Filme da Al Jazeera reconstrói o ataque do Hamas com detalhe inigualável. Assista à versão em português produzida em parceria com o Intercept Brasil
MENTIRAM PARA VOCÊ sobre o que aconteceu em 7 de
outubro de 2023. O Hamas invadiu
Israel e matou centenas de civis e soldados — isso é verdade — mas as alegações
mais incendiárias usadas para justificar o
bombardeio maciço de Gaza por Israel não são
comprovadas ou são histórias fabricadas, refutadas pelas provas.
Além disso, uma inspeção mais minuciosa mostra que alguns
dos piores crimes atribuídos ao Hamas podem ter sido cometidos pelos próprios
militares israelenses, como resultado do uso de armamento pesado contra civis e
reféns.
Essas são algumas das conclusões importantes do documentário inédito “7
de outubro”, do núcleo investigativo da
Al Jazeera, fruto de meses de minuciosa investigação forense.
O filme, adaptado para o português em parceria com o
Intercept Brasil, é a investigação mais abrangente e detalhada já publicada
sobre o episódio – e uma resposta contundente à boa parte da cobertura
da grande mídia desde então. Ele desnuda a propaganda israelense ao
mostrar o que realmente se passou no 7 de outubro em Israel e na Palestina, minuto por
minuto.
A equipe de
documentaristas da Al Jazeera vasculhou os registros governamentais e os depoimentos
de centenas de sobreviventes para compilar uma lista detalhada de vítimas.
Também examinou sete horas de filmagens — grande parte delas obtidas em câmeras
de combatentes do Hamas mortos — e conduziu várias entrevistas com
especialistas.
Se você for assistir a apenas uma reportagem sobre o
tema, escolha essa.
ASSISTA A “7 DE OUTUBRO”, O DOCUMENTÁRIO DA AL JAZEERA
‘Uma retaliação terrível contra os palestinos’
As descobertas
dos jornalistas da Al Jazeera mostram que os principais
jornais e políticos influentes como o presidente dos EUA,
Joe Biden, fizeram parte — voluntariamente ou não — de uma campanha de
desinformação em massa. Israel utilizou essa confusão para justificar seu
ataque sem precedentes a Gaza,
em curso há quase seis meses, que já matou mais de 32 mil pessoas –
46 palestinos para
cada civil israelense morto pelo Hamas e
pelas forças israelenses em 7 de outubro.
‘Se você consegue provocar o sentimento de repulsa nas
pessoas, acho que elas ficam mais propensas a apoiar, por exemplo, uma
retaliação terrível contra os palestinos’.
LEIA A ENTREVISTA COM RICHARD SANDERS, DIRETOR DO DOCUMENTÁRIO
Para Marc Owen Jones, professor de estudos do Oriente Médio
e analista de mídia entrevistado no filme, essas atrocidades inventadas têm uma
função importante: enfatizar a brutalidade. “Se você consegue provocar o
sentimento de repulsa nas pessoas, acho que elas ficam mais propensas a apoiar,
por exemplo, uma retaliação terrível contra os palestinos”, diz Jones.
Os crimes de Israel
O filme também detalha as falhas gritantes dos serviços de
inteligência e dos militares israelenses, que ignoraram evidências e avisos de
analistas e que poderiam ter evitado a chocante vitória militar do Hamas.
Na madrugada de 7 de outubro, por exemplo, os principais
líderes militares israelenses foram alertados que havia grandes e incomuns
movimentos de tropas. Uma analista de inteligência alertou repetidamente que o
Hamas estava planejando algo grande. Eles até obtiveram uma cópia do plano de
ataque, mas tudo isso foi ignorado.
As imagens de combate coletadas pelos cineastas sugerem que
nem mesmo os militantes palestinos esperavam romper tão facilmente a linha
militar israelense, o que lhes permitiu avançar sobre áreas civis, como o
festival de música Nova. Lá, centenas de pessoas foram mortas, primeiro por
combatentes do Hamas e depois por soldados e pilotos também israelenses em
pânico, que dispararam contra carros em fuga sem identificar corretamente quem
eram os alvos.
Gravações das forças armadas israelenses, análises de
especialistas e depoimentos de sobreviventes mostram que Israel abriu fogo
contra civis, os incinerando, numa tentativa de evitar que eles virassem reféns
do Hamas, que poderia usá-los como moeda de barganha.
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Acusações de estupro em massa
O festival Nova também foi o principal local onde teriam
ocorrido estupros em massa, inclusive alguns descritos por supostas
testemunhas, com detalhes horríveis. Uma reportagem
de capa do New York Times virou peça chave do argumento de apoiadores
da escalada genocida da violência israelense contra Gaza. Apesar das várias
inconsistências já apontadas na reportagem, o jornal tem se recusado a admitir
falhas e se retratar.
Os investigadores da Al Jazeera encontraram uma única prova,
um único vídeo, que poderia indicar violência sexual. Madeleine Rees, advogada e
diretora da Women’s International League for Peace and Freedom (Liga
Internacional de Mulheres por paz e liberdade, em tradução livre), estudou as
alegações. “Eu acredito que tenha havido estupro”, ela diz em entrevista.
