‘Mas é óbvio que eu apaguei o post na qual digo q fui curada
da COVID! Mas fiquem tranquilos, jornalistas de fofoca, se e qdo eu pegar
COVID, me tratarei NOVAMENTE de forma PRECOCE e com Cloroquina. E em
sobrevivendo (sei q muitos torcem contra), postarei novamente a mesma foto!’,
escreveu Zambelli.
Economista seria primeiro ministro negro do Governo, mas
deixa cargo antes da posse. “Grotesco ter como indicado alguém que mente no
currículo”, diz Movimento Campanha Nacional pela Educação POR: EL PAÍS
Visto por organizações da área e setores do Governo como
uma correção de rota no Ministério da Educação, após a
conturbada passagem de Abraham Weintraub, o nome de Carlos Alberto Decotelli da Silva chegou a gerar
expectativa de pacificação dos ânimos, que derreteu antes mesmo da posse. Como
o economista não conseguiu comprovar as qualificações de seu currículo, questionadas por instituições onde
ele afirmara ter cursado doutorado e pós-doutorado e ainda trabalhado como
professor, o presidente Jair Bolsonaro foi obrigado a recuar, adiando a
nomeação. Diante da pressão pela descoberta das fraudes, o ministro, que durou
apenas cinco dias no cargo, pediu demissão nesta terça-feira.
A primeira inconsistência no currículo de Decotelli surgiu
da Universidade Nacional de Rosario, na Argentina, que informou que o indicado
ao MEC não obteve título de doutor por ter tido a tese reprovada. Na sequência,
a universidade alemã de Wuppertal negou que o economista tenha cursado
pós-doutorado na instituição. Já nesta terça, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) emitiu nota para
esclarecer que o agora ex-ministro nunca integrou seu corpo efetivo de
professores, mas somente deu aulas, como colaborador, em cursos de educação
continuada vinculados à fundação. Em seu currículo Lattes, ele apontava ter
sido professor da instituição entre 2001 e 2018. A FGV ainda apura denúncia de
plágio da dissertação de mestrado, que será devidamente conferida após
orientadores retornarem às atividades presenciais e, caso seja confirmada, pode
render a abertura de um processo disciplinar e, em última instância, a anulação
do título.
Por meio do MEC, Decotelli se comprometeu a revisar a
dissertação, negando dolo em eventuais omissões de créditos a outros
pesquisadores, e admitiu não ter concluído os trabalhos necessários para a
obtenção dos títulos de doutorado e pós-doutorado. Embora tenha efetuado
ajustes no currículo e recebido o apoio de Bolsonaro, que relativizou a
falsificação que chamou de “inadequações curriculares” e enalteceu a
“capacidade para construir uma educação inclusiva e de oportunidades para
todos” do ministro, o economista não conseguiu se segurar no cargo, rifado pela
alta cúpula do presidente.
Sem se comover com o voto de confiança dado por Bolsonaro a
seu escolhido, parlamentares governistas bradaram publicamente pela saída de
Decotelli. “O Governo precisa passar um pente fino na área responsável pela análise
de informações e demitir os incompetentes. Além disso, deve repensar a nomeação
de Decotelli. Um ministro da Educação não pode assumir o cargo nessa
fragilidade”, postou o deputado federal Paulo Eduardo Martins (PSC-PR), que,
mais tarde, celebraria o pedido de demissão do ministro. “Melhor para o Brasil,
para o presidente e para Decotelli.”
Com passagem pela Marinha, o ministro havia recebido o crivo
da ala militar que tem ganhado influência sob o Governo Bolsonaro. Antes do
MEC, ele presidiu o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) entre
fevereiro e agosto de 2019. Sua chegada ao comando da autarquia federal
vinculada ao MEC é anterior ao decreto assinado pelo presidente em 15 de março
do ano passado, que estipula critérios técnicos, como experiência profissional
na área ou título de doutorado, para nomeações em cargos comissionados do Governo.
Entretanto, as regras preveem que as informações curriculares sejam prestadas
pelos indicados ao cargo, sem obrigatoriedade de verificação, e que ministros
de cada pasta podem dispensar os critérios desde que apresentem justificativas.
