Durante o 11º Congresso da Federação Árabe Palestina do
Brasil (Fepal), realizado para marcar os 45 anos da entidade, Ualid Rabah,
presidente da entidade, relembrou a história da federação e voltou a explicar o
contexto dramático atual da causa palestina. Líder fez paralelo com 1948,
quando palestinos foram forçados a deixar suas casas
Genocídio, israel = crimes de guerra
Fundada em 1979, a Fepal surgiu com o propósito de integrar
a diáspora palestina à luta nacional do povo. "Ela nasce
para defender a comunidade palestina no Brasil, organizar, preservar suas
tradições e a língua, e conectar essa diáspora à sua pátria-mãe, a
Palestina", explicou Rabah à Sputnik Brasil.
Rabah ressaltou que o congresso desta sexta-feira (2) ocorre
em um momento excepcional: "Estamos diante da primeira limpeza
étnica televisionada da história, o que chamamos de 'Nakba 2'. Este
congresso carrega a marca do genocídio palestino em Gaza e da tentativa de
extermínio de seu povo", disse.
O presidente da Fepal traçou um paralelo com a Nakba de
1948, quando milhares de palestinos foram forçados a deixar suas
casas. "Hoje, 40% da população palestina é refugiada, a maior
população de refugiados de todos os tempos", afirmou.
Rabah destacou dados alarmantes, tais como 2,5% da
população ter sido exterminada, com 52 mil desaparecidos entre os
escombros.
"É a maior matança de crianças da história, com 45% das
vítimas sendo crianças, um número três vezes maior do que o registrado durante
todo o período nazista."
O líder da Fepal denunciou ainda o que chamou de
"solução final" e "um genocídio de um novo tipo",
comentando abortos involuntários e o elevado número de mulheres grávidas entre
as vítimas. "Estamos diante de um experimento social genocida que
elimina tanto os ventres quanto as crianças que nasceram. É um extermínio
programado para colapsar a capacidade reprodutiva da população palestina."
A refugiada palestina Noura Badem, que não fala português,
relatou em árabe que veio no primeiro avião ao Brasil quando a guerra se intensificou, em outubro de 2023. Ela
afirmou que "os filhos dela gostam muito do Brasil e não gostariam de
voltar a morar na Palestina".
Badem ainda define a situação como "desesperadora"
por ainda possuir oito irmãos em território palestino.
Rabah reconheceu o apoio do governo brasileiro na recepção
de refugiados palestinos. Ele lembrou que o Brasil acolheu refugiados
do Iraque em 2007 e da Síria em 2011, e agora resgatou brasileiros e
palestinos de Gaza. "O Brasil demonstrou seu compromisso com os direitos
humanos ao resgatar os que estavam no campo de extermínio em Gaza".
Além disso, Rabah destacou a adesão do Brasil à petição da
África do Sul para a investigação do genocídio em Gaza, ressaltando que
"é necessário parar esse extermínio e investigar esses crimes".
Segundo ele, a comunidade palestina no Brasil é grata pelo
apoio, mas vive com grande angústia: "Estamos testemunhando um extermínio
que nenhum povo gostaria de vivenciar, é como se as câmaras de gás dos
campos de concentração fossem transmitidas ao vivo. Esse é o nosso
campo de extermínio de Gaza sendo televisionado".
Faiza Daoudi, secretária da Fepal para assuntos de
refugiados, explicou que seu trabalho é voltado ao suporte à refugiados
de diversas origens e religiões, não apenas palestinos. "Eu apoio os
refugiados palestinos que estão aqui no Brasil e fora do Brasil também. Temos
um canal para cuidar de todos os tipos de refugiados, independente da raça ou
religião".
Nascida no Brasil, ela é filha de refugiados que deixaram a
Palestina em 1948, durante a Nakba, quando centenas de milhares de pessoas
foram forçados a deixar suas casas após a criação do Estado de Israel.
"Meus pais saíram da Palestina em 1948,
foram primeiro para a Cisjordânia e, depois de algum tempo, seguiram para a
Jordânia. Eu vim para o Brasil em 1978, casei com meu marido, que também é
refugiado palestino e já estava aqui."
Ela ressalta que o momento atual é particularmente difícil para os
palestinos, em meio ao que também descreve como um genocídio em Gaza.
"Estamos atravessando um momento muito difícil, mas é ainda mais
importante que a nossa causa seja conhecida e que lutemos juntos."
Mariana Ramos, estudante de filosofia da Universidade
Federal do ABC (UFABC), também participou do evento e defende que as mudanças
precisam começar nas estruturas da sociedade. "Hoje o que eu
vejo é essa chacina, esse genocídio contra inocentes. A gente já viu isso na
história e não quer ver se repetir. Não podemos nos acostumar com a banalidade
do mal."
"Por que nós, como humanidade, não estamos fazendo
nada? Por que nós não acordamos enquanto ainda temos tempo para mudar esse
planeta? Não é sobre esperar, é sobre agir agora", questionou.
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A Nakba, palavra árabe para "catástrofe", designa
a expulsão de pelo menos 750.000 palestinos de suas terras e lares, promovida
por Israel em 1948. Esse triste episódio deu início a um processo de limpeza
étnica que dura até hoje, com a violência e a expansão criminosa dos
assentamentos israelenses na Cisjordânia e em outros territórios palestinos.
Todos os anos, no dia 15 de maio, o mundo relembra a data, em defesa do direito
de retorno dos palestinos às suas terras, de justiça e reparos para quase 6
milhões de refugiados que lutam por reconhecimento e soberania.
"israel" está estuprando crianças palestinas em
campos de concentração.
Após 8 meses sequestrado por "israel", palestino
relata ter sido estuprado, molestado por militar feminina, eletrocutado na
região íntima e testemunhado violência sexual contra crianças.
CONTEÚDO SENSÍVEL: "israel" está estuprando crianças palestinas em campos de concentração.
Após 8 meses sequestrado por "israel", palestino relata ter sido estuprado, molestado por militar feminina, eletrocutado na região íntima e testemunhado violência sexual contra crianças. pic.twitter.com/2l1ngM17oH
— FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil (@FepalB) August 13, 2024
Ao comemorarmos o Dia da Nakba, recusamo-nos a ficar de
braços cruzados como meras testemunhas da injustiça. Exigimos ação,
responsabilização e mudanças transformadoras para garantir um futuro de
dignidade, justiça e libertação para o povo palestiniano.
