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sábado, 20 de janeiro de 2024

Esquerda e direita são sócias na Bahia


Marqueteiro de Lula e ACM Neto desmatam área verde


Ilustração

Os debates ideológicos entre esquerda e direita, na Bahia, têm um teto. É um espigão de 50 andares projetado para ser construído dentro de uma área de proteção permanente, no centro de Salvador.

Explico! Sidônio Palmeira foi o principal marqueteiro do presidente Lula nas eleições de 2022. Partiu dele e de sua equipe algumas das peças icônicas que marcaram a vitoriosa disputa eleitoral: entre apelos à democracia, estímulos ao consumo de picanha e cerveja e as diferenças fundamentais entre Lula e Bolsonaro, por exemplo.

No mundo dos negócios, ao que parece, essas distinções são relativizadas. Sidônio é sócio do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, do União Brasil, em empreendimentos luxuosos no estado.

Empresários endinheirados e outros políticos do campo da direita também fazem parte dessa sociedade – como o ex-prefeito de Mata de São João, o milionário João Gualberto, do PSDB, e o também tucano Tiago Coelho, deputado estadual na Bahia.

Um dos negócios mais recentes entre eles é a construção de um arranha-céu no Corredor da Vitória, reduto da elite soteropolitana. Quem vai tocar essa obra é a Novonor, antiga Odebrecht. E o que garantiu a possibilidade desse empreendimento existir foi uma arranjo político.

No fim do ano passado, a Câmara de Vereadores de Salvador votou a desafetação de 40 locais na cidade – sendo 15 áreas verdes. Esse é um termo técnico que indica que um bem público tem a sua destinação transformada, podendo ser vendido, doado ou trocado com a iniciativa privada.

Uma das áreas contempladas no projeto foi justamente os 6.699 metros quadrados na Vitória, doados à prefeitura em 1988, como compensação fundiária pela construção de outro prédio de luxo. Até a desafetação, a área estava registrada em cartório como espaço que não poderia ser edificado.

A Câmara de Vereadores em sua ampla maioria apoia o atual prefeito Bruno Reis, do União Brasil. Ele foi alçado ao cargo, em 2020, pelo seu padrinho político ACM Neto. Esse ano tenta a reeleição.

Se não é um bolsonarista assumido, ACM Neto teve flertes profundos com o ex-presidente. Entretanto, na última campanha eleitoral para governador da Bahia, diante alta popularidade de Lula no estado, o herdeiro carlista preferiu adotar um discurso de "palanque neutro" e não indicar nenhum candidato – "tanto faz", disse, quando questionado quem gostaria de ver subindo a rampa do Palácio do Planalto.

A fluidez ideológica engrena o apetite empresarial. Com Sidônio, ACM Neto comprou a antiga sede do Palácio dos Esportes, que pertencia ao governo do estado – a ideia é transformar o lugar em um hotel de luxo na cidade.  

Vale lembrar que o marqueteiro não é um profissional contratado para um job específico. Ele é autor intelectual da imagem pública do PT, sobretudo na Bahia.

Desde 2006, quando Jaques Wagner se elegeu governador pela primeira vez, derrotando a longa linhagem do avô de ACM Neto, Sidônio é o mentor das campanhas e do discurso dos governos petistas – sua empresa, a Leiaute Propaganda, por somas milionárias, passou a prestar serviço para os consecutivos mandatos que o partido foi enfileirando no estado.

Na última vitória, o neófito Jerônimo Rodrigues derrotou justamente ACM Neto, o sócio de Sidônio. Para além das ótimas relações empresariais que mantém – claro, bem longe dos olhos do eleitor –, há uma urgente preocupação ambiental quando esse tipo de clubinho pluripartidário se organiza.

Em sua dissertação de mestrado na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, a pesquisadora Marina Teixeira mostra como o instrumento da desafetação em Salvador historicamente segue o movimento de "especulação e valorização imobiliária da cidade", destruindo áreas verdes de proteção, e alienando bens públicos para atores privados.

Nesse ponto, Sidônio Palmeira e ACM Neto, quando unem forças, passam a ter um enorme diferencial competitivo para a saúde financeira do negócio que tocam: interlocução ampla e livre trânsito nas esferas de poder. Seja municipal, estadual ou federal.

Amigos, amigos. Negócios também fazem parte!


Via: André Uzêda Editor Sênior


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quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Está perigoso demais fazer jornalismo!


