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terça-feira, 19 de março de 2024

Brasil chama de 'ilegal e imoral' ataques de Israel contra Gaza; mais de 30 mil pessoas morreram


Chanceler brasileiro criticou ofensiva israelense e a comunidade internacional pela carência de ajuda humanitária


Reprodução / @ ItamaratyGovBr Mauro Vieira e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, desembarcou neste domingo (17/03) em Ramallah, na Cisjordânia. A convite das autoridades palestinas, ele participou da cerimônia que concedeu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o título de Membro Honorário do Conselho de Curadores da Fundação Yasser Arafat.

A honraria foi entregue ao chanceler pelo premiê Mohammad Shtayyeh, que louvou a “coragem de Lula na defesa da Palestina”, segundo o Itamaraty.

Vieira discursou criticando a reação de Israel à ofensiva do grupo palestino Hamas e a comunidade internacional pela carência de ajuda humanitária. Ele definiu como “ilegal e imoral” negar comida, água e medicamentos a civis, e fez um balanço dos apoios oferecidos pelo Brasil.

Vieira ainda se reuniu com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, sobre o conflito e a crise humanitária.

A visita ocorre em meio a uma crise diplomática entre Brasil e Israel, após declarações do presidente Lula comparando a crise humanitária palestina com o Holocausto.


Campanha para um Estado palestino


O Brasil vai se juntar a outros Estados na campanha para conseguir que a Palestina seja admitida como membro pleno das Nações Unidas.

A criação e reconhecimento de um Estado palestino fará com que a Palestina tenha voz, uma vez que desde 2012 os palestinos têm status de observador — o que permite que seus diplomatas participem dos debates, mas sem direito a voto.

O maior obstáculo, no entanto, ainda é o poder de veto dos EUA no Conselho de Segurança da ONU (CSNU).

Expectativa é que um pedido formal para a adesão completa às Nações Unidas seja realizado ainda em 2024, principalmente diante do risco de que a guerra em Gaza abra caminho para novas invasões de terras por parte de israelenses, segundo a apuração do UOL

Para o Itamaraty, a adesão da Palestina como membro pleno é um passo importante na direção da garantia de que um acordo de paz seja estabelecido de forma explícita junto à criação de dois Estados — palestino e israelense —, com suas fronteiras internacionalmente reconhecidas.

(*) Com Ansa e Sputnik Brasil.

Fonte: Opera Mundi


 

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Tribunal de Haia: contra a ocupação israelense, China defende 'resistência armada' dos palestinos


Em discurso contrário aos EUA, Pequim considera um ‘direito inalienável e legítimo’ do povo palestino para combater a dominação de ‘forças estrangeiras’


Reprodução/UN News: Embaixador chinês na ONU, Zhang Jun define resistência palestina armada contra o colonialismo como 'legítima'

No quarto dia de audiências públicas realizadas pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, nesta quinta-feira (22/02), a China apoiou o “direito inalienável” do povo palestino de usar a força armada para combater a ocupação israelense em suas terras, e que tal ação estaria contemplada pelo direito internacional.

O posicionamento foi dado pelo embaixador chinês na Organização das Nações Unidas (ONU), Zhang Jun, que definiu a resistência armada contra o colonialismo como “legítima”, e não como um “ato de terrorismo”:

“A luta travada pelos povos pela libertação, pelo direito à autodeterminação, incluindo a luta armada contra o colonialismo, a ocupação, a agressão, a dominação contra forças estrangeiras, não deve ser considerada ato de terror”, declarou Zhang Jun.

Ainda em seu discurso, o enviado de Pequim criticou as políticas de Israel ao caracterizá-las como uma “opressão que minou e impediu gravemente os exercícios e a plena realização do direito do povo palestino à autodeterminação”.


China contrapõe EUA


A China também contrapôs os posicionamentos defendidos pelos Estados Unidos, no dia anterior, e afirmou que o país asiático “tem apoiado consistentemente a justa causa do povo palestino na restauração de seu direito legítimo”, referindo-se ao estabelecimento de um Estado palestino independente. 

Ao tribunal, o consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores, Ma Xinmin, mencionou o presidente chinês Xi Jinping para argumentar que, em várias ocasiões, Pequim pediu um cessar-fogo abrangente e a solução imediata para a questão palestina “com base em uma solução de dois Estados”. 

