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quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Gigante da carne brasileira é criticada por supostamente enganar investidores

 

A JBS vendeu mais de US $ 3 bilhões em 'títulos verdes' nos EUA, mas um grupo de vigilância diz que seu impacto nas florestas amazônicas desmente suas promessas




Um pequeno grupo ativista chamado Mighty Earth está enfrentando a gigante brasileira de alimentos JBS para saber se seus títulos “verdes” merecem essa conotação ecológica.


Em 2021, a JBS, a maior empresa de carnes do mundo e gigantesca empresa de processamento de alimentos, vendeu US$ 3,2 bilhões em “títulos verdes” vinculados às metas de sustentabilidade da empresa. Se a JBS não atingir suas metas de emissões de gases de efeito estufa, será penalizada e pagará aos detentores de títulos um “valor elevado ou pagamento de prêmio”, diz a empresa.


Na terça-feira, a Mighty Earth apresentou uma reclamação à Securities and Exchange Commission alegando que a JBS já não está cumprindo suas metas de emissões. A Mighty Earth quer que a agência imponha penalidades e liminares à empresa brasileira, que diz ter contribuído ou ignorado o desmatamento realizado por seus fornecedores.


“Vemos a JBS como uma das três empresas fundamentais para mudar toda a indústria da carne”, disse Glenn Hurowitz, fundador e presidente-executivo da Mighty Earth. “Tem de longe as maiores emissões de qualquer empresa na agricultura.” As emissões de metano da empresa excedem o total combinado da França, Alemanha, Canadá e Nova Zelândia, disse o grupo.


A JBS contesta as acusações. Ele disse que US$ 7 bilhões seriam “canalizados” para a sustentabilidade. Ela planeja adotar energia solar suficiente para todas as suas lojas Swift & Company, uma empresa americana adquirida em 2007. Ela firmou uma parceria com a empresa europeia de saúde e nutrição DSM para reduzir as emissões de metano de seus rebanhos bovinos. E a empresa planeja mais de US$ 1 bilhão em gastos de capital na próxima década para reduzir a intensidade das emissões de gases do efeito estufa em 30%.


Nikki Richardson, porta-voz da JBS, disse por e-mail que a empresa espera reduzir suas emissões de Escopo 3 — impactos climáticos causados ​​por fornecedores e outras entidades que a empresa não controla diretamente.


“Embora reconheçamos a importância de medir e, finalmente, reduzir as emissões do escopo 3, um método amplamente aceito para medir as emissões do escopo 3 não existe atualmente para o nosso setor”, disse a JBS em um documento.


A reclamação desta semana ocorre quando a SEC deve revelar até abril novas regras sobre divulgações relacionadas ao clima. As organizações ambientais esperam que essas regras aumentem a transparência, exigindo que as empresas emitam relatórios periódicos sobre os riscos relacionados ao clima e seus impactos no meio ambiente.


Em alguns casos, a SEC já atuou nessa frente. Em novembro passado, a SEC acusou o Goldman Sachs Asset Management de deturpar dois de seus fundos mútuos e uma conta gerenciada separadamente que o Goldman havia comercializado, que apresentava investimentos ambientais, sociais e de governança. Para resolver as acusações, a GSAM concordou em pagar uma multa de US$ 4 milhões.


Mas as novas regras da SEC terão de lidar com a questão mais ampla de como as empresas calculam as emissões provenientes de fontes que não possuem ou controlam.


“Este é um ótimo exemplo de por que os investidores precisam desesperadamente de divulgações padronizadas de riscos financeiros climáticos”, disse David Shadburn, defensor de assuntos governamentais da League of Conservation Voters. “A empresa conseguiu se beneficiar de um título vinculado à sustentabilidade e fazer uma lavagem verde para potenciais investidores.” Ele disse que 90% das emissões da JBS vêm de sua cadeia de suprimentos.


