sexta-feira, 24 de julho de 2020

Caso Banestado: o que é fato e o que é ficção


(Foto: Reprodução da internet)

O jornalista Leonardo Attuch comenta a polêmica com Pepe Escobar, durante transmissão na TV 247

Quem assistiu à análise geopolítica do correspondente Pepe Escobar, transmitida nesta quinta-feira 23 pela TV 247, pode ter se surpreendido com uma incomum exaltação nos trinta minutos finais. O motivo: a polêmica sobre o caso Banestado, escândalo ocorrido no início deste século, sobre um esquema de evasão de divisas que envolvia doleiros e uma instituição financeira que pertenceu ao governo do Paraná e foi posteriormente vendida para o banco Itaú.

A pedido de alguns leitores, Pepe comentou sua coluna publicada no dia de hoje, no site Asia Times, que trata do caso e termina com uma pergunta: "O que nos leva à questão-chave final: o que Lula fará sobre isso?". A indagação leva a crer que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria abraçar e repercutir artigos que vêm sendo publicados por um site sensacionalista, sediado na Suíça.

A discussão teve início quando o questionei sobre o que caberia ao ex-presidente fazer. Por coincidência, há exatos 17 anos, eu mesmo publiquei, como reportagem de capa da revista Istoé Dinheiro, uma matéria sobre os mapas da evasão de divisas e lavagem de dinheiro do caso Banestado. A reportagem citava a chamada "Conta Tucano", que supostamente teria sido usada pelo PSDB em suas campanhas eleitorais. Um dia depois, o portal Conjur repercutiu esta reportagem e logo em seguida foi instalada uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito no Congresso Nacional. O relatório final foi apresentado em dezembro de 2014 e pediu o indiciamento de 91 pessoas, incluindo um ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, que havia liberado as chamadas contas CC-5.

Paralelamente à CPMI, a Polícia Federal desencadeou a Operação Farol da Colina, que prendeu dezenas de doleiros, incluindo o protagonista da Lava Jato, Alberto Yousseff. Como o responsável pelo caso foi o ex-juiz Sergio Moro, tudo indica que a Farol da Colina foi uma espécie de laboratório para a Lava Jato, onde foram testados os métodos posteriormente utilizados, como as delações premiadas. 

Quase duas décadas depois disso, o site suíço passou a alegar ter tido acesso a uma suposta "lista vip" do caso Banestado, com nomes de personagens que teriam sido poupados pela CPMI, em troca de proteção ou de vantagens indevidas. A tática é alardear aos quatro ventos há a suposta "lista vip", sem, no entanto, publicá-la. Quem, por curiosidade, visita a fonte do suposto escândalo ali encontra apenas três PDFs antigos, que em nada se assemelham a uma "lista vip". No entanto, aqueles jornalistas que não repercutem a não-denúncia são acusados de engavetá-la para proteger o sistema. Esta é a armadilha. Todos são podres, exceto o site que implora por uma repercussão que nunca chega. E se até alguns aliados do ex-presidente Lula não compram a tese, logo são rotulados como traidores da causa, que teria apenas um verdadeiro defensor: o sensacionalista suíço.

Sendo então uma armadilha, significa que tropecei e caí nela? Talvez sim, talvez não. Por respeito aos telespectadores, pedi que Pepe Escobar comentasse sua coluna. Se não o fizesse, seria acusado de esconder o caso. E se não o questionasse, estaria dando vazão a uma tese sensacionalista. Na live desta quinta-feira, minha exasperação se deveu única e exclusivamente ao fato de ver um amigo embarcar num trem que não vai sair da estação porque não há carvão nem maquinista. 

Ainda assim, admito a hipótese de eventualmente estar errado e reforço o desafio público lançado ao vivo. Caso algum jornalista sério publique uma reportagem com começo, meio e fim, indicando os nomes que integram a tal "lista vip", e abrindo espaço para o outro lado, terão todo o espaço para publicá-la no 247. Só não me cobrem repercussão de algo que não foi publicado nem pelos pretensos apuradores dessa história. Reitero: o que há nos três PDFs é apenas uma relação aleatória de nomes, sem grande relevância jornalística. Café requentado à procura de cliques e de falsas polêmicas.

