Sob pretexto de estimular o que considera “jornalismo profissional”, plataforma reúne veículos “parceiros” com os quais divide abordagens políticas, sociais e econômicas
São Paulo – O Facebook anunciou hoje (16) um programa de
parceria e investimentos em veículos da imprensa comercial brasileira. O
projeto tem como objetivo oferecer mais links de notícias dentro da plataforma,
além dos que já são compartilhados pelos próprios veículos e usuários. Além
disso, estão previstos investimentos de 2,6 milhões de dólares no programa
chamado “News Innovation Test“, em projetos desenvolvidos em parcerias
com associações de notícias, que terá duração de três anos. Mais informações
devem ser divulgadas nos próximos dias.
Sob pretexto de estimular o que classifica como “jornalismo
profissional”, o Facebook promete “apoiar” as organizações de notícias e
fortalecer a cobertura jornalística no Brasil. Entre os “parceiros” anunciados
pela rede social, estão Jovem Pan, Estadão, O Antagonista, Revista Crusoé, Rede
Record, SBT, Rede TV!, Revista Veja, entre outros. A lista dos parceiros exclui
veículos independentes, especialmente os que ampliam vozes dos trabalhadores e
movimentos sociais.
Uma voz
A maior rede social do mundo anuncia o projeto que
privilegia veículos em grande maioria da chamada grande mídia, a cerca de um
ano das eleições de 2022. Se, por um lado, a iniciativa pode impactar na
qualidade e diversidade da informação distribuída aos seus usuários, por outro
a plataforma argumenta que a iniciativa visa contribuir para reduzir a
quantidade de fake news em circulação. “Estamos trabalhando de perto com
organizações de notícias para construirmos, juntos, novas oportunidades de
conectar pessoas e notícias no Facebook, e sermos aliados nesse momento de
grande transformação digital”, afirma a diretora de Parcerias de Notícias do
Facebook para a América Latina, Claudia Gurfinkel.
Interferência
Não será a primeira vez que o Facebook deve influenciar no
cenário político de um país. Nos últimos anos, a rede social vem “rebaixando” o
alcance de veículos noticiosos a partir de alterações em seu algoritmo. Por
outro lado, privilegiou publicações de usuários em grupos e compartilhamentos.
“A mudança mirou no fortalecimento das relações entre usuários para, segundo a
própria rede, aumentar o bem-estar e a experiência do usuário. O Facebook
pretendia encorajar pessoas a interagirem com amigos e familiares e que
passassem menos tempo consumindo informação profissional de forma passiva, já
que pesquisas sugeriram trazer malefícios para a saúde mental”, afirma
reportagem publicada também hoje no The Wall Street Journal.
“A companhia foi advertida de que a mudança teve efeito
oposto, conforme documentos mostram. Ela transformou a plataforma do Facebook
em um lugar de ódio”, completa a reportagem. Entre os efeitos colaterais está a
disseminação massiva de fake news, desvalorização da informação apurada,
surgimento de uma estrutura de influenciadores políticos bancados por máquinas
(gabinetes) de ódio e divisão extrema de grupos em “bolhas ideológicas”.
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