imagens de Daniel Campello, de 51
anos, atingido no olho esquerdo. Ele passou, nesta segunda, por uma cirurgia e
está internado no mesmo quarto de Jonas.
Na sequência, a reportagem disse que o governo de Pernambuco
vai indenizar as famílias e que, até agora, cinco policiais foram afastados,
incluindo o comandante da operação. Ao final do destaque, o telejornal
entrevistou a vereadora por Recife, Liana Cirne Lins (PT), alvo de spray de
pimenta por parte de um policial.
Clima quente
O JN ressaltou, ainda, que a semana começou com clima quente
em Brasília, com as repercussões das manifestações. A matéria ouviu senadores
governistas, que tentaram desqualificar os atos, e da oposição, que destacaram
o peso do ato que levou milhares de pessoas às ruas.
Bolsonaro Debochou das Manifestações de sábado dia 29 de
maio e o Jornal Nacional debochou do Bolsonaro mostrando as manifestações
contra Bolsonaro, pedindo Impeachment dele. A Maior manifestação Contra
Bolsonaro.
Sobre as manifestações de sábado no Jornal Nacional, muito mais fiel à realidade do que a capa de alguns jornalões de domingo. pic.twitter.com/P6PuvuYzja
— Fernanda Melchionna (@fernandapsol) June 1, 2021
247 - O Ministério Público Federal afirma que há
fortes indícios do crime de lavagem de dinheiro pelo senador Flávio Bolsonaro
no período em que era deputado estadual no Rio de Janeiro. A investigação do
Ministério Público Federal apurou vários negócios envolvendo Flávio Bolsonaro
em operações de compra e venda de imóveis entre junho de 2005 e maio de 2018 e
analisou 37 transações imobiliárias. Em pelo menos três dessas operações, o
procurador Sérgio Pinel percebeu indícios de irregularidades.
Reportagem doJornal Nacional da Rede Globo da noite da
terça-feira aponta que a compra de um imóvel no bairro de Laranjeiras, na Zona
Sul do Rio, teve uma das parcelas pagas pelo sargento da Polícia Militar Diego
Sodré de Castro Ambrósio, suspeito de participar do esquema de rachadinha no
gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.
O procurador observa que o policial teria realizado outras
transações suspeitas, movimentando quantias em espécie, em suas contas
correntes, incompatíveis com o cargo que ocupa. Outros dois imóveis comprados
por Flávio Bolsonaro e a esposa dele no bairro de Copacabana também chamaram a
atenção dos investigadores. Em ambos, os imóveis foram vendidos em pouco mais
de um ano com valorização acima de 200%.
É a primeira vez que o Ministério Público Federal se
manifesta claramente sobre as suspeitas de que Flávio Bolsonaro cometeu crimes
em operações imobiliárias.
No Twitter:
O Ministério Público Federal afirma que há fortes indícios do crime de lavagem de dinheiro cometido pelo senador Flávio Bolsonaro. A investigação apurou vários negócios suspeitos do filho do presidente de compra e venda de imóveis. pic.twitter.com/2Zrziwq1hx
Este texto foi publicado originalmente na newsletter do Intercept Brasil. Assine. É de graça, todos os sábados, na sua caixa de
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NO ÚLTIMO DOMINGO, o Brasil foi surpreendido por três
reportagens explosivas publicadas pelo TIB. Nelas, nós mostramos as entranhas
da Lava Jato e mergulhamos fundo em poderes quase nunca cobertos pela imprensa.
Quase todos os jornalistas que eu conheço preferem se manter afastados disso:
apontar o dedo para procuradores e juízes é, antes de tudo, perigoso em muitos
níveis – eles têm razão.
As primeiras reações dos envolvidos no escândalo foram
essas: O MPF preferiu focar em hackers, e não negou a autenticidade das
mensagens. Sergio Moro disse que não viu nada de mais, ou seja: não negou a
autenticidade das mensagens.
Moro, na verdade, se emparedou: em entrevista ao Estadão,
ele inicialmente não reconhece como autêntica uma frase que ele mesmo disse.
Mas depois diz que pode ter dito. E depois ainda diz que não lembra se disse.
Moro está em estado confusional.