A gente tem apanhado bastante nos últimos meses. Mas isso não fará a gente retroceder nem um milímetro. Podemos contar com você nessa luta?



A situação está ficando fora de controle.


  • Sete publicações nossas foram censuradas no intervalo de apenas três meses
  • Recebemos seis processos novos apenas nas últimas semanas
  • Uma repórter nossa foi condenada a cumprir um ano de prisão e pagar R$ 400 mil em indenizações

 

Isso é sem precedentes e estamos muito preocupados.


Além disso, temos um bocado de outros processos rolando soltos — entre eles alguns que poderiam resultar na prisão dos nossos repórteres — e alguns novos acabaram de chegar.

Está começando a parecer que quando a Igreja Universal mandou a polícia atrás da gente por causa de uma reportagem, eram apenas as primeiras rajadas de uma ofensiva muito maior.

Ser jornalista e fazer jornalismo é perigoso demais. Ainda mais quando a nossa missão é apontar a corrupção exatamente dos pesos pesados que mandam nos tribunais.


Estamos acumulando custos jurídicos e precisamos da sua ajuda para aguentar essas batalhas e seguir fortes. Você pode contribuir com R$ 30 para nossa defesa contra esses valentões?


O desafio é grande e os riscos são reais, mas a gente sempre seguiu firme porque tivemos milhares de membros lutando lado a lado com a nossa equipe. Só que desde que viramos 100% independentes um ano atrás, o Intercept Brasil tem perdido milhares de apoiadores.

Isso está nos preocupando mais do que a fúria de Edir Macedo ou a caneta torta de um desembargador.

Para botar nosso orçamento de volta nos trilhos e para que nossa redação possa seguir lutando destemida pelo o que é certo, precisamos que nossa comunidade contribua para chegarmos a R$ 70 mil até o final do mês.

Dependemos de pessoas como você porque não vendemos propaganda, não aceitamos dinheiro de empresas ou de governos e não colocamos paywall no nosso jornalismo. Assim, conseguimos reportar sem rabo preso e servir todo mundo, independente da sua capacidade de pagar.

 

Qualquer valor é uma grande ajuda.

 

E se você fizer uma contribuição, não lhe incomodaremos com outro e-mail pedindo dinheiro por um bom tempo — mandaremos apenas nosso jornalismo.

 

Você consegue nos ajudar a bater essa meta e sinalizar para os poderosos que o jornalismo independente no Brasil segue firme e forte? Faça uma contribuição hoje, por favor.

Andrew Fishman

Presidente e cofundador


sábado, 11 de julho de 2020

A investigação do MP está mostrando que o MBL operava um gabinete do ódio


Ilustração: The Intercept Brasil


O cerco se fechou contra as fake news nesta semana. Depois que diversas páginas e contas foram derrubadas no Facebook ligadas ao bolsonarismo, o Ministério Público de São Paulo prendeu homens ligados ao MBL, sendo um deles um famoso propagador de mentiras. Essa indústria de fake news, que forneceu a base para ascensão da extrema direita no Brasil, parece estar com os dias contados.

Na manhã de sexta-feira, a Polícia Civil  prendeu dois empresários ligados ao MBL.  Eles são acusados pelo Ministério Público de participar de um esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio. O MBL nega que os empresários tenham ligação com o grupo e tenta a todo custo descolar sua imagem dessa investigação. Mas o fato é que a polícia também cumpriu um mandado de busca na sede do movimento e investiga empresas ligadas a ele. Não é possível afirmar que a sede do MBL não é ligada ao MBL, não é mesmo?

Motivos para o grupo estar na mira da investigação não faltam. Além da ligação estreita que mantém com os empresários presos, está sendo investigada a relação financeira obscura entre o MBL e uma das empresas da família de Renan dos Santos, um dos líderes do movimento. Há a suspeita de que essa relação seja para a prática do crime de lavagem de dinheiro. Segundo nota do MP-SP, as evidências obtidas indicam que os envolvidos “construíram efetiva blindagem patrimonial composta por um número significativo de pessoas jurídicas, tornando o fluxo de recursos extremamente difícil de ser rastreado”.

Os procuradores afirmam que a família de Renan comprou e abriu duas dezenas de empresas que hoje se encontram inoperantes — outro forte indicativo de lavagem de dinheiro. Essas empresas devem juntas à União cerca de R$ 400 milhões em impostos. Uma bagatela de quase meio bilhão teria deixado de entrar nos cofres públicos!

