(Foto: Reprodução da internet)
Quem assistiu à análise
geopolítica do correspondente Pepe Escobar, transmitida nesta quinta-feira
23 pela TV 247, pode ter se surpreendido com uma incomum exaltação nos trinta
minutos finais. O motivo: a polêmica sobre o caso Banestado, escândalo ocorrido
no início deste século, sobre um esquema de evasão de divisas que envolvia
doleiros e uma instituição financeira que pertenceu ao governo do Paraná e foi
posteriormente vendida para o banco Itaú.
A pedido de alguns leitores, Pepe comentou sua coluna publicada no dia de hoje, no site Asia Times,
que trata do caso e termina com uma pergunta: "O que nos leva à
questão-chave final: o que Lula fará sobre isso?". A indagação leva a crer
que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria abraçar e repercutir
artigos que vêm sendo publicados por um site sensacionalista, sediado na Suíça.
A discussão teve início quando o questionei sobre o que
caberia ao ex-presidente fazer. Por coincidência, há exatos 17 anos, eu mesmo
publiquei, como reportagem de capa da revista Istoé Dinheiro, uma
matéria sobre os mapas da evasão de divisas e lavagem de dinheiro do caso
Banestado. A reportagem citava a chamada "Conta Tucano", que
supostamente teria sido usada pelo PSDB em suas campanhas eleitorais. Um dia
depois, o portal Conjur repercutiu esta reportagem e logo em seguida
foi instalada uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito no Congresso
Nacional. O relatório final foi apresentado em dezembro de 2014 e pediu o indiciamento de 91 pessoas, incluindo um ex-presidente do
Banco Central, Gustavo Franco, que havia liberado as chamadas contas CC-5.
Paralelamente à CPMI, a Polícia Federal desencadeou a
Operação Farol da Colina, que prendeu dezenas de doleiros, incluindo o
protagonista da Lava Jato, Alberto Yousseff. Como o responsável pelo caso foi o
ex-juiz Sergio Moro, tudo indica que a Farol da Colina foi uma espécie de
laboratório para a Lava Jato, onde foram testados os métodos posteriormente utilizados,
como as delações premiadas.
Quase duas décadas depois disso, o site suíço passou a
alegar ter tido acesso a uma suposta "lista vip" do caso Banestado,
com nomes de personagens que teriam sido poupados pela CPMI, em troca de
proteção ou de vantagens indevidas. A tática é alardear aos quatro ventos há a
suposta "lista vip", sem, no entanto, publicá-la. Quem, por
curiosidade, visita a fonte do suposto escândalo ali encontra apenas três PDFs
antigos, que em nada se assemelham a uma "lista vip". No entanto,
aqueles jornalistas que não repercutem a não-denúncia são acusados de
engavetá-la para proteger o sistema. Esta é a armadilha. Todos são podres,
exceto o site que implora por uma repercussão que nunca chega. E se até alguns
aliados do ex-presidente Lula não compram a tese, logo são rotulados como
traidores da causa, que teria apenas um verdadeiro defensor: o sensacionalista
suíço.
Sendo então uma armadilha, significa que tropecei e caí
nela? Talvez sim, talvez não. Por respeito aos telespectadores, pedi que Pepe
Escobar comentasse sua coluna. Se não o fizesse, seria acusado de esconder o
caso. E se não o questionasse, estaria dando vazão a uma tese sensacionalista.
Na live desta quinta-feira, minha exasperação se deveu única e exclusivamente
ao fato de ver um amigo embarcar num trem que não vai sair da estação porque
não há carvão nem maquinista.
Ainda assim, admito a hipótese de eventualmente estar errado
e reforço o desafio público lançado ao vivo. Caso algum jornalista sério
publique uma reportagem com começo, meio e fim, indicando os nomes que integram
a tal "lista vip", e abrindo espaço para o outro lado, terão todo o
espaço para publicá-la no 247. Só não me cobrem repercussão de algo que não foi
publicado nem pelos pretensos apuradores dessa história. Reitero: o que há nos
três PDFs é apenas uma relação aleatória de nomes, sem grande relevância
jornalística. Café requentado à procura de cliques e de falsas polêmicas.
Quem tiver interesse em saber mais, pode conferir nos trinta
minutos finais deste vídeo:
No Twitter
La Policía usó granadas de destello para expulsar a los manifestantes de las inmediaciones de un tribunal federal y del Centro de Justicia de Portland durante una protesta contra el racismo pic.twitter.com/vwtlYz851f— RT en Español (@ActualidadRT) July 23, 2020
Varios agentes dispararon balas de goma y lanzaron gases lacrimógenos para dispersar a los manifestantes que protestaron en Portland contra el racismo y la brutalidad policial el 19 de julio pic.twitter.com/GrNQtjB2Uk— RT en Español (@ActualidadRT) July 22, 2020
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