“Em todos os conflitos sempre que há homens armados com a
intenção de praticar violência, é altamente improvável que não haja violência
sexual. Mas nada que eu tenha visto publicado até agora sugere que tenha sido
generalizado e sistemático” Rees disse.
Ela observa ainda que uma comissão da ONU solicitou
imediatamente a permissão de Israel para investigar as supostas atrocidades,
mas o grupo “foi barrado por Israel”.
A lorota dos 40 bebês decapitados
O filme também mostra, de forma conclusiva, que o mais
obsceno dos supostos crimes de guerra atribuídos ao Hamas – a sádica
decapitação e queima de 40 bebês no kibutz Kfar Aza, alegado por fontes
militares israelenses e repetido inquestionavelmente pelos principais
jornais do mundo – não tem fundamento. Dois bebês foram mortos em
Israel naquele dia, não 40, e nenhum em Kfar Aza, como mostra a lista de óbitos
compilada pelos jornalistas da equipe investigativa da Al Jazeera.
Essa mentira foi uma arma importante na guerra de propaganda de
Israel. O presidente dos EUA,
Joe Biden, até chegou a afirmar que viu pessoalmente “fotos de terroristas
decapitando crianças”. Mas a Casa Branca vergonhosamente reconheceu mais
tarde que Biden nunca havia visto essas imagens — mas isso só depois que a
desinformação já havia se espalhado pelo mundo.
Enquanto isso, relatos de jornalistas e
médicos em Gaza sobre crianças palestinas decapitadas e com os membros arrancados
por bombas israelenses passaram relativamente despercebidos nos
mesmos veículos.
VEJA A SÉRIE QUE ISRAEL TENTOU ESCONDER DE VOCÊ
A invasão de Rafah
Pelo menos 32.070 palestinos foram mortos e outros 74.298
ficaram feridos desde outubro em Gaza. A maioria esmagadora de seus 2,3 milhões
de habitantes foi deslocada forçadamente dentro do território. Em Rafah, no sul
da Faixa de Gaza, estão abrigados em tendas 1,5 milhão de pessoas, a maior
parte mulheres e crianças. É a última “zona segura” de Gaza, como Israel
designou – mas por pouco tempo.
Segundo reportagens, o primeiro-ministro de Israel,
Benjamin Netanyahu, disse ao
secretário de Estado dos EUA,
Antony Blinken, que Israel invadiria Rafah – já sob bombardeio – com ou sem
o apoio
dos EUA.
Também na sexta-feira, 22 de março, o Conselho de Segurança
da ONU novamente não
conseguiu chegar a um acordo sobre
o cessar-fogo, enquanto o número de mortos por fome, desnutrição e falta de
assistência médica aumenta.
Se não houver uma solução política negociada com pressão da
comunidade internacional em breve, os próximos dias poderão abrir a fase mais
sangrenta da campanha
genocida de Israel contra o povo palestino.
ASSISTA AO DOCUMENTÁRIO “7 DE OUTUBRO”
LEIA MAIS
• Deixei um pedaço de mim em Gaza e talvez nunca possa voltar para buscá-lo
• Transferências de armas dos EUA para Israel são mantidas em segredo
• Israel-Palestina:
11 distorções sobre Gaza e Hamas que a mídia vai contar hoje
EXCLUSIVO: Israel ignorou informações que impediriam o 7 de outubro e mentiu sobre Hamas para esconder que eles mataram seus próprios civis, revela documentário da @AJIunit. A versão em português é uma parceria com o @TheInterceptBR. ASSISTA! pic.twitter.com/WEa9cxGIJg
— Intercept Brasil (@TheInterceptBr) March 23, 2024
Por: Andrew Fishman
Fonte: Intercept Brasil
A fonte da alegação duvidosa de “bebês decapitados” é olíder colono israelense que incitou motins para “destruir” a vila palestina
Depois de um soldado da reserva israelita chamado David Ben
Zion ter dito a um repórter que militantes palestinianos “cortaram cabeças de
bebés”, Biden, Netanyahu e os meios de comunicação internacionais amplificaram
a afirmação duvidosa.
Israel admite que helicópteros Apache dispararam contra seuspróprios civis que fugiam do festival de música Supernova.
Isto foi confirmado pela civil israelita, Yasmin Porat, que
sobreviveu a um impasse de reféns em Be'eri. Ela afirmou que, durante
confrontos intensos, as Forças Especiais Israelenses “sem dúvida” mataram todos
os reféns restantes, juntamente com dois militantes do Hamas que se renderam,
usando projéteis de tanques e tiros frenéticos.
Breaking: Israel admits apache helicopters fired on their own civilians running from the Supernova music festival. https://t.co/NCcYGaFvAv…https://t.co/1H967kp0JB pic.twitter.com/9XsO11Jzxk
— Ramy Abdu| رامي عبده (@RamAbdu) November 9, 2023
Num vídeo recente de 7 de outubro, um tanque israelense é
visto atirando contra casas de colonos no Kibutz Be'eri, na Palestina ocupada.
In recent video from October 7, an Israeli tank is seen firing at homes for settlers in Kibbutz Be'eri, occupied Palestine. pic.twitter.com/4VUvAyhAPq
— MintPress News (@MintPressNews) December 20, 2023