Intercept teve acesso ao procedimento de investigação criminal, que está disponível na íntegra ao final desse texto. O MP estranha o fato do “MBL/MRL” ter se negado publicamente a “prestar contas acerca dos valores que vêm angariando ao longo de sua existência, e que vêm financiando a manutenção do “Movimento””. Na investigação consta também que o juiz acatou o pedido do MP para quebrar o sigilo bancário e fiscal de Renan Santos. Agora a estranha relação entre o MBL e a empresa da sua família finalmente deverá ser esclarecida.

A cara de pau em negar a estreita relação do grupo com os presos não resiste a uma googlada. Carlos Augusto de Moraes Afonso é um dos presos que manteve uma forte parceria com o MBL. Usando o pseudônimo de Luciano Ayan, ele ficou famoso por comandar o extinto Ceticismo Político, um site reacionário que publicava fake news. O auge da fama foi atingido quando ele apareceu no Profissão Repórter para explicar uma reportagem mentirosa publicada sobre Marielle Franco.

A manchete insinuava que a vereadora assassinada mantinha relações com o tráfico. O que o MBL fez diante disso? Largou o parceiro ferido na estrada e repudiou a disseminação da mentira? Claro que não. O grupo saiu em defesa de Luciano Ayan e passou a atacar os jornalistas da Globo em suas redes sociais. Produziram até um vídeo para defendê-lo.

Um ex-parceiro do MBL já havia denunciado o que está sendo investigado agora. Em carta enviada à CPMI das Fake News, Roger Scar contou que Luciano Ayan o procurou para assumir o Jornalivre, um site dedicado a produzir notícias com viés de direita para o MBL. Ayan não revelava de onde vinha a grana para manter o site, e o salário de R$ 2 mil de Roger. Dizia apenas que havia um doador anônimo por trás.

Segundo ele, o MBL encomendava conteúdos fakes e de apoio ao candidato Jair Bolsonaro. Foi aí que ele começou a desconfiar quem era a alma bondosa que mantinha financeiramente seu site:  “(…) a ficha começou a cair. Na realidade, Luciano havia mentido desde o princípio sobre o suposto apoiador do site. Quem realmente financiou o Jornalivre foi o MBL, e Luciano não passava de um laranja, um intermediário que fazia a ponte entre eles e eu”.

O ex-editor do Jornalivre afirma que a ideia de Ayan era “fazer precisamente o que as milícias bolsonaristas fazem hoje, com assassinato de reputações.” Ou seja, conforme Scar, o grupo pagava para Luciano Ayan comandar uma espécie de Gabinete do Ódio do MBL. Roger não é o único a apontar essas relações. Há outros ex-integrantes que as confirmam.

No texto do procedimento investigatório, consta que Ayan ameaçou membros do MBL que questionaram as nebulosas doações recebidas através de vaquinhas on-line e das lives no YouTube. Ayan “passou a efetuar intimidações e ameaçar internautas que faziam menções questionadoras a estas doações via Superchat que não possuem lastro, e cuja origem não se sabe ser lícita ou ilícita, posto que, como referido, são feitas por meio de pagamentos que não deixam lastro no sistema bancário (via cartão pré-pago).”

Ainda segundo a investigação, essa seria uma “nova e peculiar” técnica de lavagem de dinheiro. As frequentes doações online de valores relevantes não passavam pelo sistema bancário dos investigados, “justamente de forma a proporcionar, de forma mais eficiente, a ocultação da origem dos valores”. O MP chama essa grana de “cifras ocultas”, já que as doações são efetuadas por cartões pré-pago e podem ser feitas em nome de qualquer pessoa.  Para os investigadores, a origem do dinheiro dessas doações é “provavelmente ilícita”.

Infográfico presente no procedimento investigatório do MP-SP (Imagem/Reprodução)


O MBL fazia arrecadação de dinheiro por meio de suas lives no YouTube, e cada doação era chamada pelos integrantes de “pimba”. Alessander Monaco, preso nesta sexta-feira (10), era um “pimbador” em série.

O deputado Kim Kataguiri, que hoje faz a egípcia tentando escamotear sua proximidade com Ayan, o considerava um analista político de respeito. O MBL o considerava um professor e chegou a convidá-lo para ministrar uma aula pública em frente à sede do Facebook, onde o grupo fazia um protesto:



 Ayan era tão próximo do movimento que chegou a ser sócio de uma empresa junto com Pedro D’Eyrot, líder e um dos fundadores do MBL. É esse o nível de proximidade de Ayan com  lideranças do grupo.