Na quarta-feira (21/02), os Estados Unidos recomendaram o distanciamento da ONU e da CIJ em relação ao que considerou como “uma questão bilateral entre Israel e Palestina”. No entanto, a China entende que se trata de um assunto no qual a ONU tem papel fundamental para a “autodeterminação do povo palestino”, já que o órgão internacional poderá guiar “negociações futuras”.

Com base no “direito da autodefesa”, Washington também havia defendido a não retirada de Israel das terras palestinas sem que haja garantias de segurança, motivo pelo qual expressou que a ocupação deveria continuar. Por outro lado, Xinmin rebateu a tese norte-americana e explicou que, pelo contrário, Israel é “uma nação estrangeira que ocupa a Palestina, então o direito à autodefesa está mais com os palestinos do que com os israelenses”.


Semana de audiências


As audiências públicas do CIJ que começaram nesta segunda-feira (19/02) acontecem após uma resolução da Assembleia Geral da ONU, na qual se solicitou um parecer consultivo do tribunal em relação à legalidade da ocupação israelense no território palestino. Ao todo, 52 países deverão se posicionar sobre a guerra até a próxima segunda-feira (26/02).

No primeiro dia das sessões, as autoridades palestinas reservaram três horas para apresentarem depoimentos que acusaram Israel de administrar um sistema de "colonialismo e apartheid". 

Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores palestino, Riyad al-Maliki, apelou aos juízes que peçam o fim da ocupação "imediatamente, total e incondicionalmente".

Ao tribunal, o embaixador da África do Sul na Holanda considerou as políticas de Tel Aviv "mais extremas" do que o apartheid que os sul-africanos negros sofriam antes de 1994.

Fonte: Opera Mundi


 

 

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Exército negou em 2019 usar software espião pelo qual é agora investigado


Software israelense FirstMile, alvo de escândalo na Abin, também foi adquirido pelo Exército, que, questionado em 2019, dizia não ter acesso à ferramenta que já utilizava


Exército Brasileiro / Flickr: Exército Brasileiro participa de operações de apoio durante as Olimpíadas no Brasil, em 2016

 
No dia 20 de outubro de 2023, por determinação do Supremo Tribunal Federal, a Polícia Federal deflagrou a Operação Última Milha, que investiga o uso ilegal de um software espião, o First Mile, por servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Jair Bolsonaro.

Comercializado pela empresa Cognyte, subsidiária da israelense Verint, o aplicativo First Mile tem capacidade de acessar a localização em tempo real de telefones celulares captando os metadados trocados entre o aparelho e torres de telecomunicação.

Além disso, possibilita o armazenamento do histórico da geolocalização do aparelho e a criação de alertas sobre a presença do telefone móvel em uma determinada área. Para que os dados fossem monitorados, bastava que se digitasse o número do celular escolhido como alvo.

A investigação da Polícia Federal apontou que a ferramenta foi usada pela Abin mais de 60 mil vezes, 1,8 mil das quais para monitorar políticos, jornalistas, juízes e adversários do governo Bolsonaro.

Na última quinta-feira (25), o STF autorizou a Operação Vigilância Aproximada, com ações de busca e apreensão contra 12 alvos – dentre os quais o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-dirigente da Abin. Na última segunda-feira (29), houve também operações de busca e apreensão contra o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente, e o militar Giancarlo Gomes Rodrigues, apontado como um dos operadores da FirstMile enquanto estava lotado no Centro de Inteligência Nacional (CIN) da Abin, criado em julho de 2020 por Bolsonaro e Augusto Heleno para “enfrentar ameaças à segurança e à estabilidade do Estado”.

A PF passou a investigar o que considera uma organização criminosa, dividida em vários núcleos, que fez uso do FirstMile em benefício da família Bolsonaro e para atacar seus inimigos. Dentre os espionados pela "Abin paralela" estariam o então governador do Ceará e atual ministro da Educação, Camilo Santana, os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e a deputada federal Joice Hasselmann – a lista completa dos espionados continua desconhecida.

Além da Abin, a PF também encontrou evidências, durante as ações de busca e apreensão de 20 de outubro, de que o software FirstMile foi adquirido pelo Exército Brasileiro. Em agosto de 2023, Agência Pública já havia apurado que o Exército tinha contratos com a fabricante do software. Mas foi a investigação da Polícia Federal que encontrou evidências de que a ferramenta fora comprada durante a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, ainda em 2018.

