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sábado, 11 de julho de 2020

A investigação do MP está mostrando que o MBL operava um gabinete do ódio


Ilustração: The Intercept Brasil


O cerco se fechou contra as fake news nesta semana. Depois que diversas páginas e contas foram derrubadas no Facebook ligadas ao bolsonarismo, o Ministério Público de São Paulo prendeu homens ligados ao MBL, sendo um deles um famoso propagador de mentiras. Essa indústria de fake news, que forneceu a base para ascensão da extrema direita no Brasil, parece estar com os dias contados.

Na manhã de sexta-feira, a Polícia Civil  prendeu dois empresários ligados ao MBL.  Eles são acusados pelo Ministério Público de participar de um esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio. O MBL nega que os empresários tenham ligação com o grupo e tenta a todo custo descolar sua imagem dessa investigação. Mas o fato é que a polícia também cumpriu um mandado de busca na sede do movimento e investiga empresas ligadas a ele. Não é possível afirmar que a sede do MBL não é ligada ao MBL, não é mesmo?

Motivos para o grupo estar na mira da investigação não faltam. Além da ligação estreita que mantém com os empresários presos, está sendo investigada a relação financeira obscura entre o MBL e uma das empresas da família de Renan dos Santos, um dos líderes do movimento. Há a suspeita de que essa relação seja para a prática do crime de lavagem de dinheiro. Segundo nota do MP-SP, as evidências obtidas indicam que os envolvidos “construíram efetiva blindagem patrimonial composta por um número significativo de pessoas jurídicas, tornando o fluxo de recursos extremamente difícil de ser rastreado”.

Os procuradores afirmam que a família de Renan comprou e abriu duas dezenas de empresas que hoje se encontram inoperantes — outro forte indicativo de lavagem de dinheiro. Essas empresas devem juntas à União cerca de R$ 400 milhões em impostos. Uma bagatela de quase meio bilhão teria deixado de entrar nos cofres públicos!

Intercept teve acesso ao procedimento de investigação criminal, que está disponível na íntegra ao final desse texto. O MP estranha o fato do “MBL/MRL” ter se negado publicamente a “prestar contas acerca dos valores que vêm angariando ao longo de sua existência, e que vêm financiando a manutenção do “Movimento””. Na investigação consta também que o juiz acatou o pedido do MP para quebrar o sigilo bancário e fiscal de Renan Santos. Agora a estranha relação entre o MBL e a empresa da sua família finalmente deverá ser esclarecida.

A cara de pau em negar a estreita relação do grupo com os presos não resiste a uma googlada. Carlos Augusto de Moraes Afonso é um dos presos que manteve uma forte parceria com o MBL. Usando o pseudônimo de Luciano Ayan, ele ficou famoso por comandar o extinto Ceticismo Político, um site reacionário que publicava fake news. O auge da fama foi atingido quando ele apareceu no Profissão Repórter para explicar uma reportagem mentirosa publicada sobre Marielle Franco.

A manchete insinuava que a vereadora assassinada mantinha relações com o tráfico. O que o MBL fez diante disso? Largou o parceiro ferido na estrada e repudiou a disseminação da mentira? Claro que não. O grupo saiu em defesa de Luciano Ayan e passou a atacar os jornalistas da Globo em suas redes sociais. Produziram até um vídeo para defendê-lo.

Um ex-parceiro do MBL já havia denunciado o que está sendo investigado agora. Em carta enviada à CPMI das Fake News, Roger Scar contou que Luciano Ayan o procurou para assumir o Jornalivre, um site dedicado a produzir notícias com viés de direita para o MBL. Ayan não revelava de onde vinha a grana para manter o site, e o salário de R$ 2 mil de Roger. Dizia apenas que havia um doador anônimo por trás.

Segundo ele, o MBL encomendava conteúdos fakes e de apoio ao candidato Jair Bolsonaro. Foi aí que ele começou a desconfiar quem era a alma bondosa que mantinha financeiramente seu site:  “(…) a ficha começou a cair. Na realidade, Luciano havia mentido desde o princípio sobre o suposto apoiador do site. Quem realmente financiou o Jornalivre foi o MBL, e Luciano não passava de um laranja, um intermediário que fazia a ponte entre eles e eu”.

O ex-editor do Jornalivre afirma que a ideia de Ayan era “fazer precisamente o que as milícias bolsonaristas fazem hoje, com assassinato de reputações.” Ou seja, conforme Scar, o grupo pagava para Luciano Ayan comandar uma espécie de Gabinete do Ódio do MBL. Roger não é o único a apontar essas relações. Há outros ex-integrantes que as confirmam.