Alessander Monaco, o outro homem ligado ao MBL preso na operação, é suspeito de, dentre outras coisas, realizar “doações altamente suspeitas através da plataforma Google” — leia-se suspeita de lavagem de dinheiro. Esses indícios circulam pelas redes desde o ano passado. 

Monaco trabalhou durante um ano como funcionário do estado de São Paulo durante a gestão de Doria, um político que sempre foi um grande parceiro do MBL. Aliás, integrante do MBL contratado pela gestão Doria não chega a ser novidade.

O MBL fazia arrecadação de dinheiro por meio de suas lives no YouTube. Cada doação era chamada pelos integrantes de “pimba”. Monaco era um “pimbador” em série. Fazia doações com valores acima da média e era festejado pelo grupo.

Registro de algumas das "pimbadas"de Alessander Monaco. (Reprodução/YouTube


As doações frequentes e vultosas de Monaco viraram piada interna entre os integrantes do MBL. Tanto que o grupo passou a apresentar suas lives exibindo em cima da bancada um porta-retrato com uma foto em homenagem ao doador “anônimo”. Na foto abaixo, Alessander aparece sentado à mesa em uma live do grupo.

Foto: Reprodução/Instagram, YouTube


A impressão que ficava era a de que Monaco era só um fã do MBL com dinheiro de sobra para gastar. Mas não é isso o que o MP acha nem o que diz esse ex-coordenador do grupo, Ian Madonaldo:



 A investigação afirma que “as doações efetuadas mensalmente por ele ao MBL somavam valores muito além da sua capacidade econômico-financeira”.

Além das “pimbadas”, o MP suspeita das 50 vezes que Monaco foi para Brasília entre julho de 2016 e agosto de 2018. Apesar de ganhar apenas R$ 6 mil mensais como funcionário da gestão Doria à época, ele torrou mais de R$ 100 mil gastos com passagens. Em todas as vezes, ele foi ao Ministério da Educação, mas nunca apresentou uma justificativa plausível. Em praticamente todo o período em que as viagens foram feitas, o ministro da Educação era Mendonça Filho, do DEM. É um partido que sempre esteve próximo do MBL e foi por meio dele que o grupo elegeu três lideranças: Kim Kataguiri, Fernando Holiday e Mamãe Falei. É mais uma história que precisa ser melhor esclarecida.

O MP identificou também um significativo aumento de patrimônio de Monaco. Em 2017, saltou de R$ 146.196,96 para R$ 465.376,92.  A investigação aponta também que a Receita Federal observou um gasto de cartão de crédito mensal médio de R$ 27.456,63 — um valor incompatível com seu salário.

Os integrantes do MBL sugerem que estão sendo vítimas de uma perseguição do bolsonarismo, com quem rompeu e hoje faz oposição. Pelo que vimos acontecer no Brasil nos últimos anos, essa é algo factível. É realmente possível que haja uma disposição em enquadrar o MBL teleguiada por agentes bolsonaristas.

Nós conhecemos o tamanho da influência do bolsonarismo dentro das polícias e do Ministério Público. Mas isso não significa que as suspeitas não fazem sentido. Fazem. O MBL nunca foi transparente quanto ao financiamento do grupo. Nunca prestou contas aos filiados do dinheiro que arrecada por meio das “pimbadas”. Quem faz a auditoria dessas doações? Quanto de dinheiro o MBL arrecadou com elas? Quanto Luciano Ayan recebeu para montar o gabinete do ódio do grupo? Ninguém sabe, nem mesmo os integrantes do grupo. A gestão financeira do MBL é uma caixa-preta que apenas a família do Renan Santos tinha acesso. Mas esse segredo parece estar com os dias contados.

Acesse aqui a íntegra do procedimento investigatório criminal que o MP-SP  abriu contra o MBL.



Segundo Ministério Público e Receita Federal, esquema envolve ocultação de patrimônio e sonegação de R$ 400 milhões.


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quarta-feira, 19 de junho de 2019

A QUEM INTERESSA A NARRATIVA DOS ‘HACKERS CRIMINOSOS’ NA #VAZAJATO?




  • Este texto foi publicado originalmente na newsletter do Intercept Brasil. Assine. É de graça, todos os sábados, na sua caixa de e-mails.