BDS movement
A expulsão forçada de aproximadamente 750.000
palestinos indígenas das suas casas marcou o início formal de
um regime de colonialismo de colonos, apartheid, ocupação militar e
agora genocídio que persiste até hoje. Apelamos à cumplicidade
dos Estados, das empresas e das instituições que permitiram a Nakba em curso de
Israel e o protegeram da responsabilização durante 76 anos. O
movimento BDS reitera o espírito inflexível do povo palestiniano na nossa luta
legítima pela liberdade, retorno, justiça e autodeterminação, num momento em
que o nosso povo vive o primeiro genocídio transmitido em direto do mundo.
Enquanto Israel bombardeia Rafah com bombas
fornecidas pelos EUA e pela Europa, chamamos urgentemente a atenção
para uma catástrofe iminente contra os 1,4 milhões de palestinianos que ali
procuram refúgio. Apelamos a uma intervenção internacional urgente sob
a forma de sanções e de um embargo de armas para pôr fim aos
assassinatos indiscriminados em curso e à destruição das últimas instalações de
saúde restantes em Gaza.
Apesar das provas esmagadoras das atrocidades e massacres
perpetrados por Israel, apesar da decisão do Tribunal Internacional de
Justiça de que Israel está plausivelmente a cometer genocídio, muitos
Estados, especialmente os EUA e em toda a Europa, têm
consistentemente falhado no cumprimento das suas obrigações ao abrigo do
direito internacional e da Convenção sobre o Genocídio, particularmente. Apesar
de dezenas de especialistas em direitos humanos da ONU e do Conselho de
Direitos Humanos da ONU apelarem diretamente ao fim
da "venda, transferência e desvio de armas, munições e outro equipamento
militar para Israel, a potência ocupante...para evitar novas violações do
direito humanitário internacional e violações e abusos dos direitos humanos”,
os EUA e a Europa continuam a fornecer armas e cobertura diplomática a Israel,
permitindo-lhe prosseguir o seu genocídio indescritível. Isto torna-os
cúmplices do genocídio em curso em Israel, traindo os próprios
princípios de justiça e de direitos humanos, professam ostensivamente defender.
Após 7 meses de genocídio implacável, a estratégia israelita
é absolutamente clara: expulsar à força o maior número possível de
palestinianos de Gaza, a maioria deles já refugiados da Nakba. Os métodos
utilizados são diretos e indiretos, desde massacres contínuos, cercos e
destruição sistemática de infra-estruturas essenciais à vida – abastecimento de
água, hospitais, escolas, universidades, quintas e casas são todos alvo de
tornar a existência insustentável. As organizações de direitos humanos também
condenaram o uso que Israel faz da fome contra os palestinianos como arma de
guerra. Esta obliteração calculada dos próprios fundamentos da vida é uma estratégia
brutal que visa causar danos irreparáveis e criar um ambiente coercivo para
os palestinianos abandonarem as suas terras, refletindo em grande parte a
limpeza étnica durante a Nakba de 1948.
Aplaudimos a criatividade, os princípios e a bravura do
movimento de solidariedade global, particularmente a revolta liderada pelos
estudantes que visa o desinvestimento em empresas que permitem os
crimes de Israel e o fim das relações académicas com as suas universidades
profundamente cúmplices. A coragem de estudantes conscienciosos e de
professores e trabalhadores solidários face à violência e à repressão inspira
esperança na luta para acabar com o #Genocídio de Gaza em Israel e o seu regime
subjacente de apartheid colonial de colonos.
Destacamos a firmeza contínua dos palestinos face à
adversidade. Apesar de décadas de opressão, o povo palestiniano
continua a resistir à negação, por parte de Israel, da liberdade, da justiça,
da autodeterminação e do nosso direito inerente e estipulado pela ONU aos
refugiados de regressarem.
Ao comemorarmos o Dia da Nakba, recusamo-nos a ficar
de braços cruzados como meras testemunhas da injustiça. Exigimos ação,
responsabilização e mudanças transformadoras para garantir um futuro
de dignidade, justiça e libertação para o povo palestiniano.
O movimento BDS exige:
- Pressionar o TPI para emitir imediatamente mandados de
prisão contra líderes israelitas e membros das forças armadas cúmplices do
genocídio, para evitar que Israel cometa novas atrocidades em massa.
- Protestos de rua e perturbações pacíficas da normalidade
dos negócios visando governos, empresas e instituições cúmplices.
- Expulsar Israel da AGNU e de outros fóruns internacionais,
incluindo o Comité Olímpico Internacional, a FIFA, a Eurovisão, etc.
Cada dia de impunidade concedida ao apartheid de Israel
traz consequências ainda mais devastadoras para os palestinos indígenas e para
o que resta da credibilidade do direito internacional.
Palestina: A Nakba e 76 anos de crimes do nazi-sionismo
israelense
Palestine Updates
Palestine Hoje, 15 de maio, é o "DIA NAKBA" na Palestina
"A história da Palestina em 6 minutos
🔺 76 anos de ocupação
🔺 76 anos de Opressão
🔺 76 anos de genocídio
🔺 76 anos de migração
forçada
🔺 76 anos de Resistência
Não pare de resistir e não pare de compartilhar isso
Today May 15 is "NAKBA DAY" in Palestine "The Story of Palestine in 6 minutes
🔺76 years of occupation 🔺76 years of Oppression 🔺76 Years of Genocide 🔺76 years of forced migration 🔺76 years of Resistance Don't Stop resistance and don't stop sharing this pic.twitter.com/JPc5VkAUuQ
Muhammad Hadid, pai de Bella e Gigi Hadid e sobrevivente da
Nakba, conta como os refugiados polacos ocuparam a
casa da sua família em Safad apesar de os
terem acolhido 2 anos antes. Ele também explica que não conseguiu realizar o
último desejo de sua mãe de ser enterrado em Nazaré. #Israël
foi fundada na limpeza étnica e continua a implementá-la até hoje. #GazaGenocide#PalestineFree
Muhammad Hadid, père de Bella et Gigi Hadid et survivant de la Nakba, raconte comment des réfugiés polonais 🇵🇱 ont pris la maison de sa familles à Safad 🇵🇸 alors qu’ils les ont accueillis 2 ans plutôt.
Il explique également qu'il n'a pas pu réaliser le dernier souhait de sa mère… pic.twitter.com/aHfUrBJAE3
Hoje marca o 76º aniversário da Nakba, ou a “Catástrofe”, a
limpeza étnica dos palestinos na sequência da “independência de Israel” em
1948. 76 anos e 221 dias e continue!
