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segunda-feira, 18 de março de 2024

Vitória recorde de Putin traz dilemas para o Ocidente, comentam analistas


A vitória eleitoral de Vladimir Putin, eleito neste domingo (17) para um novo mandato na presidência da Rússia, escancarou sua aprovação majoritária em meio a ataques diplomáticos e econômicos a seu governo. Para analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, a eleição traz dúvidas ao Ocidente em como prosseguir


Vladímir Putin
 

A eleição deste ano foi tanto recorde de participação, com cerca de 74% da população se fazendo presente no processo eleitoral, quanto de votos para o candidato à presidência, que recebeu aproximadamente 87% dos votos. Em 2018, eleição em que obteve maior porcentagem de votos, Putin foi eleito com 76,69%.

A vitória de Putin, afirmou Larissa Silva, mestre em relações internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora voluntária do Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN), não é uma novidade uma vez que "os adversários não tinham a mesma força de Putin".

Ainda assim, destaca a pesquisadora, "foi um recorde de comparecimento da população e isso é bem interessante devido ao contexto atual da Rússia".


"Alguns esperavam que, com as sanções e a pressão ocidental, a oposição crescesse e Putin perdesse um pouco da força que possui. Porém, percebe-se que isso não é o que acontece na Rússia."

 

Dessa forma, sublinha Larissa, é perceptível que existe uma boa parte da população "que apoia o presidente e a forma como ele conduz o país".

Dessa mesma forma, destaca Eden Pereira Lopes da Silva, historiador, doutorando em história comparada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Sobre África, Ásia e Relações Sul-Sul (NIEAAS) e membro do Grupo de Estudos 9 de Maio, a vitória de Putin é "recado significativo acerca da unidade política nacional russa entorno do projeto liderado pelo presidente".


"Devido ao tamanho da popularidade de Putin, que oblitera qualquer outra figura, essa reeleição pode ser considerada como uma espécie de plebiscito acerca dos rumos do governo russo", afirmou o historiador.



'Resgatou o prestígio da Rússia'


Tamanha popularidade pode ser explicada a partir de alguns fatores, explica o historiador. "Em primeiro lugar, Putin foi capaz de resgatar o papel e o prestígio da Rússia como um importante e respeitado país na ordem internacional", disse.

O segundo fator foi a estabilidade econômica alcançada no governo. Para o desgosto dos Estados Unidos, afirma, "a Rússia deixou para trás boa parte dos mecanismos econômicos do período da 'terapia de choque' vigente a partir da década de 1990".

Putin foi o segundo presidente da Rússia após a dissolução da União Soviética, encontrando um país que ainda se reestruturava econômica e geopoliticamente. Hoje, a Rússia é a 11ª maior economia do mundo, conseguindo crescer "acima da média mundial", diz Eden Lopes, mesmo diante as sanções internacionais.


Economia da Rússia surpreendeu
em termos de força de crescimento
 face às sanções, diz FMI


Ocidente entra em um dilema


"Boa parte dos líderes políticos ocidentais desconhecem o sistema, os valores e a forma de funcionamento da política russa", destacou Eden Silva. "Eles não entenderam ainda que ingerir na soberania dos processos sociais e políticos da Rússia é inútil."


"Isso é invisível para os ocidentais por causa de sua arrogância positivista em achar que os seus métodos e caminhos são os únicos certos, e que tudo que é diferente, é algo errado ou distorcido."

 

Para o historiador com especialização no período soviético, além de tradutor, intérprete e guia, Rodrigo Ianhez, o Ocidente agora está em uma encruzilhada. "Talvez pudesse haver um pensamento desejoso em relação a uma votação menos expressiva, pelo menos em relação à última eleição e isso não ocorreu", disse.


"As sanções realmente não mostraram afetar da maneira como era esperada a economia russa e o Ocidente vai ficar cada vez mais dividido."

 

De acordo com Ianhez, as discordâncias que já existem entre os países europeus e os Estados Unidos em como prosseguir no apoio à Ucrânia se aprofundarão, uma vez que o grade apoio à Putin "demonstra que há, de maneira bastante generalizada, um apoio ao governo".


"Apesar deles se apresentarem como um bloco coeso, para a Europa os custos dessa guerra são maiores e mais imediatos do que são para os Estados Unidos."

