(Foto: Agência Brasil)
O jornalista Moisés Mendes opina que o recado do comandante
do Exército a Bolsonaro é de que não tente confundir o Exército com o
bolsonarismo. "Significa que o governo pode continuar militarizado, mas
sem suporte político dos militares da ativa e sem apoio da farda muito menos
aos blefes de Bolsonaro. Pujol falou pelos comandantes das três armas"
Por Moisés Mendes, para o Jornalistas
pela Democracia - Bolsonaro sempre soube que não tinha
pólvora. Agora não tem mais generais quietos diante das besteiras que diz.
Talvez também nem tenha mais um jipe com um soldado e um cabo dispostos a
segui-lo incondicionalmente.
Bolsonaro está dependurado no galho seco e inconfiável do centrão, e o que vê lá embaixo é um penhasco que o espera de boca aberta.
O lastro militar que vai sobrar para o governo pode ser
apenas o institucional e funcional, com seus nove ministros generais e os
oficiais subalternos que arranjaram emprego nas repartições de Brasília.
Bolsonaro ficará dias medindo os estragos das advertências
do chefe do Exército, que esfarelaram a base militar que o sujeito imaginava
ter.
O general Edson Pujol poderia ter usado uma fala meio ao
acaso, em um evento virtual, para dizer que a política não entra nos quartéis.
Seria uma frase solta, forte, mas em apenas um momento. Algo pontual.
Mas Pujol repetiu a frase em outro evento, na sequência, e
advertiu que o Exército é instituição de Estado, não de governo ou de partido.
Foi incisivo duas vezes, quando até agora estava calado.
Que significado pode ter o recado para um governo
militarizado e com mais de 6 mil oficiais empregados por Bolsonaro? Pode ser a
fixação de um limite. Os que estão no governo não estão mais nos quartéis. E
dos quartéis eles devem ficar afastados.
Que não tentem confundir o Exército com o bolsonarismo.
Significa que o governo pode continuar militarizado, mas sem suporte político
dos militares da ativa e sem apoio da farda muito menos aos blefes de
Bolsonaro. Pujol falou pelos comandantes das três armas.
O general e o vice-presidente Hamilton Mourão, que reafirmou
a fala do comandante do Exército, estão puxando um freio. Eles sabem,
constrangidos, que colegas cortejaram Bolsonaro em atos fascistas. Todo mundo
sabe.
Quando Bolsonaro ampliou os blefes de que poderia fechar o Supremo, no primeiro semestre, generais foram aos atos da terrorista Sara Winter na Esplanada do Ministério. Em agosto, Bolsonaro chegou a reunir seus generais, para que fosse traçado um plano de ocupação do STF.
E Pujol conhece um a um os 16 generais que Bolsonaro mandou embora do governo. Se outros saírem, quantos mais estariam dispostos a substituí-los, agora que está cada vez mais claro que são usados como trincheira de Bolsonaro?
Quem correrá o risco de ser humilhado e dispensado pelos filhos de Bolsonaro, como aconteceu com o ex-ministro Santos Cruz, que na rua decidiu atacar o ex-patrão?
Santos Cruz não deve ter descoberto só agora que esse é um governo de “embuste, fanfarronice e desrespeito”, como escreveu no Twitter.
Quem mais, entre os demitidos, poderia dizer a mesma coisa de Bolsonaro, mas prefere ficar quieto? Por que afundam na resignação e não dizem também que o projeto de Bolsonaro não é e nunca foi um plano estratégico das Forças Armadas?
É difícil admitir que o antipetismo, o antiesquerdismo e até o anticomunismo tardio levaram os militares ao colo de Bolsonaro. O bolsonarismo foi uma armadilha para civis e generais.
É interessante que, aos poucos, na tentativa de saltar fora, além das mensagens diretas, como a do comandante do Exército, há indiretas com algum grau de sutileza.
Como essa sugestão de Hamilton Mourão, o indemissível, em entrevista à Rádio Gaúcha, ao alertar que as pessoas devem prestar atenção mais às ações do que às palavras do presidente.
Mourão deixou escapar que as palavras de Bolsonaro só geram
confusão, divisão, ressentimentos, inveja e ódios. Seria preciso prestar
atenção no que ele faz. Mas o que ele faz mesmo ninguém sabe direito, nem ele
próprio.
Fonte: Brasil 247
Caue Moura
ESPECIAL - DECLARAMOS GUERRA