A falta de mecanismos de controle das qualificações segue
fazendo com que critérios políticos frequentemente se sobreponham aos técnicos
nas nomeações do Governo. Depois da saída de Weintraub e a prevalência da
indicação dos militares, Decotelli ganhou a rejeição imediata do núcleo governista mais ligado ao filósofo Olavo de Carvalho,
que havia apadrinhado os dois ministros anteriores, mas perdera a queda de
braço na disputa pelo MEC. Alfinetadas públicas de aliados bolsonaristas ao
novo ministro se somaram às críticas de parlamentares da oposição e entidades
de educação quando as inconsistências no currículo vieram à tona.
“É um cenário no mínimo grotesco termos como indicado para o
Ministério da Educação alguém que mente no currículo —e que comete, portanto,
um crime— e ainda por cima tendo chegado ao ministério se dizendo técnico e
tentando se descolar do caráter político e ideológico vergonhoso do Governo
para o qual aceitou entrar. Desde sua confirmação já dissemos que nenhum
técnico não é político, e agora isso se comprova”, manifestou o movimento da
Campanha Nacional pela Educação.
Porém, antes da polêmica sobre o currículo, o nome de
Decotelli foi inicialmente bem assimilado por lideranças do setor. Organizações
não governamentais como o Todos Pela Educação se surpreenderam de forma
positiva com o perfil mais técnico que ideológico do economista, ao contrário
de Weintraub. A primeira impressão, no entanto, caiu por terra em meio à
desconstrução de seu currículo. “Muita mentira junta é grave. Ministro da
Educação mentir formação acadêmica, é gravíssimo. Ministro que não é mais
confiável para restabelecer as pontes com Estados, Municípios, Congresso e
sociedade, não consegue exercer suas funções frente à profunda crise na
educação”, afirmou Priscila Cruz, presidente do Todos Pela Educação.
Para Luiz Carlos de Freitas, pesquisador e professor
aposentado da Unicamp, a miragem de que Decotelli poderia ser um ministro
técnico e conciliador, apesar de sua curta experiência na área de políticas
públicas para a educação, foi facilitada pela repulsa generalizada a seu
antecessor no cargo. “Depois de uma gestão tão tensa como a do Weintraub,
qualquer nome soa como um alívio, uma esperança de que, finalmente, alguém vai
propor um grande debate nacional”, diz Freitas. O pesquisador entende que o
substituto de Decotelli, independentemente de perfil ou currículo, deve se
guiar por uma visão mercantilista da educação. “O Governo Bolsonaro
foi loteado pelas forças que lhe dão suporte. Na medida em que uma delas ganha
mais relevância que outra, a direção do Governo muda, mas elas ainda
compartilham a ideia radical de reduzir o Estado a qualquer custo. E, na
educação, esse apelo por reformas de caráter empresarial naturalmente se
reproduz.”
Única baixa por falsificação de currículo no Governo
Carlos Alberto Decotelli não foi o primeiro integrante do
Governo Bolsonaro exposto por exagerar ou fraudar qualificações
curriculares. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, dizia-se
mestre em Direito Público pela Universidade Yale até uma reportagem do The
Intercept Brasil desmascarar o falso mérito. Salles atribuiu a
informação a um “equívoco de assessoria”. Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos
Humanos, indicava possuir o título de mestre em Educação e Direito
Constitucional e da Família, embora nunca tenha feito mestrado, sem especificar
que se tratava de uma distinção religiosa.
Os antecessores de Decotelli na pasta também turbinaram seus
currículos. Primeiro ministro da Educação de Bolsonaro, o colombiano
naturalizado brasileiro, Ricardo Vélez Rodríguez, apresentou pelo menos 22 erros em
seu currículo Lattes, incluindo a autoria de livros que não havia escrito, de
acordo com levantamento do portal Nexo. Por sua vez, Abraham Weintraub foi anunciado pelo presidente como
doutor, sendo que só possui o título de mestre em Administração. A Folha
de S. Paulo ainda verificou que o ex-ministro ostentava no currículo
artigos idênticos, publicados em dois veículos diferentes, em prática conhecida
como autoplágio.
