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domingo, 10 de março de 2024

O jornalismo que afaga as empresas não tem limites


Oito anos depois, ninguém foi responsabilizado criminalmente pela perda dessas vidas e pelos milhares de atingidos em Mariana. Esta é a estratégia que se repete no caso de Brumadinho.


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Depois do quinto aniversário da tragédia-crime de Brumadinho, uma sessão solene no Congresso na quarta-feira passada (06/03), homenageou as 270 vítimas fatais da Vale. Passou em brancas nuvens na imprensa. Isso apesar do “gancho” evidente proporcionado por outro fato relacionado - esse sim noticiado - que ocorreu no mesmo dia: a votação do HC do presidente da Vale à época do rompimento da barragem, Fabio Schvartsman, que pediu o trancamento da ação criminal em que é réu por homicídio doloso qualificado. 

Ou seja, o executivo sequer admite ir a julgamento apesar de estar provado no processo que a instabilidade da barragem era de conhecimento da companhia por ele presidida, que inclusive pressionou a consultoria Tuv Süd a conceder o certificado de conformidade da barragem, apesar do risco constatado. Os engenheiros da Tuv Süd e outros executivos da Vale, além de Schvartsman, estão entre os 15 réus da ação que os responsabiliza pelas decisões que resultaram nas 270 mortes.

Dois dos três integrantes da Segunda Turma do TRF-6 se manifestaram a favor do pedido do ex-presidente da Vale - um deles ainda não se pronunciou e os votos ainda podem ser alterados até 12 de março. 

Nas notícias sobre a vitória parcial de Schvartsman não se ouviu a Avabrum - a associação dos familiares das vítimas de Brumadinho - que no mesmo dia pedia Justiça logo ali, no Congresso Nacional, pelas mortes de suas “jóias”, como se referem aos filhos, pais, mães, irmãos, noivos, esposos, amigos, afogados no mar de lama que se estendeu por 300 quilômetros e afetou a população de 17 cidades.

A Vale, que faz propaganda sobre o apoio que teria dado a familiares de vítimas e comunidades atingidas pela lama, lutou - e ainda luta - na Justiça para reduzir o valor das indenizações e da reparação de danos. 

Exatamente como fez e continua fazendo com os atingidos pelo rompimento de outra barragem, em novembro de 2015, controlada pela Vale e BHP Billiton, que destruiu um distrito de Mariana e provocou a morte de 19 pessoas. Até mesmo uma hidrelétrica que tem a companhia como sócia-proprietária e teve seu reservatório invadido pela lama trava uma batalha jurídica para ser ressarcida, como revelou reportagem da Pública desta semana. 

Oito anos depois, ninguém foi responsabilizado criminalmente pela perda dessas vidas e pelos milhares de atingidos em Mariana. Esta é a estratégia que se repete no caso de Brumadinho. 

Primeiro a companhia manobrou para que o processo, que corria em Brumadinho desde 2019, fosse transferido para a Justiça Federal em Belo Horizonte, o que fez com que voltasse à estaca zero. Por isso o julgamento, do qual o ex-presidente da Vale tenta escapulir, ainda não foi realizado. O HC de seu ex-presidente é mais um capítulo dessa história pela impunidade.

Como diz a Avabrum, um crime dessa magnitude não pode ficar sem culpados. Não há dinheiro que pague as vidas perdidas ou impeça novos crimes de mineradoras. 

Boa parte das vítimas fatais trabalhava para a própria Vale; muitos morreram dentro do refeitório da companhia que, como também era de conhecimento dos executivos, estava na rota dos rejeitos em caso do acidente previsível diante das condições da barragem. Mas a Vale deixou a lama rolar. 

Schwartsman, que assumiu o cargo prometendo que nunca mais haveria outra Mariana, recebia uma remuneração tão alta quanto deveria ser sua responsabilidade. De acordo com matéria de 2018 da revista Exame (um ano antes de Brumadinho), o cargo de presidente da Vale era o segundo mais bem pago por empresas brasileiras, com salário superior a 60 milhões de reais por ano. 