Com o avanço das investigações, Caio Santos Cruz, filho do general Santos Cruz, relatou à PF que a compra da ferramenta foi intermediada pelo general Luiz Roberto Peret, que havia sido contratado pela Verint Systems, fabricante da FirstMile e proprietária da Cognyte, criada em 2021 como um braço separado voltado especificamente à inteligência e defesa. Peret, que passou para a reserva em 2007, teria sido membro da organização de extrema-direita militar TERNUMA (Terrorismo Nunca Mais), e é um dos conselheiros fundadores do Instituto General Villas Bôas, general que ocupava o cargo de comandante do Exército na época em que o software espião foi adquirido.

O contrato do Exército com a Verint, fechado em outubro de 2018, teria o valor de 10,8 milhões de dólares (52 milhões de reais), pagos com parte dos 1,2 bilhões de reais que compunham o orçamento da intervenção federal no Rio de Janeiro.

Segundo a Folha de São Paulo, “apesar de a compra ter sido realizada no âmbito da intervenção, o software não foi utilizado somente para o combate ao crime organizado no Rio de Janeiro. Ele ficou sob a administração do Exército”. O Gabinete de Intervenção Federal confirmou ao jornal que “[...] softwares de inteligência ficaram sob a propriedade das Forças Armadas, mas com a possibilidade de utilização em prol dos órgãos de segurança pública do Rio de Janeiro mediante necessidade e acordo com a União, caso fosse de interesse do Governo do Estado do Rio de Janeiro”.

O compartilhamento do software com autoridades estaduais e o eventual desvio de finalidade dos recursos da intervenção federal – como conclui um parecer do Tribunal de Contas da União (TCU) –, no entanto, não são os únicos possíveis problemas envolvendo o Exército e o aplicativo FirstMile. Em 27 de agosto de 2019, quatro anos antes da operação da PF, a Revista Opera enviou ao Centro de Comunicação Social do Exército (CComSEx) uma série de questionamentos acerca do uso de ferramentas de vigilância como a FirstMile. As questões, formuladas pelo então jornalista da Revista Opera André Ortega, que investigava o uso dessas tecnologias no Brasil, foram então encaminhadas ao Comando de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército, que no dia 11 de setembro de 2019 deu respostas contraditórias com o que viria a ser apontado pela PF quatro anos depois. 

Os questionamentos chegavam a citar nominalmente a empresa Verint Systems, que também teria fornecido ferramentas de vigilância similares à FirstMile para o Exército do Peru. Mas, de acordo com o DCT, o Exército “não possuía capacidades semelhantes” a uma ferramenta que “seria capaz de identificar a localização precisa de telefones”. Perguntado se possuía capacidades similares ou próximas das ostentadas pelo Exército do Peru graças a seu contrato com a Verint em 2015, o Exército respondeu somente que “possui capacidades de monitoramento rádio”.



O Departamento também informou que o Exército “não possui nenhum produto (malware) capaz de infectar, monitorar e coletar informações de telefones móveis.”



À luz do que revelou a PF, a única explicação plausível para a resposta dada pelo Exército à época seria se a ferramenta, adquirida em 2018, não estivesse com sua licença de uso ativa entre agosto e setembro de 2019, quando o questionamento foi feito. Em 2019, o Comando do Exército destinou 40 milhões de reais à Verint, proprietária do FirstMile, por meio de três contratos. Os três contratos, classificados como de “aquisição de serviços de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) de caráter secreto ou reservado" ou de “aquisição de material permanente de caráter secreto ou reservado", disponíveis no Portal da Transparência, foram pagos no dia 12 de agosto. Os questionamentos da Revista Opera foram feitos no dia 27 de agosto, e as respostas do Exército foram enviadas no dia 11 de setembro.


Outro lado: Exército se recusa a dar informações


A reportagem voltou a entrar em contato com o Exército, questionando quais foram os períodos durante os quais a organização teve acesso ao FirstMile, bem como as razões pelas quais respondeu negativamente às perguntas feitas pela Revista Opera há quatro anos. Desta vez, o Centro de Comunicação Social do Exército disse somente que “em função de previsão legal (Lei n.º 12.527 de 18 de novembro de 2011, em seu artigo 23, incisos V e VIII) não poderá atender à solicitação apresentada.”