Em que pese a sequência de desmentidos de instituições onde
Decotelli informava ter trabalhado ou se graduado, ele foi o único membro do
alto escalão do Governo a sair do cargo após ser flagrado por fraude
curricular. Até então, o economista também era o único ministro negro nomeado por Bolsonaro ao longo de
seu mandato. “Comecei a desenhar um projeto para implementar no MEC. Esse
projeto, porém, foi questionado pelo fato da minha inconsistência curricular,
que, no mundo acadêmico, é explicável”, justificou Decotelli em entrevista
à CNN Brasil. Ele foi o ministro que permaneceu menos tempo no
cargo, superando a passagem-relâmpago de Nelson Teich (28 dias) pelo
Ministério da Saúde.
Mesmo com pandemia, o Brasil não tem ministro da saúde e nem
da educação. Carlos Alberto Decotelli se demitiu nesta tarde sem sequer ter
assumido o cargo. A demissão acontece após a polêmica sobre títulos que
Decotélli diz possuir.
VEJA - Por trás das hashtags pró-governo que bombam no Twitter, há
inúmeras contas automatizadas prontas para atacar adversários e burlar
detectores
Aos olhos do visitante virtual, Mariângela é uma mulher de
meia-idade, provavelmente avó de uma garotinha loira. Ambas sorriem para a foto
estampada no Twitter de Mariângela, que se define como “conservadora de
direita” e “patriota” em busca de “um Brasil melhor e sem comunismo”. No fecho
do manifesto, “deus (em minúscula) acima de todos”. Não há fotos pessoais, nem
localização, nem dados específicos sobre a tal senhora, mas causa espanto sua
dedicação à rede social: entre os dias 24 e 25 de março, ela cravou nada menos
do que 225 tuítes, a maioria de madrugada, em alguns momentos com menos de 10
segundos de intervalo entre as postagens. Uma verdadeira máquina de tuitar.
Em um prazo um pouco mais largo, entre os dias 21 e 29 de
março, a fúria digitadora de dona Mariângela seguiu forte e ela foi responsável
pela maior quantidade de posts contendo as hashtags de apoio ao presidente Jair
Bolsonaro que chegaram aos assuntos mais comentados nas redes no período:
#aimprensamente, a campeã, mencionada mais de 27,7 mil vezes no Twitter,
seguida por #bolsonarotemrazao e #somostodosallan (em referência ao ativista
Allan dos Santos, do site Terça Livre), respectivamente com 12,4 mil e 10,3 mil
menções. Depois de passar incólume por vários “exames” virtuais, na última
semana determinou-se que Mariângela é literalmente uma máquina: o nome virtual
@mariang69423516 foi classificado como robô pelo Botometer, um detector de bots
desenvolvido pela Universidade do Indiana.
Ao todo, cerca de 30.000 perfis foram responsáveis pela
propagação destas e outras dezessete hashtags bolsonaristas naqueles nove dias
de março, de acordo com um levantamento realizado pelo NetLab, da Escola de
Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ), a pedido de
VEJA. Destes, cerca de 4.900 foram claramente identificados como robôs pelo
Botometer, mas na estimativa dos pesquisadores esta é só a ponta do iceberg.
Por exemplo: dos vinte perfis “campeões” em postagens pró-Bolsonaro no período
analisado, a ferramenta detectou seis falsos, mas outros nove apresentaram um
comportamento típico de contas automatizadas: publicaram dezenas de tuítes
sobre o mesmo assunto em poucas horas e em seguida ou silenciaram ou reduziram
drasticamente o número de postagens. “As ferramentas disponíveis para detecção
de bots levam em conta fatores como o nível de personalização da conta,
linguagem, número de amigos e seguidores. Os robôs, entretanto, estão
aprendendo a imitar o comportamento humano nas redes, tornando ainda mais
difícil sua identificação”, explica o especialista Fernando Ferreira, diretor
da Twist, empresa de ciência de dados. A estimativa dos analistas é que o
número de perfis automatizados atuantes nestas campanhas seja pelo menos o
dobro do que já foi identificado.