 

Com as eleições norte-americanas marcadas para este ano e forte divisão partidária no tema do auxílio a Ucrânia, o resultado eleitoral dos EUA "pode criar um desentendimento dentro do bloco" e influenciar diretamente na continuidade ou não desse conflito, concluiu Ianhez.



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Fonte: Sputnik Brasil


 

quinta-feira, 14 de março de 2024

Quando Putin fala sobre armas nucleares, invoca o direito de defesa, não de ataque, diz especialista


À Sputnik Brasil, especialista comenta entrevista dada pelo presidente russo, Vladimir Putin, e aponta que a doutrina da Rússia quanto às armas nucleares é a mesma desde a União Soviética, ou seja, são recursos de defesa e manutenção da soberania


© Sputnik / Gavriil Grigorov / Acessar o banco de imagens

Nesta quarta-feira (13), o presidente russo, Vladimir Putin, concedeu uma entrevista em que esclareceu alguns pontos do discurso feito na Assembleia Federal, sede do Parlamento russo, em 29 de fevereiro.

entrevista desta quarta-feira foi dada a Dmitry Kiselev, diretor-geral do grupo midiático Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte.

Em entrevista à Sputnik Brasil, João Cláudio Pitillo, professor de história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas (Nucleas) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), comentou os pontos abordados pelo presidente russo.

Na entrevista, Putin alertou que as tropas russas estão prontas para uma guerra nuclear, e disse que não descarta a possibilidade de realizar testes nucleares, se os EUA os fizerem.


"Se eles realizarem tais testes, não excluo, não é obrigatório. Se precisarmos disso, não precisamos, ainda temos que pensar, mas não excluo que possamos fazer o mesmo", disse o presidente russo.


Segundo Pitillo, em sua fala, Putin não fez uma ameaça de iniciar uma guerra nuclear, apenas invocou o direito de defesa da Rússia.


"A doutrina da antiga União Soviética era clara quanto às armas nucleares: elas não seriam jamais invocadas para atacar ninguém, mas seriam usadas para se defender, e aí você teria o status da destruição mútua. A Rússia continua com esse parecer, usando a arma nuclear como uma arma de dissuasão, que é o seguinte: 'Não me ataque, que eu também não lhe atacarei'", explica o especialista.

 

Putin: mísseis Avangard reduziram a zero
investimento dos EUA em defesa antiaérea

Ele acrescenta que o alerta de Putin vem na esteira de uma preocupante declaração dada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que afirmou que, se for preciso, tropas francesas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) entrariam em território ucraniano para lutar contra as tropas russas.

Segundo Pitillo, sendo a França um país que possui armas nucleares, a declaração de Macron alerta "para uma escalada que pode levar a uma guerra nuclear".

"E a Rússia avisa que a sua prontidão é plena, ou seja, vai invocar o seu direito de defesa, não vai ser destruída. E nós sabemos que uma guerra nuclear envolvendo essas potências levará à destruição do planeta. Então é importante que todos os líderes do planeta que possuem armas nucleares estejam conscientes de que elas têm que continuar recolhidas, e que no lugar delas é preciso exercer a diplomacia."

O especialista também sublinha que os EUA não apenas se furtaram em ratificar o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBT, na sigla em inglês), firmado no pós-Guerra Fria, como "continuaram em uma grande ofensiva global para dominar, não um continente, mas o planeta".


"Isso não é uma retórica. Basta ver que os EUA têm bases no mundo todo. […] E a Rússia, no seu caminho de desenvolvimento natural, é óbvio que vai romper, vai sair desse tratado. Porque esse tratado estava servindo para patrulhar e policiar os outros, não os EUA. Porque com esse discurso de fiscalizar e controlar o estoque nuclear mundial, os EUA, por trás disso, continuavam suas ações de avanços imperialistas. Ou seja, você ia retirando o direito dos países de se defenderem, eles iam diminuindo a sua capacidade nuclear, enquanto os EUA iam aumentando a sua presença militar em vários pontos, encurralando esses outros países. E a Rússia não quer ser encurralada, não quer ser surpreendida, então age de maneira a se proteger", explica Pitillo.

 

"É bom que se diga que é de conhecimento mundial que Israel tem um pequeno arsenal nuclear, é pequeno, mas existe, e que nunca foi policiado, nunca foi fiscalizado. E isso nunca foi objeto de discussão entre franceses, ingleses nem entre estadunidenses. Então esse tratado tem dois pesos e duas medidas", complementa.