A legislação a que o Exército se refere é a Lei de Acesso à Informação (LAI), e o artigo 23 diz respeito às informações consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado. Os incisos mencionados pelo Exército dizem respeito a informações que possam “prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégicos das Forças Armadas” (V) e “comprometer atividades de inteligência, bem como de investigação ou fiscalização em andamento, relacionadas com a prevenção ou repressão de infrações" (VIII). Não foi explicado porque, em 2019, o Exército pôde responder aos questionamentos da Revista Opera negativamente, mas agora não pode explicar as respostas que deu, à luz da investigação da Polícia Federal.

Mas a LAI prevê também, no seu artigo 32, as condutas ilícitas que ensejam responsabilidade de agente público ou militar: “I - recusar-se a fornecer informação requerida nos termos desta Lei, retardar deliberadamente o seu fornecimento ou fornecê-la intencionalmente de forma incorreta, incompleta ou imprecisa”; “III - agir com dolo ou má-fé na análise das solicitações de acesso à informação”; “V - impor sigilo à informação para obter proveito pessoal ou de terceiro, ou para fins de ocultação de ato ilegal cometido por si ou por outrem”.

Para o diretor da associação Data Privacy Brasil e mestre em direito Rafael Zanatta, o uso de tecnologias para atividades de inteligência no Brasil conta com a ausência de jurisdição específica. “A legislação, a cobertura legal e jurídica que temos para Inteligência já é bastante reduzida; porque constitucionalmente não temos. Temos a cobertura de segurança pública, mas não se fala de Inteligência na Constituição Brasileira. E temos a lei que reorganizou a Abin, no governo FHC, que determina as competências e depois as normas que criam a CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência), que seria o órgão de controle. Mas elas não dizem nada sobre softwares, ou seja, não parametrizam em que condições é legítima a utilização de um software com essas capacidades, softwares espiões”, diz. “E o que foi feito na construção de raciocínios sobre a utilização desses softwares, que acho que tem uma certa perversidade jurídica, é que também encontraram fundamentação jurídica dentro de pareceres que vinham da Advocacia Geral da União (AGU) e da própria Procuradoria Geral da República (PGR) e órgãos especializados para olhar juridicamente a licitude dessas operações, onde se cravou uma tese de zona cinzenta. Ou seja: 'não se aplica aqui o Código de Processo Penal, não estamos falando de interceptação telefônica, estamos operando numa outra situação fática'. E essa outra situação fática não aplica, não traz, não puxa, essas regras de devido processo que estão na Constituição e no código de processo. Que é você ter o crivo judicial, autorização judicial; e ter a delimitação de finalidade específica, de operação dentro de um espaço de tempo, e de uma razoabilidade.”

Zanatta chama atenção, no entanto, a uma especificidade jurídica do FirstMile. Ele cita ferramentas que são usadas para extrair informações de celulares em posse de autoridades policiais, ou ainda softwares que extraem informações em massa da internet e criam relatórios, como casos diferentes ao FirstMile: “o FirstMile é diferente, porque ele explora uma vulnerabilidade de infraestrutura de comunicações que é per se ilícita. Esse 'spoofing', que é o atacante que está na unidade celular explorando informação, está explorando uma vulnerabilidade que as empresas de telecomunicações não querem que ele explore. E está explorando uma capacidade de obtenção de informações de centenas, milhares de pessoas. E ele é feito por uma empresa prestadora de serviço, não é uma autoridade policial que está em posse de um dispositivo”, analisa. “Então eu acho que o FirstMile é indefensável na nossa concepção jurídica; porque a premissa dele é uma ilicitude. A dinâmica de funcionamento, para ele poder funcionar, ele está em ilicitude. Porque está explorando a vulnerabilidade de um protocolo de comunicações de um setor que é considerado de interesse nacional e que é amplamente regulado, pela ANATEL, pelas normas de telecomunicações, etc.”

Para retirar o uso das ferramentas espiãs dessa zona cinzenta, opina Zanatta, seria fundamental estabelecer uma classificação jurídica clara sobre os diferentes tipos de software – malwares, spywares, aplicativos de extração de dados, etc. –, e estabelecer uma legislação específica sobre o tema. “Precisaria de um enfrentamento constitucional mesmo, ou seja, inaugurar por meio de uma emenda constitucional um capítulo específico sobre Inteligência na Constituição. E parametrizar esses elementos básicos de necessidade, finalidade específica, razoabilidade, proporcionalidade, e criar algum arranjo democrático de supervisão.”