Today marks the 76th anniversary of the Nakba, or the "Catastrophe," the ethnic cleansing of Palestinians in the wake of "Israeli independence" in 1948.
Leia o artigo completo da revista Breaking the Chains no
Liberation News.
Party for Socialism and Liberation
A melodia é como uma brisa suave ou uma canção de ninar que
evoca instantaneamente arrepios. A letra é fonemicamente árabe, mas
estranhamente indiscernível. A canção é uma tarweedeh ,
uma forma de arte codificada desenvolvida por mulheres palestinas durante o
colonialismo britânico (1923-1948) para transmitir mensagens criptografadas de
resistência.
Durante a Grande Revolta Palestiniana de 1936-1939, os
britânicos prenderam um número esmagador de homens palestinianos apenas por se
manifestarem contra o seu governo. Os encarceramentos cortaram a
comunicação entre os revolucionários e as suas famílias que viviam nas aldeias,
deixando para trás muitas mulheres cujos irmãos, pais, maridos e filhos foram
presos injustamente. Em resposta, as mulheres palestinianas desenvolveram
e utilizaram alcatrão para transmitir secretamente instruções para a libertação
dos seus entes queridos.
A criptografia em
tarweed envolve inverter as últimas letras das palavras, inserir repetidamente
a letra L (“lam” em árabe) ou usar poesia, símbolo e analogia com significados
incorporados. Este processo transformou a mensagem original num jargão que
nem os ocupantes nem os seus tradutores conseguiram compreender. As
mulheres caminhavam ao longo dos muros externos das prisões, entregando
mensagens em serenatas que flutuavam pelas janelas gradeadas da
prisão. Para os ocupantes, a visão de mulheres palestinianas a passear e a
cantar canções folclóricas era inócua, mas revelou-se fundamental para a fuga
da prisioneira.
Tarweed sobreviveu à Nakba (“catástrofe”),
a limpeza étnica da Palestina em 1948, quando pelo menos 700.000 palestinos
indígenas foram violentamente expulsos das suas casas e da sua terra natal por
milícias terroristas sionistas e forças militares israelitas para estabelecer o
Estado de Israel. Hoje, estas canções folclóricas continuam – juntamente
com a comida tradicional, o vestuário, a narração de histórias, a poesia e a
dança folclórica – como marcadores da identidade palestina e preservadores de
uma herança popular dispersa, sempre ameaçada por um sistema de apartheid e
genocídio. Os palestinianos nos territórios ocupados e na shatat (“diáspora”)
continuam a transmitir estas tradições na luta contínua contra o seu
apagamento.
Tarweed incorpora um aspecto da história palestina muitas
vezes desmentido pelas principais narrativas ocidentais: o papel vital das
mulheres na luta. Embora estas narrativas representem as mulheres
palestinianas como entidades sem voz numa sociedade “inerentemente patriarcal”,
na realidade os movimentos de resistência liderados por mulheres têm sido uma
parte essencial da luta de mais de um século contra a colonização e a opressão
na Palestina. A astúcia da alcatrão realça ainda mais a desenvoltura e a
engenhosidade das mulheres nesta resistência contínua.
Embora existam inúmeros exemplos de resistência das mulheres
palestinianas, Fatima Bernawi e Shadia Abu Ghazala são duas mulheres que deram
contributos críticos para a luta pela libertação palestiniana. Bernawi,
que nasceu em 1939 e sobreviveu à Nakba com a sua mãe palestiniana, reuniu-se
pouco depois com o seu pai nigeriano, que tinha lutado na revolta de
1936. Ela se tornou uma participante ativa e líder na luta pela liberdade. Ela
é a primeira mulher prisioneira listada nos registros do movimento de mulheres
prisioneiras palestinas. Shadia Abu Gazala foi um dos primeiros membros da
Frente Popular para a Libertação da Palestina, fundada em 1967. Ela liderou
unidades militares femininas e se dedicou profundamente à educação do povo,
embora tenha morrido no final de 1968. Uma escola com o nome ela na Faixa de
Gaza foi palco de um massacre israelense em dezembro de 2023.
Liderança Feminina na Primeira Intifada
As mulheres palestinianas foram uma pedra angular
da Primeira Intifada (“revolta”)
que eclodiu em Dezembro de 1987. Após décadas de ocupação militar israelita e
expansão dos colonatos, um camião israelita colidiu com um carro civil em
Gaza; matar quatro palestinos em Gaza foi a gota d'água. Os
palestinianos em Gaza e na Cisjordânia mobilizaram-se como uma frente unida,
apanhando Israel desprevenido. Israel respondeu com uma repressão rápida e
brutal. Inúmeros homens palestinos foram detidos e encarcerados,
deportados ou mortos. As mulheres palestinianas rapidamente intervieram
para preencher o vazio e formaram a espinha dorsal da revolta.
Mulheres de cidades urbanas e aldeias tradicionais
mobilizaram-se como parte da Primeira Intifada , unindo
gerações, facções políticas e linhas de classe. Organizaram-se a nível
popular, reunindo centenas de milhares de palestinianos numa série de esforços
coordenados contra a ocupação israelita. Todas as principais facções
palestinianas formaram um comité de mulheres disfarçado de grupo de donas de
casa porque era ilegal ser membro de qualquer partido político ou sindicato
estudantil. Publicamente, convocaram encontros de tricô, culinária e
costura, mas planejavam secretamente a intifada.
Durante a Primeira Intifada, as
mulheres palestinas iniciaram greves políticas em massa e lideraram o primeiro
boicote em massa contra Israel. Desafiando as leis restritivas de Israel,
encontraram formas inovadoras de fornecer alternativas caseiras aos produtos
israelitas, criando hortas nos quintais e cooperativas agrícolas onde as
mulheres aprendiam a cultivar os seus próprios alimentos. Quando Israel
fechou escolas e universidades palestinianas para impedir a mobilização
política dos estudantes, as mulheres palestinianas organizaram aulas em caves e
edifícios abandonados. Eles aprenderam medicina sozinhos e criaram equipes
para prestar cuidados de emergência aos manifestantes feridos pela violência
israelense. As greves civis e os boicotes coordenados em toda a Palestina
causaram um impacto tão grande na economia que Shimon Peres, que era o Ministro
dos Negócios Estrangeiros na altura, alertou que a economia estava “em perigo”.