 Na entrevista, Putin também comentou o recente anúncio do presidente dos EUA, Joe Biden, de que Washington não enviaria tropas à Ucrânia, afirmando que a Rússia não subestimaria a gravidade de tal ação.

"Sabemos o que são tropas americanas em território russo, são tropas intervencionistas, e é assim que as trataremos, mesmo que apareçam em território da Ucrânia", afirmou o presidente russo.

Segundo Pitillo, a declaração "é um alerta claro, no qual o presidente Putin avisa que a Rússia é um país que tem soberania".

"Porque nós conhecemos há 200 anos o papel que os EUA jogam no mundo, de intervenção, de invasão, de golpes de Estado, de destruição de soberanias. Então os EUA são um país que não se furta em invadir e atacar países independentes. Esse destino manifesto que os EUA rogaram para si é extremamente ameaçador. Porque você vê os EUA apoiando a destruição da Síria, apoiando uma Ucrânia fascista, apoiando uma série de ações de terrorismo ao redor da Rússia. Isso tem preocupado o presidente Putin, que não se furtará em agir em defesa do seu território. É o mínimo que os EUA deveriam compreender e respeitar. Porque essa doutrina bélica dos EUA cobra um preço caro, um preço em vidas humanas, e a ideia do imperialismo é manter esses países numa condição subordinada. E a Rússia tem todo um capital histórico que não lhe permite ficar subordinada a ninguém."

Na entrevista, Putin afirmou que "muitas pessoas no mundo associam a luta da Rússia por seus interesses às suas próprias esperanças de soberania e desenvolvimento independente".

"Eles associam nossa luta por nossa independência e verdadeira soberania com seus próprios desejos de soberania e desenvolvimento independente. Mas isso é agravado pelo fato de que, nas elites ocidentais, há um forte desejo de congelar a situação existente, uma situação injusta nas relações internacionais. Eles se acostumaram, durante séculos, a encher a barriga com carne humana e os bolsos com dinheiro. Mas eles precisam entender que o baile dos vampiros está acabando", disse o presidente russo.



 Segundo Pitillo, a declaração é uma crítica ao imperialismo e ao colonialismo. Ele destaca que "a expansão do Ocidente capitalista para os demais continentes do mundo se deu com base na exploração e na violência" e diz que, nesse contexto, "a Rússia propõe uma nova discussão, um rearranjo, um novo concerto das nações, onde esses países têm a possibilidade de reverter esse quadro, de passarem a ser donos dos seus próprios destinos".


"Esses países que outrora não tinham possibilidade, muitas vezes tinham que se submeter ao imperialismo, vendo as suas matérias-primas sendo drenadas por valores irrisórios e ficando apenas com o ônus dessa extração. Agora eles podem girar o seu comércio para uma relação mais justa, de benefício comum, com outro bloco, e esse alerta o presidente Putin faz ao mundo todo. É um aviso para o terceiro mundo, que hoje a gente pode chamar de Sul Global, de que é possível reverter esse quadro."

 

Pitillo também destaca que as entrevistas concedidas por Putin contribuem para desmantelar as falsas narrativas ocidentais que difundem o que ele classifica como uma visão deturpada da realidade, no intuito de alastrar a russofobia ao redor do mundo.

"O presidente Putin falando mais vezes, permitindo que as pessoas no Ocidente conheçam melhor a sua personalidade, o que ele faz, o que que ele pensa, isso aumenta a contradição. Isso faz com que o presidente Putin chame esse Ocidente e boa parte da população ocidental a fazer uma reflexão. […] isso rompe as barreiras que o Ocidente imperialista cria não só na guerra política, mas na guerra cultural. Então a fala do presidente Putin é esclarecedora", diz o especialista.


"Toda vez que Putin fala, ele combate essa guerra cultural, essa mentira, e permite que as pessoas conheçam mais sobre ele e a Rússia. E conheçam a motivação do governo russo, que não é bélica, pelo contrário, é de paz, mas uma paz justa, porque o problema é a Pax Americana. A Pax Americana é a paz dos cemitérios — essa não interessa a ninguém", conclui.

 

Fonte: Sputnik Brasil


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