É evidente que nem Moro, nem Deltan e nem ninguém podem
negar o que disseram e fizeram. O Graciliano Rocha, do BuzzFeed news, mostrouque atos da Lava Jato coincidiram com orientações de Moro a Deltan no Telegram.
Moro mandou, o MPF obedeceu. Isso não é Justiça, é parceria. Ontem nós
mostramos a mesma coisa: Moro sugeriu que o MPF atacasse a defesa de Lula
usando a imprensa, e o MPF obedeceu. Quem chefiava os procuradores? Só não vê
quem não quer.
A imprensa séria virou contra Sergio Moro e Deltan Dallagnol
em uma semana graças às revelações do TIB. O Estadão, mesmo que ainda
fortemente aliado de Curitiba, pediu a renúncia de Moro e o afastamento dosprocuradores. A Veja escreveu um editorial contundente (“Moro ultrapassou de
forma inequívoca a linha da decência e da legalidade no papel de magistrado.”)
e publicou uma capa demolidora. A Folha está fazendo um trabalho importante com
os diálogos, publicando reportagens de contexto absolutamente necessárias.
Foto: Leandro Demori/The Intercept Brasil
Durante cinco anos, a Lava Jato usou vazamentos e relacionamentos
com jornalistas como uma estratégia de pressão na opinião pública. Funcionou, e
a operação passou incólume, sofrendo poucas críticas enquanto abastecia a mídia
com manchetes diárias. Teve pista livre para cometer ilegalidades em nome do
combate a ilegalidades. Agora, a maior parte da imprensa está pondo em dúvida
os procuradores e o superministro.
Mas existe uma força disposta a mudar essa narrativa. A
grande preocupação dos envolvidos agora, com ajuda da Rede Globo – já que não
podem negar seus malfeitos – é com o “hacker”. E também nunca vimos tantos
jornalistas interessados mais em descobrir a fonte de uma informação do que com
a informação em si. Nós jamais falamos em hacker. Nós não falamos sobre nossa
fonte. Nunca.
Já imaginou se toda a imprensa entrasse numa cruzada para
tentar descobrir as fontes das reportagens de todo mundo? A quem serve esse
desvio de rota? Por enquanto nós vamos chamar só de mau jornalismo, mas talvez
muito em breve tudo seja esclarecido. Nós já vimos o futuro, e as respostas
estão lá.
A ideia é tentar nos colar a algum tipo de crime – que não
cometemos e que a Constituição do país nos protege. Moro disse que somos“aliados de criminosos”, em um ato de desespero. Isso não tem qualquer
potencial para nos intimidar. Estamos apenas no começo.
Esse trabalho todo que estamos fazendo só acontece graças ao
esforço de uma equipe incrível aqui no TIB. De administrativo a redes sociais,
de editorial a comunicações, todos estão sendo absolutamente fantásticos. Nós
queremos agradecer imensamente por tudo, e pedir para que vocês nos ajudem a
continuar reportando esse arquivo.
Imperdível a leitura, tanto pelas chicanas jurídicas que envolvem a construção irregular que já se mandou demolir quanto pelas peripécias e ousadias necessárias a chegar-se (perto) de uma praia pública.
Mas se o Renan foi, diversas vezes, convidado a se retirar de perto do triplex global, este blog aqui, a convite do Google, foi convidado a entrar.
E ver com detalhes o que pode comprar o dinheiro de uma concessão pública, porque é isso o que é a Globo, igualzinha a uma empresa de ônibus
É de ficar de queixo caído.
Não tem garça de cerâmica, nem pedalinho, como em Atibaia.
Mansão de donos da Globo é alvo da Lava Jato no esquema Mossack Fonseca
Documentos ligam obra ilegal dos Marinho a empresas investigadas por outras operações suspeitas. Será curioso assistir a William Bonner noticiando uma operação da PF na mansão dos Marinho
A mansão de praia construída ilegalmente em área de preservação ambiental em Paraty, da família Marinho, dona da TV Globo, tem documentos em nome de uma empresa que, em cuja cadeia societária, encontram-seoffshores investigadas na Operação Lava Jato e na Operação Ararath, da Polícia Federal. O imóvel dos Marinhos, portanto, tecnicamente, só não está no nome dos donos de fato. Situação mais grave que a do processo de compra do tríplex no Guarujá, que tentaram erroneamente atribuir ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em busca da produção de notícias desgastantes para sua figura política.