Não é de surpreender que o governo israelita tenha redobrado
a sua intimidação e agressão, impondo recolher obrigatório diário, ordenando
prisões em massa e dando aos soldados israelitas as infames ordens para “ quebrarem
os ossos ” dos palestinianos. Cortaram as linhas telefónicas em
cidades e aldeias palestinas e colocaram enormes grupos de organizadores em
prisão domiciliária. As mulheres palestinianas, e a resistência como um
todo, encontraram formas de contornar todas as barreiras que Israel colocou no
seu caminho. Quando Israel proibiu a bandeira palestiniana, as mulheres
formaram círculos de tricô e fizeram as suas próprias bandeiras para hastearem
nas manifestações. Quando as mulheres líderes palestinianas foram
colocadas em prisão domiciliária, cozeram pão e colocaram comunicados em cada
pão, que distribuíram pelas aldeias, cidades e campos de refugiados sem serem
detectados pelas forças israelitas.
Os esforços das mulheres durante a Primeira Intifada
chamaram a atenção global, forçando o mais fiel aliado de Israel, os Estados
Unidos, a suspender o seu apoio financeiro em resposta à relutância de Israel
em negociar. Pela primeira vez desde 1948, os palestinos colocaram Israel
de joelhos e as mulheres estiveram na frente e no centro do movimento.
A onda de resistência não violenta que conhecemos como a
Primeira Intifada foi interrompida em 1991 pela
assinatura secreta, na Casa Branca, dos Acordos
de Oslo , um acordo que piorou a vida dos palestinianos até
hoje. Para além de aumentar significativamente o número de colonatos
ilegais, os Acordos criaram uma classe política corrupta conhecida hoje como a
“Autoridade Palestiniana”, que colabora ativamente com a ocupação israelita
para esmagar a resistência.
Sumud como prática política
Para compreender verdadeiramente a luta incansável das
mulheres palestinianas pelo thawabit (os
seus “direitos invioláveis”), é útil invocar o valor cultural do sumud ,
ou firmeza. Sumud emergiu com força total após a guerra de Junho de 1967,
ou Naksa (“retrocesso” ou “derrota”), quando
Israel anexou e ocupou a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza, mais do que
triplicando o seu tamanho. Desde então, a sumud persistiu como tema
ideológico e estratégia política para sobreviver à colonização, ocupação
militar e hegemonia de Israel.
Todos os esforços de resistência ativos e organizados
levados a cabo pelos palestinianos ao longo dos anos são construídos sobre os
alicerces do sumud. É uma resistência a nível psicológico, semelhante ao
optimismo revolucionário, na medida em que oferece um antídoto ao niilismo nas
mãos de um governo opressivo e acende a fé no poder do povo para inaugurar a
sociedade que merece. Sumud apoiou os palestinianos face às políticas e
tácticas severas que Israel tem empregado incansavelmente num esforço para os
“quebrar”.
Desde massacres, expulsões, expropriações e guerras
genocidas, até às tácticas de vigilância e controlo da ocupação – postos de
controlo, barreiras, recolher obrigatório, zonas militares fechadas, colonatos,
estradas “só para colonos”, torres de vigia, portões, ataques noturnos e
prisões em massa; de negar aos palestinos o acesso à água, à saúde e à
educação; à queima de oliveiras e à demolição de casas, o objetivo de
Israel tem sido tornar insuportável a vida quotidiana dos palestinianos e, em
última análise, forçá-los a abandonar as suas casas em busca de uma vida melhor
noutro local. Sumud declara ao ocupante: Você pode quebrar nossos ossos,
mas não pode quebrar nosso espírito!
Sumud abrange uma série de atos quotidianos através dos
quais os palestinianos lutam pelo seu direito de existir na sua terra natal,
permanecerem enraizados na sua cultura e manterem alguma aparência de vida
normal sob condições que são tudo menos normais.
O espírito da sumud está claramente patente no compromisso
duradouro das mulheres nos territórios palestinianos em criar e nutrir a vida,
mesmo quando são forçadas a viver como prisioneiras em condições deploráveis. Para
uma sociedade que enfrenta a ameaça de extinção há mais de 75 anos, a escolha
de ter e cuidar dos filhos está profundamente ligada à sobrevivência e à
solidariedade. Desempenhar funções domésticas e cuidar de crianças nos
territórios palestinianos, que têm sido ocupados peça por peça desde 1948,
exige níveis impensáveis de força de vontade, determinação e
coragem. Como disse a jornalista Meryem Ilayda Atlas, a mulher que dá
banho aos seus dois filhos nos escombros de um edifício em Gaza está a cumprir
um papel público.
Infelizmente, esta luta das mulheres foi transformada
em arma por Israel e difamada por noções estreitas e
descontextualizadas do feminismo burguês do “primeiro mundo” que são o servo do
capitalismo. Por exemplo, num artigo intitulado “ Por
que tantas vítimas em Gaza são crianças? ” o economista atribuiu o
elevado número de mortes de crianças em Gaza desde 7 de Outubro
à elevada taxa de fertilidade. O artigo prosseguia ligando as
elevadas taxas de fertilidade à pobreza e aos baixos níveis de educação (embora
Gaza tenha uma elevada taxa de pobreza, também tem uma elevada taxa de
alfabetização entre as mulheres), sem nunca mencionar as ações de Israel ou das
Forças de Ocupação Israelitas. Esta narrativa faz vista grossa às médicas
de Gaza que cuidam de bebés que não conseguiam sobreviver com aparelhos de
suporte vital depois de a eletricidade do hospital ter sido cortada, ou
às jornalistas
de Gaza que transmitem calmamente para o mundo em inglês no meio
de gritos aterrorizados, ou às mulheres de Gaza que tentam fazem o melhor que
podem para continuar nas ruínas porque não têm outra escolha.
Na aldeia de Nabi
Saleh , na Cisjordânia ocupada centralmente, telhados vermelhos
de casas de colonatos israelitas ilegais pontilham o topo da colina
adjacente. A grande maioria das terras desta aldeia da
Área C está sob controle militar israelense. Entre 2009 e
2016, os aldeões organizaram manifestações contra a expropriação das terras e
da água das aldeias pelos colonos israelitas, que foram recebidas com repressão
feroz e por vezes mortal por parte do exército israelita.
