Desde 2019, governo pagou a empresa investigada na CPI quase 100 milhões de reais por preservativos femininos
Pelos preços registrados nos documentos do Tesouro Nacional,
os 96,1 milhões pagos à Precisa, matriz e filial, seriam suficientes para
adquirir cerca de 40 milhões de preservativos femininos. Isso é mais do que o
total de preservativos distribuídos pela Secretaria de Vigilância em Saúde
desde 2019: 32,5 milhões de unidades em látex ou em borracha nitrílica, como os
comprados por meio da Precisa. A empresa não era a única fornecedora.
Questionado pela piauí, o Ministério da Saúde não informou se todos
os preservativos pagos à Precisa foram entregues.
Intermediar a venda de 20 milhões de doses da vacina indiana
Covaxin ao governo Bolsonaro renderia à Precisa 1,614 bilhão de reais. A dose
sairia por 80,70 reais, o maior custo entre as vacinas contratadas pelo
governo. O dinheiro foi reservado no orçamento da União nos últimos dias da
gestão do general Eduardo Pazuello, mediante a assinatura do contrato, mas não
chegou a ser desembolsado. O negócio mudaria a escala de ganhos do empresário
Francisco Emerson Maximiano, sócio administrador da Precisa, no atual governo.
Maximiano se aproximou do Ministério da Saúde em outubro de
2017, inicialmente por meio da Global Gestão em Saúde, outra empresa presidida
por ele. Antes de a Precisa começar a vender preservativos ao ministério, a
Global recebeu dos cofres públicos 19,9 milhões de reais por medicamentos de
alto custo comprados sem licitação e que não teriam sido entregues, segundo
investigação do Ministério Público Federal. A empresa é cobrada a devolver o
dinheiro. Os pagamentos irregulares foram feitos em novembro de 2017, quando o ministro da
Saúde era Ricardo Barros (Progressistas-PR), atual líder do governo na
Câmara.
O depoimento de Francisco Emerson Maximiano à CPI da
Pandemia foi adiado para a semana que vem. Ele terá de dar explicações sobre o
contrato de importação da Covaxin e o pagamento antecipado que teria solicitado
ao ministério por doses da vacina. O imunizante indiano só teve o uso
emergencial autorizado pela Anvisa neste mês.
A página da Precisa na internet dá destaque à recente
parceria com a indiana Bharat Biotech, que desenvolveu a Covaxin. A Precisa se
apresenta como representante exclusiva do laboratório indiano no Brasil e tem
como sócios Maximiano e a Global Gestão em Saúde.
Procurada pela piauí, a Global não respondeu como devolverá o dinheiro pago antecipadamente por medicamentos não entregues. Questionada sobre a entrega dos preservativos comprados pelo Ministério da Saúde, a Precisa também não respondeu.
A diretora da Precisa Medicamentos decidiu ficar em silêncio durante sessão da CPI da Covid nesta terça-feira. Além de intermediar a compra de doses da Covaxin, a empresa tem outro negócio com o governo Bolsonaro: a venda de preservativos femininos. https://t.co/EOBkpBJU4i
— revista piauí (@revistapiaui) July 13, 2021
Fonte: Revista Piauí