Os desmatadores estão saqueando a Amazônia. O Brasil está deixando eles se safarem.


A JBS não contesta a necessidade de medidas corporativas para frear as mudanças climáticas. Em março de 2021, a empresa se comprometeu a atingir zero emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2040.


“A mudança climática é a questão mais premente que a sociedade enfrenta hoje e tem o potencial de impactar negativamente as gerações futuras se uma ação ousada não for tomada imediatamente”, disse a empresa separadamente em uma “estrutura” publicada para investidores em títulos em junho de 2021. “Esta questão também representa riscos significativos para nossos negócios, nossos parceiros produtores, clientes e consumidores”.


Mighty Earth defende mais divulgação. Ele diz que, para um processador de carne como a JBS, os números do abate total de animais são um “componente indispensável” das emissões totais de gases de efeito estufa da empresa. Apesar disso, a JBS escondeu seus números totais de abate de animais desde 2017, disse o grupo.


A JBS diz que não enganou os investidores. Richardson disse em um e-mail que seus títulos estavam vinculados apenas às emissões de escopo 1 e 2 e apenas à intensidade das emissões, o que significa que as emissões poderiam continuar a crescer se o negócio também crescesse.


“É importante ressaltar que esses títulos não se destinam a financiar todo o processo de descarbonização”, disse Richardson. Ela disse que eles foram “claramente projetados e estruturados” para atender às instalações da JBS sob controle da empresa.


“Devemos começar com elementos sobre os quais temos controle direto e que possuem diretrizes de medição robustas e confiáveis”, disse a empresa em um comunicado.


A JBS está buscando tempo, no entanto, para impedir a destruição das florestas tropicais causada pela produção de carne bovina. A empresa disse que eliminará o desmatamento ilegal da Amazônia de sua cadeia de suprimentos até 2025, mas não interromperá completamente o desmatamento globalmente em suas cadeias de suprimentos até 2035.


Lições da investigação do The Post sobre o desmatamento na Amazônia


Em novembro passado, a JBS admitiu ter comprado cerca de 9.000 cabeças de gado de fazendas ilegais na Amazônia. A JBS disse ter sido vítima de uma fraude.


Fundada em 1953 no oeste do Brasil, a JBS se expandiu do Brasil e da Argentina para os Estados Unidos e além. Embora não seja muito conhecida, adquiriu o negócio de suínos da Cargill, o negócio de carne bovina da Smithfield Foods e a maior parte da produção de frango da Pilgrim's Pride.


Em 2017, a JBS foi envolvida em investigações de financiamento e suborno no Brasil. Nos últimos cinco anos, resolveu quatro casos de fixação de preços nos Estados Unidos e pagou US$ 27 milhões por violações da Lei de Práticas de Corrupção no Exterior.


A Mighty Earth diz que a JBS “escolhe e escolhe o que divulgará e para quem sobre suas emissões de gases de efeito estufa”.


A organização diz que a JBS está pensando em explorar os mercados de capitais dos EUA para uma oferta pública, mas a disputa sobre as emissões pode dificultar isso.


“A JBS quer dólares americanos de nossos mercados de capitais”, disse Kevin Galbraith, advogado da Mighty Earth. “Ao mesmo tempo, eles não querem o escrutínio regulatório que acompanhará isso.”


Fonte: The Washington Post


segunda-feira, 17 de junho de 2019

A LAVA JATO USOU O JUDICIÁRIO PARA FINS POLÍTICOS




SUSPEITAVA-SE que a Lava Jato era um grupo político articulado entre membros do Ministério Público e o judiciário. Os indícios apontavam um conluio entre procuradores e um juiz que atuava para influenciar o jogo político-partidário e manipular a opinião pública. Faltava o batom na cueca. Não falta mais.

Os diálogos revelados pelo Intercept mostram que a Lava Jato desfilava como uma deusa grega da ética na sociedade, mas atuava à margem da lei na alcova. Em nome do combate à corrupção, o conluio atropelou princípios jurídicos básicos e arrombou o estado de direito. As provas são tão explícitas que não há mais espaço para divergências.