Segura de seu poder e da cautela da imprensa ao tocar no nome da companhia - que é anunciante de peso e conhecida por sua extensa banca de advogados - a Vale nem se preocupou com a repercussão negativa ao tomar outra atitude de arrepiar: pediu e obteve na mesmíssima quarta-feira 6 de março uma liminar na Justiça para proibir a comunidade Kamakã, uma das seis etnias do povo Pataxó HãHãHãe, de sepultar o cacique Merong Kamakã nas terras em que viviam, reivindicadas pela companhia. 

Merong, combativa liderança indígena de 36 anos, foi encontrado morto na segunda-feira passada, em circunstâncias ainda obscuras. 

A empresa limitou-se a divulgar uma nota, em que disse lamentar o falecimento do cacique e afirmou que busca uma "solução com a comunidade que preserve suas tradições, dentro da legalidade" (grifo meu).

Mas os “ganchos” desta quarta-feira não foram suficientes para alçar os atingidos pela maior tragédia humanitária do Brasil ao noticiário. A Vale até mereceu um comentário indignado - mas a favor da companhia. 

Na última edição da “Veja”, uma matéria na editoria de Política dá ares de escândalo a uma suposta ingerência do governo na cúpula da companhia e critica: “Lula, como se sabe, vem intimidando a Vale abertamente com suas falas, o que tem provocado prejuízos para a empresa privada” (grifo meu).

Imagino que o jornalista se refira à fala do presidente da República, de 28 de fevereiro passado, em que ele disse: “A Vale não pode pensar que ela é dona do Brasil. Ela não pode pensar que ela pode mais do que o Brasil. Então, o que nós queremos é o seguinte: as empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro. É só isso que nós queremos”.

Faltou a imprensa mostrar nesta semana que a Vale também não é dona do noticiário. 


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Via: Marina Amaral

Diretora Executiva da Agência Pública
marina@apublica.org


A História da privatização da Vale



segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Rio Doce: mais um ano se inicia sem suas águas recuperadas

 



  • Em 5 de novembro de 2015, a barragem de rejeitos de mineração Fundão rompe, derramando 50 milhões de toneladas de lama e resíduos tóxicos no Rio Doce, matando 19 pessoas, contaminando plantações, devastando a vida aquática e poluindo a água com lodo tóxico ao longo de 650 quilômetros do rio.

  • Passados mais de cinco anos, a limpeza realizada pela companhia não conseguiu restaurar o rio e a bacia hidrográfica. De acordo com moradores, a pesca e as plantações continuam envenenadas e menos produtivas. O acesso à água limpa ainda é difícil, e problemas de saúde sem razão aparente aumentaram.

  • Os habitantes do vale do Rio Doce estão frustrados com o que consideram uma resposta lenta ao desastre ambiental por parte da proprietária da barragem, a Samarco – um empreendimento conjunto da Vale e da BHP Billiton, duas das maiores mineradoras do mundo – e também por parte do governo federal.

  • Em torno de 1,6 milhão de pessoas sofreram o impacto inicial do desastre, mas o total de pessoas afetadas segue desconhecido. Relatos de complicações de saúde relacionadas a metais pesados continuam frequentes.

Mongabay Brasil / Assista ao VÍDEO


As águas do Rio Doce ainda apresentam uma cor marrom-avermelhada e turva a poucos metros da casa de Adomilson Costa de Souza. Até novembro de 2015, o rio era fonte de alimento e renda para ele. Agora, é uma lembrança diária do desastre que mudou sua vida. “Eu sempre vivi do Rio Doce. Qualquer peixe que eu pescava, vendia na porta de casa.”

Na maior parte do ano, Adomilson pescava em torno de 100 quilos de peixe por mês, vendendo-os a clientes que vinham de todos os cantos, alguns até mesmo percorrendo centenas de quilômetros em busca do produto fresco. Às margens do rio, ele criava animais e tinha uma plantação de bananas. A maioria de seus vizinhos no distrito de Pedra Corrida, em Minas Gerais, vivia da mesma forma. “Para nós, que nascemos aqui, o rio era tudo. Mas então veio a tragédia.”