Uso interno do Exército aumenta risco de autoritarismo, diz pesquisadora


Para Julia Almeida, professora de Direito na Universidade Anhembi Morumbi, integrante do Núcleo de Estudos da Violência da USP e autora do livro “A militarização da política no Brasil” (Alameda, 2023), o uso das Forças Armadas em missões de ordem interna, como a Intervenção Federal do Rio de Janeiro, por meio da qual o FirstMile foi adquirido ou readquirido pelo Exército, aumenta significativamente o risco de construção de governos autoritários. 

“A intervenção federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro foi um exemplo emblemático dessa atuação. Essa forma de intervenção é uma forma política que ajuda a construir a intervenção de militares e membros das Forças Armadas em projetos políticos, inclusive de natureza eleitoral. Então o que esse escândalo do FirstMile revela é isso; como essas ferramentas (como a GLO) não deveriam existir, e como seu uso desenfreado e intensificado é um risco imenso à democracia no Brasil. O fato dos sistemas de inteligência contarem com órgãos militares e terem a Abin sob o GSI também são determinantes para essa atuação. É fundamental apontar, por último, que essa sempre foi a tarefa da inteligência no Brasil, que tem nos militares sua efetivação: controlar opositores, a pobreza e os que de alguma forma ameaçavam o status quo no Brasil”, diz ela, que diz ainda que ferramentas como o FirstMile “possuem inúmeros problemas de utilização.

Por si só, é um potencial violador de direitos fundamentais. Tendo em vista o desenho atual da inteligência no Brasil e falta de controle civil da atuação das Forças Armadas, acredito que esse tipo de ferramenta não deveria ser controlada e utilizada diretamente pelas Forças Armadas, mesmo que direcionada para as suas atribuições de Defesa.”

Para a professora, seria essencial a uma perspectiva democrática que houvesse uma efetiva subordinação das Forças Armadas à presidência e ao Congresso, e um efetivo controle civil delas. “Atualmente, embora previstas na própria Constituição e na legislação da Abin e do SISBIN (Sistema Brasileiro de Inteligência), não contamos com nenhuma efetivação de mecanismo de controle dessas atividades [de inteligência] pelo Congresso Nacional, com audiências e acariações.

E, no caso dos militares, embora devendo prestar contas ao Ministério da Defesa, a que estão subordinados, o acúmulo de poder deles nos últimos anos e o padrão de militarização do Estado impedem que essa relação entre Executivo e Forças Armadas se dê dentro dos marcos republicanos. É o jogo da correlação de forças, e os militares já deram sinais (como no 8 de janeiro e seus desdobramentos) de que a mediação só é possível se alguns de seus interesses forem atendidos, em especial o da anistia e da manutenção de privilégios corporativos. No mais, a subordinação da Abin ao GSI sob o comando de um militar (que tem sido a regra), também dificulta esse tipo de controle pelos mecanismos do SISBIN.”


Resposta do Exército Brasileiro a questionamentos da Revista Opera, dada em setembro de 2019.

Fonte: Opera Mundi


Brasil de Fato

'Abin paralela': operações colocam clã Bolsonaro na mira de investigações da PF | Tempero da Notícia



 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Coletivo judeu presta solidariedade Breno Altman e critica 'cortina de fumaça' que Conib cria com processos judiciais


Coletivo Vozes Judaicas por Libertação denuncia ataques e censura promovidos pela Confederação Israelita do Brasil, afirmando que organização não os representa


Coletivo Vozes Judaicas por Libertação
Para coletivo, sionismo da Conib é o maior responsável pelo aumento do antissemitismo nos últimos meses

Coletivo Vozes Judaicas por Libertação lançou uma nota classificando as ações da Confederação Israelita do Brasil (Conib) na Justiça contra críticos do sionismo como "antidemocráticos e desonestos pois confundem antissionismo [oposição ao movimento político que defende a autodeterminação do povo judeu e a existência de um Estado Judaico, não apenas um Estado de Israel] com o antissemitismo [propagação de ódio e discriminação contra judeus]".