Os pesquisadores também analisaram os 60.000 retuítes feitos
pelos usuários analisados e perceberam indícios de robotização nessa rede de
compartilhamentos. “Ela é pouco densa, o que é incomum. Alguns ‘nós’ mais fortes
geralmente representam influenciadores reais. Mas a maioria dos perfis de apoio
não segue um ao outro. É como se essa gente toda gostasse das mesmas coisas,
mas ninguém se conhecesse ou se conectasse de alguma forma, um comportamento
que vai contra a própria arquitetura da internet, feita para conectar pessoas
com interesses em comum”, explica a professora Marie Santini, diretora do
NetLab/UFRJ. Redes dessa natureza, segundo a especialista, só se mantêm com
alto grau de automatização.
Além disso, chama atenção o fato de os perfis mecanizados
atuarem intensamente nas primeiras horas após o começo de alguma “polêmica”, de
forma a garantir que o assunto chegue em poucos minutos ao topo do Twitter. O
@Vnia60277636, segundo perfil com maior número de mensagens de apoio ao
presidente no período analisado, tinha acabado de ser criado, no mesmo mês de
março, e já havia publicado 11.400 tuítes até o final do levantamento. Na
última semana, foram 5.000. Detalhe: “Vânia” está entre os perfis que escaparam
da varredura do Botometer. Outra característica é o curto tempo de “vida” dos
usuários – ao longo das três semanas de levantamento, 620 contas foram
deletadas.
Militarismo virtual
Desde sua posse, em 1º de janeiro, o presidente Jair
Bolsonaro ganhou 4,2 milhões de seguidores em seus perfis oficiais no Facebook,
Instagram e Twitter. Nesse período, produziu 791 tuítes, compartilhados mais de
3,8 milhões de vezes. De acordo com um levantamento feito pela consultoria
Bites, entre as dez hashtags mais utilizadas sobre o presidente nesses quase
100 dias de governo, cinco são de natureza positiva. A recordista em menções é
#bolsonarotemrazao, com 602 mil tweets, criada em função da polêmica do
Carnaval.
Automatizada ou não, fato é que a rede de apoiadores de
Bolsonaro on-line é consolidada, disciplinada e rápida na sua capacidade de
reação, segundo a avaliação de Manoel Fernandes, diretor da Bites. “As redes
bolsonaristas obedecem a uma lógica militar: sua função é proteger apoiadores
do presidente e atacar seus adversários, a partir do comando de polos
emissores”, explica o especialista, que cita como exemplo o caso da exoneração
do coronel Ricardo Wagner Roquetti, ex-secretário executivo do MEC. “O público
pode não ter ideia de quem seja o sujeito. Mas se os principais influenciadores
o identificam como inimigo, seu exército on-line interpreta como uma tarefa e
ataca imediatamente”, acrescenta.
DENUNCIA GRAVE: GRUPOS DE BOSONARO CRIADOS POR ROBÔS NOS EUA
Justiça arquiva processo contra Haddad por lavagem de dinheiro e corrupção em suposto pagamento de dívida de campanha
MP havia denunciado o ex-prefeito por suspeita de pedir R$ 2,6 milhões à construtora UTC Engenharia. Desembargador disse que é “descabido falar em ‘perspectiva’ de benefícios oriundos do executivo municipal."
Em setembro do ano passado, o Ministério Público havia denunciado Haddad por suspeita de pedir R$ 2,6 milhões à construtora UTC Engenharia para pagamento de dívidas de campanha.
Segundo a denúncia, o pedido de recursos ao ex-presidente da UTC Ricardo Pessoa, entre abril e maio de 2013, foi feito por meio do então tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, que pretendia obter inicialmente R$ 3 milhões para o pagamento de trabalhos feitos à campanha por uma gráfica que pertencia ao ex-deputado estadual Francisco Carlos de Souza, conhecido como “Chicão”.
De acordo com o voto do relator, o desembargador Vico Mañas, é “descabido falar em ‘perspectiva’ de benefícios oriundos do executivo municipal, ausência de notícias de favorecimento à empreiteira no período.”