No texto do procedimento investigatório, consta que Ayan ameaçou membros do MBL que questionaram as nebulosas doações recebidas através de vaquinhas on-line e das lives no YouTube. Ayan “passou a efetuar intimidações e ameaçar internautas que faziam menções questionadoras a estas doações via Superchat que não possuem lastro, e cuja origem não se sabe ser lícita ou ilícita, posto que, como referido, são feitas por meio de pagamentos que não deixam lastro no sistema bancário (via cartão pré-pago).”

Ainda segundo a investigação, essa seria uma “nova e peculiar” técnica de lavagem de dinheiro. As frequentes doações online de valores relevantes não passavam pelo sistema bancário dos investigados, “justamente de forma a proporcionar, de forma mais eficiente, a ocultação da origem dos valores”. O MP chama essa grana de “cifras ocultas”, já que as doações são efetuadas por cartões pré-pago e podem ser feitas em nome de qualquer pessoa.  Para os investigadores, a origem do dinheiro dessas doações é “provavelmente ilícita”.

Infográfico presente no procedimento investigatório do MP-SP (Imagem/Reprodução)


O MBL fazia arrecadação de dinheiro por meio de suas lives no YouTube, e cada doação era chamada pelos integrantes de “pimba”. Alessander Monaco, preso nesta sexta-feira (10), era um “pimbador” em série.

O deputado Kim Kataguiri, que hoje faz a egípcia tentando escamotear sua proximidade com Ayan, o considerava um analista político de respeito. O MBL o considerava um professor e chegou a convidá-lo para ministrar uma aula pública em frente à sede do Facebook, onde o grupo fazia um protesto:



 Ayan era tão próximo do movimento que chegou a ser sócio de uma empresa junto com Pedro D’Eyrot, líder e um dos fundadores do MBL. É esse o nível de proximidade de Ayan com  lideranças do grupo.

Alessander Monaco, o outro homem ligado ao MBL preso na operação, é suspeito de, dentre outras coisas, realizar “doações altamente suspeitas através da plataforma Google” — leia-se suspeita de lavagem de dinheiro. Esses indícios circulam pelas redes desde o ano passado. 

Monaco trabalhou durante um ano como funcionário do estado de São Paulo durante a gestão de Doria, um político que sempre foi um grande parceiro do MBL. Aliás, integrante do MBL contratado pela gestão Doria não chega a ser novidade.

O MBL fazia arrecadação de dinheiro por meio de suas lives no YouTube. Cada doação era chamada pelos integrantes de “pimba”. Monaco era um “pimbador” em série. Fazia doações com valores acima da média e era festejado pelo grupo.

Registro de algumas das "pimbadas"de Alessander Monaco. (Reprodução/YouTube


As doações frequentes e vultosas de Monaco viraram piada interna entre os integrantes do MBL. Tanto que o grupo passou a apresentar suas lives exibindo em cima da bancada um porta-retrato com uma foto em homenagem ao doador “anônimo”. Na foto abaixo, Alessander aparece sentado à mesa em uma live do grupo.

Foto: Reprodução/Instagram, YouTube


A impressão que ficava era a de que Monaco era só um fã do MBL com dinheiro de sobra para gastar. Mas não é isso o que o MP acha nem o que diz esse ex-coordenador do grupo, Ian Madonaldo:



 A investigação afirma que “as doações efetuadas mensalmente por ele ao MBL somavam valores muito além da sua capacidade econômico-financeira”.

Além das “pimbadas”, o MP suspeita das 50 vezes que Monaco foi para Brasília entre julho de 2016 e agosto de 2018. Apesar de ganhar apenas R$ 6 mil mensais como funcionário da gestão Doria à época, ele torrou mais de R$ 100 mil gastos com passagens. Em todas as vezes, ele foi ao Ministério da Educação, mas nunca apresentou uma justificativa plausível. Em praticamente todo o período em que as viagens foram feitas, o ministro da Educação era Mendonça Filho, do DEM. É um partido que sempre esteve próximo do MBL e foi por meio dele que o grupo elegeu três lideranças: Kim Kataguiri, Fernando Holiday e Mamãe Falei. É mais uma história que precisa ser melhor esclarecida.

O MP identificou também um significativo aumento de patrimônio de Monaco. Em 2017, saltou de R$ 146.196,96 para R$ 465.376,92.  A investigação aponta também que a Receita Federal observou um gasto de cartão de crédito mensal médio de R$ 27.456,63 — um valor incompatível com seu salário.