A crítica se refere aos processos judiciais com os quais a Conib busca censurar o jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman e acusações de antissemitismo contra o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, José Genoino,

O manifesto, que defende um judaísmo "livre do sionismo", havia sido publicado em 19 de janeiro, mas foi atualizado recentemente, acrescentando argumentos em repúdio aos ataques que tentam "calar e deslegitimar as vozes que se levantam contra o apartheid sionista" e "criam uma cortina de fumaça sobre o que realmente importa ser levado ao debate público: o cessar-fogo imediato em Gaza e a condenação do Estado de Israel pelos crimes cometidos contra o povo palestino".

"Independente de nossas concordâncias ou não com as posições de Altman, temos convicção de que as acusações são excessivas e os processos judiciais injustificados", declarou a nota do Coletivo Vozes Judaicas por Libertação.

"Justamente pelas histórias judaicas serem repletas de perseguições, fugas e imigrações forçadas, nos assusta perceber como a narrativa sionista tem sido tão hipócrita. Não deveríamos ser nós, os judeus e judias, os que mais se solidarizaram com qualquer tipo de opressão, sobretudo àquelas de teor étnico-racial?", disse o coletivo a Opera Mundi

Os integrantes da organização formada por ativistas judeus pela libertação da Palestina expressaram repúdio ao fato de que "a Conib siga associando indiscriminadamente antissionismo a antissemitismo e que, em casos onde ocorre confusão entre esses termos, siga optando pela criminalização como primeira opção, ao invés do caminho educativo". 

O documento aponta o sionismo como "maior responsável por essas confusões ´[de termos] e pelo aumento do antissemitismo nos últimos meses", e defende que a história do sionismo e do antissionismo deve ser melhor esclarecida para o grande público.

"Diante de um genocídio que está sendo televisionado ao vivo, como nunca antes, é necessário que entendamos a conjuntura para nos posicionarmos corretamente", explicou a organização.

Segundo o coletivo, esta educação tem se tornado cada vez mais difícil justamente por causa da "luta discursiva e ideológica em curso". 

O Coletivo Vozes Judaicas por Libertação ainda denuncia que a Conib, juntamente com a organização sionista StandWithUs, agem para "deslegitimar a decisão da Presidência da República em apoiar [a denúncia da] África do Sul na Corte Internacional de Justiça em Haia, que acusa Israel de cometer genocídio em Gaza".

O coletivo afirma que a comunidade judaica no Brasil é "plural" e, por isso, a Conib expressa "somente a posição de uma parcela ultrassionista que defende de forma incondicional as ações militares de Israel em Gaza, mesmo que tenham violado diversas clausulas dos direitos humanos". 

"O sionismo é um projeto colonial da burguesia europeia e nunca representou todos os judeus. É necessário que façamos essa separação. O posicionamento de judeus e judias antissionistas é essencial, pois quebra a narrativa de que toda crítica ao Estado de Israel seria antissemita", ressaltou a Opera Mundi o coletivo.

Além disso, o coletivo também lembrou que a Conib "faz parte do lobby sionista e representa os interesses do Estado de Israel, instrumentalizando a luta contra o antissemitismo pela máquina de propaganda israelense e por seus agentes locais no Brasil". 

Com isso, para a organização, criticar o Estado de Israel por seus crimes e perseguições não é antissemitismo, "é apenas lógico e ético".

Em conclusão, o documento ainda expressa solidariedade a Altman e todos os alvos de perseguição da Conib por se posicionarem contra o genocídio em curso na Palestina.


Leia a íntegra do manifesto publicado pelo coletivo Vozes Judaicas por Libertação:


"A CONIB não nos representa!

Judias e judeus antissionistas contra a censura às críticas a Israel

A CONIB (Confederação Israelita do Brasil) tem investido em ações de censura sobre figuras públicas que se posicionam contra o governo sionista de Israel. Além de antidemocráticos, esses ataques são desonestos pois confundem antissionismo com antissemitismo na tentativa de calar e deslegitimar as vozes que se levantam contra o apartheid sionista. Abordamos o assunto neste artigo.