Os advogados Igor Tamasauskas, Pierpaolo Botini e Leandro Raca pediram o trancamento da ação alegando que o ex-prefeito “sofre constrangimento ilegal em razão do indevido recebimento de denúncia por suposta incidência do artigo 317 do Código Penal.”
O relator explica ainda que Haddad cancelou “contrato de construção de túnel estipulado com a UTC, em fevereiro de 2013.”
Em nota, a assessoria de imprensa de Haddad disse que “surpreende que uma narrativa do empresário Ricardo Pessoa, da UTC, sem qualquer prova, fundamente três ações propostas pelo Ministério Público de São Paulo, contra o ex-prefeito e candidato a vice-presidente da República, Fernando Haddad”.
Segundo a defesa de Haddad, “é notório que o empresário já teve sua delação rejeitada em quase uma dezena de casos e que ele conta suas histórias de acordo com seus interesses. Também é de conhecimento público que, na condição de prefeito, Haddad contrariou, no segundo mês de seu mandato, o principal interesse da UTC de Ricardo Pessoa na cidade: a obra confessadamente superfaturada do túnel da avenida Roberto Marinho”.
A defesa de Vaccari informou o que o delator fala "não procede". "O Sr. Vaccari jamais fez essa solicitação. Isso é somente palavra de delator, sem qualquer comprovação, pois não retrata a verdade. Até porque o Sr. Vaccari nunca foi tesoureiro de campanha de quem quer que seja, ele foi tesoureiro do partido", declarou o advogado Luiz Flávio D'Urso.
Promotor vai recorrer
Em nota, o promotor de Justiça, Marcelo Batlouni Mendroni, autor da ação, diz que vai recorrer: "Discordo, lamento, mas respeito a decisão do Tribunal de Justiça de SP. Realizei um trabalho absolutamente técnico com base em conceitos internacionalmente utilizados nos países que conseguem combater de forma eficiente os casos que envolvem corrupção e lavagem de dinheiro. É assim que, um dia, gostaria de ver o Brasil. A Procuradoria Geral de Justiça de São Paulo vai recorrer da decisão".
A @LulaOficial lo encarceló el juez que hoy conforma el Gobierno de su rival electoral. Lo reemplazó @Haddad_Fernando. Días antes de la elección presidencial el Min Público lo procesó por corrupción. Ayer archivaron la causa por falta de pruebas. Con ustedes: justicia brasileña. pic.twitter.com/L8bySEWgA5
EM 11 DE FEVEREIRO DE 2012, um quase desconhecido Ricardo Salles publicou um artigo na Folha de S. Paulo intitulado “Privatização, aindaque tardia”. Ao fim de uma defesa apaixonada da venda dos aeroportos brasileiros, o texto do atual ministro do Meio Ambiente termina com sua biografia resumida em apenas uma linha. “Ricardo Salles, 36, mestre em direito público pela Universidade Yale, é advogado e presidente do Movimento Endireita Brasil”. Yale. Uau. Ali estava alguém que sabia do que estava falando.
Programa Roda Viva, da TV Cultura, uma semana atrás: “Mestre em Direito Público pela Universidade de Yale, Ricardo Salles foi secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo no governo de Geraldo Alckmin (PSDB) e fundou, em 2006, o Movimento Endireita Brasil.”
Jornal Nexo, dezembro do ano passado: “Advogado de 43 anos, Ricardo Salles é mestre em direito público pela Universidade de Yale.”
Rádio Gaúcha e jornal Zero Hora, reproduzindo a divulgação do Roda Viva: “Mestre em Direito Público pela Universidade de Yale…”
Os incontáveis meios que reproduzem essa informação há anos, no entanto, estão estampando uma mentira.
Nós entramos em contato com Yale, mais precisamente com o Departamento de Comunicações da Faculdade de Direito, onde Salles teria obtido seu diploma. Cinco presidentes americanos estudaram em Yale. Doze vencedores de prêmios Nobel estudaram em Yale. Até o cara que escreveu as músicas do Frozen estudou em Yale. Mas Ricardo Salles, não.
“Oi. Sinto muito pela demora na resposta. A Faculdade de Direito não conseguiu localizar nenhum registro indicando que Ricardo de Aquino Salles frequentou a Faculdade de Direito de Yale”, disse o representante da universidade, por e-mail.