“ Zânia ”,
uma jovem mãe palestiniana de Nabi Saleh, conta a ocasião em que teve de atirar
a sua filha de dois anos pela janela do segundo andar e para a segurança dos
braços de um vizinho, quando o exército israelita disparou uma bomba de gás
lacrimogéneo contra a sua casa. . Para Zania e outras mulheres
palestinianas, a sumud está incorporada na determinação de manter uma presença
física na terra – sabendo que se partirem, poderão nunca mais ser capazes de
regressar pelos seus carcereiros, os israelitas – e na capacidade de se
adaptarem a condições adversas e condições cada vez piores:
“O importante é ficarmos em nossa casa, diante dos soldados
israelenses e da ocupação”, diz Zania. “Se ficarmos em nossa casa, diz
'não temos medo de suas armas'. A gente fica na nossa casa, leva uma vida
normal, e ah, essa é a nossa fortaleza sob ocupação, isso é o importante.”
Em sua essência, sumud é a existência como
resistência. Mais do que uma mentalidade, é um dever cumprir o compromisso
de libertação. Não se trata de uma esperança cega de que a mudança venha um
dia, mas de uma consciência ativa de que só através da luta e da solidariedade
as vidas palestinianas podem ser transformadas. E as mulheres
palestinianas têm sido as suas portadoras da tocha. À medida que a intensa
brutalidade israelita apoiada pelos EUA continua em Gaza, matando dezenas de milhares
de pessoas e deslocando milhões das suas casas, a sumud e a tarweed lembram-nos
que a resistência palestiniana tem uma longa história. Os palestinianos
resistiram ao genocídio imperialista de inúmeras e criativas formas e
continuarão a fazê-lo.
Há 14 milhões de pessoas que vivem sob o domínio de Israel:
metade são judeus israelitas e a outra metade são palestinianos, mas o governo
israelita e as suas leis deixaram claro que apenas um grupo merece plenos
direitos. Como disse o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu: “Israel
não é um Estado para todos os seus cidadãos”, mas “o Estado-nação do povo judeu
e apenas deles”. Seria isto uma forma de apartheid?
O apartheid é conhecido por ser a política oficial do antigo
governo de supremacia branca da África do Sul, mas na verdade tem uma definição
legal específica. Neste vídeo analisaremos o que Israel faz com a Palestina
para determinar se esta pode ser classificada como tal.
Palestinians forcibly displaced by Israel’s war on Gaza are holding onto keys from their damaged or destroyed homes as a symbol of one day returning to their land. For many, it’s a tradition that their grandparents started during the Nakba in 1948 ⤵️ pic.twitter.com/3JL6ky8Mkf
La historia del diplomático sueco Folke Bernardotte, que rescató a miles judios del exterminio nazi bajo misiones de rescate de la Cruz Roja...
Y que terminó siendo asesinado por los sionistas por denunciar la Nakba en Palestina, solo 3 años después del rescate de judios. pic.twitter.com/iL9Eu91Xqp
O jornalismo corporativo — especialmente dos Estados Unidos
e do Brasil — tem um viés pró-Israel e anti-Palestina. Com a Operação
Tempestade al-Aqsa, do Hamas, as distorções estão voando soltas.
Carlos Latuff
“MEU DEUS, É IGUAL à intervenção militar nas
favelas do Rio – mas muito pior.” Isso é o que Cecília Olliveira, do Intercept,
dizia repetidas vezes, horrorizada, enquanto caminhávamos pelos postos de
controle militar israelenses e nas ruas enjauladas de Hebron, a cidade distópica
que é a maior da Cisjordânia, na Palestina.
Os colonos religiosos israelenses – muitas vezes nascidos
fora dali, em países como os Estados Unidos – estão casa a casa, centímetro a
centímetro, tentando estrangular e desenraizar a sociedade palestina em Hebron
e tomar a cidade santa. É seu “direito divino”, argumentam. O direito
internacional e as organizações de direitos humanos como a Anistia
Internacional, a Human Rights Watch e a B’Tselem utilizam um vocabulário
diferente: ocupação ilegal, Apartheid e crimes contra a humanidade, entre
outros.
A realidade segregada e militarizada da cidade é chocante
para qualquer observador externo, mas as condições são muito melhores do que as
dos palestinos que vivem em Gaza, que é considerada pelas organizações de
direitos humanos a maior e mais superlotada prisão ao ar livre do planeta, com
2 milhões de habitantes.
No sábado, o primeiro-ministro israelense Benjamin
Netanyahu fez declarações
abertamente genocidas: “Vamos transformar Gaza numa ilha deserta. Aos cidadãos
de Gaza, eu digo: vocês devem partir agora. Iremos atacar todos e cada um dos
cantos da faixa.” Evacuar ou ser bombardeada — só que os cidadãos de Gaza
não tem para onde correr.
O ministro da segurança nacional que ajudará Netanyahu a
cumprir essa promessa é
Itamar Ben-Gvir, um colono extremista que foi condenado em um tribunal
israelense por apoiar uma organização terrorista e incitar o racismo contra os
palestinos em 2007.
Numa sucessão de ataques militares a zonas civis densamente
povoadas nos últimos anos, Israel bombardeou instalações
de tratamento de água, centrais elétricas, hospitais e escolas de Gaza, fechou
as suas fronteiras e portos, proibiu a operação de um aeroporto e destruiu pelo
menos um terço das terras agrícolas de Gaza desde 2000, quando evacuou
assentamentos israelenses ilegais na área. No sábado, Israel lançou outro
bombardeio a Gaza, o oitavo grande ataque desde 2005.
A causa imediata foi uma operação violenta sem precedentes
perpetrada pela ala militante do Hamas, o partido político que governa Gaza
desde a última eleição em 2006 e que tem apoio da população palestina. Esse
ataque, chamado de “Operação Tempestade al-Aqsa”, surge no contexto de uma
série de ações agressivamente provocativas por parte do governo israelense nos
últimos meses — geralmente omitidas de cobertura jornalística — além de 75 anos
de ocupação, e 16 anos de embargo apertado da Gaza.
Observadores internacionais, lideranças palestinas e
pesquisas de opinião pública palestinas têm sinalizado há tempos que uma
resposta violenta às agressões israelenses estava se desenhando, mas a
liderança israelense de extrema-direita nunca imaginou que um golpe dessa
magnitude fosse possível.
Até o momento,
mais de 413 palestinos e 700 israelenses foram mortos. Há ainda mais de 2.300
feridos de cada lado.