A tragédia é o vazamento de milhões de toneladas de lama tóxica de uma barragem de rejeitos de mineração que se rompeu 300 quilômetros rio acima de Pedra Corrida. O desastre matou 19 pessoas soterradas no subdistrito de Bento Rodrigues e teve um impacto negativo em 39 municípios de dois estados. Os rejeitos da mineradora se espalharam por mais de 650 quilômetros desde sua fonte até o Oceano Atlântico.

Hoje, a calamidade é considerada o pior desastre ambiental do Brasil, e a responsabilidade pelo rompimento da barragem é atribuída diretamente à mineradora Samarco, um empreendimento conjunto entre a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton – duas das maiores mineradoras do mundo – e às falhas de regulação do governo brasileiro.

A força assombrosa da onda de lama tóxica que atingiu Bento Rodrigues (MG) fez com que um carro atravessasse uma casa. A Samarco e alguns de seus executivos foram acusados de homicídio, mas o caso ainda não foi concluído. Foto: Romerito Pontes, sob licença Creative Commons / Attribution 2.0 Generic license.

As cicatrizes na paisagem ribeirinha

Nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, a lama vermelha arrasou vilarejos, destruiu casas e contaminou o Rio Doce, o mais importante da região. Após a catástrofe, 11 toneladas de peixes mortos foram retirados do rio. Estima-se que 1,6 milhão de pessoas na bacia do Rio Doce tenham sofrido o impacto do desastre que destruiu a economia regional e os meios de subsistência das populações ribeirinhas.

Os impactos adversos permanecem e, mesmo hoje, uma camada espessa de lama tóxica cobre o leito do Rio Doce e as plantações e pomares às suas margens, deixando a água e a terra ao redor pintadas de marrom-avermelhado, fruto da mistura de rejeito de mineração e metais pesados.

“Foi um choque imenso para a região e a recuperação dos impactos ambientais e sociais tem sido lenta”, diz Bruno Milanez, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e coordenador do PoEMAS, um grupo de pesquisa que estuda o impacto político, econômico, social e ambiental da mineração.

Em Pedra Corrida, as pessoas dizem que não ousam comer peixes que vêm do rio e suas plantações não produzem tanto quanto antes. Muitos dos 2.500 moradores do distrito estão sobrevivendo com um cheque mensal de assistência da Samarco, a proprietária da barragem.

O rompimento da barragem de rejeitos foi um golpe duro para Adomilson Costa de Souza. Suas bananeiras, que cresciam perto da margem do rio, diminuíram de mil para apenas 150. Gradativamente, o número de peixes no Rio Doce foi aumentando nos anos seguintes ao desastre – mas Souza e seus vizinhos não pescam mais lá. “Sempre que pegamos algum peixe do rio, está todo manchado”, diz ele. “Às vezes, você abre o peixe e ele está podre por dentro. As pessoas têm medo de comprar. Não tem mais compradores para o nosso peixe.”

Pessoas, animais silvestres e domésticos, além de peixes, morreram quando a lama tóxica destruiu Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e outras comunidades. Foto: Romerito Pontes, sob licença Creative Commons / Attribution 2.0 Generic license.


O novo distrito de Bento Rodrigues ainda está sendo construído pela Samarco, mais de cinco anos após o desastre. Foto: Ana Ionova.


Recuperação paralisada

Ainda não está claro o que exatamente causou o desastre, mas as autoridades mostraram, a partir de documentos internos, que a Samarco e seus proprietários sabiam que a barragem poderia romper e arrasar a região. A companhia – ainda hoje sob propriedade da Vale e da BHP Billiton – foi obrigada a pagar bilhões em limpeza ambiental e indenizações às vítimas. Vinte e uma pessoas, incluindo o CEO da Samarco, Ricardo Vescovi, também foram acusadas de crimes, inclusive de homicídio, mas os processos judiciais ainda estão correndo. No entanto, parece que a Vale não aprendeu muito com o acidente, uma vez que não preveniu o rompimento semelhante da barragem de Brumadinho, em janeiro de 2019, no qual centenas de pessoas morreram.

