A vitória eleitoral de Vladimir Putin, eleito neste domingo
(17) para um novo mandato na presidência da Rússia, escancarou sua aprovação
majoritária em meio a ataques diplomáticos e econômicos a seu governo. Para
analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, a eleição traz dúvidas ao Ocidente em
como prosseguir
Vladímir
Putin
A eleição deste ano foi tanto recorde de participação, com
cerca de 74% da população se fazendo presente no processo eleitoral,
quanto de votos para o candidato à presidência, que recebeu
aproximadamente 87% dos votos. Em 2018, eleição em que obteve maior
porcentagem de votos, Putin foi eleito com 76,69%.
A vitória de Putin, afirmou Larissa Silva,
mestre em relações internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ) e pesquisadora voluntária do Laboratório de Simulações e Cenários (LSC)
da Escola de Guerra Naval (EGN), não é uma novidade uma vez que "os
adversários não tinham a mesma força de Putin".
Ainda assim, destaca a pesquisadora, "foi um recorde de comparecimento da população e isso é bem
interessante devido ao contexto atual da Rússia".
"Alguns esperavam que, com as sanções e a
pressão ocidental, a oposição crescesse e Putin perdesse um pouco da força
que possui. Porém, percebe-se que isso não é o que acontece na Rússia."
Dessa forma, sublinha Larissa, é perceptível que
existe uma boa parte da população "que apoia o
presidente e a forma como ele conduz o país".
Dessa mesma forma, destaca Eden Pereira Lopes da
Silva, historiador, doutorando em história comparada na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de
Estudos Sobre África, Ásia e Relações Sul-Sul (NIEAAS) e membro do Grupo de
Estudos 9 de Maio, a vitória de Putin é "recado significativo
acerca da unidade política nacional russa entorno do projeto liderado pelo
presidente".
"Devido ao tamanho da popularidade de
Putin, que oblitera qualquer outra figura, essa reeleição pode ser
considerada como uma espécie de plebiscito acerca dos rumos do governo
russo", afirmou o historiador.
'Resgatou o prestígio da Rússia'
Tamanha popularidade pode ser explicada a partir de alguns
fatores, explica o historiador. "Em primeiro lugar, Putin foi capaz
de resgatar o papel e o prestígio da Rússia como um importante
e respeitado país na ordem internacional", disse.
O segundo fator foi a estabilidade econômica alcançada no
governo. Para o desgosto dos Estados Unidos, afirma, "a Rússia
deixou para trás boa parte dos mecanismos econômicos do período da 'terapia de
choque' vigente a partir da década de 1990".
Putin foi o segundo presidente da Rússia após a dissolução
da União Soviética, encontrando um país que ainda se reestruturava econômica e
geopoliticamente. Hoje, a Rússia é a 11ª maior economia do mundo,
conseguindo crescer "acima da média mundial", diz Eden Lopes, mesmo
diante as sanções internacionais.
Ocidente entra em um dilema
"Boa parte dos líderes políticos ocidentais desconhecem
o sistema, os valores e a forma de funcionamento da política russa",
destacou Eden Silva. "Eles não entenderam ainda que ingerir na soberania
dos processos sociais e políticos da Rússia é inútil."
"Isso é invisível para os ocidentais por causa de sua
arrogância positivista em achar que os seus métodos e caminhos são os únicos
certos, e que tudo que é diferente, é algo errado ou distorcido."
Para o historiador com especialização no período soviético,
além de tradutor, intérprete e guia, Rodrigo Ianhez, o Ocidente
agora está em uma encruzilhada. "Talvez pudesse haver um pensamento
desejoso em relação a uma votação menos expressiva, pelo menos em
relação à última eleição e isso não ocorreu", disse.
"As
sanções realmente não mostraram afetar da maneira como era esperada a economia
russa e o Ocidente vai ficar cada vez mais dividido."
De acordo com Ianhez, as discordâncias que já existem entre
os países europeus e os Estados Unidos em como prosseguir no apoio à Ucrânia se
aprofundarão, uma vez que o grade apoio à Putin "demonstra que há, de
maneira bastante generalizada, um apoio ao governo".
"Apesar deles se apresentarem como um bloco
coeso, para a Europa os custos dessa guerra são maiores e mais
imediatos do que são para os Estados Unidos."
Com as eleições norte-americanas marcadas para este ano e
forte divisão partidária no tema do auxílio a Ucrânia, o resultado eleitoral
dos EUA "pode criar um desentendimento dentro do bloco" e
influenciar diretamente na continuidade ou não desse conflito, concluiu Ianhez.
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Fonte: Sputnik Brasil