A Lava Jato usou indevidamente o aparato jurídico para atender interesses políticos. O Código de Ética do Ministério Público, o estatuto da magistratura e a Constituição foram todos burlados. É um caso claro de corrupção.
Durante o processo que levou um ex-presidente para a cadeia, o juiz orientou, recomendou alterações de estratégias, antecipou uma decisão e até indicou uma testemunha para acusação. A defesa, que reiteradamente pediu a suspeição do juiz, fazia papel de trouxa enquanto ele e o procurador combinavam estratégias de acusação pelos seus celulares.

No grupo do Telegram batizado de “Incendiários ROJ”, integrado por procuradores da Lava Jato, Dallagnol demonstrava preocupação com a principal prova da acusação. A convicção demonstrada em público contrastava com a insegurança no escurinho do Telegram. As conversas mostram a obsessão de Dallagnol em manter o caso de Lula nas mãos de Moro a qualquer custo. Os “incendiários” tinham plena consciência de que estavam ultrapassando os limites da irresponsabilidade.

Moro e Dallagnol enganavam a opinião pública quando em diversas oportunidades garantiram a lisura do processo. O réu não teve direito a um julgamento justo e imparcial. Os diálogos revelam uma articulação de estratégias para condená-lo mesmo antes da apresentação da denúncia. O processo foi corrompido, comprometendo o julgamento das instâncias superiores. Qualquer interpretação diferente dessa está fadada ao ridículo e cairá na lata do lixo da história.

O juiz e os procuradores se viam como heróis com uma missão: “limpar o congresso”. Mas essa limpeza era seletiva. A Lava Jato criaria aliados na política. O então deputado Onyx Lorenzoni dos Democratas se tornou um deles. Ele foi o principal apoiador das “Dez medidas contra a corrupção” — o projeto de lei criado pelos procuradores lavajatistas disfarçado de iniciativa popular.

Quando perguntado pelo Estadão sobre a intenção de “limpar o congresso”, Sergio Moro se mostrou inseguro. Primeiro não reconheceu a autenticidade da frase. Depois a justificou. E, por fim, afirmou não lembrar se é o autor.

Estadão: Em um diálogo que lhe é atribuído, o sr. fala em limpar o Congresso. O sr. reconhece essa fala como sua?

Moro: Não, não reconheço a autenticidade desse tipo de afirmação. Vamos dizer assim, em uma conversa coloquial, pode ser até algo que se diga “olha, tem um problema”. Vamos dizer que estamos falando de um Congresso que na época tinha o Eduardo Cunha como presidente (da Câmara), uma pessoa que comprovadamente cometeu crimes, tinha contas milionárias na Suíça, então era uma situação bastante diferente. Mas eu não tenho como recordar se há dois, três anos atrás eu tenha efetuado uma afirmação dessa espécie

O uso do poder do Estado para interferir nas eleições também está explícito nas conversas entre procuradores. Faltando 12 dias para a eleição, os lavajatistas traçaram estratégias para impedir a entrevista de Lula e dificultar a vitória de Haddad.

Moro chega a chamar réus de “inimigos” em uma conversa com Dallagnol. Está tudo ali, textualmente. Meses depois, a Lava Jato emplacou um ministro da Justiça no governo Bolsonaro. Onyx acabou virando colega de trabalho de Sergio Moro, que o perdoou publicamente pelos casos de caixa 2 (inclusive o da JBS, uma das empresas investigadas pela Lava Jato).

Haverá alguém capaz de continuar negando as intenções políticas da operação?


