Sputnik Brasil - Embora os americanos não tenham conseguido derrubar o
governo de Nicolás Maduro, Washington ainda tem bastantes recursos para lidar
com o presidente indesejável. A Rússia, por sua vez, continua apoiando o
governo venezuelano legítimo. O cientista político russo Gevorg Mirzayan
explicou o que está por trás da política russa na Venezuela.
Em seu artigo para a revista Expert, Gevorg Mirzayan
sublinha que a estratégia dos EUA na Venezuela se baseia na exploração dos
erros da política econômica das autoridades venezuelanas, que possivelmente são
agravados por certas ações dos sabotadores americanos.
Mirzayan revelou que não importa tanto saber o que causou o
apagão – a falta de investimentos na infraestrutura ou as ações de hackers ou
atiradores – ele já provocou um grande dano à economia do país. Segundo vários
dados, cada dia de blecaute custa 200 milhões de dólares para a economia da
Venezuela.
Além disso, para atingir o seu objetivo, os EUA usam a
pressão internacional e sanções unilaterais, por exemplo, as empresas
americanas estão proibidas de negociar petróleo venezuelano (uma parte
significativa do petróleo venezuelano é fornecida aos EUA e podia ser refinada
apenas nas refinarias especiais dos EUA). A economia venezuelana é fraca,
depende das importações e praticamente não tem fontes de ajuda financeira
externa.
- Entretanto, a Rússia, por sua vez, embora "não planeje financiar o governo de Maduro, finge que está pronta para defendê-lo", sublinhou o analista. Recentemente, dois aviões An-124 e Il-62 das Forças Armadas da Rússia chegaram a Caracas, para além de cerca de uma centena de militares e 35 toneladas de carga.
Moscou declarou que se trata de especialistas militares
russos que estão na Venezuela legalmente para participar da manutenção de
equipamentos militares russos anteriormente fornecidos a esse país.
No entanto, Washington dramatizou a situação. Os americanos
acusaram a Rússia de "escalada imprudente" da situação. A Organização
dos Estados Americanos apoiou os EUA, chamando os militares russos de
"instrumento de intimidação repressiva" e criticaram Moscou por
cooperar com um "regime usurpador". Conforme o autor recorda, o
presidente dos EUA Donald Trump até declarou que "a Rússia deve sair"
da Venezuela, acrescentando que todas as opções estão sendo avaliadas.
Mas qual é afinal o objetivo da política da Rússia em
relação à Venezuela? Mirzayan afirma que não se trata de salvar o regime de
Maduro.
"Os objetivos são mais globais. O programa mínimo é
reforçar o prestígio [da Rússia] nos países do Terceiro Mundo. O programa
máximo é forçar os EUA a reverem as relações russo-americanas", disse o
analista.
Para Mirzayan, ao proteger a Venezuela de uma suposta ameaça
de intervenção, a Rússia está tentando ganhar pontos políticos nos países do
Terceiro Mundo e demonstrar que não abandona seus parceiros, mesmo que estes
fiquem a quase de dez mil quilômetros de Moscou.
"Além disso, mostrando sua prontidão de interferir nos assuntos internos da Venezuela, o Kremlin pode mostrar a Washington que [os EUA] têm recursos limitados, bem como que certos países podem atuar 'nos quintais' dos outros", disse o cientista político.
Possivelmente, esse passo fará com que os EUA se tornem mais
prudentes nas suas ações nos países vizinhos da Rússia, por exemplo, na
Ucrânia. O analista lembrou a Crise do Caribe, quando a instalação de mísseis
soviéticos em Cuba em 1962 fez Washington rever sua decisão sobre a instalação
de armas nucleares na Turquia.
Ao mesmo tempo, Mirzayan sublinha que as ações do atual
presidente dos EUA, Donald Trump, estão fora da lógica e do padrão de
comportamento comuns. Trump age de forma assimétrica, pensando apenas no
resultado – não tanto o derrube de Maduro quanto a demonstração a todos os
países da América Latina de quem é um verdadeiro dono na região.
***
Nenhum comentário:
Postar um comentário