É o caso da perseguição do jornalista Breno Altman, que tem sido alvo de mais de uma ação criminal movida pela CONIB. Independente de nossas concordâncias ou não com as posições de Altman, temos convicção de que as acusações são excessivas e os processos judiciais injustificados. Como judias e judeus antissionistas não admitimos que a CONIB siga associando indiscriminadamente antissionismo a antissemitismo e que, em casos onde ocorre confusão entre esses termos (intencional ou não, como ocorreu com José Genoino), siga optando pela criminalização como primeira opção, ao invés do caminho educativo. O sionismo que a CONIB defende é o maior responsável por essas confusões e pelo aumento do antissemitismo nos últimos meses.

Os processos judiciais abertos pela CONIB criam uma cortina de fumaça sobre o que realmente importa ser levado ao debate público: o cessar-fogo imediato em Gaza e a
condenação do Estado de Israel pelos crimes cometidos contra o povo palestino.

Além disso, destacamos que essa mesma organização, ao lado da Stand With Us, inaugurou uma cruzada na sociedade brasileira para deslegitimar a decisão da presidência da República de apoiar o pleito da África do Sul na Corte Internacional de Justiça de Haia, que acusa Israel de cometer genocídio em Gaza.

Nós, do coletivo Vozes Judaicas por Libertação, dizemos que a CONIB não nos representa! A comunidade judaica brasileira é plural e a CONIB, que se diz sua representante, expressa somente a posição de uma parcela ultrassionista que defende de forma incondicional as ações militares de Israel em Gaza, mesmo que tenham violado diversas clausulas dos direitos humanos.

Somos um coletivo de judeus antissionistas defensores da liberdade de expressão, da libertação do povo palestino, do cessar-fogo imediato para interromper o genocídio em Gaza e do apoio concedido pelo governo brasileiro ao pleito da África do Sul em Haia.

Repudiamos as tentativas de censura da CONIB e expressamos nossa solidariedade a Breno Altman e todas e todos aqueles que têm sido alvo de perseguição por se posicionarem contra o genocídio em curso na Palestina."

Fonte: Opera Mundi

 

 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Progressistas criam grupo de compra e venda no Facebook com mais de 100 mil pessoas



 Em cerca de três meses, o Esquerda compra da Esquerda (ECDE) faz sucesso na rede social e já extrapola os limites da plataforma

Na última semana, o grupo Esquerda compra da Esquerda (ECDE), ultrapassou a marca de 100 mil membros no Facebook. A iniciativa, lançada em outubro de 2020, faz sucesso entre pessoas identificadas com o campo progressista e promove uma experiência virtual de economia solidária.

Com 105 mil pessoas, o ECDE extrapolou os limites da plataforma e criou um site próprio. No portal há um fórum virtual, anúncios dos membros, mensagens de figuras da esquerda e citações de intelectuais progressistas.

Entre as mensagens que aparecem na aba “Nossa Gente”, uma é da fundadora do grupo, Erica Caminha. “Uma plataforma digital para servir de guia de compras e serviços de progressistas para progressistas é até uma questão de amor próprio, quiçá sobrevivência. Como gastar nosso dinheiro com quem apoia quem disse que quer nos metralhar”, diz Erica na mensagem.

Outra pessoa que aparece na aba é a professora universitária e blogueira Lola Aronovich. “Seu projeto é muito bom, não deixe ninguém destruí-lo”, afirma ela

Em entrevista ao Opera Mundi, Caminha conta que nunca imaginou “que um projeto, que começou como algo pessoal, pudesse ajudar tantas pessoas”. “As pessoas estão conseguindo pagar suas contas, colocar comida na mesa e estão se sentindo reconhecidas pelo seu trabalho. E isso é muito importante. Tem que continuar a crescer e virar uma sociedade alternativa. Eu pelo menos vejo assim, como um bloco econômico”, celebra.

Dentro da comunidade virtual, os anúncios são separados em produtos, serviços, alimentos e bebidas, vestuários e acessórios, arte, saúde, turismo e outras categorias. Além disso, há um trabalho intenso de moderação para evitar “infiltrados que possam prejudicar o movimento”. Cerca de 30 mil pessoas estariam “na fila” para se juntar ao grupo.

Segundo Caminha, em breve o ECDE deve lançar um canal no YouTube para veicular os anúncios, a ECDEtv.

Confira aqui o site do projeto

Confira aqui o grupo no Facebook

Confira aqui a reportagem do Opera Mundi

Fonte: Revista Fórum


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