NO ÚLTIMO DOMINGO, o Brasil foi surpreendido por três reportagens explosivas publicadas pelo TIB. Nelas, nós mostramos as entranhas da Lava Jato e mergulhamos fundo em poderes quase nunca cobertos pela imprensa. Quase todos os jornalistas que eu conheço preferem se manter afastados disso: apontar o dedo para procuradores e juízes é, antes de tudo, perigoso em muitos níveis – eles têm razão.

As primeiras reações dos envolvidos no escândalo foram essas: O MPF preferiu focar em hackers, e não negou a autenticidade das mensagens. Sergio Moro disse que não viu nada de mais, ou seja: não negou a autenticidade das mensagens.

Moro, na verdade, se emparedou: em entrevista ao Estadão, ele inicialmente não reconhece como autêntica uma frase que ele mesmo disse. Mas depois diz que pode ter dito. E depois ainda diz que não lembra se disse. Moro está em estado confusional.


Horas depois, à Folha, Moro confirmou um dos chats que publicamos: em uma coletiva, ele chamou de “descuido” o episódio no qual, em 7 de dezembro de 2015, passa uma pista sobre o caso de Lula para que a equipe do MP investigue. Confessou que ajudou a acusação informalmente, o que é contra a lei. Como dizem as piores línguas: tirem suas próprias conclusões.

Deltan Dallagnol não negou tampouco. Ele está bastante preocupado com o que diz ser um “hacker”, mas sequer entregou seu celular para a perícia.

É evidente que nem Moro, nem Deltan e nem ninguém podem negar o que disseram e fizeram. O Graciliano Rocha, do BuzzFeed news, mostrouque atos da Lava Jato coincidiram com orientações de Moro a Deltan no Telegram. Moro mandou, o MPF obedeceu. Isso não é Justiça, é parceria. Ontem nós mostramos a mesma coisa: Moro sugeriu que o MPF atacasse a defesa de Lula usando a imprensa, e o MPF obedeceu. Quem chefiava os procuradores? Só não vê quem não quer.

A imprensa séria virou contra Sergio Moro e Deltan Dallagnol em uma semana graças às revelações do TIB. O Estadão, mesmo que ainda fortemente aliado de Curitiba, pediu a renúncia de Moro e o afastamento dosprocuradores. A Veja escreveu um editorial contundente (“Moro ultrapassou de forma inequívoca a linha da decência e da legalidade no papel de magistrado.”) e publicou uma capa demolidora. A Folha está fazendo um trabalho importante com os diálogos, publicando reportagens de contexto absolutamente necessárias.

Foto: Leandro Demori/The Intercept Brasil

Durante cinco anos, a Lava Jato usou vazamentos e relacionamentos com jornalistas como uma estratégia de pressão na opinião pública. Funcionou, e a operação passou incólume, sofrendo poucas críticas enquanto abastecia a mídia com manchetes diárias. Teve pista livre para cometer ilegalidades em nome do combate a ilegalidades. Agora, a maior parte da imprensa está pondo em dúvida os procuradores e o superministro.

Mas existe uma força disposta a mudar essa narrativa. A grande preocupação dos envolvidos agora, com ajuda da Rede Globo – já que não podem negar seus malfeitos – é com o “hacker”. E também nunca vimos tantos jornalistas interessados mais em descobrir a fonte de uma informação do que com a informação em si. Nós jamais falamos em hacker. Nós não falamos sobre nossa fonte. Nunca.

Já imaginou se toda a imprensa entrasse numa cruzada para tentar descobrir as fontes das reportagens de todo mundo? A quem serve esse desvio de rota? Por enquanto nós vamos chamar só de mau jornalismo, mas talvez muito em breve tudo seja esclarecido. Nós já vimos o futuro, e as respostas estão lá.

A ideia é tentar nos colar a algum tipo de crime – que não cometemos e que a Constituição do país nos protege. Moro disse que somos“aliados de criminosos”, em um ato de desespero. Isso não tem qualquer potencial para nos intimidar. Estamos apenas no começo.

Esse trabalho todo que estamos fazendo só acontece graças ao esforço de uma equipe incrível aqui no TIB. De administrativo a redes sociais, de editorial a comunicações, todos estão sendo absolutamente fantásticos. Nós queremos agradecer imensamente por tudo, e pedir para que vocês nos ajudem a continuar reportando esse arquivo.

#VazaJato: A nova bomba de Glenn Greenwald



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