Enquanto isso, as indenizações demoram a chegar às vítimas do Rio Doce. A Fundação Renova, criada pela Samarco para administrar as reivindicações relacionadas ao desastre, diz que até agora destinou R$ 10 bilhões para reparações e compensações pelos danos causados pelo rompimento da barragem. Mas um relatório recente da ONU revela que a companhia estava por trás de todos os 42 projetos destinados a combater as consequências do acidente.

Marino D’Angelo Junior está entre os milhares que ainda esperam por uma indenização, passados mais de cinco anos em que a onda de lama tóxica varreu a maior parte de Paracatu de Baixo, o distrito no qual ele viveu toda sua vida. A casa de Mariano foi uma das poucas que não acabou destruída pela onda de lama, mas suas terras foram submersas pelo lodo e suas plantações destruídas. “Quando olhei pela janela da sala, parecia que eu estava na lua: a paisagem era só lama. Nós sempre vivemos da terra. O desastre acabou com tudo.”

Antes do colapso da barragem, D’Angelo ganhava a vida criando vacas leiteiras. Ele vendia o leite por meio de uma associação de produtores que ele mesmo liderava e os negócios iam muito bem: a produção do grupo tinha aumentado de 400 litros por dia para 10 mil litros por dia em pouco mais de uma década. “Nós conseguíamos ganhar mais, colocar mais dinheiro no bolso”, diz D’Angelo. “Então o rompimento da barragem destruiu metade das propriedades de nossos produtores. Acabou com tudo.”

Marta de Jesus Arcanjo Peixoto mostra foto do neto, que ficou doente três anos depois que o rompimento da barragem despejou 90 milhões de toneladas de rejeitos tóxicos de mineração. Sua casa, em Paracatu de Baixo, foi destruída quando a barragem da Samarco se rompeu. As vítimas do distrito ainda não foram acomodadas em novas moradias. Foto: Ana Ionova.

Riscos de longo prazo

Com o passar dos anos, aumentam os temores dos moradores sobre os impactos de longo prazo à saúde causados pelo lodo de resíduos da mineração que ainda polui o Rio Doce e cobre terras antes férteis. A Fundação Renova alega que a água e o solo da região não estão mais contaminados, mas os moradores nas comunidades afetadas dizem que sua saúde está se deteriorando e que estão ficando doentes desde o desastre.

Estudos parecem corroborar essas alegações. No distrito de Barra Longa (MG), que foi bastante atingido, 77,9% dos moradores relataram problemas de saúde sem razão aparente desde o desastre, incluindo dores de cabeça, tosse, dor nas pernas e reações alérgicas. “Quem mora aqui não bebe essa água e não come nada que seja produzido na região”, diz Adomilson, referindo-se à comunidade de Pedra Corrida. “Então não adianta dizer que está tudo bem, eles não vão convencer a comunidade.”

Em Paracatu de Baixo, o rompimento da barragem foi um golpe duplo para Maria de Jesus Arcanjo Peixoto. A onda de lama varreu o bairro onde ela e sua família moravam há gerações, reduzindo sua casa a escombros e cobrindo com uma espessa camada de rejeito de mineração as terras onde ela criava vacas leiteiras. “As plantações não crescem mais como antes”, aponta, enquanto caminha em meio à lama vermelha que ainda cerca a carcaça de concreto que antes era sua casa. “A terra foi arruinada. É tudo lama agora.”

Dois anos atrás, um segundo desastre atingiu sua família: uma doença misteriosa atacou os pulmões de seu neto e o deixou preso a uma cadeira de rodas. “Até agora, os médicos não encontraram nada”, diz Maria de Jesus. “Ele tinha três meses quando a barragem rompeu. E toda a comida, o leite, o alimento das vacas – tudo vinha da lama.”

O neto de Marta de Jesus Arcanjo Peixoto não consegue caminhar, vítima de uma doença ainda não diagnosticada que se manifestou três anos depois que a onda de lama tóxica inundou o vilarejo onde a família reside. Foto: Ana Ionova.

A Fundação Renova diz que o tratamento extensivo do Rio Doce ajudou a restaurar a qualidade da água, que agora é “similar a antes do rompimento da barragem”. A fundação diz que coleta três milhões de unidades de dados em 92 estações de monitoramento ao longo do rio, e que esses dados não mostram traços de metais pesados ou elementos tóxicos na água.

