Governo implantou “cooperativas agrícolas” em território dos povos originários dentro do “Projeto Independência Indígena; “É mais um estimulo à dependência e ao arrendamento”, diz entidade.
A Associação Xavante Warã divulgou uma carta pública, nesta
quarta-feira (20), em que denuncia a tentativa do governo de Jair Bolsonaro de
fazer uso político de indígenas do povo Auwé Xavante através de um projeto de
cooperativa agrícola, ligado ao agronegócio, implantado dentro da Terra
Indígena de Sangradouro, no Mato Grosso.
Trata-se do “Projeto Independência Indígena”. “O projeto
pretende levar desenvolvimento, segurança alimentar e qualidade de vida a
comunidades Xavante do Mato Grosso por meio do incentivo à produção sustentável
nas aldeias. Entre as ações, o projeto disponibiliza ferramentas e maquinários
utilizados no plantio e colheita de alimentos, bem como promove a capacitação
de indígenas em operação de tratores e práticas de cultivo”, diz comunicado do governo sobre a iniciativa.
Os indígenas, no entanto, afirmam na carta pública que a
ação do governo se trata, na verdade, de uma “política anti-indigenista”.
“Ao contrário do que seu nome pretende transparecer, o
projeto nada tem de independência ou autonomia para o povo A’Uwe Xavante. Na
verdade, o projeto é mais um estimulo à dependência e ao arrendamento, com ares
de legalidade. Sabemos que a finalidade última desse projeto – que é político –
é de se apropriar do nosso território, sob falsa e hipócrita justificativa de
desenvolvimento econômico das nossas comunidades. Antigos argumentos para novas
investidas sobre os nossos direitos e nosso território”, diz a Associação
Xavante Warã.
“O quadro é grave, é nosso modo de vida que está ameaçado,
não há alternativas para nossa cultura e relação com o Ró sem o cerrado. Os
ruralistas não satisfeitos em desmatar tudo em volta das Terras Indígenas,
agora com essa Cooperativa, entra em nossa casa e derruba mais de mil hectares
de mata para fazer monocultura. Infinitas espécies e os animais estão
ameaçados. Sem o cerrado, ficaremos cada vez mais dependente do agronegócio e
do produtos dos Waradzu. Como vamos viver?”, prosseguem os representantes dos
povos originários.
Confira a íntegra da carta aqui.
Fonte: Antropofagista