Os olhos do mundo, depois de ignorar os ataques diários
contra os palestinos,
estão agora voltados para a tragédia em curso na Palestina e Israel. E, como é
de se esperar, muitas das mesmas distorções, mentiras e meias-verdades de
sempre estão sendo repetidas nos meios de comunicação corporativos e nas redes
sociais para legitimar a violência israelense e atacar a resistência palestina
à colonização.
Listo abaixo uma seleção de algumas das narrativas mais
difundidas e perniciosas da mídia, tanto nos Estados Unidos e Reino Unido
quanto no Brasil, onde a imprensa empresarial reflete em grande parte os pontos
de vista estadunidenses sobre assuntos internacionais.
1. O “conflito Israel-Palestina” é uma “guerra”
Referir-se à ocupação israelense da Palestina como um
“conflito” ou aos ataques israelenses como parte de uma “guerra” serve
incorretamente para criar uma falsa equivalência entre as duas partes, como se
fossem iguais e equilibradas.
Israel é uma nação independente que investe R$ 120 bilhões
por ano nas forças militares e de inteligência, que estão entre as mais
sofisticadas do mundo. Controla as fronteiras, os céus, as costas marítimas, as
telecomunicações e a economia da Palestina, cujo governo tem uma autonomia
extremamente limitada. A resistência armada palestina durante anos incluiu
facas, fogos de artifício, explosivos caseiros e parapentes como parte
essencial do seu arsenal. Os palestinos não têm tanques, aviões, navios de
guerra, submarinos ou artilharia pesada. Nos últimos anos, receberam mais ajuda
militar estrangeira — ainda irrisória em comparação ao poderio dos militares
israelenses.
Israel não está em “guerra” ou em “conflito” com o Hamas ou
com a nação da Palestina — é uma força de ocupação colonial ilegal que usa seu
exército poderoso para, diariamente, cometer crimes contra a humanidade para
reprimir os palestinos, um povo que está resistindo sua colonização racista.
Deixando de lado uma série de decisões políticas e jurídicas
autoritárias dos últimos anos, Israel realiza eleições regulares, tem um
parlamento, um Supremo Tribunal, uma imprensa em alguma medida livre e todas as
instituições de uma democracia. Mas falta uma coisa importante: os 5 milhões de
palestinos que estão sob ocupação israelense não têm direito a voto. Se todos
que estivessem sujeitos à autoridade israelense tivessem o direito de votar, a
maioria seria palestina e a política israelense seria totalmente diferente. Se
incluirmos os milhões de refugiados palestinos fora do país que gostariam de
regressar à sua terra natal, o quadro se torna ainda mais claro.
Além disso, a maioria eleitoral sionista tem passado uma
série de leis discriminatórias que visam limitar os direitos de cidadãos
não-judeus de Israel. Essas são as principais razões pelas quais muitos
observadores internacionais não consideram Israel uma verdadeira democracia.
E embora saibamos que isso não acontece na prática, em
princípio, esperamos que as democracias ocidentais pelo menos finjam que
respeitam os direitos humanos. Israel não tem esta pretensão há anos.
3. A ausência da palavra “Apartheid”
As Nações Unidas, a Anistia
Internacional, a Human
Rights Watch e muitas outras organizações e acadêmicos proeminentes
rotularam Israel como um estado colonial de Apartheid. Isto significa que
o Estado pratica discriminação e segregação sistêmica racial de forma desumana
para oprimir determinadas populações. As provas são esmagadoras e esta é a
realidade dos cidadãos palestinos de Israel e ainda mais dos súditos coloniais
palestinos nos territórios ocupados.
Este fato, contestado pelas autoridades israelenses e muitas
vezes ignorado ou qualificado pela imprensa, é um elemento importante do apelo
palestino à justiça e à autodeterminação e é crucial para demonstrar por que a
resistência palestina é uma luta de libertação legítima e não apenas terrorismo
irracional e antissemitismo, como querem fazer crer.
4. “Israel respondeu à agressão palestina” (A Palestina é
sempre o agressor)
Os ataques israelenses a civis palestinos — que são crimes
de guerra — são quase sempre enquadrados como respostas às provocações
palestinas, colocando assim o ônus sobre os palestinos colonizados. Este
enquadramento por grande parte da imprensa ajuda a atenuar a culpabilidade
israelense, e é geralmente uma delimitação arbitrária que ignora as provocações
criminosas dos israelenses contra os palestinos – muitas vezes feitas
com pleno conhecimento de que estes atos levarão a uma resposta bélica.
Nada une melhor as sociedades do que uma ameaça comum e, em
diversas ocasiões no passado, os líderes israelenses foram
acusados de provocar respostas violentas intencionalmente, a fim de
aumentar a coesão política e obter apoio público.
O Hamas é explícito ao afirmar que as suas ações hoje são
uma tentativa de atrair a atenção da comunidade internacional para a situação
do povo palestino. “Queremos que a comunidade internacional pare com as
atrocidades em Gaza, contra o povo palestino e aos nossos locais sagrados como
al-Aqsa. Todas essas coisas são a razão por trás do início desta batalha”, disse o
porta-voz do Hamas, Khaled Qadomi, à Al Jazeera.
Israel é liderado atualmente pelo governo mais da
extrema-direita da sua história e está passando por graves turbulências
políticas, incluindo manifestações
históricas que atraíram milhões de cidadãos nas ruas, protestando
contra novas reformas autoritárias que diminuem o poder do judiciário. Este
governo extremista tem provocado agressivamente tensões com os palestinos há
meses e os líderes palestinos têm alertado a comunidade internacional de que
estas provocações eram uma escalada que levaria a uma nova escalada.
Em julho passado Israel invadiu Jenin,
um dos maiores campos de refugiados da Cisjordânia, matando 12 pessoas e
atingindo 80% das casas depois de “terraplanar” as ruas com escavadeiras. Um
ministro do governo declarou publicamente
que “não existe” povo palestino e, após uma chacina perpetrada por colonos
israelenses no povoado palestino de Huwara, disse que o local deveria
ser “apagado” pelo Estado.
As provocações israelenses são demasiado numerosas para
serem enumeradas, mas muitas se centraram em torno da mesquita de Al-Aqsa, em
Jerusalém, o terceiro local mais sagrado do Islã. A mesquita e seus arredores
têm sido palco de
repetidas e incessantes atos de violência por parte das forças de segurança
israelenses e de colonos judeus ultraortodoxos, muitas vezes gritando“morte aos
árabes”.