Contudo, um relatório recente de uma agência ambiental do governo, que ainda não foi publicado, mas ao qual a Mongabay obteve acesso a partir de uma fonte anônima, revela níveis elevados de uma série de metais no Rio Doce e em suas margens, e pede mais monitoramento da água e do solo da região.

Embora a Renova tenha gastado dinheiro para tratar da contaminação do Rio Doce, a maior parte das ações da fundação financiada pela indústria tem sido de “esforços paliativos” focados em monitorar a qualidade da água em vez de tratar o rio, de acordo com Milanez, da Universidade Federal de Juiz de Fora.

“Eles estão colocando muito dinheiro nessas medições”, diz o pesquisador. “Mas, no fim das contas, as pessoas ainda estão expostas e os peixes ainda estão contaminados. Pode estar melhorando, mas é seguro? Esta é a grande questão.”

O Rio Gualaxo do Norte, afluente do Rio Doce, no distrito de Mariana (MG), é o palco de um projeto piloto que utiliza vegetação nativa para o tratamento de suas águas. Foto: Ana Ionova.


Novo caminho e nova esperança

As águas marrons do Rio Gualaxo do Norte atravessam suavemente os escombros de Bento Rodrigues – o distrito que ficava logo abaixo da barragem de rejeitos. O lugar foi totalmente destruído pelo rompimento da barragem, que matou 19 moradores e fez o restante fugir para terras mais altas pouco antes da torrente de lama avançar. A Samarco realojou todos os moradores sobreviventes, embora as memórias traumatizantes que eles carregam do dia 5 de novembro de 2015 permaneçam.

Agora, uma startup local decidiu limpar o Rio Gualaxo do Norte, alimentando a esperança de que pelo menos alguns danos ambientais locais possam ser revertidos.

Um projeto piloto financiado pela Renova está usando vegetação nativa e naturalizada para tratar a água e regenerar a vida aquática no Gualaxo, um dos maiores afluentes do Rio Doce. A mesma tecnologia já foi implementada com sucesso em outros lugares, inclusive em Londres, onde ajudou a limpar o Rio Tâmisa. Agora, ela está sendo testada em Mariana com a esperança de que possa ser usada para limpar a bacia do Rio Doce.

“O impacto [do rompimento da barragem] foi gigantesco sobre todo o ambiente aquático”, diz William Pessôa, diretor-executivo e fundador da LiaMarinha, a startup que desenvolveu a tecnologia de limpeza e que vem tocando o projeto desde agosto de 2020. “Mas a natureza tem essa capacidade de se regenerar. Nosso objetivo é ajudar a natureza a passar por esse processo mais rapidamente.”

O projeto ainda está no início, mas já há sinais de que as plantas estão ajudando a reduzir as partículas de metais pesados e a turbidez das águas, tornando-as mais claras e menos poluídas. “Hoje, a água já melhorou bastante”, diz Pessôa. “E vemos que tem potencial para melhorar muito mais.”

As comunidades estão encontrando outros caminhos inovadores para a recuperação. Em Pedra Corrida, Adomilson tem atuado em um pequeno projeto de aquicultura nos últimos três anos. Ele e outros pescadores, que antes tiravam o sustento do Rio Doce, agora criam alevinos em piscinas despoluídas até que os peixes cresçam o suficiente para serem vendidos.

“Hoje estamos criando nossos próprios peixes e vivemos com a renda da venda”, diz. “E soltamos alguns peixes no rio. Agora podemos devolver à natureza, em vez de tirar dela”. Por meio do programa socioeconômico, Adomilson conseguiu repor sua antiga renda, dizimada pelo rompimento da barragem. Agora, ganha cerca de R$ 2 mil por mês com o trabalho na aquicultura.

A Fundação Renova também lidera um projeto maior de pesca, com o objetivo de replicar esses resultados e ampliar o acesso da comunidade à aquicultura – ação bem recebida pelos moradores, que ainda sentem os terríveis impactos do desastre ambiental. Para Adomilson, que está ajudando a expandir o projeto de aquicultura, a esperança é que ele atinja mais pessoas em sua comunidade, dando-lhes a mesma chance de reconstruir suas vidas.