Acreditava-se que Moro trabalhava como linha auxiliar da acusação, mas ficou claro que ele era o chefe da Lava Jato. Ele dava broncas, cobrava ações e recomendou a Dallagnol que enquadrasse uma procuradora que apresentou mau desempenho nas audiências. Dallagnol prestava reverências a Moro, muitas vezes usando um tom messiânico: “A sociedade quer mudanças, quer um novo caminho, e espera líderes sérios e reconhecidos que apontem o caminho. Você é o cara”.


Em um dos trechos do vazamento, Dallagnol revela que teve uma conversa — “reservada, é claro” — com o ministro do STF Luiz Fux. Nessa época, Moro tinha sido duramente criticado pelo ministro Teori Zavascki, morto num acidente aéreo em 2017, que questionou sua imparcialidade após a divulgação ilegal do áudio da conversa entre Dilma e Lula.

Dallagnol conta para os procuradores que “Fux disse quase espontaneamente que Teori fez queda de braço com Moro e viu que se queimou”. Ou seja, segundo Fux, na queda de braço entre um juiz de primeira instância que cometeu ilegalidade e um juiz da suprema corte, venceu o primeiro. Esse é o tamanho do poder que Sergio Moro tem sobre o judiciário brasileiro.

Dallagnol revelou ainda que, segundo Fux, os procuradores da Lava Jato podiam contar com ele o que fosse preciso. A força-tarefa contava com um homem de confiança no STF. As palavras de Dallagnol deixam claro que Fux não se debruçaria sobre o mérito no caso, mas atuaria de acordo com o que foi combinado com o conluio lavajatista. Ao saber da conversa, Moro comemorou “In Fux we trust” (No Fux, a gente confia).

As primeiras reações de Moro e Dallagnol com a Vaza Jato foram reveladoras. Nenhum deles negou as conversas, o que sugere uma confissão indireta da autenticidade. Preferiram minimizar o conteúdo dos diálogos e investir na imagem de vítimas de violação de privacidade.

Sergio Moro, chamado de “russo” pelos procuradores, não viu“nada demais” na reportagem, mas considerou “bastante grave” a “invasão e a divulgação”. Em entrevista a Pedro Bial em abril, o ministro da Justiça deu uma opinião diametralmente oposta sobre o vazamento ilegal da conversa entre Lula e Dilma: “o problema ali não era a captação ilegal do diálogo e sua divulgação. O problema era o conteúdo do diálogo.”

O desespero tomou conta da força-tarefa. Três notas foram emitidas após a publicação da reportagem, enfatizando a “ação criminosa de um hacker” — o que era apenas uma suposição. Sem ter como negar os fatos, a Lava Jato iniciou uma guerra de narrativas. Manchetes sobre hackers invadindo celulares de procuradores passaram a pipocar no noticiário, numa tentativa de jogar areia nos olhos da opinião pública. Relacionar essas invasões com o que foi publicado pelo Intercept não serve a outro objetivo senão embaçar a realidade.

Moro e Lava Jato mudaram a versão inicial. Passaram a dizer que os hackers poderiam ter adulterado os conteúdos, mesmo após não terem negado nem uma vírgula. Essa não vai colar. A força-tarefa teria totais condições de comprovar a adulteração. Bastaria resgatar os arquivos das conversas no Telegram e comparar com o que foi publicado. Curiosamente, a maioria dos procuradores que foram alvos de ataque cibernético, incluído Dallagnol, tem relutado em entregar seus celulares para a perícia da Polícia Federal.

A Globo, como tem sido costume da imprensa nos últimos anos, abraçou integralmente a versão lavajatista e atuou como gestora de redução de danos. Uma suposta invasão de hackers ganhou mais relevância no noticiário global que o hackeamento da ordem jurídica comandado pela Lava Jato. Minimizaram um fato e maximizaram uma suposição.

No dia seguinte à publicação da Vaza Jato, O Globo deu o mesmo peso de importância para as “conversas de Moro com procuradores” e para a “ação de hackers”. Diferentemente do que aconteceu em 2016, quando o jornal publicou a conversa entre Lula e Dilma na capa do jornal sem sequer citar a ilegalidade do vazamento. Sergio Moro e Globo estão sintonizados na mesma incoerência.


