247 - Um dia após a prisão de seu sobrinho, o
prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella, o bispo Edir Macedo sofre uma nova
derrota e não poderá mais exercer seu comércio evangélico em Angola, após o
governo do país reconhecer dissidentes que lideraram a revolta contra o empresário
como os novos representantes da Igreja Universal do Reino de Deus.
Reportagem do portal The Intercept Brasil revelou que o
governo de Angola tornou público ontem um documento que confirma o bispo
angolano Valente Bezerra Luís como o novo representante da Igreja Universal do
Reino de Deus no país. Coordenador da chamada Comissão da Reforma, Valente é um
dos dissidentes que liderou a revolta dos angolanos contra Edir Macedo e cúpula
brasileira da Igreja.
O documento, com data de 17 de dezembro, mostra que o estado
angolano reconheceu as decisões de uma assembleia da Universal local realizada
no dia 24 de junho. Na ocasião, os religiosos em Angola haviam rompido com o
império de Edir Macedo e a cúpula brasileira. No lugar, elegeram o bispo
Bezerra, líder da revolta, como representante. A ata da assembleia chegou a ser
publicada no diário oficial de Angola em julho, mas o resultado da votação foi
contestado pela cúpula da Universal por supostas irregularidades.
A reportagem ainda acrescenta que, agora, em meio a um clima de guerra civil entre os religiosos, Angola
impôs uma dura derrota a Edir Macedo. No documento, o Instituto Nacional para
os Assuntos Religiosos do Ministério da Cultura de Angola afirma que a
Universal é reconhecida pelo estado angolano e confere poderes a Valente Luís.
Com isso, o movimento autointitulado Reforma assumiu, enfim, o controle da igreja
no país.
No Twitter
Até @jairbolsonaro tentou interceder a favor do líder supremo da Universal. Não adiantou: o governo angolano acabou de reconhecer dissidentes como novos líderes da igreja no país. Reportagem de @gibanascimento. https://t.co/cM7KOELPYM
Templo de Salomão da Igreja Universal em São Paulo - Foto:
Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas
Ministério Público do Rio de Janeiro detectou uma
movimentação atípica de quase R$ 6 bilhões, entre maio de 2018 e abril de 2019,
na Igreja Universal
Jornal GGN – O esquema de liberação de contratos
na Prefeitura do Rio, o chamado “QG da Propina”, sob a gestão Crivella, também
teve relações com um suposto esquema bilionário de lavagem de dinheiro junto à
Igreja Universal do Reino de Deus.
Além do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), o primo de
Edir Macedo e ex-tesoureiro das campanhas eleitorais do prefeito, Mauro Macedo,
e o ex-senador e bispo Eduardo Benedito Lopes (Republicanos) também foram
acusados de integrar o esquema “QG da Propina”.
Macedo é conhecido por administrar negócios de empresas
ligadas à Igreja Universal. Lopes, que foi suplente de Marcelo Crivella no
Senado, por sua vez, chegou a ser acusado em 2018, durante campanha de
reeleição ao Senado, de ter sido favorecido politicamente por abuso de poder
religioso da Igreja Universal.
Entre as atuações de organização criminosa e corrupção
passiva, a Igreja Universal do Reino de Deus teria sido usada para lavagem de
dinheiro. Os investigadores do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ)
detectaram uma movimentação atípica de quase R$ 6 bilhões, entre maio de 2018 e
abril de 2019, na Igreja.
Segundo os promotores, a movimentação financeira “anormal”
seria, na prática, a ocultação de renda de integrantes do esquema de propinas
junto à Prefeitura, por meio da Igreja.
Igreja Universal pode ter sido usada por Crivella para lavar dinheiro recebido em propinas, segundo o MP. Cerca de R$ 6 bilhões teriam sido movimentados pela Igreja entre maio de 2018 e abril de 2019. #Polícia#BandNewsFMhttps://t.co/atbULwhlww
Prisão foi realizada pela Polícia Civil e pelo Ministério
Público, em um desdobramento da operação que investiga um suposto ‘QG’ da
corrupção na Administração municipal
O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo
Crivella (Republicanos), foi preso na manhã desta terça-feira
durante uma operação conjunta do Ministério Público do Rio de Janeiro e da
Polícia Civil. A poucos dias de deixar a prefeitura ―o prefeito eleito Eduardo
Paes (DEM) toma posse em 1º de janeiro―, Crivella foi detido em sua
casa e levado para prestar depoimento no início da manhã. Procurada, a Promotoria
confirmou que realizou uma operação “para cumprir mandados de prisão contra
integrantes de um esquema ilegal que atuava na Prefeitura do Rio”, mas que, em
razão de sigilo de Justiça, não poderia fornecer outras informações.
Segundo noticiou a TV Globo, que mostrou o momento da
condução do prefeito para a Cidade da Polícia, Crivella foi preso em um
desdobramento da Operação Hades, iniciada no dia 10 março, que apura suspeita
de irregularidades na Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur).
Ainda de acordo com a emissora, ao menos outras seis pessoas foram presas,
incluindo o empresário Rafael Alves, apontado como operador do esquema.
