Em entrevista exclusiva ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, destacou pontos que a nação acredita serem primordiais.
Questionada sobre se há ou não preocupações por um mundo
"bipolar" (controlado majoritariamente por duas nações), Zakharova
respondeu dizendo que "isso não é ideal".
Aos jornalistas Melina Saad e Marcelo
Castilho, a representante oficial do MRE russo elencou os motivos que fazem
com que ela descredite as construções de poder.
"O mundo com dois polos não é ideal. Depois que essa forma de mundo colapsou, a nossa civilização vem tentando fazer um novo sistema funcionar […]. O mundo unipolar não existe, tampouco está funcionando. […]. Não há país neste mundo que possa ser o mandatário do mundo inteiro, que possa ter o direito ou a possibilidade de controlar o mundo", disparou a representante do governo russo.
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Ela continua: "Nós [o mundo] não elegemos nenhum
Estado ou nação para controlar as nossas vidas. Temos o direito
internacional como uma ótima base para resolver diferentes crises, estabelecer
contatos uns com os outros e promover o bom relacionamento entre países, nações
e organizações".
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Durante a resposta, ela enfatiza que há muitos polos no mundo, econômicos e culturais, além de centros de civilização e desenvolvimento moderno e tecnológico. E que esse mundo multipolar é o caminho que a sociedade deve seguir.
"Esse é o caminho que a gente [sociedade] deve, de fato, escolher… Estou falando da Rússia, do Brasil e de outros países do mundo que têm voz própria e são livres para expressar os pontos de vista", arremata.
BRICS: nova ordem mundial?
Para Zakharova, reside uma dualidade no fato de o BRICS ser
ou não uma nova ordem mundial.
"O BRICS não é um instrumento de ajuda, por exemplo, para alguém realizar algo. Mas, ao mesmo tempo, é um bloco neutro. […] São possibilidades dos países de se desenvolverem em várias áreas, incluindo a economia, ecologia, segurança, tecnologia, educação e cultura. Além da chance de os países do bloco se mostrarem ao mundo", embasa.
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Segundo Zakharova, além da individualidade, o bloco permite
um compartilhar de soluções para um futuro próspero.
"O BRICS é uma nova maneira de pensar. Você pode ser independente e, ao mesmo tempo, pode se juntar, se reunir, estar com os demais e ainda pode se proteger e manter a sua dignidade nacional, cultura, civilização e tradições", sublinha.
🎙️ Para um dia especial, uma entrevistada especial. No episódio de hoje, Maria Zakharova, representante da chancelaria russa, para uma conversa sobre BRICS, G20, multilateralismo e muito mais. Não perca o programa nas principais plataformas de áudio. pic.twitter.com/aD57LifR93
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Ocidente é responsável por arruinar a ONU
Para Zakharova, o surgimento da Organização das Nações Unidas (ONU) possui esse papel
de manutenção, respeito e avanço. Mas, em sua visão, o Ocidente está arruinando
o que uma vez foi a organização.
"Muitos países do Ocidente coletivo estão tentando arruinar os princípios da ONU, da Carta da ONU. […] Eles não respeitam o direito internacional, os outros membros do Conselho de Segurança… […] eles estão sempre impedindo iniciativas, propostas de paz — como temos visto no Oriente Médio —, não respeitam outros países como Estados independentes e soberanos", indaga Zakharova.
Brasil no Conselho de Segurança da ONU
Desde antes de deixar a presidência do Conselho de Segurança da ONU, assim como outros países, o
Brasil almeja ter uma cadeira permanente no órgão. A Rússia, por exemplo,
estaria disposta a lutar pelo desejo brasileiro. Zakharova confirmou isso à
Sputnik Brasil.
"Nós [a Rússia] apoiamos o Brasil. Não no futuro, mas agora! A gente [Rússia] reiteradamente repete que deve ser assim [novos países no Conselho], e claro que a gente apoia o Brasil", referenda a representante do governo russo.
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Rússia e Brasil aliados no combate à fome
Questionada sobre como a Rússia poderia ajudar o Brasil no
combate à fome, Zakharova detalhou a existência de uma "falsa realidade"
em alguns locais graças a uma "campanha" estadunidense chamada
"invasão russa à Ucrânia e a fome mundial".
Ela explica que o mote foi promovido por Washington. A autoridade enxerga os movimentos do poder norte-americano como "ridículos".
"Isso é muito injusto. Porque o problema da fome acontece há centenas de anos e é um problema para várias regiões, África, Ásia e diferentes países em diversas partes do mundo", exemplifica.
Segundo Zakharova, a Rússia sempre foi uma das doadoras para
muitos países, organizações internacionais e assistências humanitárias.
"Cada país que sempre precisou, nós [a Rússia] estávamos lá. […] Estamos dispostos a unir todos os líderes do mundo, não apenas políticos, mas também representantes da sociedade civil, organizações humanitárias ou não governamentais para superar esse problema. Mas focando em termos práticos, e não propagandistas", conclui.
Fonte: Sputnik Brasil