Quem tiver interesse em saber mais, pode conferir nos trinta minutos finais deste vídeo:



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2 comentários:

  1. A lista pode não existir na sua finalidade, mas se cita que o PSDB usou esses recursos para financiar as suas campanhas, e na CPI consta alguns nomes, menos os que se beneficiaram dos recursos, falta esses nomes e o desfilar o novelo de partícipes, ente eles o que o Pepe Escobar vida o Messi. Bom, está implícito, e se eu fosse dá lava jato diria: não tenho provas, mas convicção!
    Infelizmente, depois da apuração dafda , não há esperança de qualquer investigação que envolva os senhores do poder, beneficiados pela espionagem americana que pode comprometer todos os homens de bem!

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  2. Há alguns equívocos nesta matéria. O primeiro deles é dizer que o tal "site suíço" alega ter a lista vip. Isso não corresponde à verdade. O que ele diz é que o documento em 3 volumes por eles publicado, relatório do procurador federal Celso Antônio Três, que investigou o caso na época, nunca tinha sido antes publicado na integralidade, o que foi comprovado pelo próprio Celso Três, pelo ex senador Roberto Requião e pelo delegado aposentado da PF José Castilho. Segundo este último, a assim chamada "lista vip" eram os documentos elaborados pela procuradoria distrital de Nova York contendo as informações obtidas com a quebra do sigilo bancário das contas em Nova York que receberam recursos das CC5. Esse documento permitiria a identificação dos destinos do dinheiro, ou seja, seus verdadeiros donos. Estranhamente, tal lista nunca entrou no inquérito, no relatório da CPMI, ou nos autos dos processos que dela resultaram. Assim, só foi possível processar doleiros e laranjas.

    O segundo equívoco da reportagem é justamente dar a entender que o caso Banestado se esgotou nos indiciamentos dessas figuras. Na verdade, os verdadeiros criminosos, possivelmente pessoas públicas de destaque, foram protegidos por uma "operação abafa", conforme denunciado pelo delegado Castilho, em diversas ocasiões desde que foi afastado do caso pelo então ministro da justiça, Marcio Thomaz Bastos.

    O terceiro erro, é a tentativa de esvaziar a importância do caso. E daí que o caso é antigo? Claramente ficaram "pontas soltas", assuntos mal resolvidos, investigações incompletas. Por que um esforço tão grande na tentativa de desqualificar o trabalho de outros veículos de comunicação que procuram respostas? Principalmente da parte de alguém que diz ter participado da divulgação do cão no passado. Se as investigações ficaram incompletas, sem a abertura da terceira camada da contas, sem a localização do dinheiro e sem a identificação dos seus donos, quem trabalhou nela na época, ainda que no papel de jornalista apenas, parece ser natural que nutra, nem que seja, uma pontinha de frustração pelo caso não ter tido o desfecho que poderia. Parece natural que essas pessoas, agora, celebrassem o surgimento e publicação da lista completa de mais de 1000 páginas, jamais publicada, das contas CC5, apesar de nunca ter sido decretado sobre ela o segredo de justiça. Parece natural que tais pessoas anseiem por ver essa história finalmente ter um fim e a verdade vir à tona e que incentivem e louvem os esforços de quem trabalha para isso. Seria uma recompensa depois de quase 20 anos. E mais do que isso. Seria natural, e até importante e desejável, que quem no passado investigou e analisou o assunto na condição de jornalista, agora, se interessasse em ajudar a trazer à luz do dia os fatos que permaneceram na sombras durante todo esse tempo. Estranhamente, o que se vê, de modo generalizado, é o contrário: a tentativa de desqualificar o esforço de quem investiga, invisibilizar o caso, atacar aqueles que por ele se interessam, e até mesmo sustentar inverdades a respeito de quem trata do assunto, na clara tentativa de descredibilizar o mensageiro. Por que isso? Por que essa exasperada tentativa de calar quem fala do Banestado e das CC5?

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