Os integrantes do MBL sugerem que estão sendo vítimas de uma perseguição do bolsonarismo, com quem rompeu e hoje faz oposição. Pelo que vimos acontecer no Brasil nos últimos anos, essa é algo factível. É realmente possível que haja uma disposição em enquadrar o MBL teleguiada por agentes bolsonaristas.

Nós conhecemos o tamanho da influência do bolsonarismo dentro das polícias e do Ministério Público. Mas isso não significa que as suspeitas não fazem sentido. Fazem. O MBL nunca foi transparente quanto ao financiamento do grupo. Nunca prestou contas aos filiados do dinheiro que arrecada por meio das “pimbadas”. Quem faz a auditoria dessas doações? Quanto de dinheiro o MBL arrecadou com elas? Quanto Luciano Ayan recebeu para montar o gabinete do ódio do grupo? Ninguém sabe, nem mesmo os integrantes do grupo. A gestão financeira do MBL é uma caixa-preta que apenas a família do Renan Santos tinha acesso. Mas esse segredo parece estar com os dias contados.

Acesse aqui a íntegra do procedimento investigatório criminal que o MP-SP  abriu contra o MBL.



Segundo Ministério Público e Receita Federal, esquema envolve ocultação de patrimônio e sonegação de R$ 400 milhões.


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segunda-feira, 24 de junho de 2019

Moro pede desculpas ao MBL, por tê-los chamado de tontos em áudio


Ministro Sérgio Moro. FOTO: ERALDO PERES/AP

Estadão - O ministro da Justiça, Sérgio Moro, mandou áudio a membros do MBL neste domingo, 23, dizendo que não sabe se os termos são seus, mas pedindo desculpas por tê-los chamado de “tontos” em mensagens de 2016, conforme mostrou reportagem do site The Intercept e da Folha de S. Paulo.

“Consta ali um termo que não sei se usei mesmo, acredito que não, pode ter sido adulterado, mas queria assim pedir minhas escusas, se eu eventualmente utilizei (o termo)”, disse o ministro em áudio obtido pela Coluna.

“Porque sempre respeitei o Movimento Brasil Livre, sempre agradeci o apoio que esse movimento deu, não só à Lava Jato, mas nos últimos anos, 5 anos, de avanço contra corrupção e construção de um País melhor e mais íntegro”, completou.

No episódio, o então juiz federal disse que “alguns tontos daquele MBL” fariam protesto na frente da casa de Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo, e reconhecendo que isso “não ajuda evidentemente”, pediu que Deltan Dallagnol intercedesse.

Moro repete ainda, mais de uma vez, que não sabe se as mensagens são suas ou se foram alteradas (apesar de pedir desculpas por elas). Como justificativa ao termo, diz que na época vinha sofrendo muita pressão, por causa da divulgação do áudio de Lula e Dilma, do qual ele não se arrepende, mas reconhece “período complicado”.

O protesto na frente do condomínio de Teori, que acabou acontecendo mesmo, poderia, segundo Moro explicou no áudio deste domingo, “gerar uma animosidade do Supremo contra a 13ª Vara, o que não era desejado”.

Ouça áudio de “escusas” de Moro aos integrantes do MBL portê-los chamado de tontos.





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domingo, 17 de fevereiro de 2019

Clã Bolsonaro negocia migrar para nova UDN





Filhos do presidente articulam deixar PSL e ingressar em sigla em formação que pretende reeditar antiga União Democrática Nacional, símbolo da centro-direita no País


Com o PSL em crise e sob suspeita de desviar verba públicapor meio de candidaturas “laranjas” nas eleições de 2018, os filhos do presidente Jair Bolsonaro (PSL) negociam migrar para um novo partido, que está em fase final de criação. Trata-se da reedição da antiga UDN (União Democrática Nacional).

Segundo três fontes ouvidas pela reportagem em caráter reservado, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) se reuniu na semana passada em Brasília com dirigentes da sigla para tratar do assunto. Ele tem urgência em levar adiante o projeto. Eleito com 1,8 milhão de votos, Eduardo teria o apoio de seu irmão, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). Com esse movimento, a família Bolsonaro buscaria preservar seu capital eleitoral diante do desgaste do partido.



Enquanto ainda estava internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, Jair Bolsonaro acionou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, para que determinasse investigações sobre o caso.

As suspeitas atingiram o presidente da legenda, deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE), e foram pano de fundo da crise envolvendo o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, GustavoBebianno, que foi chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro depois de afirmar que tratara com o pai sobre o tema. Após cinco dias de crise, Bebianno deve serexonerado do cargo nesta segunda-feira, 18, por Bolsonaro.