Imagem no Banner: O rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco, cujos donos são a Vale e a anglo-australiana BHP, causou uma enxurrada de lama que inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais. Foto: Rogério Alves / TV Senado.

Marta de Jesus Arcanjo Peixoto segura das únicas fotos de casamento que conseguiu salvar antes que sua casa fosse varrida pelo lodo tóxico da mineração. Foto: Ana Ionova.


DW Brasil

Mariana, cinco anos depois

Há cinco anos, a barragem de rejeitos de Fundão, de propriedade das empresas Samarco, Vale e BHP, rompeu. Para desabrigados, a tragédia continua: nenhum dos três reassentamentos sob responsabilidade da Fundação Renova ficou pronto. 5 de nov. de 2020

Assista ao VÍDEO


Jornal Hoje em Dia

Assista os vídeos mais impactantes da tragédia em Mariana. 8 de nov. de 2015

Assista ao VÍDEO



Portal UAI

Vídeo inédito mostra desespero durante rompimento de barragem em Mariana. 18 de mar. de 2016

Em um vídeo inédito postado por uma das testemunhas da tragédia em uma rede social é possível ver a força da avalanche marrom que desceu montanhas, atingindo e destruindo comunidades e tudo que estava pela frente. O desespero são de pelo menos três pessoas que estavam próximas a Bento Rodrigues, distrito de Mariana, na Região Central de Minas Gerais, que foi devastado pela lama de rejeitos que desceu da barragem do Fundão, em 5 de novembro de 2015

Assista ao VÍDEO


Fonte: Mongabay Brasil


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Aniversário da tragédia de Mariana não impede deputados de tentarem votar flexibilização da legislação ambiental


Após um ano da tragédia em Mariana (MG), moradores da região de Bento Rodrigues ainda pedem por justiça. Sem um processo firme de licenciamento ambiental, mais desastres como esse podem ocorrer.



Aniversário da tragédia de Mariana não impede deputados de tentarem votar flexibilização da legislação ambiental; veja nota assinada por mais de 250 organizações


A Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados encerrou a sessão de hoje (14) sem votar o Projeto de Lei (PL) 3729/2004, que trata da Lei Geral do Licenciamento Ambiental. Uma nova reunião foi agendada para a semana que vem e existe a possibilidade do texto voltar à pauta de votação.

O PL está tramitando em regime de urgência e o texto em discussão é um substitutivo do Deputado Mauro Pereira (PMDB/RS), que contém diversos pontos polêmicos como a dispensa de licenciamento para atividades poluidoras específicas, criação do licenciamento autodeclaratório e flexibilização das exigências ambientais.

“Na prática, essas novas regras colocam em alto risco de colapso todo e qualquer empreendimento. Teríamos potenciais tragédias de Mariana espalhadas por todo o país”, defende Fabiana Alves, do Greenpeace Brasil.

Nos últimos meses, o Ministério do Meio Ambiente e outros ministérios vinham construindo um projeto sobre licenciamento ambiental. Contudo, segundo informações, por orientação da Casa Civil o próprio governo atropelou o processo e passou a apoiar o texto da bancada ruralista do Deputado Mauro Pereira.

Leia a seguir nota assinada por diversas organizações da sociedade civil contra os retrocessos da legislação de Licenciamento Ambiental:


Nota de Repúdio ao substitutivo do Deputado Mauro Pereira
ao Projeto de Lei n.º 3.729/2004


O Projeto de Lei n.º 3.729/2004 pretende estabelecer a nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental, tema altamente complexo e com destacada relevância para a sociedade brasileira. Apresentado em 15.09.2016, o substitutivo do Deputado Federal Mauro Pereira (PMDB/RS) não foi objeto de nenhum debate, audiência pública, sessão deliberativa ou qualquer outra forma de apreciação e aprofundamento, seja por parte dos Deputados Federais, seja por parte da sociedade nacional.