“Os ataques diários contra locais sagrados e fiéis durante o
mês sagrado do Ramadã são ações condenáveis e inaceitáveis que irão inflamar a
região e arrastá-la para o abismo”, disse um
porta-voz da Organização para a Libertação da Palestina, que representa o povo
palestino internacionalmente, em abril deste ano. As provocações continuaram e
há três dias, judeus ultraortodoxos invadiram os arredores da mesquita – uma
ofensa grave e intencional – com a ajuda das forças de segurança
israelenses.
Israel também reduziu recentemente
os direitos dos prisioneiros palestinos, o que levou a uma greve de fome de
centenas de prisioneiros e a um protesto em Gaza, onde soldados
israelenses mataram um
manifestante e feriram outros nove. Mais de 5.000 palestinos são presos pelo
Israel, inclusive muitos líderes políticos eleitos, como o popular herói da
resistência palestina Marwan Barghouti.
Tudo isto somado a 75 anos de ocupação, a 16 anos de embargo
a Gaza e racionamento de bens básicos — que vão de água e comida a insumos
médicos — que está propositalmente estrangulando a economia local.
5. Israel tem o direito de se defender (a Palestina não)
Israel, seus aliados como os governos dos Estados Unidos e
da Alemanha, e os principais meios de comunicação corporativos, tendem a
repetir a mesma frase pouco antes de Israel bombardear áreas civis: “Israel tem
o direito absoluto de se defender”. Foi o que disse o
primeiro-ministro britânico Rishi Sunak no sábado.
Que as nações podem e devem defender a sua soberania é
universalmente aceito, mas esse conceito não se aplica a ações ofensivas, nem a
ataques contra civis. A imprensa segue enquadrando os ataques israelenses aos
palestinos como legítimos atos de guerra “retaliatórios” e “defensivos”, como
se todos os ataques que lançam fossem “absolutamente” justificados, mesmo
alvejando civis.
Se a violência fosse vista em seu contexto completo, seria
mais provável que fosse vista como atos agressivos de violência para
desmoralizar e rachar um povo colonizado, até mesmo usando castigos coletivos,
o que segundo as leis internacionais, é crime de guerra.
Ao passo que Israel é sempre enquadrado (incorretamente)
como defensivo, o Hamas é apresentado como beligerante e, portanto, seu
“direito absoluto de se defender” não é sequer discutido. Nas ocasiões em que a
dinâmica é levantada, a resposta comum é rotular o Hamas como uma força
terrorista e citar como as suas operações afetam os civis israelenses —
argumentos que seriam enfraquecidos se não fossem aplicados unilateralmente.
Em teoria, como Israel é responsável pelo ato inicial de
agressão – a ocupação – e é a força de ocupação com esmagadora superioridade
bélica, deveria ser considerado como o provocador e também sujeito a mais
cobranças do que um movimento guerrilheiro de resistência anticolonial. Na
realidade, ocorre exatamente o oposto na grande imprensa.
Estragos causado por ofensiva israelense na cidade de Gaza,
na Palestina, neste sábado (7). Foto: Mohammed Abu Oun/Thenews2/Folhapress
6. O Hamas é uma organização terrorista (mas Israel não)
O governo dos Estados Unidos rotulou o
Hamas como uma organização terrorista em 1997 e fornece a Israel bilhões de
dólares em ajuda todos os anos.
Segundo a
ONU, antes da Operação Tempestade al-Aqsa, as forças israelenses mataram
mais de 6.300 palestinos desde 2008, mais da metade deles civis, e feriram
outros 150.000. Os palestinos mataram 308 israelenses – 131 dos quais eram
civis – e feriram mais 6.307.
Foi repetidamente demonstrado que
Israel alveja civis intencionalmente, detém crianças em confinamento solitário
durante longos períodos, tortura prisioneiros detidos sem acusações, fornece
proteção a colonos enquanto eles saqueiam povoados palestinos, demolem casas,
racionam água abaixo das necessidades diárias mínimas estabelecidas pela
Organização Mundial da Saúde — e muito mais. A Human Rights Watch chegou ao
ponto de rotular as
ações de Israel como “crimes contra a humanidade”.
Esta é uma lista muito incompleta do terrorismo diário do
Estado israelense.
Claramente, há um duplo padrão em jogo e este rótulo de
“terrorista” é importante retoricamente para cobrir corretamente as atrocidades
cometidas por Israel.
Todos nós deveríamos ficar horrorizados com o terrorismo. E
por isso, condenar os atos do lado mais fraco e, ao mesmo tempo, dar passe
livre aos colonizadores, minimizar seus crimes ou, pior, fornecer apoio
financeiro, político e retórico a eles, só serve para perpetuar a situação e
incentivar mais atos de terror.
Assista ao documentário que Israel não quer que você veja
7. Todos os ataques palestinos a Israel são terrorismo
As convenções internacionais de direitos humanos têm
afirmado repetidamente o direito dos povos colonizados e ocupados de resistir à
sua colonização.
Múltiplas resoluções da
Assembleia Geral da ONU “reafirmam a legitimidade da luta dos povos pela
independência, integridade territorial, unidade nacional e libertação da
dominação colonial, do apartheid e da ocupação estrangeirapor
todos os meios disponíveis, incluindo a luta armada.”
Resoluções da ONU também afirmam explicitamente
que “a negação dos direitos inalienáveis do povo palestino à autodeterminação,
à soberania, à independência e ao regresso à Palestina […], bem como
[reconhecem que] a repetida agressão israelense contra a população da região,
constituem uma séria ameaça à paz e à segurança internacionais.”
As Convenções de Genebra protegem os
indivíduos que “lutam contra a dominação colonial e a ocupação estrangeira e
contra os regimes racistas no exercício do seu direito à autodeterminação” — um
reconhecimento da legitimidade de tais lutas armadas.
As mesmas convenções não permitem ataques a civis, o que
inclui colonos ilegais fortemente armados ou reservistas militares — a maioria
da população israelense adulta — que não estejam ativamente envolvidos em
combate.
Esta é a tática retórica favorita dos sionistas liberais que
não querem defender abertamente os crimes de guerra e das pessoas que têm medo
de assumir uma posição moral impopular. Existem muitos detalhes, fatos e
nuances, é claro.
Mas o quadro geral é ainda mais claro: Israel é uma nação
colonial que roubou terras palestinas com armas em punho, perpetrando uma
limpeza étnica que dura até hoje. É, portanto, um governo imoral, genocida,
terrorista e ilegítimo e a resistência palestina é justificada sob a lei
internacional e convenções morais.