Capas do jornal O Globo em 17 de março de
 2016 e 11 de junho de 2019.

Carlos Sardenberg, um dos principais colunistas do jornal, não viu nada demais nos diálogos. Em sua última coluna, chamou o conluio entre juiz e acusador de “coordenação formal de trabalho” e os métodos da Lava Jato de “inovação na investigação”. Parece que Sardenberg combinou só com o “russo”. Faltou combinar com a Constituição. Ele termina a coluna dizendo que o “pessoal do Intercept Brasil não faz jornalismo. É pura militância”. Isso me leva a crer que o jornalista não publicaria os diálogos se os tivesse recebido. Se dependesse desse tipo de jornalismo, a população não saberia que funcionários públicos atuaram à margem da lei.

Criou-se agora um falso debate sobre a publicação dos vazamentos. Mas não existe dilema ético quando se publica fatos de interesse público que os poderosos queriam esconder. Essa é a função principal e mais nobre do jornalismo.

É importante esclarecer que as revelações da Vaza Jato não provam a inocência de todos os acusados pela operação. Prova apenas que a Lava Jato não é inocente e que os processos comandados por ela estão contaminados por interesses políticos. Essa não é uma história de mocinhos contra bandidos.

A Lava Jato ganhou poderes imensos. Com apoio da imprensa e da população, conseguiu colocar um ex-presidente na cadeia com provas frágeis, peitou o STF e emplacou um ministro da Justiça. A força-tarefa chegou até a pleitear a administração de um fundo bilionário privado, que seria financiado pelas multas pagas pela Petrobrás.

Em nome de um bem maior, boa parte do jornalismo brasileiro abdicou de fiscalizar esse que hoje é o núcleo político mais poderoso do país. Preferiu atuar como porta-voz da República de Curitiba. A história se encarregará de separar os jornalistas que cumpriram o seu papel fiscalizador do poder dos que preferiram ignorar os fatos e surfar a onda fácil do lavajatismo.

O apoio popular estava ancorado na crença de que esses heróis trabalhavam com máxima transparência e rigor ético. O povo foi enganado. Não foi à toa que Sergio Moro perdeu 10 pontos de popularidade logo após à Vaza Jato.

Mas o ministro da Justiça de Bolsonaro ainda é a figura política mais popular do país. Mesmo com os fatos escancarados, ainda vai demorar para o mito se desfazer. Divindades não são desconstruídas do dia pra noite.

Sergio Moro sonhou entrar para a história como Giovanni Falcone, o juiz que enfrentou a máfia italiana. Mas pode acabar como o justiceiro “russo”, um miliciano jurídico que hackeou a ordem constitucional para combater seus “inimigos”.



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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Moro juiz x Moro ministro: a mudança radical de opinião sobre caixa dois




Fonte: EL PAÍS 

Ministro da Justiça e Segurança Pública atenua a gravidade do caixa dois, prática que, no passado, ele mesmo chegou a classificar como "pior que a corrupção" e "trapaça"

A cruzada de Sergio Moro pelo combate à corrupção começou a enfrentar obstáculos desde que ele deixou a toga de juiz e foi nomeado ministro da Justiça e Segurança Pública pelo presidente Jair Bolsonaro. Em um passado recente, o juiz curitibano fora celebrado durante as manifestações contra acorrupção. O Super Moro estampava camisetas e bonecos nas ruas e, enquanto a personificação da Operação Lava Jato, fazia palestras e dava entrevistas condenando veemente crimes como o caixa dois. "É uma trapaça", dizia, sobre essa prática.