Além de afastar a família dos problemas do PSL, a nova sigla realizaria o projeto político de aglutinar lideranças da direita nacional identificadas com o liberalismo econômico e com a pauta nacionalista e conservadora, defendida pelo clã Bolsonaro.

No começo do mês, Eduardo foi ungido por Steve Bannon, ex-assessor do presidente americano Donald Trump, como o representante naAmérica do Sul do The Movement, grupo que reúne lideranças nacionalistas antiglobalização.

O projeto do novo partido é tratado com discrição no entorno do presidente. Em 2018, a UDN foi um dos partidos – embora ainda em formação e sem registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – sondados por interlocutores do presidente para que ele disputasse a eleição, mas a articulação não avançou. Depois de anunciar a adesão ao Patriota, Jair Bolsonaro acabou escolhendo oPSL.

Assinaturas. A nova UDN é um dos 75 partidos em fase de criação, conforme o TSE. Segundo seu dirigente, o capixaba Marcus Alves de Souza, apoiadores já reuniram 380 mil assinaturas – são necessárias 497 mil para a homologação da legenda. O partido já tem CNPJ e diretórios em nove Estados, como exige a legislação eleitoral para a homologação. Ela tem em Brasília um de seus principais articuladores, o advogado Marco Vicenzo, que lidera o Movimento Direita Unida e coordena contatos com parlamentares interessados em aderir ao novo partido. A articulação envolveria ainda o senador Major Olímpio (PSL-SP), que nega.

Souza prefere não comentar as tratativas do partido que estão em curso. Ele, porém, admitiu que a intenção é criar o maior partido de direita do País. Como se trata de uma sigla nova, a legislação permite a migração de políticos sem que eles corram o risco de perder seus mandatos. “O único partido que tem o DNA da direita é a UDN. A gente não pode ter medo de crescer, mas com responsabilidade”, afirmou.

Souza deixou o Espírito Santo, onde atuou na Secretaria da Casa Civil do ex-governador Paulo Hartung, e mudou-se para São Paulo para concluir a criação da nova UDN, que adotou o mesmo mote de sua versão antiga: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. “Nosso sonho é que a UDN renasça grande e se torne o maior partido do Congresso”, afirmou seu presidente. Ele disse ainda que a legenda pretende apoiar o governo Bolsonaro e está aberta “para receber pessoas sérias do PSL e de qualquer partido”.

Palácio. Procurada pelo Estado, a assessoria do Palácio do Planalto informou que não ia se manifestar sobre o assunto. A reportagem procurou ainda as assessorias do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), do deputado Eduardo Bolsonaro e do vereador Carlos Bolsonaro, mas nenhuma delas se manifestou.

Bivar, presidente da legenda, também foi procurado, mas não respondeu ao Estado.

  • ‘Sigla tem forte apelo popular’, diz historiador


Em processo de homologação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a UDN, sigla que pode abrigar o clã Bolsonaro, foi inspirada no partido que nasceu em 1945 para aglutinar as forças que se opunham à ditadura de Getúlio Vargas.

Com o discurso de moralização da política e contra corrupção, a frente unia originalmente desde a Esquerda Democrática – que romperia um ano depois com a sigla e fundaria o Partido Socialista Brasileiro – a antigos aliados de Vargas, como o general Juarez Távora e o ex-governador gaúcho Flores da Cunha, rompidos com o ditador.

Em 1960, o partido apoiou a eleição de Jânio Quadros, eleito presidente, e, em 1964 , a deposição do governo de João Goulart. “O PSL é um partido de aluguel, já a UDN tem um apelo histórico e popular. Os Bolsonaros podem usar isso”, disse o historiado Daniel Aarão Reis, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Líderes. Ele lembra que a antiga UDN, embora “muito ideologizada”, tinha um perfil heterogêneo. O mesmo pode acontecer com a nova versão do partido. Enquanto a versão original da UDN tinha líderes como o brigadeiro Eduardo Gomes, o jurista Afonso Arinos e os ex-governadores Carlos Lacerda (Guanabara), Juracy Magalhães (Bahia) e Magalhães Pinto (Minas), a nova legenda tem potencial para atrair lideranças do DEM ao PSDB, passando pelo MBL.

Entre os políticos que são vistos como “sonho de consumo” da UDN em 2019 está o governador de São Paulo, João Doria, que descarta a ideia de deixar o PSDB.








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