Os refugiados palestinos mundo afora têm o direito de voltar
para casa. A comunidade internacional deve tomar medidas para forçar Israel a
aceitar uma solução justa e evitar o derramamento de sangue inocente e a
limpeza étnica. A existência de um estado etno-religioso é antagônico a todos
os valores liberais e democráticos modernos.
9. “A solução de dois Estados”
Durante anos, a solução política preferida para a ocupação
israelense da Palestina foi a chamada “solução de dois Estados”, na qual a
Palestina histórica seria dividida em dois Estados que viveriam lado a lado, um
predominantemente judeu e o outro predominantemente não-judeu. Isto
significaria o fim da ocupação e uma oportunidade para uma paz duradoura.
Os detalhes de tal resolução foram longamente negociados e
os dois lados chegaram muito perto de um acordo na década 90, mas essa
oportunidade acabou quando um terrorista israelense de extrema-direita assassinou o
primeiro-ministro israelense Yitzkah Rabin em 1995. Desde então, o
establishment político israelense deslocou-se ainda mais para a direita e
Israel passou a ocupar ilegalmente grandes áreas da Cisjordânia, tornando
efetivamente impossível qualquer acordo. Hoje, três quartos dos
palestinos acreditam que
uma solução de dois Estados não é mais possível.
A única opção possível neste momento é uma solução de um
Estado único. E se isso ocorresse hoje, os judeus estariam em minoria, portanto
os sionistas hoje preferem manter o status quo de um Estado único com
territórios ocupados e apartheid e não considerariam uma solução democrática de
um Estado único com os palestinos da Cisjordânia e de Gaza tendo plenos
direitos políticos.
Aqueles que ainda estejam discutindo a possibilidade de uma
solução de dois Estados está essencialmente ganhando tempo para o status quo, à
medida que Israel aumenta a sua ocupação territorial ilegal e tenta ultrapassar
os palestinos em termos de população através da política do retorno, inflando a
imigração, e das elevadas taxas de natalidade fomentada entre as comunidades
religiosas fundamentalistas.
10. As críticas a Israel são “antissemitas”
Durante muitos anos, qualquer crítica a Israel foi rotulada
de antissemitismo. Isto tem sido especialmente verdade nos Estados Unidos, onde
muitos jornalistas foram demitidos por fazerem comentários fatuais que não eram
suficientemente pró-Israel. A autocensura extrema sobre o assunto nas redações
estadunidenses tornou-se a norma — uma realidade que vivenciei pessoalmente.
Embora, é claro, os antissemitas pudessem criticar Israel e
as críticas a Israel pudessem ser feitas de uma forma antissemita, essa
correlação muitas vezes não está presente.
Ironicamente, a acusação de que a oposição a Israel é
inerentemente antissemita é, em si, um conceito antissemita, pois
junta uma identidade etno-religiosa diversificada em uma posição política
única. É tão errado e ofensivo como dizer que todos os muçulmanos são
terroristas porque o ISIS é “islâmico”, o que é um sentimento islamofóbico
cultivado nesta sociedade educada por algumas das mesmas pessoas que argumentam
que qualquer crítica a Israel é antissemita.
A utilização deste argumento cínico pelos defensores de um
estado racista de apartheid tem, na verdade, o efeito de aumentar o
antissemitismo no mundo ao dizer aos não-judeus que todos os judeus são iguais
e apoiam as políticas terroristas do governo sionista israelense.
Entre os judeus
não-israelenses, especialmente os mais
jovens, o apoio ao sionismo e a Israel está caindo vertiginosamente
ano após ano – e isso preocupa o governo.
A crítica a Israel não é antissemita.
11. Israel é um farol de valores progressistas num mar de
inimigos islâmicos regressivos
Israel é uma nação de colonos na qual um movimento
ideológico de judeus sionistas, predominantemente vindos da Europa e da América
do Norte, se propôs a estabelecer um “pátria” para o povo judeu – a sua Sião. O
Estado foi fundado depois
dos horrores do Holocausto, mas o movimento dos colonos o antecede em meio
século.
Para criar este estado, os judeus sionistas se deslocaram de
outros países e assassinaram sistematicamente os palestinos que ali viveram
muito antes da palavra “sionismo” ter sido pronunciada. Também criaram leis com
dezenas de tipos de discriminação legal contra os palestinos, num esforço
forçar a saída do território e ter menos filhos para que os judeus sionistas
pudessem se tornar majoritários na população.
Os palestinos vivem sob um regime de apartheid
etnorreligioso desde que as milícias terroristas paramilitares judaicas
varreram a histórica Palestina em 15 de maio de 1948. O que os israelenses
consideram sua declaração de independência, palestinos chamam de Nakba – “a
Catástrofe”. Pelo menos 750 mil palestinos, entre muçulmanos e cristãos, foram
forçados a fugir de suas casas enquanto forças determinadas a estabelecer um
“Estado Judeu” ocupavam 78 por cento da região ondemuitos grupos étnicos, de
várias religiões, coabitaram durante milhares de anos.
Cerca de 530 cidades e aldeias palestinas foram atacadas e
pelo menos 15 mil palestinos foram mortos na Nakba. Nas ações militares e
paramilitares subsequentes, Israel ocupou cada vez mais terras, construindo
colônias militarizadas populadas com fanáticos religiosos nascidos em várias
partes do mundo e que não têm intenção de desistir de um centímetro dessas
terras, pois vêem a sua ocupação da terra como uma profecia bíblica.
E, de fato, será difícil remover esses fanáticos religiosos,
pois o governo israelense, cada vez mais controlador e extremista, tem um
estoque de armas nucleares e apoio contínuo do governo dos Estados Unidos.
Um enorme escândalo em que a mídia americana mentiu
A CNN esqueceu que seu âncora estava transmitindo ao vivo e
pediu ao repórter e ao cinegrafista por telefone que fingissem que estavam sob
a ameaça de mísseis do Hamas. Ele também pediu ao cinegrafista que focalizasse
a imagem perto deles para que pudessem aparecer sinais de medo. Ele também lhes
pediu que olhassem ao redor como se estivessem aterrorizados pelo medo.
Foguetes do Hamas!
#CNN esqueceu que estava no ar e o diretor de notícias
instruiu o repórter e o cinegrafista ao telefone a fingir que foram atingidos
por foguetes do Hamas quando ele disse a ela para olhar em volta de uma forma
que "você está em pânico"