Como mostrou reportagem do EL PAÍS em setembro, o prefeito é
acusado pelo Ministério Público de montar um “QG da Propina”, esquema que
motivou a abertura do processo de um impeachment na Câmara
Municipal. Alves, que é irmão de Marcelo Alves, ex-presidente da Riotur, é
suspeito de direcionar licitações, burlar a ordem cronológica de pagamentos que
o Tesouro Municipal devia a empresas e, segundo a investigação, tinha poderes
de indicar cargos.
Em um vídeo gravado durante a busca e apreensão na casa
dele, em março, Crivella supostamente liga para um dos celulares de Rafael
Alves para avisar de uma busca na Riotur e é atendido pelo delegado da Polícia
Civil responsável pela ação. Ao perceber que não se tratava de Alves ao
telefone, Crivella encerra a chamada. A desembargadora Rosa Helena Guita, que
deu a ordem de busca na ocasião e determinou a prisão do prefeito nesta terça,
disse que na época que “a subserviência de Crivella a Rafael Alves é
assustadora”.
Ao ser preso nesta terça, Crivella afirmou aos jornalistas
ser vítima de “perseguição política”, em declaração na entrada da Polícia Civil
às 6h35. “Lutei contra o pedágio ilegal injusto, tirei recursos do carnaval,
negociei o VLT, fui o Governo que mais atuou contra a corrupção no Rio de
Janeiro”, disse. Questionado sobre sua expectativa agora, o prefeito disse:
“Justiça”.
Em 10 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro cumprimenta o
prefeito Marcelo Crivella, em um evento das Forças Armadas, no Rio. Bolsonaro
apoiou Crivella na disputa municipal, mas o prefeito não conseguiu se
reeleger.HANDOUT / REUTERS
Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, fundada por seu tio, o
bispo Edir Macedo, Marcelo Crivella foi eleito prefeito do Rio de Janeiro em
2016, mas não conseguiu reeleger-se, apesar do apoio explícito do
presidente Jair Bolsonaro, após acumular críticas a sua gestão. O presidente da
Câmara do Rio, Jorge Felippe (DEM), deve assumir a Administração municipal pois
o vice de Crivella, Fernando McDowell, morreu em 2018.
Já Eduardo Paes comentou pelo Twitter a prisão, afirmando
que o trabalho de transição de Governo será mantido. “Conversei nessa manhã com
o presidente da câmara de vereadores Jorge Felipe para que mobilizasse os
dirigentes municipais para continuar conduzindo suas obrigações e atendendo a
população. Da mesma forma, manteremos o trabalho de transição que já vinha
sendo tocado”, escreveu.
Conversei nessa manhã com o presidente da câmara de vereadores Jorge Felipe para que mobilizasse os dirigentes municipais para continuar conduzindo suas obrigações e atendendo a população. Da mesma forma, manteremos o trabalho de transição que já vinha sendo tocado.
O prefeito Marcelo Crivella e membros do primeiro escalão do
mandato estão entre os alvos da operação da Polícia Civil e do Ministério
Público do Rio que investiga corrupção. A ação cumpre 22 mandatos de busca e
apreensão em endereços da prefeitura do Rio de Janeiro, de agentes públicos e
de empresários.
Movimentações atípicas realizadas pela Igreja Universal
do Reino de Deus, totalizando quase R$ 6 bilhões, chamaram a atenção do
Ministério Público do Rio de Janeiro para possíveis crimes envolvendo a IURD.
A informação consta de um documento enviado à Justiça pelo
subprocurador-geral de Justiça de Assuntos Criminais e de Direitos Humanos do
MPE-RJ, Ricardo Ribeiro Martins, obtido pelo G1. Na petição, a igreja é citada por
ter chamado a atenção do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf)
após movimentar R$ 5.902.134.822 entre o dia 5 de maio de 2018 e 30 de abril de
2019.
As suspeitas sobre a IURD têm relação direta com o escândalo
do QG da Propina, que está sendo investigado pelo MP na prefeitura do Rio de
Janeiro. Entre os alvos da operação, está o prefeito Marcelo Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal e aliado do
empresário investigado Rafael Alves, que ganhou fama por mensagens nas quais
ameaçava revelar supostos esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro
envolvendo o prefeito, sua família e a igreja. Alves é apontado como um
ator influente no governo municipal e suspeito de arrecadar propina com a
conivência de Crivella.
Segundo o MP, outro nome importante na trama é o de Mauro
Macedo, primo do fundador da IURD, Edir Macedo, que coordenou campanhas de
Crivella e é suspeito de ter recebido Caixa 2 e de aliciar empresários para
diferentes tipos de corrupção.
Para o Ministério Público, ainda de acordo com o G1, seria "verossímil concluir"
que a Igreja Universal está sendo "utilizada como instrumento para lavagem de dinheiro fruto da endêmica corrupção
instalada na alta cúpula da administração municipal".
Os investigadores apontam movimentações atípicas de quase R$ 6 bilhões, em um ano, nas contas da igreja. O prefeito Marcelo Crivella nega as acusações: https://t.co/LYhN76TlEs#JN