Mas agora, à frente do Palácio da Justiça, o ministro mudou seu discurso. Ao apresentar seu pacote de medidas para combater os crimes de corrupção –bandeira que elegeu Bolsonaro–, teve de fatiar em três partes o plano e deixar em separado a proposta que criminaliza a mesma prática de caixa dois condenada no passado porque "vieram reclamações" dos políticos. "Alguns políticos se sentiram incomodados de isso [crime de caixa dois] ser tratado junto com corrupção e crime organizado. Fomos sensíveis", disse o ministro. O Governo sabe que, do contrário, o pacote não seria aprovado. Além disso, ao anunciar o fatiamento, o ministro ainda atenuou a gravidade desse crime, afirmando que "caixa dois não é corrupção".

  • Siga a cronologia da mudança de opinião do ministro:


Agosto de 2016: Caixa dois é “trapaça”


“Eu particularmente sou favorável a essa criminalização [de caixa dois]. Tenho uma posição muito clara: eu acho que o caixa dois muitas vezes é visto como um ilícito menor, mas é trapaça em uma eleição. E há uma carência da nossa legislação de tipificar esse tipo de atividade. E essa carência acaba gerando suas consequências no sentido de que se isso não é criminalizado, é tipo como permitido”. A frase fora proferida pelo juiz durante um debate no Congresso sobre o pacote que promovia as 10 Medidas Contra a Corrupção, que acabou não sendo aprovado.

No mesmo debate, Moro afirmou que o que mais lhe chamou a atenção no decorrer das investigações da Lava Jato foi o fato de os investigados citarem "de forma muito natural" o pagamento e o recebimento de propina. Em um discurso de aproximadamente uma hora, o então juiz também cobrou maior participação do Executivo e do Legislativo no combate à corrupção.

Abril de 2017: "Caixa dois é crime contra a democracia"


“Tem que se falar a verdade, caixa dois nas eleições é trapaça, é crime contra a democracia. Alguns desses processos me causam espécie quando alguns sugerem fazer uma distinção entre corrupção para fins de enriquecimento ilícito, e a corrupção para fins de financiamento de campanha eleitoral. Para mim, a corrupção para financiamento de campanha eleitoral é pior que para o enriquecimento ilícito”. Sérgio Moro falou a uma plateia de estudantes brasileiros na Universidade Harvard no dia 8 de abril de 2017, sobre diversos assuntos. Dentre eles, a corrupção. "Se eu peguei essa propina e coloquei numa conta na Suíça, isso é provável crime, mas esse dinheiro está lá, não está fazendo mais mal a ninguém naquele momento. Agora, eu utilizo isso para ganhar uma eleição? para trapacear numa eleição? Isso pra mim é terrível", seguiu.



Novembro de 2018, sobre caixa dois de Onyx Lorenzoni


“Ele foi um dos poucos deputados que defendeu a aprovação do projeto das 10 Medidas [contra a corrupção] mesmo sofrendo ataques severos da parte dos seus colegas. Quanto a esse episódio do passado, ele mesmo admitiu seus erros e pediu desculpas e tomou as providências para repará-lo”, amenizou Sérgio Moro, no final do ano passado, quando já havia sido anunciado para compor o novo Governo.

Moro deu uma entrevista coletiva em que foi questionado sobre o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Lorenozini, atual ministro-chefe da Casa Civil, admitiu, em maio de 2017, que recebeu 100.000 reais de caixa dois da JBS para a campanha que o elegeu deputado federal em 2014. “Usei sem [fazer a] declaração das contas”, afirmou em entrevista para a rádio Bandeirantes de Porto Alegre. “Quero pedir desculpas ao eleitor que confia em mim pelo erro cometido”, afirmou ele, que foi relator do projeto 10 Medidas Contra aCorrupção.

Fevereiro de 2019: "Caixa dois não é corrupção"


"Não, caixa dois não é corrupção. Existe o crime de corrupção e existe o crime de caixa dois. Os dois crimes são graves. Aí é uma questão técnica". Pressionado pelos parlamentares, Moro fatiou seu projeto, como amenizou o discurso sobre o caixa dois.

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