Mas quem então fabricou o factoide publicado na Folha e, mais recentemente, pelo Nexo e pelo site do Roda Viva, entre outros? A gente resolveu ir atrás.
Fizemos a pergunta ao ministério comandado por Salles, simples, objetiva: “Qual o ano de formatura na Universidade de Yale e o título exato que consta no diploma?”
Mas, após três dias de solicitações por e-mail e vários telefonemas, nenhuma resposta. Tampouco nos enviaram o currículo completo de Salles, que também pedimos, já que o que está publicado no site é de uma simplicidade franciscana – e não inclui Yale.
A referência tampouco consta em sua biografia no site da secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, preservada pelo Internet Archive, nem no perfil publicado no site de campanha de 2018 – Salles tentou ser eleito deputado federal mas não conseguiu. Outras instituições com que ele colaborou, como o Movimento Endireita Brasil, também não publicam seu currículo completo.
A Folha não se manifestou formalmente – nós enviamos e-mail e ligamos –, mas um funcionário com conhecimento do processo editorial da seção de opinião nos disse que há “98% de probabilidade” de que o próprio Salles enviou a biografia que acompanhou seu artigo de 2012. Receber a biografia diretamente da pessoa que assina o artigo é a norma da casa – exceto para personalidades bastante conhecidas. Mas 98% não é 100%.
O Nexo, por sua vez, informou que usou o currículo publicado pela Folha. A produção do Roda Viva não nos respondeu até a publicação deste texto.
Salles é conhecido – pela justiça, no caso – como especialista em canetadas criativas. Como contamos há alguns dias, ele foi condenado por improbidade administrativa após adulterar um mapa para beneficiar mineradoras.
Isso, claro, não significa que foi ele quem inventou sua passagem pela Universidade de Yale. Nem mesmo que ele seja dono do único currículo marombado no bonde de Bolsonaro.
Questionada pela Folha sobre o título de mestre em Educação e Direito Constitucional e da Família, Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, saiu com essa: “Diferentemente do mestre secular, que precisa ir a uma universidade para fazer mestrado, nas igrejas cristãs é chamado mestre todo aquele que é dedicado ao ensino bíblico.” Mestre em coisa nenhuma, no caso.
Damares convocou a “ex-feminista” e ativista anti-aborto Sara Winter para cuidar das “políticas públicas para a maternidade”. A pupila da pastora-ministra também já cometeu alguns deslizes no próprio currículo. Num tuíte em que alguém criticava sua qualificação para o cargo, ela retrucou: “Desqualificada eu? Graduação em Relações Internacionais, especialização em crimes na adm. pública, experiência de 4 anos no campo da maternidade, conferencista internacional, agenda cheia até 2021 por toda América Latina, EUA e Europa. 3 idiomas. 26 anos.” Uou.
Ao TSE, porém, ela informou em 2018 ter “ensino superior incompleto”. Mais tarde, ela passou a dizer que ainda é “graduanda”, sem admitir qualquer erro – ou manipulação.
Motivo da primeira crise do governo Bolsonaro, Alecxandro Carreiro bateu o pé após ser demitido do comando da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos pelo ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo. Pois Carreiro, descobriu-se, não falava inglês fluentemente, uma exigência oficial para o cargo que ocupou, nem tem experiência na área – mas é amigo de Eduardo Bolsonaro.
Mas ninguém bate Joice Hasselmann. Deputada federal pelo PSL, ela foi pega por plagiar “65 reportagens, escritas por 42 profissionais diferentes, somente entre os dias 24 de junho e 17 de julho de 2014″, segundo oSindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná. [Nós colocamos o trecho em aspa, porque não foi escrito por nós, citamos a fonte e incluímos o link, senão seria plágio, viu, Joice?]
No caso do excelentíssimo ministro Ricardo de Aquino Salles, no entanto, nós ainda não sabemos o que houve. Buscamos em todas as suas redes sociais para descobrir se, por acaso, em algum momento ele teria desmentido a informação dada tantas vezes pela imprensa. Nada. Se você souber de algo, manda um e-mail.