Segundo reportagem do Diário do Centro do Mundo, a mansão está em nome da empresa Agropecuária Veine, tendo como sócio-administrador Celso de Campos. A Secretaria de Patrimônio da União confirma a ocupação de três terrenos litorâneos da União por esta empresa na área onde está a mansão, o maior deles na certidão abaixo.
Nos dados abertos da Receita Federal, a Agropecuária Veine tem como endereço um apartamento residencial no Rio de Janeiro, em Copacabana, e tem no quadro de sócios outra empresa: a Vaincre LLC, domiciliada no exterior, cujo representante legal por procuração é Lucia Cortes Rosemburge, ex-funcionária do INSS, aposentada em 2008, salvo homônimo.
A Vaincre LLC tem CNPJ registrado, mas chama atenção o endereço incompleto no cadastro desde 2005, onde nem sequer informa a cidade, estado e país. Também não tem telefone nem e-mail de contato. E não tem informações sobre o quadro de sócios. Tudo isso dificulta entregar notificações judiciais, autuações administrativas ou operações de busca e apreensão, se necessárias.
Mas descobrimos que o endereço é de Las Vegas, no estado de Nevada, nos Estados Unidos.
O endereço da Vaincre LLC – 520, S7TH Street, Suite C, Las Vegas, Nevada (EUA) – é exatamente o mesmo da Murray Holdings LLC, a empresa offshore dona de um apartamento tríplex no Guarujá, no edifício em que o ex-presidente Lula quis comprar apartamento e desistiu, levando a mídia tradicional a produzir a onda de boatos de que ele seria dono. Os reais proprietários do apartamento, que nada tem a ver com o ex-presidente, foram alvo da 22ª fase da Operação Lava Jato, chamada de Triplo-X.
Além das duas empresas terem o mesmo endereço em Las Vegas, têm o mesmo representante legal e o mesmo gestor. A Vaincre LLC da mansão dos Marinho e Murray Holdinds LLC do Guarujá tem como representante legal a MF Corporate Service e tem como gestora a Camille Services SA, uma offshore no Panamá, cujo endereço é uma "P.O.box" (caixa postal) de número 0832-0886.
A Camille Services SA tem entre seus dirigentes Francis Perez, Leticia Montoya e Katia Solano, nomes citados no escândalo de suposta lavagem de US$ 100 milhões do ex-presidente da Nicarágua Arnoldo Alemán (1997-2002) e da Fundação Voyager, sediada na Costa Rica.
A MF Corporate Service é uma empresa do Grupo Mossack Fonseca, investigado nos Estados Unidos por suspeita de lavagem de dinheiro e no Brasil, antes da Lava Jato, na Operação Ararath, cujas empresas envolvidos estão no quadro abaixo, com o mesmo endereço, mesmo representante legal e mesmo administrador usado no esquema da mansão.
Agora não há como o Ministério Público Federal e a Polícia Federal deixarem de investigar o uso de offshoressuspeitas em paraísos fiscais para adquirir esta mansão, no mesmo esquema usado nas operação Triplo-X e Ararath, com o agravante de estar edificada em terreno da União e de ter desmatado área bem maior do que a lei permite.
Será curioso assistir como o apresentador William Bonner noticiará uma operação da Polícia Federal na mansão dos Marinho.
Há uma justiça poética nesta história. O Jornal Nacional e a revista Época fizeram reportagens acusatórias e improcedentes, típicas de assassinato de reputação, alimentando-se de boatos de que o ex-presidente Lula estaria ocultando patrimônio. Isso ignorando documentos que já provavam serem completamente falsas tais acusações. Agora, quem pode estar ocultando patrimônio de fato é alguém no caso da mansão. Afinal, por que montar uma complexa estrutura societária, com empresas aparentemente de fachada, passando por empresas em paraísos fiscais – que ocultam os verdadeiros donos – em vez de colocar em nome de alguma das empresas do Grupo Globo ou das pessoas físicas titulares do imóvel?
No popular, podemos dizer que atiraram no ex-presidente Lula e acertaram, sem querer, nos pés da família Marinho.