Em discurso contrário aos EUA, Pequim considera um ‘direito inalienável e legítimo’ do povo palestino para combater a dominação de ‘forças estrangeiras’
No quarto dia de audiências públicas realizadas pela Corte
Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, nesta quinta-feira (22/02), a China
apoiou o “direito inalienável” do povo palestino de usar a força armada para
combater a ocupação israelense em suas terras, e que tal ação estaria
contemplada pelo direito internacional.
O posicionamento foi dado pelo embaixador chinês na
Organização das Nações Unidas (ONU), Zhang Jun, que definiu a resistência
armada contra o colonialismo como “legítima”, e não como um “ato de
terrorismo”:
“A luta travada pelos povos pela libertação, pelo direito à
autodeterminação, incluindo a luta armada contra o colonialismo, a ocupação, a
agressão, a dominação contra forças estrangeiras, não deve ser considerada ato
de terror”, declarou Zhang Jun.
Ainda em seu discurso, o enviado de Pequim criticou as
políticas de Israel ao caracterizá-las como uma “opressão que minou e impediu
gravemente os exercícios e a plena realização do direito do povo palestino à
autodeterminação”.
China contrapõe EUA
A China também contrapôs os posicionamentos
defendidos pelos Estados Unidos, no dia anterior, e afirmou que o país
asiático “tem apoiado consistentemente a justa causa do povo palestino na
restauração de seu direito legítimo”, referindo-se ao estabelecimento de um
Estado palestino independente.
Ao tribunal, o consultor jurídico do Ministério das Relações
Exteriores, Ma Xinmin, mencionou o presidente chinês Xi Jinping para argumentar
que, em várias ocasiões, Pequim pediu um cessar-fogo abrangente e a solução
imediata para a questão palestina “com base em uma solução de dois
Estados”.
Na quarta-feira (21/02), os Estados Unidos recomendaram o
distanciamento da ONU e da CIJ em relação ao que considerou como “uma questão
bilateral entre Israel e Palestina”. No entanto, a China entende que se trata
de um assunto no qual a ONU tem papel fundamental para a “autodeterminação do
povo palestino”, já que o órgão internacional poderá guiar “negociações
futuras”.
Com base no “direito da autodefesa”, Washington também havia
defendido a não retirada de Israel das terras palestinas sem que haja garantias
de segurança, motivo pelo qual expressou que a ocupação deveria continuar. Por
outro lado, Xinmin rebateu a tese norte-americana e explicou que, pelo
contrário, Israel é “uma nação estrangeira que ocupa a Palestina, então o direito
à autodefesa está mais com os palestinos do que com os israelenses”.
Semana de audiências
As audiências públicas do CIJ que começaram nesta
segunda-feira (19/02) acontecem após uma resolução da Assembleia Geral da ONU,
na qual se solicitou um parecer consultivo do tribunal em relação à legalidade
da ocupação israelense no território palestino. Ao todo, 52 países deverão se
posicionar sobre a guerra até a próxima segunda-feira (26/02).
No primeiro dia das sessões, as autoridades palestinas
reservaram três horas para apresentarem depoimentos que acusaram Israel de
administrar um sistema de "colonialismo e apartheid".
Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores palestino,
Riyad al-Maliki, apelou aos juízes que peçam o fim da ocupação
"imediatamente, total e incondicionalmente".
Ao tribunal, o embaixador da África do Sul na Holanda
considerou as políticas de Tel Aviv "mais extremas" do que o
apartheid que os sul-africanos negros sofriam antes de 1994.
🇨🇳🇺🇳 Discurso histórico de Zhang Jun, que representa a China na presidência do Conselho de Segurança da ONU.
— O Cafezinho ☕️🗞 (@ocafezinho) February 6, 2024
Trechos:
China diz ao Conselho de Segurança da ONU que os recentes ataques aéreos dos EUA no Oriente Médio "constituem uma grave violação da soberania, independência e… pic.twitter.com/fPYa8JMAs8
The outcome of today's vote clearly shows that on the issue of a ceasefire to halt the fight in Gaza, it is not that the Security Council does not have an overwhelming consensus, but rather it is the exercise of veto by the United States that stifles the Council consensus. The US… https://t.co/5vXPWXdd8i
— Zhang Jun (@ChinaAmbUN) February 20, 2024