Allan dos Santos, do Terça Livre, na CPI das Fake News |
Jorge William
Por: O GLOBO
João Paulo Saconi
Um levantamento feito pela empresa de análise de dados
Novelo Data constatou que 2.015 vídeos publicados por canais bolsonaristas no
Youtube desapareceram da plataforma desde o início de junho. Dos 81 produtores
de conteúdos observados pela equipe da Novelo, pelo menos 37 tiveram vídeos
apagados este mês. O recordista em exclusões foi o canal Gigante Patriota, com
menos 1.300 vídeos disponíveis para os usuários da rede — 94% deles foram
removidos no último fim de semana. Há motivos diversos que podem ter levado ao
sumiço das publicações.
Nas redes: Procuradora que deu pareceres favoráveis a Flávio compartilhou
vídeo de Bolsonaro no Facebook
Desde o fim de maio, o ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), vem autorizando diligências contra blogueiros,
empresários e parlamentares que compõem a base de apoio do presidente Jair
Bolsonaro na internet. Há uma suspeita de que ataques à Corte tenham tido
alcance turbinado com a ajuda dessas pessoas. O mesmo pode ter acontecido com a
realização de manifestações antidemocráticas. A exclusão de vídeos pode estar
relacionada com uma tentativa dos canais de não serem enquadrados nas apurações
que tramitam no tribunal, no caso dos ataques virtuais, e na Procuradoria-Geral
da República (PGR), no caso dos protestos.
Um dos personagens mais conhecidos entre os alvosdas decisões
de Moraes, o blogueiro Allan dos Santos, do canal Terça Livre, teve 272 vídeos
apagados neste mês, até o último sábado. Santos foi alvo de buscas e apreensões
duas vezes.
Outros canais também tiveram números expressivos de vídeos
apagados até o último sábado. Foram os casos, por exemplo, do Foco do Brasil
(66 vídeos a menos); Notícias News N. N. (45 vídeos a menos); Notícias
Políticas (43 vídeos a menos); Ficha Social (40 vídeos a menos); Seu Tube (33
vídeos a menos) e Folha Política (24 vídeos a menos).
Os motivos para que os vídeos desapareçam do Youtube são
diversos. Eles podem ser apagados por quem os publicou; retirados da listagem
pública (e, portanto, seguem disponíveis para determinados usuários) e apagados
pela própria plataforma por violarem condições de uso — neste último caso, um
aviso sobre ocorrências deste tipo é exibido no lugar do conteúdo. Essas
possibilidades foram esclarecidas pela Google, administradora da plataforma, ao
Sonar (leia a nota na íntegra no fim da reportagem). A empresa, no
entanto, não comenta casos específicos.
Comportamento expressivo no intervalo de um ano
O programador Guilherme Felitti, fundador da Novelo, explica
que o levantamento não encontrou avisos de violação das normas do Youtube. Essa
é uma das evidências que o leva a crer que são os próprios youtubers que estão
efetuando as retiradas de seus vídeos do site. O monitoramento em questão é
feito há um ano, mas só agora as exclusões de conteúdos foram tão expressivas.
Em março, por exemplo, os canais deletaram 695 vídeos. Em abril, 247. Em maio,
foram 1.112 — número já ultrapassado antes do fim de junho.
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milícias para fazer campanha
— A maioria dos vídeos foram deletados uma semana após
a operação de busca e apreensão dentro do inquérito de fake news. Existe
um comportamento parecido desses youtubers entre maio e junho — explica
Felitti, complementando: — Não é possível identificar uma estratégia clara, no
entanto. Em alguns desses canais que deletaram vídeos ou esconderam vídeos,
ainda há vídeos que atacam o STF. Não é como se eles tivessem apagado todos os
vídeos mencionando a Corte. Não encontramos um fio condutor dessa
estratégia.
Para Felitti, o Youtube deveria ser objeto de mais atenção
no Brasil. Ele classifica a plataforma como um "mamute", dada a sua
relevância. No entanto, ainda de acordo com o programador, há poucas
iniciativas que compilem dados e façam o trabalho de registro da memória desta
rede. No caso da Novelo, esse processo acontece por meio da aplicação de uma
Application Programming Interface (API) (ou Interface de Programação de
Aplicativos, em português).
— O Brasil sempre tem uma cultura muito calcada em
televisão. O brasileiro sempre adorou a TV e não é à toa que o Youtube faz um
sucesso tremendo por aqui. Há uma força cultural na plataforma: a gente usa
muito, vê muito, estamos sempre lá. E é inevitável que essa cultura
derrame na política —justifica Felitti, que afirma: — A gente precisa
se organizar para entender como esses movimentos sociais se estruturaram no
Youtube. Quem são as pessoas, as práticas e o que elas fazem.
A Novelo já havia feito levantamento sobre o Youtube
observando os conteúdos que a plataforma selecionou aqueles que estavam mais
"em alta" para os usuários brasileiros nas eleições de 2018. A
empresa de análise de dados constatou que a maior parte dos conteúdos exibidos
como os mais populares eram desfavoráveis ao Partido dos Trabalhadores (PT),
adversário de Bolsonaro no segundo turno do pleito naquele ano.
Nos próximos dias, canais de Youtube posicionados à esquerda
do espectro político também estarão em foco a partir de novos estudos
divulgados pela Novelo.
Em nota sobre o caso, o Youtube informou: "Não
comentamos casos específicos. O YouTube é uma plataforma de vídeo aberta e qualquer
pessoa pode compartilhar conteúdo, que está sujeito a revisão de acordo com as
nossas diretrizes da comunidade. Além disso, o próprio responsável pelo canal
pode escolher não compartilhar mais determinado conteúdo ou deixá-lo em modo
privado. Em casos assim, a plataforma costuma exibir a mensagem ‘Vídeo
indisponível’."
- A primeira versão desta reportagem, publicada às 20h do dia 22 de junho de 2020, afirmava que 2.100 vídeos foram apagados em junho. A segunda, às 20h45m, atualizou esse número para 2.015, a pedido da Novelo Data.
ódio na mira da justiça, movimentos antirracistas e antifascistas, em Washington DC, Estados Unidos tentam derrubar estátua de ex-presidente genocida e escravagista, Alexandre Moraes derruba sigilo em operação da PF, Wassef planejava sequestro de jornalista, Bolsonaro se aproxima de seu favorito para o Ministério da Educação, batalhão de choque faz operação na casa de familiares de Queiroz em Minas Gerais.
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