Considerando-se a recente divulgação de escândalos de corrupção para privilegiar interesses privados em detrimento de interesses públicos; a notória importância do licenciamento ambiental para todos os setores da sociedade, incluindo o papel do Poder Público no âmbito do desenvolvimento nacional; e a complexidade e profundidade dos temas envolvidos, além das diversas lições aprendidas a partir da experiência acumulada em casos práticos, é preciso que a Câmara dos Deputados esteja adequadamente apropriada das diversas facetas que a matéria apresenta, para que possa, ao final, tomar decisões acertadas, ao encontro do interesse público e do atendimento à Constituição Federal. É fundamental que haja um amplo debate nacional sobre o tema.

O substitutivo apresentado pelo Deputado Federal Mauro Pereira figura, entre os textos em tramitação, como aquele que pretende impor os mais graves retrocessos à legislação atualmente em vigor, além do notável baixo nível de técnica legislativa, o que prejudica a interpretação dos dispositivos, podendo gerar insegurança jurídica e ampliação de ações judiciais. Exemplos de retrocessos incluídos no texto: dispensa de licenciamento para atividades poluidoras específicas, criação de licenciamento autodeclaratório, permissão aos Estados e Municípios para flexibilizar exigências ambientais sem qualquer critério, possibilidade de autorizações tácitas por vencimento de prazos e de suspensão de condicionantes ambientais por decisão unilateral do empreendedor, e eliminação da responsabilidade socioambiental de instituições financeiras por atividades por elas apoiadas, entre outros.

Eventual aprovação da referida proposta, ainda mais sem os imprescindíveis debates públicos, geraria inúmeras consequências negativas, como o significativo aumento de risco de ocorrência de desastres socioambientais, como o verificado em decorrência do rompimento da barragem de rejeitos em Mariana (MG), a ausência de prevenção, mitigação e compensação de impactos decorrentes de empreendimentos, a reiterada violação de direitos das populações atingidas, a ampliação dos conflitos sociais e socioambientais e a absoluta insegurança jurídica aos empreendedores e ao Poder Público.

Diante disso, as organizações abaixo assinadas repudiam qualquer tentativa de aprovação do substitutivo ao Projeto de Lei n.º 3.729/2004 apresentado pelo Deputado Mauro Pereira, principalmente sem que sejam realizados debates amplos, mediante audiências públicas, com a participação dos mais diversos especialistas de diferentes setores da sociedade em relação aos complexos temas envolvidos na matéria.


Assinam:


ABAI – Associação Brasileira de Avaliação de Impacto

ABA – Associação Brasileira de Antropologia

ABECO – Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação

ABRAMPA – Associação dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente

ABONG – Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais

ACAPRENA – Associação Catarinense de Preservação da Natureza

AFES – Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade

AIDA - Asociación Interamericana para la Defensa del Ambiente

AMAR – Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária

AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras

AMDA – Associação Mineira de Defesa do Ambiente

AMECA – Associação Movimento Ecológico Carijós

Amigos da Terra Amazônia Brasileira

ANGA – Associação para a Gestão Socioambiental do Triângulo Mineiro

APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil

APOENA – Associação em Defesa do rio Paraná, Afluentes e Mata Ciliar

APREMAVI – Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida

APRODAB – Associação dos Professores de Direito Ambiental do Brasil Apua Várzea das Flores

ARPINSUL – Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale

ASIBAMA/DF – Associação dos Servidores Federais da Área Ambiental no Distrito Federal

Asociación Ambiente y Sociedad

ASSEMA – Associação Sindical dos Servidores Estaduais do Meio Ambiente (MG)

Associação Alternativa Terrazul

Associação Bem-Te-Vi Diversidade

Associação Mar Brasil

Associação Mico Leão Dourado

Associações Amigos de Iracambi

Brigadas Populares

CDHS – Centro de Direitos Humanos de Sapopemba

CEAPAC – Centro de Apoio a Projetos de Ação Comunitária

CEAS – Centro do Estudos e Ação Social

Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos

CEPASP – Centro de Educação, Pesquisa, Assessoria Sindical e Popular

CIMI – Conselho Indigenista Missionário

Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular

Comissão Paroquial de Meio Ambiente de Caetité (BA)

Comissão Pró-Índio de São Paulo

ComVida – Associação Cultural Caminho de Vida

Conectas Direitos Humanos

Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica Conservação Internacional – CI Brasil

Crescente Fértil

CSF Brasil – Conservation Strategy Fund

CTI – Centro de Trabalho Indigenista

CUT – Central Única dos Trabalhadores

DAR – Derecho, Ambiente y Recursos Naturales ECOA – Ecologia e Ação

Ecomarapendi

Engajamundo

FAOR – Fórum da Amazônia Oriental

FBDS – Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável

FBOMS – Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais

FONASC-CBH – Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas

Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social

Frente Por Uma Nova Política Energética

Fundação Biodiversitas

Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza

Fundação Grupo Esquel Brasil

Fundação SOS Mata Atlântica

Fundación Avina

GAMBA – Grupo Ambientalista da Bahia

GERC – Grupo Ecológico Rio das Contas

GESTA-UFMG – Grupo de Estudo em Temáticas Ambientais Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero

Greenpeace

Grupo Ambiental Natureza Bela

Grupo de Defesa da Amazônia

Grupo de Pesquisa Energia Renovável Sustentável

GT – Grupo de Trabalho de Infraestrutura

GTA – Grupo de Trabalho Amazônico

IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

ICV – Instituto Centro de Vida

IDESAM – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas

IDPV – Instituto O Direito por um Planeta Verde

IDS – Instituto Democracia e Sustentabilidade

IEB – Instituto Internacional de Educação Brasil

IEMA – Instituto de Energia e Meio Ambiente

IEPÉ - Instituto de Pesquisa e Formação Indígena

IMAFLORA – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola

IMAZOM – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia

INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos

Iniciativa Verde

Instituto Augusto Carneiro

Instituto Ecoar para Cidadania

Instituto Goiamum

Instituto Hóu

Instituto Mira-Serra

Instituto Silvio Romero de Ciência e Pesquisa

Instituto SOS Pantanal

International Rivers

IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia

IPEMA – Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica

ISA – Instituto Socioambiental

Justiça Global

Laboratório de Ecologia, Manejo e Conservação de Fauna Silvestre (LEMaC), do Departamento de Ciências Florestais da ESALQ/USP

Laboratório de Educação e Política Ambiental (OCA), da ESALQ/USP

Laura Alves Martirani, Professora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia – ESALQ/USP

Luis Enrique Sanchez, Professor Titular da Escola Politécnica da USP

MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens

MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração

Manuela Carneiro da Cunha, Antropóloga, Professora emérita da Universidade de Chicago

Márcia C. M. Marques, Professora do Departamento de Botânica, Universidade Federal do Paraná – UFPA

Marcos de Almeida Matos, Antropólogo, Professor da Universidade Federal do Acre e membro do Laboratório de Antropologias e Florestas – UFAC

MARH – Movimento Ambientalista da Região das Hortênsias Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais

MDPS – Movimento de Defesa de Porto Seguro

Movimento Ecossocialista de Pernambuco

NESA – Núcleo de Estudos e Pesquisas Socioambientais (UFF) Núcleo Sócio Ambiental Araçá-Piranga

OC – Observatório do Clima

OCF – Observatório do Código Florestal

Plataforma de Direitos Humanos Dhesca Brasil

Poemas – Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade Projeto Saúde e Alegria

Promac – Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte

RCA – Rede de Cooperação Amazônica

REAPI – Rede Ambiental do Piauí

Rede Nossa Belém do Movimento Cidades Sustentáveis

REPROTAI – Rede de Protagonistas em Ação de Itapagipe

SAB – Sociedade de Arqueologia Brasileira

SAPE – Sociedade Angrense de Proteção Ecológica

SBE – Sociedade Brasileira de Espeleologia

SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

Simone Athayde, Professora visitante da Universidade Federal de Tocantins

Sindsema (MG) – Sindicato dos Servidores Públicos do Meio Ambiente de Minas Gerais

SINFRAJUPE – Serviço Inter-Franciscano de Justiça, Paz e Ecologia SNE – Sociedade Nordestina de Ecologia

SOS Amazônia

SPVS – Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental Thomas Lewinsohn, Professor de Ecologia – Unicamp

TOXISPHERA – Associação de Saúde Ambiental

WWF-Brasil – World Wide Fund for Nature

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